2 de fevereiro de 2009

Publicar ou Perecer...

CASTIEL, L. D.; SANZ-VALERO, J.; RED MEI-CYTED. Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria acadêmica? Cad. Saúde Pública, v. 23, n. 12, p. 3041-3050, 2007.

RESUMO
Discutem-se possíveis significados da intensa preocupação vigente nos âmbitos acadêmicos com a ideia de produtividade em pesquisa que se reflete em um excesso de artigos publicados em várias revistas científicas. A contabilização numérica de artigos publicados por investigadores em revistas científicas de reconhecido status acadêmico serve para legitimar acadêmicos nos seus campos de atuação de várias formas. Nesse sentido, sugere-se que o artigo científico assume aspectos de mercadoria como fetiche, segundo a teorização do valor de uso/valor de troca de Marx e do valor de exposição de Benjamin. Ao mesmo tempo, utilizam-se as idéias biológicas de seleção/evolução como elementos metafóricos constitutivos do "darwinismo bibliográfico". Há referências quanto à possibilidade de grande parte das preocupações bibliométricas vigentes servirem como instrumentos de análise econométrica para, sobretudo, orientar e aperfeiçoar análises de custo-efetividade em investimentos em pesquisa de várias ordens e tipos sob o ponto de vista de seu retorno econômico.
Citações do texto

Há termos críticos, até jocosos, que designam esta ordem de questões éticas diante do fenômeno de proliferação na literatura científica. Alguns mais conhecidos, como "ciência-salame": uma pesquisa é fatiada em unidades menores publicáveis para se tornarem vários artigos distribuídos em diferentes revistas. Outros menos comuns como "publicacionismo" e "produtivite" começam a ser utilizados para designar tal quadro.
As questões éticas na pesquisa científica não são de forma alguma negligenciáveis. Em termos mais específicos, pode haver vários tipos de má-conduta e fraudes no meio científico, como o gerenciamento dos protocolos, amostragens e dos dados em geral. Ademais, há um crescente aumento de autores por artigo, significando mais do que o suposto aumento dos integrantes dos grupos de pesquisa, mas sim a possível prática de "escambo autoral" (meu nome no teu artigo, teu nome no meu artigo etc.)
A própria presença do plágio se torna algo mais praticável e difícil de ser percebido - ainda que sejam "microplágios" –, viabilizados pela cópia de trechos de textos disponíveis na Internet. Não parece ser incomum a prática de autores, ao utilizarem uma determinada referência consultada e indicada no próprio artigo destes autores, também citarem outra (s) referência (s) presente no artigo citado como citação de seu próprio artigo, sem haver a consulta específica de tal referência.