29 de abril de 2009

Artigo científico: original x revisão

O estudo de Metodologia Científica é fundamental para o desenvolvimento do estudante de Medicina e, portanto, a compreensão do processo de pesquisa precisa fazer parte de sua formação. Um dos meios reconhecidos para aperfeiçoar o conhecimentos em pesquisa é a leitura crítica de artigos científicos.
No início deste semestre 2009.1, após a discussão sobre "Modelos de Pesquisa", a prática do Módulo de Pesquisa Aplicada à Medicina (MCO2) consistiu na busca pelos alunos de artigos científicos originais em bases de dados eletrônicas, escolhendo livremente uma das publicações de trabalhos de abordagem quantitativa, dentro dos modelos de pesquisa clínica e epidemiológica discutidos em sala.

O resultado desta busca por 42 dos 45 lunos da turma revelou a escolha das publicações, apresentadas na tabela abaixo (tabela 1) e classificadas de acordo com o tipo de trabalho publicado.

Tabela 1- Publicações científicas selecionadas sob a categoria de artigos originais de pesquisa clínica na busca realizada pelos alunos do módulo complementar obrigatório (MCO2) no semestre 2009.1 (n= 42) / CCM / UFPB

Verifica-se na tabela que 85,8% dos alunos selecionaram artigos originais de pesquisas quantitativas conforme solicitado no enunciado do exercício, indicando terem assimilado este conceito. Uma minoria escolheu artigos que não se enquadravam nesta categorização, ao selecionar artigos de revisão narrativa (3), pesquisas qualitativas (2), assim como um artigo de pesquisa pré-clínica. Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em sua NBR 6022/ 2003, artigo cientifico é "aquele que apresenta resultados de uma pesquisa, discute idéias, métodos, técnicas, relatos de experiência, estudos de caso etc.", e artigo original "relata trabalhos originais que envolvem abordagens teórico-práticas referentes a pesquisas, indicando resultados conclusivos e significativos".
Ainda conforme a ABNT, artigo de revisão "constitui um relato sobre o conhecimento explícito, disponível a respeito de determinado tema, mediante análise e interpretação da produção científica existente de informações já publicadas. Já o relato de caso clínico "divulga o conhecimento referente aos aspectos clínico-patológicos de um tema específico, bem como novas técnicas, terapias, diagnósticos, patologias".
Portanto, artigos originais e artigos de revisão são considerados artigos científicos.
Contudo, o estilo de uma revisão é menos padronizado, enquanto um artigo cientifíco original é bastante formulado, com a maioria das publicações seguindo o padrão sequencial convencional de Introdução-Métodos-Resultados-Discussão.
Em resumo, há dois tipos fundamentais de artigo científico: (a) Artigo original: utilizado para o relatório de pesquisa ou estudo de caso, de acordo com as diretrizes metodológicas da pesquisa científica - de forma interpretativa, argumentativa, dissertativa e apreciativa
(b) Artigo de revisão: um estudo sobre o determinado tema, resumindo informações já publicadas, com o propósito de estabelecer um debate entre os autores pesquisados e deles com o autor do artigo, para a identificação das posturas acadêmicas, assim como o quadro teórico, principalmente por meio de publicações periódicas científicas e especializadas, objetivando identificar o grau de profundidade dos estudos desenvolvidos até o mesmo sobre o assunto (ABNT, NBR 6022, 2003).
Portanto, os artigos originais contem pesquisas primárias, em que seus resultados são originados a partir da análise direta dos indivíduos estudados. São classificados de acordo com a categoria em pesquisas sobre: etiologia, diagnóstico, tratamento, prevenção, prognóstico, fatores de risco. Os principais modelos de pesquisa correspondentes serão, respectivamente, coorte, transversal de acurácia, experimental, caso-controle.
É importante salientar que as revisões podem ser de dois tipos. As revisões sistemáticas e as revisões narrativas. As revisões sistemáticas constituem artigos com dados secundários, que agrupam os resultados de estudos primários para sua análise, e tem a capacidade de avaliar os estudos primários e podem chegar a resultados que os estudos individualmente não conseguiram alcançar. Alguns consideram que os trabalhos de revisão sistemática são trabalhos originais, pois, além de utilizar como fonte dados a literatura sobre determinado tema, são elaborados com rigor metodológico (ROTHER, 2007). Desse modo, a revisão sistemática, ao utilizar uma metodologia reprodutível, portanto, científica, diferindo da revisão narrativa, deveria ser considerada como um trabalho original. Contudo, levando em conta que os dados da revisão sistemática são secundários, este tipo de publicação constitui ainda um artigo de revisão, embora seja uma evidência científica muito valorizada.
Um artigo de revisão narrativa é constituído de introdução, desenvolvimento (texto dividido em seções definidas pelo autor com títulos e subtítulos de acordo com as abordagens do assunto), comentários e referências. Este tipo de revisão é considerado tendencioso e inconclusivo, e o método de busca bibliográfica utilizado e seleção dos estudos não são padronizados e explicitados (SANTOS et al., 2007). Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e Documentação - Referências - Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta paul. enferm. 20 (2): v-vi, 2007 . SANTOS, C. M.; PIMENTA, C.; NOBRE, M. R. A estratégia PICO para a construção da pergunta de pesquisa e busca de evidências. Rev. Latino-Am. Enfermagem, 15 (3): 508-511, 2007.

28 de abril de 2009

Primeira Anamnese, Ótimo Começo

Primeira anamnese realizada por Stephanie Galiza Dantas, estudante do quarto período de Medicina do Centro de Ciências Médicas da UFPB: Um ótimo começo!

