Esta é a parte mais importante do aprendizado do aluno de medicina, pois envolve o núcleo da relação médico-paciente, onde se apoia a parte principal do trabalho médico; além disso, preserva o lado humano da medicina e orienta de forma correta o plano diagnóstico.
Uma anamnese bem feita representa a metade do diagnóstico, já diziam os antigos clínicos, e esta afirmação continua válida até hoje.
O clínico tem que compreender que a doença relaciona-se com o paciente como um todo e com a história detalhada de sua vida. Contudo, esta é a parte mais difícil do exame clínico. Seu aprendizado é lento, só conseguido após a realização de dezenas de entrevistas criticamente avaliadas.
A realização de anamnese ordenada, concisa e fiel exige intenso treinamento, conhecimento de patologia e, principalmente, paciência e respeito pela pessoa. Sendo assim, é fundamental evitar interrupções e desvios de atenção durante a entrevista. O problema de uma pessoa é, para ela, sempre muito mais importante do que qualquer coisa. Nas enfermarias, onde nem sempre é possível a existência de ambiente reservado (atmosfera ideal para se colher uma anamnese), deve-se procurar dialogar em voz baixa, na tentativa de preservar os problemas mais íntimos do paciente entrevistado.
Nunca manifeste surpresa ou formule julgamento a respeito do relato da história do seu paciente. Expresse sempre interesse a respeito dos problemas dos pacientes (os problemas das pessoas são a base de sua profissão). O médico não deverá revelar os juízos morais ou suas respostas emocionais em relação a atitudes, comportamento ou declarações do paciente. Isso não implica necessariamente a sua aprovação, mas deve ser tolerante, compreensivo e objetivo ao avaliar essa história.
Seja tão quantitativo quanto puder: “certa ocasião, pela manhã...” pode ser uma forma agradável de iniciar um conto, porém inadequado para uma história clínica. “Às 20 horas do dia 14 de março, cerca de meia hora após a alimentação, o paciente vomitou...” é um relato menos agradável, porém mais informativo.
Após décadas de ênfase sobre especialização, a prática da medicina familiar perdeu o prestígio - desapareceu o “médico de família” - a medicina, sem dúvida, progrediu muito, mas perdeu muito em termos de compreensão com a pessoa doente. Muitas doenças são grandemente influenciadas por tensões, frustrações várias, problemas de relações interpessoais, na família. O médico descobrirá, observando a sua casa, o seu ambiente, as condições de moradia, etc.
O médico português Miguel Torga, afirma, nesse sentido, que "No exercício da medicina, o que sempre me apaixonou foi a anamnese, o relato dos padecimentos feitos pelo doente à cordialidade inquisidora do médico." (Diário X, 1968).