17 de dezembro de 2008

Mapa de Problemas


O Mapa de Problemas é uma técnica pouco conhecida usada em várias áreas do conhecimento, e resulta da transposição para a pedagogia em Medicina de um método de representação gráfica para o raciocínio clínico. Essa técnica de estudo resulta da associação do Modelo da Lista de Problemas de Weed e do Mental-Map ou Mapa Mental (Mind Map).

O "Mapa Mental", da qual deriva o Mapa de Problemas, já é uma técnica conhecida. Esta é um tipo de diagrama sistematizado pelo inglês Tony Buzan. No Mapa Mental utiliza-se um método gráfico simples para o registro de fatos, idéias e quaisquer tipos de conteúdos de aprendizagem. Como recurso didático usado em várias áreas do conhecimento, objetiva desenvolver o auto-aprendizado, facilitar a aquisição de conhecimentos, e atuar como estratégia para análise e solução de problemas. O Mapa Mental é um recurso gráfico que substitui o processo convencional de anotações sob a forma de listagem. Um Mapa Mental mostra a “fotografia” do assunto, evidencia a importância relativa das informações ou conceitos relacionados ao tema central e suas associações.
O procedimento consiste em uma forma diagramática desenvolvida sobre uma única folha de papel na posição horizontal, utilizando-se canetas coloridas para fazer as anotações. O assunto ou tema principal é escrito no centro da folha, e as idéias primárias que surgem randomicamente são registradas através de palavras-chave sobre linhas de ramificações partindo sempre do centro, que é o tema principal. O mapa tem significado somente para o próprio autor, que, portanto, não deverá preocupar-se com a estética ou, com diagramação bem distribuída. Este dispositivo mostra um mapa mental feito para explicar os usos para os mapas mentais, que na didática, tem aplicações tanto no ensino quanto na aprendizagem. 
A aplicação de mapas mentais é incipiente em medicina, mas já foram publicadas duas obras sobre essa técnica para a área de saúde: mapas mentais em medicina (McDERMOTT; CLARCK, 1998) e mapas mentais em patologia (DERVAN; HARRISON, 2002). Em recente pesquisa bibliográfica, encontramos três estudos publicados sobre a aplicação do mapa mental para estudantes na área de saúde, mas com avaliação a curto prazo de estudantes recém-treinados na técnica (WICKRAMASINGHE et al., 2007; JITLAKOLAK, 2005; FARRAND et al., 2002). 
O mapa de problemas derivou da referida técnica do Mapa Mental, e consiste em um instrumento para estruturar o conhecimento sobre o doente, e estimular o desenvolvimento do raciocínio clínico do estudante de medicina, idealizado por Broeiro et al. (2007). Este pode ser feito de várias formas, em configurações em cadeia, em hierarquia, em agregado, em árvore, entre outras conformações. A Lista de Problemas surgiu na década de 60, após publicação de Lawrence Weed (WEED, 1968), que desenvolveu um modelo clínico que permitia fazer un registro da informação colocando em foco todos os eventos relacionados o doente e, que não eram levados em conta porque não eram diagnósticos. A estes eventos, definiu como "problemas" e a esta consideração de eventos, de lista de problemas, considerando-se problema como qualquer item fisiológico, patológico, psicológico ou social que afete o paciente, e que pode ser um sinal, um sintoma, um resultado de laboratório anormal, uma limitação física, um aspecto psicossocial. 
Com base nessas premissas, realizamos uma experiência didática para desenvolvimento do raciocínio clínico em um curso prático extracurricular com alunos de graduação em Medicina, através do exercício do Mapa de Problemas através de um curso prático em uma experiência-piloto tendo como clientela estudantes de Medicina do quinto período do currículo tradicional, logo após o término da disciplina de Semiologia Médica, com o objetivo de aprimorar o raciocínio clínico (SOUSA-MUÑOZ et al., 2008). Este curso teve duração de quatro meses, e foi ministrado de forma extra-curricular, com estudo de um caso clínico semanalmente. As observações clínicas foram elaboradas pelas quatro alunas participantes, pela norma de anamnese tradicional, a partir de exames clínicos de pacientes internados nas enfermarias de clínica médica do do Hospital Universitário da UFPB. 
As observações clínicas geraram listas de problemas em disposição linear. Nessas representações em diagrama, os mapas de problemas mostraram as idéias organizadas em torno de um foco, a queixa principal de cada paciente. A partir da lista de problemas, estruturaram-se representações gráficas elaboradas à mão, com um tópico central, a queixa principal, a partir da qual irradiavam-se tópicos representados pelos itens: diagnóstico fisiopatológico, diagnóstico topográfico, sindrômico e etiológico, além da epidemiologia, do curso, diagnóstico diferencial e complicações. 
Na observações clínicas, a partir da queixa principal e da lista de problemas associados, hipóteses convergiram para diagnósticos sindrômico, fisiopatológico, topográfico, etiológico, complicações, curso, diagnóstico diferencial. Esta experiência levou as alunas a colher e analisar informações, listar problemas, elaborar hipóteses diagnósticas orientadas pelos problemas e correlacionar os dados, estruturando-se um diagrama com visão geral do raciocínio clínico. Assim, essa experiência didática permitiu pôr em prática o conhecimento teórico assimilado na disciplina de Semiologia, potencializando a capacidade de aprender nessa fase de iniciação à clínica. 
Portanto, consideramos que o Mapa de Problemas pode ser um subsídio no desenvolvimento do raciocínio clínico, ajudando o estudante de medicina a pensar de forma sistemática sobre os problemas dos pacientes, fazendo associações entre eles, e também com o conhecimento obtido anteriormente, potencializando-se seu aprendizado na iniciação à clínica. 

Referências 
BROEIRO, P. et al. Mapa de problemas: um instrumento para lidar com a morbidade múltipla. Rev Port Clin Geral, 23: 209-15, 2007.
McDERMOTT, P.; CLARK, D. Mind Maps in Medicine. Elsevier, 1998 
DERVAN, P.; HARRISON, M. Mind Maps in Pathology. Elsevier, 2002 
WEED, L. L. Medical records that guide and teach. N Engl J Med 278(11):593-600, 1968. WICKRAMASINGHE, A. et al. Effectiveness of mind maps as a learning tool for medical students. South East Asian Journal of Medical Education, 1 (1): 30-32, 2007. JITLAKOLAK, Y. The effectiveness of using concept mapping to improve primary medical care competencies among fourth year Assumption University. Au J T, 9 (2): 111-120, 2005 FARRAND et al. The efficacy of the 'mind map' study technique. Med Educ, 36: 426-31, 2002 
SOUSA-MUÑOZ, R. L. et al. Mapa clínico das enfermarias como ferramenta didática das aulas práticas de Semiologia Médica. In: 46 Congresso Brasileiro de Educação Médica, 2008, Salvador, Bahia. Anais/Resumos de Trabalhos, 2008. Disponível em: http://www.abem-educmed.org.br/anais.php

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