1. IDENTIFICAÇÃO: A. L. S., feminina, parda, 44 anos, casada, natural e procedente de João Pessoa-PB, empregada doméstica, internada em um hospital universitário. 
2. QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO: Dor nas costas há 2 meses. 
3. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: Paciente refere que, há dois meses, sente dor nas costas (região vertebral), na altura das vértebras torácicas, que se irradia para a região interescapulovertebral, escapular e infra-escapular de ambos os lados, até o tórax, anteriormente, de início insidioso, sem estar relacionada a nenhum fator desencadeante específico, de curso contínuo. A dor piora com o movimento, na posição deitada e sentada, sendo aliviada na posição em pé. A paciente caracteriza a dor como uma “dor muscular” e de forte intensidade, tendo uma vez passado dois dias sentada, impossibilitada de se erguer do assento devido à intensidade da dor. Associada à dor, relata tosse, inicialmente seca e tornando-se produtiva posteriormente.
Fez uso de xarope expectorante durante alguns dias (não soube especificar quantos), com melhora sintomática da tosse, e azitromicina 500 mg, durante sete dias, sem melhora do quadro sintomático, e nistatina para tratamento de ulcerações na mucosa oral, além de vários analgésicos, com remissão parcial da dor.
A paciente relata que, desde sua internação, a dor nas costas vem melhorando devido ao uso de analgésicos, porém sem remissão completa e permanecendo no mesmo local, com igual intensidade e caráter, tão logo passam os efeitos das medicações.
Relata que a dor não teve interferência na sua alimentação, embora tenha prejudicado: seu sono, tendo reduzido a quantidade de horas diárias; seu trabalho, por estar impossibilitada de exercer sua profissão; seu lazer e atividades sociais, pois é obrigada a ficar em repouso.
A paciente refere tristeza pela impossibilidade de exercer suas atividades habituais, contudo demonstra estado anímico satisfatório, sem sintomas depressivos.
Na ocasião de sua internação, foram solicitados exames de raios-X de tórax, hemograma, urocultura, ecocardiograma e tomografia computadorizada. Até o presente momento, os resultados destes exames não foram recebidos. Há menos de dois meses realizou ultra-sonografia do tórax, raios-X de pulmão, da coluna e da face, todos com resultados normais.
4. INTERROGATÓRIO SISTEMÁTICO: 
4.1- Sintomas Gerais: Paciente refere perda de peso há cerca de um ano, embora não se queixe de inapetência. Relata ter tido febre há duas semanas, durante 3 dias, devido a um resfriado. Nega calafrios, sudorese noturna e anorexia, porém refere astenia (não soube determinar a duração, mas afirma que teve início antes da dor nas costas). 
4.2- Pele e fâneros: Refere prurido no corpo inteiro há dois anos, de ocorrência esporádica e origem medicamentosa; refere alopecia e manchas no rosto, devido ao uso de medicamentos (que medicamentos?), e icterícia leve; nega lesões cutâneas e anormalidades dos pêlos. 
4.3- Cabeça e pescoço: nega cervicalgia, cefaleia, limitações da movimentação do pescoço e tumorações cervicais. 
4.4- Olhos: Refere diminuição da acuidade visual desde que iniciou tratamento com Azatioprina; fotofobia; lacrimejamento esporádico; visão turva. Nega dor ocular, diplopia, secreção conjuntival e escotomas visuais. 
4.5- Ouvido, Nariz e Seios da Face: Refere ter ouvido zumbidos, após a descoberta de anemia hemolítica, por duas vezes, a última delas há alguns dias, e estando relacionado a momentos de acentuada debilidade física; um episódio de epistaxe há 2 meses; obstrução nasal esporádica devido à sinusite; gota pós nasal, desde o início da tosse; teve algias faciais há alguns dias, relacionada à sinusite. Nega otalgia, otorréia, rinorréia, espirros frequentes e congestão periorbitária. 
4.6- Cavidade Oral: Nega odontalgia, gengivorragia, queimação ou ardência na língua e odinofagia. Refere ulcerações na mucosa, cujo último episódio ocorreu há alguns dias e está sendo tratado (vide HDA). 
4.7- Mamas: Nega mastalgia, descarga mamilar e nódulos palpáveis. 
4.8- Respiratório: Refere tosse há 2 meses; expectoração amarelada, em pequena quantidade, há 2 meses, com dor torácica e chiado no tórax (quando da expectoração). Nega rouquidão e hemoptise. 
4.9- Cardiovascular: Refere palpitações e dispnéia associada às palpitações; edema periorbitário e de extremidades; cianose de extremidades; veias varicosas nos membros inferiores e pés, em pequena quantidade; claudicação intermitente esporádica (não soube informar especificamente há quanto tempo tem os referidos sintomas, mas sugeriu que os mesmos ocorrem há alguns anos). Nega precordialgia, síncope e úlceras de perna. 
4.10- Gastrintestinal: Refere epigastralgia há 2 meses; icterícia (devido à anemia hemolítica); dor e prurido retal há 2 meses. Nega disfagia, pirose, intolerância alimentar, dor abdominal, eructações, empachamento, cólicas, náuseas e vômitos, hematêmese, tenesmo evacuatório e enterorragia. Intestino lento, evacua de 2 em 2 ou de 3 em 3 dias, porém é bastante variável, podendo ocorrer evacuações em intervalos maiores. Fezes de cor e consistências normais, sem presença de sangue, muco e/ou pus. 
4.11- Urinário: Relata polaciúria e nictúria (duração duvidosa, mas sugeriu sugeriu que ocorrem há alguns anos), mas nega disúria, estrangúria, oligúria, poliúria, alterações de cor e odor da urina, incontinência urinária de esforço e eliminação de cálculos durante a micção.
4.12- Genital:Refere leucorréia prurido vulvovaginal, tendo realizado tratamentos para ambos no início do ano; relata dor pélvica esporádica do lado direito. Nega sangramento intermenstrual e dispareunia. 
4.13- Osteoarticular: Refere artralgias, rigidez matinal, edema articular, todos com início desde que começou a tratar-se de anemia hemolítica, em 1997. Relata ter sentido lombalgia há alguns meses. Nega deformidades articulares. 
4.14- Hematopoiético: Relata palidez desde quando iniciou o tratamento de anemia hemolítica, em 1997. Refere um episódio hemorrágico há 3 meses. Nega linfadenomegalias. 4.15- Endócrino: Afirma sentir polifagia e polidipsia há alguns anos. Nega intolerância ao calor, poliúria e hirsutismo. 
4.16- Nervoso: Refere parestesias nas extremidades (não soube determinar há quanto tempo), tremores e perturbação de memória há alguns meses. Nega paresias, paralisias, atrofias musculares, convulsões e ausências. 
4.17- Psiquismo: Afirma ter insônia que se agravou há 2 meses, desde o início da “dor nas costas”; relata nervosismo, estresse, ansiedade, perda de interesse e prazer no trabalho e no lazer e prostração, todos com duração aproximada de 2 meses. 
5- ANTECEDENTES PESSOAIS FISIOLÓGICOS: Paciente cuja gestação transcorreu sem anormalidades, sem pré-natal, nascida de parto eutócico, transvaginal, a termo e sem assistência obstétrica. Desenvolvimento neuropsicomotor dentro da normalidade. Relata que sua escolaridade teve início em 2000 (supletivo). Paciente não sabe determinar se realizou as imunizações na infância. Na idade adulta, refere haver tomado vacina anti-tetânica, mas nega hepatite viral e gripe. Refere menarca aos 14 anos e primeiro contato sexual aos 16 anos. Teve 3 parceiros sexuais, não tem relações sexuais no momento, ausência de libido, afirma ter usado preservativo na maioria de suas relações sexuais. Período menstrual 8/30; refere um episódio de menorragia há 3 meses; última menstruação em 06/04/2009; Para 5 gesta 5, 4 normais e 1 cesáreo. Afirma fazer Papanicolaou e auto-exame mensal das mamas. Entretanto, nunca fez mamografia. 
 6- ANTECEDENTES PESSOAIS PATOLÓGICOS: Doenças da infância: refere sarampo aos 2 anos e coqueluche aos 6 meses. Nega varicela, parotidite infecciosa e rubéola. Doenças na fase adulta: nega tuberculose, DST, AIDS, hepatite viral, epilepsia, Diabetes mellitus, hipertensão arterial, cardiopatias, febre reumática, asma brônquica e abortamentos. Relata alergia apenas à poeira (sinusite). Afirma ter realizado colecistectomia em 1997, no Hospital Edson Ramalho, que, segundo a paciente, resultou num quadro de anemia hemolítica. Refere, também, um parto cesáreo, em 1988. Foi hospitalizada por 2 vezes: a primeira em 1996, no Hospital Edson Ramalho, devido à “crise de vesícula”; a segunda em 2005, no mesmo hospital, em decorrência de complicações da anemia hemolítica, ocasião em que foi submetida a uma hemotransfusão. Medicações de uso contínuo: vide HDA. 
 7- ANTECEDENTES FAMILIARES: Possui quatro filhos, o mais velho com 25 anos e o mais novo com 20 anos, todos saudáveis, exceto um deles, que possui epilepsia. Cônjuge de 64 anos possui cardiopatia chagásica crônica, apresentando cardiomegalia. Paciente afirma que o nervosismo do marido, devido à doença, interfere no seu estado emocional. Nega alguma tendência familiar para doenças específicas. Irmão possui HAS, mãe faleceu de câncer de útero, etilismo em vários membros da família (mãe, irmã, irmão). Nega casos na família de diabetes mellitus, acidente vascular encefálico, doenças coronarianas, morte súbita, tuberculose, asma brônquica e doenças mentais. 
 8- ANTECEDENTES SOCIAIS: Reside em casa de alvenaria, com cinco cômodos, onde moram outras 3 pessoas. Há saneamento básico, tratamento da água e coleta de lixo. Nega ter morado em locais prejudiciais à saúde. Relata ter uma alimentação equilibrada com ingestão de carne, leite, ovos, cereais, hortaliças e frutas. Adota uma dieta rica em ferro, conforme orientação médica. Ingere vários copos de água por dia, mas não soube especificar quantos. Possui ensino fundamental completo em curso supletivo; sempre trabalhou como empregada doméstica (diarista), sem horário de trabalho fixo; afirma ter um bom ajustamento profissional. Católica, sem problemas de relacionamento familiares, possui muitos amigos, no entanto relata sentir solidão algumas vezes desde o inicio da alteração do seu estado de saúde. Nega qualquer tipo de ressentimento. Sua maior preocupação atual consiste em obter a cura completa da sua doença e restabelecer sua saúde. Refere que a dor é o motivo que lhe causava, e ainda causa, maior grau de estresse desde antes de sua internação no HU. Nega algum fator estressante agudo ou crônico na sua família ou no seu meio; nega perdas importantes; revela sentir-se completamente realizada; nega qualquer expectativa frustrada. Foi tabagista por vários anos, tendo parado de fumar há 10 anos, consumia, juntamente com o marido, cerca de três carteiras por dia. Nega etilismo, uso de drogas, contato com o triatomíneo, contato com animais domésticos recente. É sedentária, tem sono comprometido devido à “dor nas costas”, dorme cerca de 2 ou 3 horas por dia.
Seu lazer é vender guloseimas em um “fiteiro” que possui em frente à sua casa.
Nega viagens a zonas endêmicas.

