O hipocratismo digital é um dos mais
antigos sinais clínicos descrito na história da medicina. É um valioso sinal,
revelando, na maioria dos casos, uma grave doença intratorácica. Caracteriza-se
pela hipertrofia de tecido conjuntivo vascularizado e edema intersticial na
região subungueal dos dedos, seja das as mãos ou dos pés. Estas alterações
empurram a base da unha para cima (unha em vidro-de-relógio) e aumentam o
volume da extremidade dos dedos, que adquire o aspecto de uma baqueta de tambor.
O hipocratismo digital foi descrito
há cerca de 2.400 anos, por Hipócrates, como um sinal associado à doença
pulmonar incapacitante, provavelmente enfisema pulmonar. A partir dessa
apresentação, vem sendo associado a várias outras doenças, como cirrose hepática,
cardiopatias congênitas cianóticas, neoplasias malignas pulmonares, doenças
inflamatórias intestinais, entre outras, podendo ser também de origem congênita.
Caracteriza-se por aumento do diâmetro das falanges distais e
alterações das unhas. É classificado em cinco estágios: Grau I - aumento e
flutuação do leito ungueal (o sinal de flutuação poderá ser reconhecido
pressionando levemente a base da unha); Grau II - perda do ângulo natural de
160° entre a unha e a cutícula; Grau III - acentuação da convexidade do leito
ungueal; Grau IV - aparência de baqueta da extremidade digital; e Grau V -
aumento da extremidade com espessamento da falange distal e estriações
longitudinais na unha.
Em relação ao carcinoma
broncogênico, os ossos geralmente não estão alterados no baqueteamento digital,
salvo quando da presença da osteoartropatia hipertrófica pulmonar, a mais comum
das síndromes paraneoplásicas nos tumores de pulmão; porém, é de descrição rara
como manifestação inicial da referida neoplasia.
A fisiopatologia do hipocratismo digital ainda é pouco conhecida. A
teoria atualmente mais aceita para a patogenia do hipocratismo digital envolve
a liberação de fatores de crescimento vascular (VEGF, PDGF), o que resulta em
neoformação de capilares nas extremidades. A presença de hipoxemia e a estase
de plaquetas potencializam sua liberação. Sabe-se que existe uma vasodilatação
na extremidade dos dedos, incluindo as conexões arteriovenosas, com aumento da
pressão hidrostática nos capilares e vênulas e edema intersticial. Atualmente,
muita atenção tem sido direcionada ao papel dos microtrombos plaquetários e
megacariócitos na circulação periférica. No leito vascular pulmonar normal,
esses elementos celulares são fisiologicamente fragmentados antes de atingirem
a circulação sistêmica. No entanto, em um leito vascular pulmonar alterado por
qualquer fator causal, eles não seriam fragmentados, o que levaria ao
aprisionamento desses microêmbolos nos leitos vasculares ungueais.
Um dado que apoia essa idéia é o
encontro, à necropsia, de trombos plaquetários nos capilares dos leitos
ungueais de pacientes com esse achado. Como as plaquetas e os megacariócitos
produzem o fator de crescimento derivado das plaquetas, este poderia explicar
os fenômenos de expansão tecidual e aumento do fluxo sangüíneo, observados no
leito ungueal desses pacientes. Além disso, o fator de crescimento derivado das
plaquetas é uma citocina capaz de estimular a proliferação de fibroblastos.
Especula-se, também, que o fator de crescimento dos hepatócitos também possa
estar envolvido na sua patogênese.
Hipocratismo hereditário não é raro,
o que levou à postulação de que fatores genéticos poderiam atuar em casos de
aparecimento mais tardio. Porém, só se diagnostica hipocratismo hereditário se
houver outros casos na família e não se puder encontrar outras causas.
Referências
KARNATH,
B. Digital clubbing: A sign of underlying disease. Hospital
physician, p. 23-27, 2003
MOREIRA, J. S.; PORTO, N. S.;
MOREIRA. A. P. Avaliação objetiva do hipocratismo digital em imagens de sombra
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SRIDHAR,
K. S.; LOBO, C. F.; AlTMAN, R.D. Digital Clubbing and lung cancer. Chest,
114(6):1535-1537, 1998