Assim, diversidade não significa doença.
26 de dezembro de 2008
O Normal e o Patológico Segundo Georges Canguilhem
Assim, diversidade não significa doença.
18 de dezembro de 2008
And so this is Christmas...
17 de dezembro de 2008
Mapa de Problemas
A aplicação de mapas mentais é incipiente em medicina, mas já foram publicadas duas obras sobre essa técnica para a área de saúde: mapas mentais em medicina (McDERMOTT; CLARCK, 1998) e mapas mentais em patologia (DERVAN; HARRISON, 2002). Em recente pesquisa bibliográfica, encontramos três estudos publicados sobre a aplicação do mapa mental para estudantes na área de saúde, mas com avaliação a curto prazo de estudantes recém-treinados na técnica (WICKRAMASINGHE et al., 2007; JITLAKOLAK, 2005; FARRAND et al., 2002).
O mapa de problemas derivou da referida técnica do Mapa Mental, e consiste em um instrumento para estruturar o conhecimento sobre o doente, e estimular o desenvolvimento do raciocínio clínico do estudante de medicina, idealizado por Broeiro et al. (2007). Este pode ser feito de várias formas, em configurações em cadeia, em hierarquia, em agregado, em árvore, entre outras conformações. A Lista de Problemas surgiu na década de 60, após publicação de Lawrence Weed (WEED, 1968), que desenvolveu um modelo clínico que permitia fazer un registro da informação colocando em foco todos os eventos relacionados o doente e, que não eram levados em conta porque não eram diagnósticos. A estes eventos, definiu como "problemas" e a esta consideração de eventos, de lista de problemas, considerando-se problema como qualquer item fisiológico, patológico, psicológico ou social que afete o paciente, e que pode ser um sinal, um sintoma, um resultado de laboratório anormal, uma limitação física, um aspecto psicossocial.
Com base nessas premissas, realizamos uma experiência didática para desenvolvimento do raciocínio clínico em um curso prático extracurricular com alunos de graduação em Medicina, através do exercício do Mapa de Problemas através de um curso prático em uma experiência-piloto tendo como clientela estudantes de Medicina do quinto período do currículo tradicional, logo após o término da disciplina de Semiologia Médica, com o objetivo de aprimorar o raciocínio clínico (SOUSA-MUÑOZ et al., 2008). Este curso teve duração de quatro meses, e foi ministrado de forma extra-curricular, com estudo de um caso clínico semanalmente. As observações clínicas foram elaboradas pelas quatro alunas participantes, pela norma de anamnese tradicional, a partir de exames clínicos de pacientes internados nas enfermarias de clínica médica do do Hospital Universitário da UFPB.
As observações clínicas geraram listas de problemas em disposição linear. Nessas representações em diagrama, os mapas de problemas mostraram as idéias organizadas em torno de um foco, a queixa principal de cada paciente. A partir da lista de problemas, estruturaram-se representações gráficas elaboradas à mão, com um tópico central, a queixa principal, a partir da qual irradiavam-se tópicos representados pelos itens: diagnóstico fisiopatológico, diagnóstico topográfico, sindrômico e etiológico, além da epidemiologia, do curso, diagnóstico diferencial e complicações.
Na observações clínicas, a partir da queixa principal e da lista de problemas associados, hipóteses convergiram para diagnósticos sindrômico, fisiopatológico, topográfico, etiológico, complicações, curso, diagnóstico diferencial. Esta experiência levou as alunas a colher e analisar informações, listar problemas, elaborar hipóteses diagnósticas orientadas pelos problemas e correlacionar os dados, estruturando-se um diagrama com visão geral do raciocínio clínico. Assim, essa experiência didática permitiu pôr em prática o conhecimento teórico assimilado na disciplina de Semiologia, potencializando a capacidade de aprender nessa fase de iniciação à clínica.
Portanto, consideramos que o Mapa de Problemas pode ser um subsídio no desenvolvimento do raciocínio clínico, ajudando o estudante de medicina a pensar de forma sistemática sobre os problemas dos pacientes, fazendo associações entre eles, e também com o conhecimento obtido anteriormente, potencializando-se seu aprendizado na iniciação à clínica.
Referências
BROEIRO, P. et al. Mapa de problemas: um instrumento para lidar com a morbidade múltipla. Rev Port Clin Geral, 23: 209-15, 2007.