Crédito da imagem: A figura desta postagem foi copiada de www.pain-free.eu/Back%20Pain

24 de abril de 2009

Estudantes Extensionistas avaliam o Projeto Continuum

Projeto Continuum de Extensão (PROBEX/UFPB) em 2008

O Projeto de Extensão Continuum (PROBEX/UFPB) resultou da busca para superar a ausência de um programa de continuidade de assistência clínica ao paciente portador de doença crônica egresso da internação nas enfermarias de clínica médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW). Esses pacientes necessitam de continuidade dos cuidados clínicos após a hospitalização, o que constitui um aspecto geralmente negligenciado na prática hospitalar de muitas instituições.

Nesse sentido, em virtude da elevada prevalência de doenças crônicas nas enfermarias de clínica médica, sobretudo hipertensão arterial, diabetes mellitus e doença renal crônica, e do alto índice de novas internações dos pacientes afetados, a principal meta do Projeto foi a redução da morbimortalidade dos pacientes afetados. Evidentemente esta meta só poderá ser conseguida em longo prazo. Em curto prazo, o alvo desse trabalho é a melhora do atendimento e a obtenção de um adequado controle clínico desses pacientes e, em médio prazo, a redução da incidência de reinternações e de complicações da enfermidade crônica.

As principais ações deste Projeto consistem no desenvolvimento de processos assistenciais e metodologias de trabalho que permitam reavaliar periodicamente os pacientes egressos de internações clínicas do HULW, visando à redução de novas internações, assim como à adequação do seu controle terapêutico. Paralelamente, executa-se um processo educativo sobre o manejo domiciliar cotidiano das doenças crônicas (sobretudo hipertensão, diabetes mellitus e doença renal crônica), de forma integrada ao atendimento ambulatorial, por meio de orientações sistemáticas aos pacientes pelos estudantes extensionistas.

Ao final da vigência da primeira fase, os sete estudantes extensionistas que participaram desta primeira edição do Projeto preencheram um questionário elaborado para coleta de dados sobre o funcionamento e cumprimento dos objetivos e metas durante a sua execução entre junho e dezembro de 2008, assim como responderam a questões auto-avaliativas.

Os resultados da avaliação pelos estudantes extensionistas encontram-se nas tabelas 1 e 2. A tabela 1 mostra os dados da auto-avaliação dos estudantes. A tabela 2 demonstra a avaliação que os estudantes fizeram do projeto ao final da sua primeira edição.

Tabela 1- Auto-avaliação dos estudantes extensionistas na primeira fase do Projeto Continuum(n=7)

Tabela 2- Avaliação da execução do Projeto Continuum pelos estudantes extensionistas na primeira fase (n=7)

Observando a tabela 1, evidencia-se que a grande maioria dos estudantes considerou que não possuía a formação necessária (clínica) para o acompanhamento das atividades do projeto. Isso deve ter decorrido do fato de que apenas dois dos extensionistas cursavam fases mais avançadas da graduação, mas o pré-requisito para ingressar no Projeto nesta primeira fase foi ter cumprido o quarto período de Medicina (Semiologia Médica).

