A pontualidade não é apenas um pressuposto básico das boas maneiras, mas estabelece cada vez mais um diferencial de comportamento entre as pessoas.
Uma pessoa pontual demonstra controle sobre o próprio tempo e, portanto, responsabilidade.
Quando alguém chega atrasado, passa a mensagem de que a outra pessoa, ou as outras pessoas, não estão no topo de suas prioridades. Portanto, ser pontual transmite uma mensagem muito direta: eu respeito seu tempo, eu respeito você.
Essa qualidade é importante em todas as áreas, mas em Medicina adquire um valor moral.
E você? Como encara a importância da pontualidade?
Bruno Melo Fernandes, estudante de Medicina, extensionista de nosso Projeto Continuum (PROBEX/UFPB) e monitor de Semiologia Médica, emitiu sua visão sobre a pontualidade, dissertando sobre a chamada "pontualidade britânica".
Pontualidade Britânica: será que sua vida permite isso?
Por Bruno Melo Fernandes
Em todas as relações estabelecidas pelas pessoas durante a vida, existem alguns conceitos de fundamental importância prática, cuja aplicação reflete melhores possibilidades de resultados satisfatórios, sejam no campos profissional, acadêmico ou pessoal. Dentre tais conceitos, a pontualidade aparece como um modo de mostrar respeito e consideração ao próximo, destacando-se como “a virtude das pessoas civilizadas”.
Chegar atrasado, segundo o conceito britânico, reflete indelicadeza, desorganização e falta de interesse. Mas até onde isso é verdade? Até onde um conceito tradicionalista e estrangeiro pode ser suficiente para julgar ou definir a moral e as intenções das pessoas?
Muitos dizem que ser pontual é simplesmente ser organizado, como se chegar atrasado fosse sempre algo causado por pura desorganização, sendo assim, portanto, algo totalmente mutável, totalmente manejável dentro da vida dos “atrasadinhos”. Apesar da clara precipitação desse conceito, é importante destacar que muitos atrasos são sim causados por pura desorganização ou desleixo e que, portanto, não se pode entender o “atrasar” sem que suas explicações sejam observadas. O atraso atrapalha a vida do próximo, mas é parte da vida moderna, pelo menos fora da Inglaterra.
A partir disso, o atraso deve ser observado fora da ótica britânica; deve ser avaliado dentro dos limites da possibilidade e, especialmente, das dificuldades de cada pessoa em suas vidas. Como dizer a seu chefe que você não pode comparecer a uma importante reunião porque, na mesma hora, precisa trabalhar? Esse é o típico caso em que não há escapatória, em que expõe a vil dialética da vida moderna: ou se falta à reunião e cumpre-se o trabalho, ou se comparece pontualmente à reunião e se deixa de fazer aquilo que lhe é requerido e esperado pelo mesmo chefe que marcou a tal reunião.
Tudo isso parece desculpa para se atrasar, mas não é. Atraso não se desculpa, se entende; atraso não se justifica, se explica; atraso não se perdoa, se cobram compensações. Então, quando seu chefe brigar com você de novo porque você chegou atrasado naquela reunião marcada para o meio da manhã de um dia útil, não o julgue como o carrasco dos seus dias, não o subestime; tente explicar o que aconteceu, tente mostrar-lhe que você chegou (finalmente!) e está pronto para trabalhar o quanto for necessário, inclusive um pouco mais que os outros para compensar seu atraso.
Afinal, o atrasado, desde que não exagere, não deixa de fazer o que promete, ou de ir onde confirmou que ia. É difícil ter muitas obrigações, é louvável ter muitas obrigações e ser eficiente no cumprimento de todas, é perfeito fazer tudo sem defeitos, mas ainda é impossível dar garantias de algo que não depende de você, que não é você que controla: isso é um privilégio, que não pode ser entendido como de fácil obtenção, ou você acha que seu chefe dar-lhe-ia a regalia de escolher o horário das reuniões?