DERVAN, P.; HARRISON, M. Mind Maps in Pathology. Elsevier, 2002
WEED, L. L. Medical records that guide and teach. N Engl J Med 278(11):593-600, 1968. WICKRAMASINGHE, A. et al. Effectiveness of mind maps as a learning tool for medical students. South East Asian Journal of Medical Education, 1 (1): 30-32, 2007. JITLAKOLAK, Y. The effectiveness of using concept mapping to improve primary medical care competencies among fourth year Assumption University. Au J T, 9 (2): 111-120, 2005 FARRAND et al. The efficacy of the 'mind map' study technique. Med Educ, 36: 426-31, 2002
SOUSA-MUÑOZ, R. L. et al. Mapa clínico das enfermarias como ferramenta didática das aulas práticas de Semiologia Médica. In: 46 Congresso Brasileiro de Educação Médica, 2008, Salvador, Bahia. Anais/Resumos de Trabalhos, 2008. Disponível em: http://www.abem-educmed.org.br/anais.php
Crédito da foto - a foto desta postagem foi extraída de http://wwwdelivery.superstock.com/WI
13 de dezembro de 2008
Diagnóstico probabilístico: Acurácia
Um "teste diagnóstico" geralmente é concebido como um exame realizado em laboratório. Mas os princípios discutidos aqui também se aplicam à informação clínica obtida da anamnese ou exame físico. Pode-se falar do valor diagnóstico da artrite, cardite e coréia no diagnóstico da febre reumática, ou da hemoptise e da perda de peso em um fumante, como indicadores de câncer de pulmão.
Todos os clínicos aprendem que estabelecer um diagnóstico é um processo imperfeito, resultando em probabilidade e não em certeza de se estar correto. Assim sendo, precisam se familiarizar com as relações matemáticas entre as propriedades do teste diagnóstico e a informação que eles fornecem às várias situações clínicas. Em muitos casos, o entendimento destas relações auxilia a resolução de algumas incertezas em torno do uso dos testes diagnósticos. Em outras situações, pelo menos melhora o entendimento da incerteza.
Cabe, nesse ponto, revisarmos o conceito de acurácia, que muitas vezes é motivo de confusão e que é extremamente importantes para quem quer avaliar corretamente um teste diagnóstico, laboratorial ou não.
Sendo a acurácia é a habilidade o teste de obter resultados similares ao teste padrão-ouro, o conceito de precisão seria a reprodutibilidade dos resultados ao repetir o teste várias vezes, no mesmo ou em vários laboratórios, em circunstâncias similares. Portanto, precisão não implica acurácia.
Especialmente quando um novo teste diagnóstico é desenvolvido em Medicina, é necessário avaliar de forma objetiva o seu poder discriminativo em relação à doença ou condição a que se destina detectar. Essa avaliação é fundamental, pois o parâmetro de desempenho mais comumente utilizado, que é a porcentagem de testes cuja discriminação foi realizada corretamente (acurácia) não é suficiente para descrever completamente como o método de decisão se comporta em relação aos falso-positivos (pacientes que não tem a condição patológica, mas que o método de decisão aponta como tendo), e aos falso-negativos (o oposto do anterior). Evidentemente, um teste com boa acurácia, mas que produz um número inaceitável de falso-positivos ou falso-negativos, pode causar problemas.
A definição conceitual de acurácia do diagnóstico é baseada no pressuposto de que há ampla variedade de diagnósticos possíveis nas situações clínicas, além dos que são altamente acurados. Isto é, além de um diagnóstico altamente acurado, outros diagnósticos são aceitáveis com base nos dados existentes. Assim a acurácia de um diagnóstico não é uma qualidade dicotômica - a acurácia é um continuum. A acurácia envolve o esforço de diferenciar um diagnóstico dos outros diagnósticos possíveis para chegar ao diagnóstico que melhor expressa os dados disponíveis em dada situação.
a = verdadeiros positivos b = falsos negativos c = falsos positivos d = verdadeiros negativos a + b = total real de positivos a + c = total aparente de positivos.
Quando o resultado for positivo, o indivíduo pode ter a doença (verdadeiro positivo - VP) ou pode não tê-la (falso positivo - FP). Da mesma forma, quando o resultado for negativo, o indivíduo pode não ter a doença (verdadeiro negativo - VN) como pode tê-la (falso negativo - FN). [ver figuras acima].