Contudo, de modo geral, a maioria avaliou positivamente sua participação quanto ao cumprimento de suas funções no trabalho e a contribuição do projeto no seu desenvolvimento, indicando o esforço para acompanhar o andamento do trabalho. Este aspecto, entretanto, deve ser revisto na próxima seleção do Projeto, estipulando-se um momento mais adiantado na graduação como requisito para ingresso.

Esses resultados indicam que essa auto-avaliação constituiu-se numa autocrítica pelos estudantes quanto ao seu próprio desempenho, centrando-se numa reflexão em que constou a contextualização do Projeto, às suas condições de produção e de seu desenvolvimento, assim como da própria condução do projeto nesse processo, devendo servir para diagnosticar o momento analisado e estimular a participação dos extensionistas na condução de novos sentidos para a continuidade do Projeto.

Os resultados da tabela 2 demostram que os estudantes conheciam os objetivos do projeto, tomaram conhecimento do plano de trabalho a cumprir, assim como que os objetivos do projeto foram alcançados. Verificou-se que os estudantes perceberam que os pacientes atendidos foram beneficiados e que o projeto atingiu o público que pretendia. Eles consideraram que o gerenciamento do projeto foi satisfatório.

Por outro lado, os estudantes consideraram que infra-estrutura do atendimento ambulatorial foi inadequada. Este aspecto deve-se à falta de um local próprio para o funcionamento do ambulatório, uma vez que se utilizam duas salas do setor do Ambulatório de Endocrinologia do HULW.

Cerca de metade os estudantes considerou que o projeto teve uma interdisciplinaridade “parcial” em sua execução e que este gerou produtos “parcialmente”. Contudo, havia participação de duas especialistas em diferentes áreas (Nefrologia e Endocrinologia) e de uma assistente social. Pode-se interpretar este achado como a opinião de que houve multidisciplinaridade (embora de poucos profissionais de diferentes áreas), porém não chegou a haver uma troca suficiente de informações e de integração de ações dos diferentes campos.

Em uma atividade de extensão com vistas na atividade interdisciplinar espera-se que esta integração ocorra por parte de todos os envolvidos (professores e alunos), mas não é tão simples como parece, porque há uma certa dificuldade em se trabalhar desta forma, como por exemplo, o não entendimento de uma proposta interdisciplinar parece ser uma das barreiras, já que existem definições teóricas conceituais sobre inter e multidisciplinaridade com variações sutis, mas com relevantes distorções na prática (BATISTA, 2006).

Quanto à geração de produtos, verificou-se que quase 50% dos estudantes não consideraram suficientes os produtos gerados pelo projeto. Publicou-se um artigo e elaboraram-se outros dois a serem submetidos brevemente à publicação. Elaboraram-se também quatro protocolos clínicos de
conduta, entre outros produtos, o que será objeto de outra postagem oportunamente.

O acompanhamento ambulatorial contínuo neste Projeto alcançou seus objetivos em curto prazo, mantendo os pacientes compensados clinicamente por meio de medidas educativas e farmacológicas. A
gora, programam-se as metas a serem atingidas em médio prazo, com a solicitação de renovação do projeto submetida em 22 de abril último.

A dimensão do ensino em relação aos alunos participantes do Projeto Continuum também representou um componente positivo. Nesse processo de compreensão da condição crônica, os alunos extensionistas tiveram oportunidade de reconhecer o diabetes mellitus, a hipertensão arterial e a doença renal crônica como um problema de saúde pública no contexto das doenças crônicas e ampliar sua compreensão da atenção a esses pacientes.

Foi possível verificar que os alunos tiveram a oportunidade de perceber que para cuidar de pessoas com doenças crônicas é necessário mais do que conhecimentos sobre os aspectos biomédicos, destacando-se a importância de compreender como a doença crônica afeta a vida dessas pessoas.

Referências
BATISTA, S. H. S. A interdisciplinaridade no ensino médico. Rev. bras. educ. med. 30 (1): 39-46, 2006.

23 de abril de 2009

Humor... semiológico

Dois estudantes de Medicina do quarto período caminhavam pela rua quando viram um homem idoso andando lentamente e com as pernas rígidas.
Um deles disse ao colega: "Eu tenho certeza que esse homem tem a Síndrome de Kaviortini, veja como ele anda ampliando a sua base de sustentação..."
O outro estudante disse: "Não, não é nada disso. Tenho certeza que ele tem a Síndrome de Maniovsky, ele anda igual a como foi descrito na última aula de Semiologia."
Já que não concordavam quanto ao diagnóstico sindrômico, eles decidiram falar com o homem: "Somos estudantes de Medicina e não deixamos de observar a maneira como o senhor anda, e estamos tentando diagnosticar a síndrome que o senhor apresenta. Pode nos dizer qual é?
O homem disse: "O que vocês acham?"
Então, um dos alunos disse: "Eu acho que é a Síndrome de Kaviortini."
E o homem respondeu: "Você acha, mas está errado."
Em seguida, o outro aluno disse: "Eu acho que o senhor tem Síndrome de Maniovsky".
E o homem disse: "Você acha, mas está errado."
Então, eles perguntaram: "E o que o senhor tem?"
E o homem respondeu: "Eu achava que eu é que estava 'vendo coisas', mas estava errado."

21 de abril de 2009

Experiência da Primeira Visita Domiciliar no Projeto Continuum de Extensão

Projeto Continuum / PROBEX / UFPB: Enfoque na Visita Domiciliar (2008)
Trabalho apresentado por Rodolfo Augusto Bacelar de Athayde (extensionista do Projeto) no Grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME) / CCM / UFPB

