Por Bruno Melo Fernandes
Estudante do 6o. Período do Curso de Medicina da UFPB
Monitor de Semiologia Médica
Extensionista do Projeto Continuum do PROBEX/UFPB
O aprendizado médico dentro do paradigma mecanicista, fundamentado pela química, fisiologia e fisiopatologia, torna o estudante de Medicina qualificado para fazer diagnósticos e tratamentos das doenças orgânicas, proporcionando uma formação essencialmente tecnicista.
Evidentemente, quando esse trabalho é adequadamente realizado, muitas vidas são salvas, razão por que o médico é muito valorizado pela sociedade. Entretanto, se essa atividade for realizada sem consideração à pessoa do paciente, isto é, sem que seja vista a pessoa que sofre por trás do doente, a função terapêutica será insuficiente.
A medicina do escutar, olhar, atender e cuidar deveria ter os mesmos privilégios da medicina do ouvir, ver, examinar, do ato médico.
Nada deveria impedir ao profissional, como um ser humano, de conversar e cuidar da pessoa doente, mesmo diante das denominadas doenças orgânicas clássicas, e nunca se limitar à medicina de um só; a medicina é sobretudo um ato de profunda interação entre dois, o médico e seu paciente. O profissional habilidoso pode e deve estar preparado para fazer a articulação entre os discursos da medicina a dois, no referencial das ciências naturais, e a medicina de um só, dentro do discurso das ciências humanas.
Portanto, o entendimento da pessoa, no sentido abrangente, depende de adequada articulação entre escuta, anamnese, exame físico e achados laboratoriais. Ao quadro da vida do paciente, obtida por meio da escuta de suas narrativas deve acrescentar uma significação humana aos dados clínicos revelados pelos exame físico. Esse enfoque é relevante em todos os setores da atenção à saúde, desde as emergências, internações hospitalares, até se chegar aos doentes de ambulatório e aos portadores de doenças crônicas.
O médico pode negar esse reducionismo e enveredar pela vertente da psicologia médica. Com a postura psicossomática, tenta-se obter uma visão global da pessoa. Há maiores possibilidades de reduzir pedidos de exames complementares, uso de fármacos desnecessários, erros ou insucessos médicos, processos jurídicos envolvendo a classe, abandonos de tratamento e as diversas situações inadequadas para o bom relacionamento entre doente e médico. Apenas tentativa. É preciso levar em conta o limite do profissional e a impossibilidade de o sujeito em mostrar-se como um todo. Esse pode expressar-se, por meio do corpo, doenças relacionadas às áreas do social e/ou psíquico, ou doenças orgânicas, por meio de manifestações psíquicas e/ou sociais (MARTINS, 2008).
Portanto, médico, doente e doença podem estar em diferentes áreas do existir humano com ruídos indesejáveis na comunicação, principalmente quando essa ocorre ao nível da linguagem pré-verbal. Ainda, deve-se ter em mente que os acontecimentos biopsicossociais podem ser simultâneos ou obedecer a sequências totalmente diversas das apresentadas nas exposições didáticas e que muitos dados de teorias são inaplicáveis ou desnecessários diante de um sujeito em situação de sofrimento. O percurso do trabalho deve ser o escolhido pelo doente; nada de intromissões e pressas. Os questionamentos diretos não devem ser levantados de início, mas o médico deve estar preparado, desde o primeiro encontro, para indagações importantes a respeito de si mesmo.
Embora fosse o ideal, o médico não precisa ser um iniciado em psicanálise para a prática da sua profissão. Entretanto, deve estar preparado, dentro da postura psicossomática, para fazer a articulação entre os dados da escuta, ferramenta do discurso psicanalítico, e os fatos da realidade, imprescindíveis ao discurso médico.
Assim, a postura psicossomática na prática médica caracteriza-se por ser um aspecto fundamental na relação médico-paciente. Entender que o ato médico é algo individualizado representa ao médico saber que doenças iguais não significam pacientes iguais. É na singularidade do cuidado que se encontra a máxima eficiência da medicina: tratar o homem doente e não a doença do homem.
Referência
MARTINS, J. D. A postura psicossomática na prática médica. 2008.
Crédito da imagem: http://www.cepps.com.br/item23597.asp