A Medicina sempre teve como finalidade o alívio, ou a redução e eliminação do sofrimento humano. Hipócrates considerava que esta era a finalidade da Medicina. Esta é a finalidade da Medicina ainda hoje.
Será que com o desenvolvimento das quatro “ciências básicas”: a Matemática, a Física, a Química e a Biologia, isso mudou?
O reconhecimento científico de muitas das outras áreas do saber humano apenas se verificou nos finais do Século XIX, como o caso das ciências humanas e as ciências aplicadas, com quatro grandes áreas: as ciências da vida (ou da saúde), as ciências da terra, as ciências da engenharia etc. A partir de então, a Medicina começou a aliar definitivamente os instrumentos científicos aos conhecimentos da arte médica (Ars Curandi), quer teórica, quer empírica; esta articulação começa então a ser mediada pela Biologia e isto devido a uma revolução provocada pelo Darwinismo. E vieram os antibióticos, a Genética, a Biologia Molecular, Neurociências, células-tronco...
Contudo, as questões filosóficas dentro da Medicina, principalmente na prática clínica, em que o sofrimento e a vulnerabilidade humanas se tornam concretas e constantes, faz pensar se a Medicina deveria ser mais Arte que Ciência.
E então, vem a dicotomia: Técnica ou Humanismo? Pergunto se precisa haver esta dicotomia. Medicina é Arte e Ciência, Técnica e Humanismo! O homem é Alma e Corpo. Não se pode passar de um reducionismo a outro!
Em uma Oficina sobre mudança curricular realizada ontem na nossa Universidade, os colegas discutiram se a técnica é mais importante ou o humanismo seria mais importante... Pelo amor de Deus! Até quando vai esta fragmentação?
O que mencionei acima foi a propósito da discussão que de vez em quando aparece no meio universitário. É a persistência desta dicotomia técnica/humanismo, que não deveria mais existir, pelo menos na academia... Desde há muito sabemos da necessidade de desenvolver no estudante de Medicina uma educação integral com temas da filosofia, antropologia, bioética. Isso não significa ir estudar as humanidades clássicas. Acreditamos que as mudanças curriculares que se processam neste momento tentam melhorar este aspecto da formação médica. Vamos ver se acontece.
Na Semiologia, no exíguo tempo em que há para esta matéria, tentamos, na medida do possível, inserir conteúdos sobre o entendimento de crises evolutivas, ou seja, as condições críticas existenciais que contribuem para o desencadeamento da doença em determinado paciente, pois são estas que modelam as condições de vida particulares que configuram o adoecer de cada um em sua singularidade. Miguel Unamuno, escritor espanhol, definiu o paciente como "um ser humano, de carne e osso, que sofre, ama, pensa e sonha". Para mim, entender e praticar isso é o mais puro humanismo.
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