Resumo do Relato de Experiência
Introdução: Selecionou-se uma paciente atendida no ambulatório de egressos de internação da clínica médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley/ UFPB, no Projeto Continuum (Probex), para receber visita domiciliar da equipe do projeto de extensão, de acordo com a Escala de Risco de Coelho (COELHO; SAVASSI, 2006). A paciente selecionada foi uma mulher diabética, 61 anos, com mau controle metabólico, hipertensa, com má adesão ao tratamento dietético, em uso de polifamácia, ansiosa e com sintomas depressivos, portadora de risco cardiovascular alto e desfavorável condição econômica. O escore de risco da Escala de Coelho foi 15 (risco R3).
Objetivos da visita: Conhecer o domicílio e estrutura e apoio familiar da paciente, verificar seguimento da prescrição dietética e medicamentosa, condições de estoque dos medicamentos e administração da insulina (locais de aplicação, quem está aplicando, sinais de atrofia cutânea), medição da pressão arterial, verificação dos ajustes da insulina e controles de auto-monitorização da glicemia, existência de assistência à saúde no bairro e efeitos adversos dos medicamentos.
Procedimentos: Após obter consentimento para a visita, comunicou-se o objetivo desta, aplicou-se o questionário elaborado para este fim, verificando possíveis problemas com a administração de medicamentos e em relação ao apoio da família; realizou-se intervenção educativa; conversou-se com os familiares.
Resultados: A equipe do Projeto Continuum considerou que os objetivos da visita domiciliar foram alcançados. A família pareceu entender como proporcionar mais apoio à paciente, como ajudar a manter os medicamentos bem conservados, e principalmente, asseguraram que tentariam ficar atentos a alguns comportamentos depressivo-ansiosos da paciente, prometendo voltar ao ambulatório para obter apoio psicológico. A paciente demonstrou receptividade à visita da equipe, colaborando com as informações solicitadas e recebendo as orientações, ao contrário do que ocorreu no ambulatório, quando se mostrou pouco cooperativa e aparentemente apática.
Considerações finais: A visita permitiu verificar melhor a existência do problema depressivo da paciente e melhorou a relação desta com a equipe, mostrando a sua importância para o acompanhamento de portadores de doenças crônicas, permitindo a visualização do paciente no contexto domiciliar. Foi uma experiência pedagógica importante para os dois alunos envolvidos na visita, assim como para a paciente e sua família, mostrando que visitas domiciliares não devem ser vistas como exclusividade da atenção primária, pois é um recurso que deve ser utilizado em  qualquer nível de atenção à saúde, sobretudo nos estabelecimentos de ensino, desde que seja necessário e possa ajudar os pacientes atendidos.

Referência
COELHO, F. L.; SAVASSI, L C. Aplicação de Escala de Risco Familiar como instrumento de priorização das Visitas Domiciliares. 2006. Disponível em: http://www.smmfc.org.br/Escaladerisco.doc Acesso em: 19 mar 2009.

Semio-vídeos: Marcha hemiplégica

Demonstração simulada de marcha hemiplégica.

Fonte: YouTube

19 de abril de 2009

MCO2 é Bioestatística

Aula de MCO2 em 20.04.09 - Modelos de Pesquisa clínica
13h30-15h30
Bases lógicas e metodológicas do delineamento da pesquisa. Tipos fundamentais de delineamentos. Exercícios.
Os módulos complementares obrigatórios (MCO) são módulos de Metodologia da pesquisa do novo Projeto Pedagógico do curso de Medicina da UFPB (Campus I), e fazem parte do currículo nuclear como conteúdos obrigatórios.
Este é um conhecimento de fundamental importância na formação médica, tanto para execução, quanto interpretação e apresentação de uma pesquisa científica. Para a aplicação do paradigma da Medicina Baseada em Evidências, o médico também precisará de conhecimentos básicos de Epidemiologia e Bioestatística.
O papel da Estatística na pesquisa científica é contribuir na formulação das hipóteses estatísticas e fixação das regras de decisão, no fornecimento de técnicas para um eficiente delineamento de pesquisa, na coleta, tabulação e análise dos dados (estatística descritiva) e em fornecer testes de hipóteses a serem realizados de tal modo que a incerteza da inferência possa ser expressa em um nível probabilístico pré-fixado (inferência estatística). O conteúdo programático de MCO2 é composto basicamente por Bioestatística. O cronograma de aulas do módulo para este semestre letivo é mostrado abaixo. Os módulos MCO1 e MCO3 ocupam-se de metodologia da pesquisa propriamente dita e da orientação para elaboração do trabalho de conclusão de curso.
Os objetivos de aprendizagem de MCO2 são os seguintes: - Entender o papel da estatística na investigação científica; - Ser capaz de calcular medidas de tendência central e de dispersão; - Ser capaz de apresentar e compreender dados em tabelas e gráficos; - Ter noção de população e amostra, assim como da importância da amostragem aleatória; - Ter noção de distribuição amostral; - Ser capaz de realizar e interpretar um teste de hipóteses; - Ser capaz de entender a terminologia estatística habitualmente utilizada em artigos científicos; - Entender quais são os testes e procedimentos estatísticos mais adequados para os diversos tipos de pesquisa; - Ser capaz de fazer uma análise crítica dos dados estatísticos de artigos científicos ou de pesquisas que realize; - Distinguir os estudos de epidemiologia clínica; e
- Conhecer as limitações da aplicabilidade dos métodos estatísticos.
Cronograma
de aulas de MCO2
no semestre letivo 2009.1
CCM / UFPB

