6 de março de 2009

Particularidades da Semiologia Médica do Idoso

Por João Guilherme Pinto Vinagre Estudante de Graduação em Medicina - Nono período Centro de Ciências Médicas / UFPB Monitor de Semiologia Médica O envelhecimento populacional é uma grande questão de saúde pública em todo o mundo. Esse fenômeno iniciou-se nos países desenvolvidos e, atualmente, os países em desenvolvimento é que vivenciam este desafio de maneira mais acentuada.
No Brasil, o número de idosos (≥ 60 anos de idade) passou de 3 milhões em 1960, para 7 milhões em 1975 e 14 milhões em 2002 (um aumento de 500% em 40 anos) e estima-se que alcançará 32 milhões em 2020.
Um dos resultados dessa dinâmica é uma demanda crescente por serviços de saúde. As internações hospitalares dos idosos são mais freqüentes e mais longas, as doenças costumam ser crônicas e múltiplas, e exigem acompanhamento constante, medicação contínua e exames periódicos. Tudo isso obriga o médico ter uma preparação mais adequada desde a sua formação acadêmica, para trabalhar com essa população diferenciada e cheia de particularidades em todo o âmbito bio-psico-social. No que concerne à prática clínica, devemos tratar o idoso por senhor (a), e não por “vô (ó), vôzinho (a)”. Além disso, não devemos estereotipar o idoso como paciente poliqueixoso, pessimista e pouco comunicativo. Na verdade, esses comportamentos são consequência de uma doença de base e não do processo de envelhecimento. Deixar de levar em consideração qualquer uma das múltiplas queixas pode induzir a erros graves com sérias conseqüências. Além disso, é importante sempre adotarmos linguagem simples, evitando termos técnicos; devemos ter o cuidado de observar se o idoso, em questão, tem algum déficit auditivo, visual, cognitivo, para adequar a comunicação e tomar as providências necessárias para se criar uma melhor relação com o paciente. São inúmeras as dificuldades que podem ser encontradas durante a anamnese do idoso, como a pouca informação que o paciente transmite sobre sua doença; história extensa e queixas mal caracterizadas; barreiras da comunicação; apresentação inespecífica e atípica das doenças. Tonturas e quedas, por exemplo, são questões subvalorizadas tanto pelo médico, quanto pelo paciente. A tendência é declarar que a causa dessa tontura é labirintite, sem fazer uma investigação mais criteriosa, e isso pode ter consequências graves, como o subdiagnóstico de um quadro convulsional, ou de síncope, por exemplo; assim como a medicação para labirintite pode levar ao idoso depressão, instabilidade postural e parkinsonismo. Quedas devem ser investigadas, pois a apresentação de um quadro confusional em idoso pode ser devido à formação de um hematoma subdural em conseqüência de uma queda que aconteceu há meses. Um outro ponto importante do atendimento ao idoso é a avaliação funcional. O seu principal objetivo é identificar suas limitações e incapacidades, quantificá-las e caracterizar os pacientes de alto risco, para se estabelecerem medidas preventivas, terapêuticas e reabilitadoras. Os seguintes parâmetros devem ser avaliados: equilíbrio e mobilidade, através do teste “Levantar e Andar”; função cognitiva, através do Mini Exame do Estado Mental; condições emocionais, através da Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage; disponibilidade e adequação de suporte familiar e social; condições ambientais; capacidade do paciente para executar as atividades da vida diária e para executar as atividades instrumentais da vida diária. Uma escala de avaliação funcional muito utilizada atualmente é a Escala de Barthel, que pesquisa, por exemplo, o grau de dependência do idoso para se alimentar, para tomar banho, para se vestir, para deambular, o grau de incontinência urinária e fecal, entre outros parâmetros. Dessa forma, percebe-se que a população passa por um fenômeno de envelhecimento, e que existem inúmeras particularidades no exame do paciente idoso, de maneira que o curso médico precisa ser reformulado, oferecendo mais atenção a essas minúcias e preparando o futuro profissional para lidar com essa nova realidade.
Referências
PORTO, C. C. Semiologia Médica. 5 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2005. LIMA-COSTA, M. F., VERAS, R. Saúde pública e envelhecimento. Caderno de Saúde Pública, vol.19 no.3, 2003. Crédito da imagem: A foto desta postagem foi extraída de http://aging-management.com/