Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho - DORT
LER/DORT são um fenômeno relacionado ao trabalho, caracterizado pela ocorrência de vários sintomas, concomitantes ou não, tais como, dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento insindioso geralmente nos membros superiores, pescoço e/ou membros. Freqüentemente são causa de incapacidade laboral temporária ou permanente. São resultado da superutilização das estruturas anatômicas do sistema músculo-esquelético e da falta de tempo de sua recuperação (BRASIL, 2000). Para a ocorrência das LER/DORT, não existe causa única e determinada; são vários os fatores existentes no trabalho que podem estar relacionado à sua gênese: repetitividade de movimentos, manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado, esforço físico, invariabilidade de tarefas, pressão mecânica sobre determinadas partes do corpo, mais precisamente os membros superiores, trabalho estático, frio, fatores organizacionais e psicossociais, etc., conforme o próprio documento ministerial se refere (BRASIL, 2000).
Neste sentido, as LER/DORT, podem se manifestar em diferentes quadros clínicos, com diferentes sinais e sintomas apresentados pelos pacientes, conforme a atividade desempenhada.
Algumas manifestações mais comuns são citadas: a) Tenossinovite: evidencia-se por inflamações dos tecidos sinoviais, que recobrem os tendões, em sua passagem pelos túneis fibrosos dos ossos. É subdividida em : - Tenossinovite de De Quervain: é decorrente do espessamento do ligamento anular do carpo, na parte em que passam os tendões que flexionam e esticam o polegar. O processo inflamatório do local atinge os tecidos sinoviais e tecidos próprios dos tendões desde a base do osso rádio do antebraço até o polegar, podendo inativar tanto o seu funcionamento como o do punho. - Tenossinovite dos Extensores dos Dedos: é a inflamação aguda ou crônica dos tendões extensores dos dedos e das bainhas que os recobrem, ocasionando dor local. - Tendinite do Supra-Espinhoso: é a inflamação do tendão do músculo supra-espinhoso em torno da articulação do ombro, decorre principalmente das atividades repetitivas do braço e de exercício muscular excessivo, sintomas de sensação de peso até dor violenta no local; b) Epicondilite: Caracterizada por ruptura ou estiramento nos pontos de inserção (membranas interósseas) do cotovelo, ocasionando processo inflamatório que atinge os tendões, músculos e respectivos tecidos que o recobrem; c) Bursite: Inflamação das bursas (pequenas bolsas de paredes finas em regiões de atrito entre os diversos tecidos do ombro), com manifestação de dor na realização de certos movimentos; d) Síndrome do Túnel do Carpo: Decorrência da compressão do nervo mediano na altura do carpo, envolve um estreitamento do túnel do carpo, provocando atrito entre tendões e ligamentos. Existem outras manifestações de LER/DORT, cujo desencadeante é o estresse emocional, que pode ser causado pelo trabalho ou mesmo pelo afastamento do trabalho, como a síndrome álgica miofascial, em que é comum também a dor se manifestar na musculatura esquelética devido à constrição prolongada. Esta decorre principalmente de uma prática de atividades extenuantes ou como subproduto de tensão psicológica, angústia ou ansiedade, cujas causas não se mostram evidentes para os pacientes. O tratamento se postula na terapêutica que quebra o ciclo dor-constrição-dor." (OLIVEIRA, 2001). História clínica dos pacientes com LER/DORT - As queixas sinais e sintomas mais comuns entre os trabalhadores com LER/DORT, são a dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de peso, formigamento, parestesia, sensação de diminuição de força, edema e enrijecimento articular, choque, falta de firmeza nas mãos, sudorese excessiva, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em pele normal). As queixas geralmente se apresentam em diferentes graus de severidade, podendo ser caracterizadas em relação ao tempo de duração, localização, intensidade, entre outros aspectos. - Os sintomas apesar de inicialmente apresentarem-se de forma insidiosa, predominando mais no término ou em momentos de picos da produção, aliviam através do repouso. Com o decorrer do tempo, esses sintomas podem tornar-se freqüentes durante o trabalho, inclusive incidindo nas atividades extra laborativas do trabalhador. Neste momento, as pessoas procuram atendimento médico, devido às dificuldades que tais sintomas implicam no desempenhar de suas capacidades funcionais. - Com o passar do tempo, os sintomas além de aparecerem espontaneamente, tendem a se manter de forma contínua, gerando crises de dor intensa, geralmente desencadeadas por movimentos bruscos, pequenos esforços físicos, alternância de temperatura, insatisfação e tensão. São características pertinentes de um quadro mais grave de dor crônica, que solicita principalmente uma abordagem mais aprofundada e em equipe multidisciplinar. - Como em qualquer caso clínico, outros sintomas ou doenças devem ser investigados, tendo em vista a possibilidade de terem influência na determinação ou agravamento do caso. Algumas situações - como trauma, diabetes mellitus, artrite reumatóide, gravidez - podem causar ou agravar sintomas do sistema músculo-esquelético e do sistema nervoso periférico. Hábitos que podem causar ou agravar sintomas do sistema músculo-esquelético e necessitam ser investigados
- Uso de computador em casa, ato de dirigir, tricotar, carregamento de sacolas e etc. Estas atividades citadas, geralmente agravam o quadro de LER/DORT, mas não são causas determinantes para a ocorrência da doença, devido serem atividades exercidas com flexibilidade de ritmo e tempo. Não existem evidências na literatura da relevância das tarefas domésticas como desencadeantes de quadros de LER/DORT. Porém existem muitos estudos que associam a ocorrência de doenças músculo-esqueléticas com a exposição de fatores de risco no trabalho.
Deve-se verificar também a história de traumas, fraturas e outros quadros mórbidos que possam ter provocado ou acentuado os processos de dor crônica.
Em relação aos antecedentes familiares, deve-se investigar a existência de familiares co-sanguíneos com história de diabetes e outros distúrbios hormonais e reumatismos.
Tanto quanto elaborar uma boa história clínica é saber onde e como o trabalhador desenvolve seu trabalho, observando no relato a rotina da atividade: duração da jornada de trabalho, existência de pausa, execução e freqüência de movimentos de repetição, existência de sobrecarga estática, formas de pressão de chefias, mudanças no ritmo, insatisfação, enfim, vários fatores predisponentes para o surgimento das LER/DORT. Além destes fatores é importante identificar a existência do ruído excessivo, mobiliário inadequado, desconforto térmico que também são fatores de risco para a ocorrência da doença.
Na história ocupacional é fundamental fazer um levantamento dos empregos anteriores e suas características, independente da presença de vínculo empregatício.
Questões relacionadas as características dos sintomas e sinais como: tempo de duração, localização, intensidade, fatores de melhora e piora, tipos de tratamento realizados e suas respectivas respostas, são aspectos que devem ser analisados, à luz das características e condições de trabalho.
O exame físico deve tentar identificar o comprometimento de músculos, tendões, nervos, articulações, problemas circulatórios nos membros mais atingidos, em geral, os superiores.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo de investigação, diagnóstico, tratamento e prevenção de lesões por esforços repetitivos: LER/DORT distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Brasília: Ministério da Saúde, 2000.
OLIVEIRA, R. M. R. A abordagem das lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomoleculares relacionados ao trabalho - LER/DORT no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Espírito Santo - CRST/ES. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2001.