A "teia" da literatura médica

De acordo com Arndt (1992) "para ter conhecimento de toda publicação de real importância para a Medicina, seria necessário ler 6.000 artigos por dia”.
Para a comunidade científica ou de pesquisa, a Internet é uma ferramenta indispensável. Através dela, tem-se acesso aos mais avançados recursos de pesquisa do mundo. Desta forma, pode-se discutir pesquisas com outros colegas que trabalham com as mesmas preocupações e procurando-se alcançar resultados iguais. Tornou-se possível, assim, a aproximação e recuperação de grande quantia de informação científica publicada nos últimos tempos, porém esta constitui uma teia imensa de artigos.
A Internet e os portais de periódicos de acesso livre permitem acessibilidade esse conhecimento. Por isso, depois que surgiu a Internet, a ciência nunca mais foi a mesma, como afirma Sabbatini (1995). É preciso, no entanto, saber o que selecionar dessa imensidão de informações e também é preciso saber como fazê-lo. Para isso, é necessário praticar a busca bibliográfica.
Esta pesquisa bibliográfica deve ser crítica, baseada em critérios metodológicos, a fim de separar os artigos que têm validade daqueles que não têm. É preciso ter critério nessa seleção.
A popularização desta nova tecnologia permite que serviços até recentemente restritos possam ser acessados e oferecidos gratuitamente a toda comunidade científica. A publicação on-line permite a divulgação do conhecimento com uma interatividade entre os autores e leitores, a facilidade de acesso, a rapidez na publicação, a atualização constante e o custo mais acessível. Iniciativas como a SciELO e a PLoS são um passo importante para ampliar o acesso à Internet e, por conseqüência, à divulgação científica.
O número de artigos publicados em periódicos científicos em 1981 foi de 440.286, no mundo inteiro, e de 1.887, no Brasil. Já em 2002, houve um aumento expressivo, passando para 872.018 publicações nas várias áreas do conhecimento, em todo o mundo, e o Brasil com 11.285 (SOUZA, 2006).
O ideal seria que todas as pesquisa clínicas fossem perfeitas, pois assim não teríamos que nos preocupar com sua qualidade e poderíamos, no processo de tomada de decisão, utilizar o intervalo de confiança de 95% de seus resultados. Como esta situação ideal não existe, é importante ter atenção na utilização dos resultados das pesquisas clínicas pois existe uma grande variedade de tipos de estudo disponíveis (estudos de acurácia, ensaios clínicos aleatórios, estudos coortes, revisões sistemáticas/meta-análises, análises econômicas).
Entender qual a função, as limitações e a utilização de cada uma na decisão clínica, ou seja, avaliar a validade, importância e aplicabilidade desta pesquisas, é uma habilidade que o estudante de Medicina precisa desenvolver.
Portanto, buscar informações em pesquisa clínica atualmente, embora o acesso seja mais fácil, é caminhar por uma teia bastante densa, tecnicamente conhecida como "literatura médica". A seguir, estão endereços para a busca de informações em pesquisa clínica.
Endereços importantes para busca de informação em pesquisa clínica - links BIREME - endereço nacional de acesso livre; permite acesso ao medline e LILACS (uma base de dados da América Latina); http://www.bireme.br/php/index.php Scielo - Biblioteca eletrônica científica online - biblioteca virtual cobrindo Revistas Científicas Brasileiras (mantida pela FAPESP e BIREME). http://www.scielo.org/php/index.php CAPES PERIODICOS: Revistas online http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jspsp Medline - PubMed System - Excelente, fácil de usar e possui a marca da National Library of Medicine, USA; http://www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/ Cochrane Library http://www3.interscience.wiley.com/cgi-bin/mrwhome/106568753/HOME?CRETRY=1&SRETRY=0 ISI Web of Knowledge - Portal que agrega bases de dados multidisciplinares do Institut for Scientific Information (ISI), requer inscrição http://www.isiwebofknowledge.com/ BioMedCentral Journals http://www.biomedcentral.com/ - Livre AHRQ Agency for Healthcare Research Quality (US) http://www.ahrq.gov/ - Livre American College of Physicians http://pier.acponline.org/index.html - Requer inscrição Clinical Evidence http://www.clinicalevidence.com/ - Requer inscrição Directory of Open Access Journals http://www.doaj.org/ - Livre Referências ARNDT, K. A. Information excess in medicine. Arch Dermatol., 128: 1249-56, 1992. SABBATINI, R. A teia do conhecimento. Jornal Correio Popular, 23/11/95 SOUZA, P. S. Publicação de revistas científicas na Internet. Rev Bras Cir Cardiovasc, 21 (1): 24-28, 2006.

18 de abril de 2009

A pressão do paciente para solicitação de exames complementares

CHEHUEN NETO, J. A. Confiabilidade no médico relacionada ao pedido de exame complementar. HU rev., Juiz de Fora, 33 (3): 75-80, 2007
A prática medica é continuamente atualizada com a introdução de novos exames e métodos de diagnostico e tratamento. À medida que novas tecnologias são introduzidas, a anamnese e o exame físico são desvalorizados e eventualmente, observa-se inversão de valores na prática do profissional médico. O objetivo deste estudo foi identificar a relação entre a confiança no exercício médico e a necessidade de confirmação do diagnóstico por exames complementares (ECs). Para a coleta de dados foi utilizado um questionário aplicado a 200 usuários do Posto de Atendimento –PAM Marechal, SUS / Juiz de Fora – MG. A análise estatística foi feita de forma quanti-qualitativa e descritiva. Os resultados, quanto à confiança depositada nas informações dadas pelo médico em uma consulta, apontaram que 52,5% dos entrevistados confiam plenamente. Os motivos que mais suscitam confiança no paciente são o médico ouvi-lo com atenção (67,5%) e solicitar-lhe ECs (60,5%). Esses percentuais são maiores do que aqueles relacionados às razões como perguntar seguramente (33%) e/ou ao examinar no consultório (33,5%). A postura mediante um diagnóstico médico baseado apenas na consulta, para 55,0% dos indivíduos entrevistados, é não acreditar no diagnóstico sem a realização de exames médicos subsidiários. Quanto à possibilidade de retorno após consulta sem solicitação de ECs, 76,5% das pessoas questionadas afirmam que não retornariam, sendo que 91,5% dos entrevistados acreditam que o pedido dos mesmos seja necessário. Concluímos que, apesar do alto grau de confiança na atuação do profissional, a população percebe a necessidade de exames complementares como meio confirmação da opinião médica.

Crédito da imagem: a foto desta postagem foi extraída de http://www.fotosearch.com/TGR335/trd014ta5736/

13 de abril de 2009

Atividades acadêmicas da Monitoria de Semiologia entre 2006 e 2009

Figura 1- Produção acadêmica do Grupo de Pesquisas em Semiologia Médica (GESME), do Centro de Ciências Médicas da UFPB, considerando as atividades da Monitoria entre 2006 e 2008.
A Monitoria Acadêmica no âmbito da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) é um programa consolidado da maior importância para o ensino. No contexto deste programa, a Monitoria em Semiologia Médica tem o objetivo de proporcionar ao aluno a possibilidade de ampliar seu conhecimento em Exame Clínico, despertando seu interesse para a docência e desenvolvendo suas aptidões e habilidades no campo do ensino e da pesquisa. O objetivo desta postagem é descrever as atividades de Ensino e Pesquisa desenvolvidas pelos monitores de Semiologia Médica nos últimos três anos. Trata-se de um relato de experiência. O procedimento de coleta de dados consistiu em revisão das atividades dos monitores, entrevistas com professores da Disciplina e análise documental. Foram avaliadas retrospectivamente as atividade de Ensino e Pesquisa cumpridas pelos Monitores de Semiologia Médica, do Departamento de Medicina Interna, Centro de Ciências Médicas, nos anos de 2006, 2007 e 2008, assim como as atividades atuais.
As atividades cumpridas sistematicamente pelos monitores de Semiologia nos últimos três anos foram: - Seleção e preparo dos pacientes internados nas enfermarias de Clínica Médica para para participarem das aulas práticas ministradas pelos professores; - Exercício de atividades junto aos alunos nos horários extra-classe, à beira do leito, em atendimento do tipo “plantão de revisão”; - Participação do Grupo de Estudos de Semiologia Médica (GESME) com freqüência semanal de seminários; - Apresentação de casos clínicos previstos na programação da disciplina e discussão destes com os alunos; - Desenvolvimento de atividades de pesquisa relacionadas a ensino-aprendizagem na disciplina de Semiologia sob coordenação do professor orientador da monitoria de Semiologia; - Apresentação de trabalhos de pesquisa realizados na monitoria no Encontro de Iniciação à Docência e em outros eventos científicos (locais, nacionais e internacionais). A produção acadêmica da Monitoria de Semiologia entre 2006 e 2008 está demonstrada na figura acima (figura 1).
Os eventos científicos com apresentação de trabalhos foram: IV Congresso Internacional de Clínica Médica e I Fórum Internacional de Saúde e Envelhecimento (Internacionais); 46 COBEM - Congresso Brasileiro de Educação Médica, 2008 (Nacional), XI Encontro de Iniciação à Docência da UFPB, 2008; XI Encontro de Iniciação à Docência da UFPB, 2008; V Congresso Paraibano de Estudantes de Medicina, 2008; X Encontro de Iniciação à Docência da UFPB, 2007; XV Encontro de Iniciação Científica da UFPB (XV ENIC), 2007; IX Encontro de Extensão, 2007 O livro didático de Semiologia encontra-se em fase final de editoração (Editora Universitária da UFPB). “Exame Clínico do Adulto” é um livro voltado para a graduação: o aluno de Medicina, o monitor de Semiologia e outras disciplinas clínicas, visando ao desenvolvimento das habilidades semiotécnicas requeridas para a formação do clínico generalista. Dois artigos estão em fase de redação e revisão: - “Percepções do paciente internado em um hospital de ensino sobre sua participação no treinamento clínico de estudantes de Medicina” - "Perfil clínico-epidemiológico do adulto hospitalizado na clínica médica do HULW: Subsídios para ações de ensino, pesquisa e extensão” As ações de extensão realizadas foram: duas palestras proferidas e participação no Stand de exposição sobre Parto na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da UFPB (2008). Considerações finais:
A Monitoria Acadêmica é uma oportunidade para formação docente do aluno. Além de essencial para a inserção do aluno iniciante na observação clínica no contexto hospitalar, a Monitoria de Semiologia tem assumido também o objetivo de articular as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Portanto, a Monitoria em Semiologia tem cumprido sobretudo dois dos seus objetivos: acadêmicos Ensino e Pesquisa.