Na prática, esta é uma questão delicada, uma vez que a verdade nem sempre pode ser obtida com absoluta segurança. Por isso, é comum utilizar-se, como exame de referência indicador da verdade (denominado padrão-ouro), uma bateria exaustiva de testes complementares ou repetidos ou, ainda, o melhor teste conhecido. A aplicação deste exame de referência é, em geral, de alto custo e, portanto, as avaliações de validade de um teste são feitas em pequenas amostras de estudos, especialmente, delineados para este fim.
É deste modo que a Medicina Baseada em Evidências está influenciando todas as áreas da ciência médica, inclusive, a área diagnóstica. Com eixo na Epidemiologia Clínica e na Bioestatística, a Medicina Baseada em Evidências (MBE) vem ganhando defensores no mundo todo. Sua aplicação, inicialmente pedagógica, agora alcança horizontes muito mais amplos e chega à prática clínica diária. Parece não haver dúvidas de que não existe mais lugar para as expressões “na minha experiência”, ou “segundo a minha vivência”.
Embora as conclusões possam estar acertadas, é ético e moderno alicerçar decisões clínicas em evidências científicas criteriosamente definidas em bases epidemiológicas e estatísticas. Cada vez mais se abandonam os raciocínios e deduções alcançados a partir de experiências e observações que podem ou não ser casuais.
A prática clínica usualmente se depara com perguntas e incertezas, resultantes da primeira análise de informações oriundas do paciente. Os testes diagnósticos, laboratoriais ou não, são uma ferramenta valiosa que o clínico lança mão para, aliado ao seu juízo crítico e conhecimento prévio, estabelecer a etiologia das queixas ou anormalidades dos pacientes. Para a prática da medicina sob o novo paradigma da MBE, e da Semiologia Baseada em Evidências (SBE), tanto o médico quanto o analista clínico devem estar familiarizados com as questões que dizem respeito à precisão, exatidão e acurácia de um determinado teste, pois é baseado nestes conceitos básicos que estará centrada a discussão da aplicabilidade e da validade do resultado para o paciente em questão.
11 de dezembro de 2008
Projeto Continuum: Continuidade da Assistência ao Paciente com Doença Crônica
Em virtude da percepção de que havia uma fragmentação da assistência pós-hospitalização e visando aumentar a eficiência do tratamento dos pacientes que recebem alta das enfermarias de Propedêutica do HULW, um grupo de médicos residentes do serviço, sob a coordenação da Profa. Dra. Isabel Barroso Augusto Silva, criou, há dois anos, o Ambulatório de Pacientes Egressos de Internação, para que estes não permanecessem sem o necessário acompanhamento clínico ambulatorial. Posteriormente, com o funcionamento deste ambulatório, percebeu-se que era necessário realizar sua reestruturação e sistematização do atendimento, com adoção de uma atenção em saúde de natureza multidisciplinar. Assim, propõe-se a adoção de um sistema que privilegie a assistência integral à saúde dos pacientes egressos portadores de condições crônicas após a internação hospitalar.
9 de dezembro de 2008
Projeto Continuum
O Projeto de Extensão Continuum tem por objetivo o acompanhamento de pacientes com doenças crônicas os quais não receberiam o atendimento necessário na pós-internação. Através desse projeto tais pessoas seriam, além de medicadas, educadas para um melhor controle de suas enfermidades, buscando, dessa forma, diminuir o número de internações, descompensações e mesmo de comorbidades advindas da própria doença de base. Tal ação reveste-se de grande importância, tendo em vista, dentre outros pontos, o fato de que muitos pacientes com doenças crônicas após a internação hospitalar são liberados às suas casas sem que haja agendamentos ou encaminhamentos a algum profissional qualificado para o seu acompanhamento, e mesmo até, em muitos casos, sem o adequado conhecimento sobre a afecção que os atinge. Dessa forma, esses pacientes estão fadados a reinterções por piora progressiva do seu quadro, ou mesmo por descompensações agudas.
O Projeto Continuum surge tendo por base o trabalho em duas esferas. Em um primeiro momento, na esfera do conhecimento. O paciente, durante o acompanhamento realizado, recebe informações sobre sua doença e como proceder no seu processo de auto-cuidado, além de receber apoio dos médicos e estudantes, de maneira tal que o paciente não se sinta só, animando-o para que o mesmo cumpra o que foi prescrito e recomendado.
