Figura 3
Paciente de 16 anos de idade, sexo masculino, sofreu acidente de carro que colidiu contra uma parede em alta velocidade. Ele foi inicialmente admitido no hospital sem sintomas respiratórios. Estava hemodinamicamente estável. O exame geral mostrava notável enfisema subcutâneo em toda a parte superior do tórax, pescoço e garganta, além de um hematoma provavelmente provocado pelo cinto de segurança na face anterior do tórax (figura 1). O restante do seu exame foi significativo apenas para uma lesão no tornozelo esquerdo. A tomografia computadorizada mostrou imagem compatível com pneumotórax bilateral (figura 2) e enfisema subcutâneo com laceração traqueal posterior (figura 3).
Laceração traqueal traumática é uma lesão rara. Uma broncoscopia deve ser realizada antes da cirurgia para avaliar a lesão.
Enfisema subcutâneo é a infiltração de ar no tecido celular subcutâneo. É a presença de gás no plano subcutâneo- pode ter origem bacteriana (gangrena- por anaeróbios) ou traumática (feridas penetrantes do tórax). Tem por sede, mais comumente, as regiões próximas às cavidades contendo ar, como o abdome, o tórax, o pescoço e a face. Os traumatismos que penetram nessas cavidades aéreas podem dar lugar ao aparecimento do enfisema no abdome pela saída do ar contido nos intestinos; no tórax, pelo ar pulmonar (pneuotórax); no pescoço, pelo ar traqueal (traqueostomia mal conduzida); e na face, pelo ar do nariz e seios da face. Infecções por anaeróbios, quando sediadas nessas regiões, podem igualmente provocá-las. O enfisema mediastínico alcança o pescoço, as fossas supraclaviculares e se acompanha de cianose e dispneia.
À inspeção, observa-se deformação da região, aumento de volume, distendendo a pele, que se torna lisa e luzidia, nos enfisemas de maior intensidade. A palpação é o melhor meio de diagnóstico, em virtude da frouxidão e elasticidade dos tecidos que cedem com dificuldade à pressão dos dedos sem deixar a depressão que se observa no edema. A infiltração de ar pode ser constatada facilmente pela ligeira crepitação que a pressão suave das polpas digitais promovem nas regiões afetadas. A crepitação consiste num movimento vibratório particular conseqüente ao deslocamento das borbulhas de ar no tecido subcutâneo.
Caso relatado por Komanapalli et al. (2005) em The Cardiothoracic Surgery Network.