12 de abril de 2009

O logotipo do GESME

Este é o logotipo criado para o Grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME), do Centro de Ciências Médicas (CCM), Universidade Federal da Paraíba
Logotipo criado por Héctor Molina (http://ateliermolina.blogspot.com/)

9 de abril de 2009

Quem tem medo da subjetividade? O fator subjetivo na avaliação formativa do estudante de Medicina

No momento em que os cursos de graduação em Medicina estão revendo seus projetos pedagógicos, é fundamental que se reflita sobre a construção da subjetividade nesse processo. A busca de novas técnicas pedagógicas são fundamentais, contudo podem ser difíceis de implantar na prática e insuficientes para auxiliar os alunos a elaborar a diversidade de embates afetivos com os quais irão lidar.
As mudanças curriculares têm seu ponto nevrálgico no tema da avaliação do aprendizado. Há muitas resistências, por parte dos docentes e dos discentes, às práticas avaliativas menos estruturadas, mais diretivas.
Refletir sobre avaliação é um processo difícil, mas não tão difícil quanto vivenciá-la, seja como avaliador ou avaliando. Na qualidade de avaliador, é preciso tentar ser justo, franco, aberto. É preciso buscar estipular critérios claros e espaços de interação. Por outro lado, como avaliados, os alunos querem mostrar o melhor de si, sua capacidade e potencial, mesmo que naquele momento, o melhor de si seja pouco frente ao que o outro espera (CANEN, 2001).
Pensar em formação médica atualmente remete à análise conjunta do desenvolvimento das habilidades afetivas, psicomotoras e cognitivas. A promoção do desenvolvimento das habilidades afetivas pressupõe vivências nas relações interpessoais e adaptação psicossocial aos ambientes e às pessoas. A avaliação formativa insere-se nesse contexto, com a finalidade de avaliar o processo de desenvolvimento do estudante, seu desempenho.
Insere-se aqui também a reflexão sobre os componentes subjetivos presentes nos relacionamentos humanos, como a transferência e a contra-transferência, conceitos vindos da Psicanálise. Dentro desse processo, a subjetividade intervém também no sistema avaliativo, particularmente na avaliação formativa, haja vista que esta diz diretamente às questões de habilidades pessoais. O julgamento destas habilidades sofre inevitavelmente a influência da história de vida, relacionamentos anteriores, necessidades afetivas, conceito de si, identidades e papéis sociais, ansiedades e defesas.
Conceituar o termo subjetividade é uma tarefa complexa, sobretudo quando se considera esse conceito e sua adequação à educação. Mas antes, veja-se a conceituação de um dicionário: segundo o Larousse Cultural (1999), subjetividade é o caráter do que é subjetivo, que, por sua vez, diz respeito ao sujeito definido como ser pensante, por oposição a objetivo. De fato, a subjetividade engloba todas as peculiaridades inerentes à condição de ser sujeito, envolvendo as capacidades sensoriais, afetivas, imaginativas e racionais de uma determinada pessoa.
Portanto, o termo subjetividade engloba o conceito de ser humano, de psiquismo, de "indivíduo psíquico"... O assunto da subjetividade merece toda a atenção quando se trata das experiências pessoais, intransferíveis e conscientes, da ordem dos fenômenos internos das pessoas e suas experiências vividas (HOFFMANN, 2003).
Contudo, durante muito tempo a dimensão emocional foi relegada pela Ciência e, portanto, por outras dimensões acadêmicas também. Ao longo da história, houve uma valorização maximizada da objetividade em detrimento à subjetividade.
Mas, qual seria o papel da subjetividade na avaliação formativa do aluno de Medicina? Pelo que se apresentou linhas acima, negar a subjetividade na formação do processo estratégico é negar a própria condição humana. Quando se opta pela "imparcialidade", que significaria não dever assumir posturas e atitudes determinadas pelo querer ou não bem ao outro, mas sim buscando o ser justo e ético, ainda assim não se está sendo afetivo/emocional?
Antes de tentar responder, é preciso revisar aspectos fundamentais da avaliação formativa. Na avaliação formativa, “é fundamental que o professor tenha claramente definido os objetivos a alcançar, devendo, portanto, a avaliação estar voltada para a aprendizagem e o desempenho do aluno. É também indispensável que o professor defina, com seus alunos, os critérios que lhe servirão de referenciais para constatar o alcance desses objetivos” (PINTO, 2002).
Esta é uma citação que coloca em primeiro plano a questão da definição dos objetivos de aprendizagem e os critérios de avaliação de desempenho, ligados aos primeiros. Mas, no modo de aplicar esta avaliação, devem ser considerados aspectos estudados em relação à subjetividade na avaliação (ALBANESE, 2000; CANEN, 2001; NUNES, 2007):
(a) Efeito de halo: tendência para se ser influenciado por um traço particular oupor uma impressão geral acerca de uma determinada pessoa, quando se avaliaoutro traço da mesma pessoa;
(b) Efeito de Pigmalião ou de Rosenthal: traduz a influência que as expectativasdo professor exercem sobre o desenvolvimento e os resultados do aluno;
(c) Efeito de Hawthorne: resultados positivos ou negativos que não são devidos a fatores ligados ao aprendizado do aluno, mas ao efeito psicológico desencadeado pelo fato de a pessoa avaliada ser objeto de uma atenção especial.
Assim, não são os pressupostos da avaliação formativa que trazem a subjetividade à cena avaliativa. A questão está na lógica da avaliação, porque pensar em formação médica atualmente remete à análise do desenvolvimento das habilidades afetivas e psicomotoras, não apenas na dimensão cognitiva, como ocorre na avaliação tradicional, somativa. A promoção do desenvolvimento das habilidades afetivas pressupõe vivências de relações interpessoais e adaptação psicossocial aos ambientes e às pessoas. Aí está a subjetividade: a avaliação formativa insere-se nesse contexto, com a finalidade de julgar o processo de desenvolvimento do estudante, seu desempenho no que diz respeito a atitudes e comportamentos.
Insere-se aqui também a reflexão sobre os componentes subjetivos presentes nos relacionamentos humanos, a saber, a transferência e a contra-transferência. Dentro desse processo, intervém também no sistema avaliativo, particularmente na avaliação formativa, haja vista que esta diz diretamente às questões de habilidades pessoais. Claramente, tal processo envolve a subjetividade das pessoas envolvidas, professor e aluno. No contexto da subjetividade em avaliação ressalta-se a importância de respeitar o ritmo individual na aquisição de aprendizagens significativas, e nesta, a “auto-avaliação” adquire lugar privilegiado, bem como o estudo dos aspectos afetivos/emocionais que interferem no processo de ensino/aprendizagem.
Portanto, a subjetividade é notória na elaboração da avaliação formativa. Esta avaliação de atitudes do aluno depende também da visão de mundo do professor. Nesse sentido, Hoffmann afirma que até as questões elaboradas sofrem a influência da subjetividade:
No momento em que o professor formula uma questão, seja oralmente ou por escrito, revela uma intenção pedagógica e uma relação com o educando, o que implica obrigatoriamente subjetividade [...] As questões elaboradas revelam o entendimento do professor [...] sua visão de conhecimento. (HOFFMANN, 2003, p. 50).
Muito se está falando sobre a avaliação da aprendizagem sob o ponto de vista do professor, mas uma avaliação formativa e que possui fidedignidade pode ser realizada por outros “ângulos” de observação, como, por exemplo, pelo colega ou pelo próprio aluno. A avaliação por pares tem sido apontada como um importante indicador de desempenho, sendo considerada consistente e confiável, fornecendo informações que não poderiam ser identificadas por métodos tradicionais de avaliação. No entanto, a avaliação por pares é subjetiva também e pode ser influenciada pelas impressões gerais que o estudante tem do colega. Esse é um tema que merece ser discutido neste momento de reforma curricular no curso de Medicina. Se esse é o caminho, e é o que parece, se o professor e o aluno não atuam de forma cooperativa e aberta, podem-se cometer desvios, por mais consciente que se julgue agir na processo de ensino-aprendizagem. Referências Grande Dicionário Larousse cultural da língua portuguesa. São Paulo: Nova Cultural; 1999. PINTO, E. Avaliação de ingressantes. In: FELTRAN, R. C. S, et al. Avaliação na educação superior. Campinas: Papirus, 2002, p. 83-108. ALBANESE, M. Problem-based learning: why curricula are likely to show little effect on knowledge and clinical skills. Med Educ. 34 (9):729-38, 2000. CANEN, A. Universos culturais e representações docentes: Subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural. Educ. Soc. 22 (77): 207-227, 2001. NUNES, E. D. Merton e a sociologia médica. Hist. cienc. saude-Manguinhos 14 (1): 159-172, 2007 HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 20 ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003. Crédito da imagem: www.medicine.uiowa.edu/Osac/curriculum/m4.html