Em uma segunda esfera de trabalho, busca-se o tratamento clínico. Esses pacientes necessitam de um acompanhamento por toda a vida, sendo de suma importância o seguimento da terapêutica adequada, com as devidas especificações de acordo com as necessidades individuais relativo ao momento que se passa. Assim, a consulta mensal, traz a esses pacientes um modelo mais estrito, onde ele acaba, ou devido ao receio de rever o médico em pouco tempo, ou mesmo pela sua animação por encontrar uma boa recepção quanto à doença que o acomete, seguindo o que a ele foi repassado. Dessa forma, obtém-se o controle da doença crônica, de maneira a tentar conter a progressão das comorbidades, bem como as descompensações.
O Projeto Continuum, no momento que concilia educação em saúde com o atendimento clínico, busca, através da explicação e do acompanhamento, evitar que muitos pacientes apresentem episódios agudos relativos à sua doença crônica, bem como que reduza-se o suegimento de complicações pela progressão da própria doença. Dessa forma, o Hospital Universitário, o qual apresenta uma grande procura por pacientes de todo estado, apresenta um bom desafogamento quanto ao número de leitos para esses pacientes que agora acompanhados, raramente necessitam de uma nova internação, as quais ocorreriam fatalmente em menor espaço de tempo.
8 de dezembro de 2008
Detalhes semiotécnicos da percussão dígito-digital
6 de dezembro de 2008
Reflexões sobre a visita médica em um hospital-escola
4 de dezembro de 2008
Conhecimento de médicos sobre morte encefálica
3 de dezembro de 2008
Exame clínico racional
1 de dezembro de 2008
Doenças crônicas e adesão ao tratamento
ReferênciaOs pacientes com doença crônica em muito se diferenciam de outros pacientes. Tais pessoas passam muitos anos da sua vida convivendo com dificuldades e privações ocasionadas pela doença. Difícil é conseguir trazer tais pacientes para o nosso cuidar, de tal forma, que não fujam da estrutura de tratamento que se faz tão necessária. Como se sabe, esse tipo de doença, além de gerar muitos conflitos na vida psicossocial do doente enquanto trabalhador funcional, bem como ser de relacionamentos, ocasionando perda da qualidade de vida; aumenta os riscos para muitas outras patologias associadas, as quais, caso não haja adesão ao tratamento estipulado, terão progressão em velocidade acelerada, aumentando ainda mais a morbidade dessas pessoas. Adaptar-se à nova vida nem sempre é fácil, hábitos de anos, trabalhos de uma vida, relações de sempre; tudo se altera quando se tem o diagnóstico de uma doença crônica. Aceitar o problema, em determinados casos, pode ser o mais difícil, mais fácil é "fingir" que nada mudou, que nada de errado existe, que as coisas serão como antes. O médico a isso deve estar atento, um concordar muito esguio, um “vou tentar”, em geral escondem a discordância patente, a desilusão, nesse momento tão presente. A adesão ao tratamento nesse paciente é imprescindível, visto que sem o controle de sua doença não apenas os problemas diretos advindos da mesma se fazem preocupantes e responsáveis por uma alta morbidade, mas as patologias associadas decorrentes da doença de base são responsáveis em uma nova frente para a queda na qualidade de vida, chegando mesmo até uma incapacitação, em certos casos total. O tratamento nem sempre pode evitar a progressão da doença, contudo, ao menos, retardando-a, pode-se aumentar a sobrevida e diminuir a morbidade desses pacientes enquanto vida. Dessa forma, é mister que, por todo o período advindo posteriormente a essa enfermidade o tratamento se faça integralmente e em toda sua extensão temporal, ou seja, por toda a vida do paciente, sob pena de aumento da morbi-mortalidade deste. Não se podem ignorar os efeitos das lacunas assistenciais que permeiam o tratamento, e assim, a problemática dos múltiplos sistemas envolvidos em face das diversas patologias, direta ou indiretamente envolvidas. Esquecer, não se pode, das dificuldades psicológicas que estão presentes na vida desse paciente, que não mais terá sua vida como antes enquanto ação e relação. Sendo assim, mesmo um suporte psicológico pode vir a ser necessário, lembrando sempre da importância da adesão à conduta para a vida futura do doente, e que este apenas será verdadeiramente um paciente, quando verdadeiramente o médico for um homem, enquanto ser humano.