7 de abril de 2009

Comunicar é partilhar sentido

"Comunicar não é de modo algum transmitir uma mensagem ou receber uma mensagem. Isso é a condição física da comunicação, mas não é comunicação. (...) Comunicar é partilhar sentido".
(Pierre Lévy)

5 de abril de 2009

Não existem doenças sem que existam doentes

Por Antonio Edilton Rolim Filho
Estudante de Medicina do Centro de Ciências Médicas da UFPB
Aluno Bolsista do PROBEX/UFPB - Projeto Continuum
Com os avanços da técnica em Medicina, a eficácia terapêutica aumentou, porém por imposição da própria dinâmica tecnológica, paga-se um preço pela perda da visão da unidade do paciente. Acaba-se, muitas vezes, tratando de uma parte do paciente, e não dele como um todo; algo que surge mais como necessidade do que como falha do especialista, a quem, aparentemente, não lhe resta espaço para visões holísticas que poderiam comprometer a profundidade de seu conhecimento particular.
Abre-se assim uma "brecha" para a despersonalização do atendimento médico. Se não cabe ao especialista sanar esta deficiência, certamente alguém deverá estar incumbido de fazê-lo, pois o paciente é - queiramos ou não - uma unidade real: um alguém que está doente e que se sente, todo ele e não apenas uma parte, enfermo. Esta dissociação da doença e do doente é o grande prejuízo que o avanço científico e tecnológico acaba causando. É preciso, portanto, que o profissional da saúde reflita cuidadosamente para não participar desta deturpação do exercício médico profissional nem de ampliá-la. Afinal, o médico é um ser humano que estudou para tratar os semelhantes, e é procurado justamente quando eles se sentem mal.
O doente é um ser fragilizado, aflito, angustiado e tem medo. Medo de perder o emprego, da dor, de vir a faltar para a família. É sob esta carga emocional que o doente chega ao médico, esperando dele atenção, cuidados, gentileza, compaixão e, é óbvio, a cura. Saber que alguém cuida dele, é fator fundamental na luta do paciente contra a doença.
No médico, ele deposita a confiança e, guiado pelos seus conselhos, enfrenta a nova situação que a vida lhe depara: estar doente. Não se sente um caso de estudo, nem sequer um diagnóstico, porque não é somente isso. A doença acontece sempre em alguém, num indivíduo concreto, e por isso reveste-se de individualidade, das peculiaridades desse ser humano, com suas características próprias de personalidade familiares e sociais. A doença é realmente pessoal e intransferível, como o próprio sujeito, como a alma, como o ser.
Crédito da imagem: Figura extraída da Revista Electronica de PortalesMedicos.com