Imagem de microscopia eletrônica do vírus da Influenza A: subtipo H1N1 (foto extraída de http://www.sciam.com/)
A influenza é conhecida do homem desde a Antiguidade. Relatos históricos indicam a incidência de doenças cujas características correspondem ao que agora se identifica como uma epidemia de gripe: aparecimento súbito de sintomas respiratórios altos, doença altamente contagiosa, e que dura alguns dias. Em resposta a sucessivas pandemias de gripe, vários cientistas passaram a estudar a etiologia da infecção já no século 19, tentando explicar a sua natureza.
A atual epidemia gripe suína (que esta semana passou a se chamar Gripe A ou Influenza H1N1) é uma forma de gripe aviária. Embora seja normalmente virulento apenas em suínos, pensa-se que o vírus Influenzae A H1N1 tenha sofrido mutações, com transmissão cruzada para o homem na primeira parte do século 20, causando a pandemia de Gripe Espanhola, com taxa de mortalidade mundial estimada em 50 milhões de pessoas.
Acredita-se que que estas mutações devem-se à recombinação do vírus influenza a partir de diferentes fontes. Um caso de gripe suína teria sido misturado com uma gripe que afeta seres humanos que, por sua vez, poderá criar uma nova cepa de vírus. Supõe-se que uma mudança antigênica geralmente ocorre após vários anos, após a população ter adquirido imunidade à cepa anterior. É comum um grande surto ocorrer após uma dessas mudanças, sendo ainda mais provável depois de uma dupla mutação porque os anticorpos na população seriam inúteis contra estas novas formas da doença (ENSERINK, 2005). Portanto, como todos os vírus influenza, o vírus muda constantemente e, ao longo dos anos diferentes variações do vírus da gripe suína têm surgido.
Os sintomas da Influenza H1N1 são como os de uma gripe comum, incluindo febre alta, tosse, dor de garganta, mialgias, cefaléia, calafrios e fadiga, e eventualmente, diarréia e vômitos BRAMMER et al., 2002). Tais sintomas definem um caso suspeito de influenza A (H1N1) quando ocorrem até 10 dias após o indivíduo sair de área afetada pela influenza A ou ter tido contato próximo nos últimos dez dias com pessoa classificada como caso suspeito de infecção humana pelo novo subtipo de influenza A.
O que se sabe sobre o H1N1? A Virologia é uma das disciplinas da área biológica que mais tem avançado. Sabe-se que os vírus influenza A são classificados de acordo com duas proteínas na superfície exterior do vírus - hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). Foram descritos 146 tipos de vírus influenza. De todos estes, o H1N1 permanece o mais agressivo. Com o seu sequenciamento genético, foi possível determinar que ele passou diretamente de seu hospedeiro natural (as aves) para os seres humanos. O outro único tipo de influenza com essa característica é o H5N1, causador da gripe aviária, que em 2003, expressou-se como a Síndrome Respiratória Aguda Grave, causando cerca de 774 mortes em todo o mundo.
Não existe ainda muita informação disponível sobre os fatores genéticos e composição antigênica do vírus, mas para o Center of Disease Control (CDC, EUA), este contém material genético de suínos da América do Norte e os vírus da gripe aviária, vírus encontrados na Ásia e na Europa.
O vírus que está assustando todo o mundo é do subtipo H1. Mas um dos vírus influenza humana que circulam atualmente também é do subtipo H1 - o vírus H1N1 humano. Apesar de o vírus H1N1 suíno ser antigenicamente diferente do H1N1 humano, é possível que aqueles que foram infectados com a cepa humana poderiam estar parcialmente protegidos das cepa suína (COKER, 2009). Ou seja, essas pessoas poderiam apresentar um quadro menos grave da doença do que aquelas sem memória imunológica de um vírus H1. Mas não há evidências imunológicas que permitam avaliar esta possibilidade ainda.
Ainda como recorte histórico, na época da Gripe Espanhola, equívocos foram cometidos na tentativa de identificar o agente causador da pandemia. Segundo Souza (2008), em 22 de outubro de 1918, a primeira página do jornal Baiano "O Imparcial" (foto abaixo) relatou que o médico italiano R. Ciauri tinha descoberto o micróbio da gripe aviária. Após um inquérito realizado com pacientes portadores da doença, este pesquisador conseguiu isolar um bacilo bipolar que ele acreditava ser o agente específico da doença. À semelhança de outros investigadores, Ciauri pensava ter descoberto uma bactéria, e não um vírus. Imediatamente após a publicação desta notícia, o Diário da Bahia (23 de Outubro de 1918, p. 2) transcreveu um artigo do Dr. Nicolau Ciancio, que apontou os pontos fracos nessa descoberta, destacando a pequena quantidade de tempo em que Ciauri tinha levado para descobrir o agente específico da doença, tendo em conta as dificuldades inerentes a um processo de investigação neste âmbito.
Foto publicada no artigo de Souza (2008) enfocando o erro inicial de uma descoberta da suposta etiologia da Gripe Espanhola
Referências
BRAMMER, T. L. et al. Surveillance for influenza - United States, 1997-98, 1998-99, and 1999-00 seasons. MMWR Surveill Summ. 51 (7): 1-10, 2002.
ENSERINK, N. Infectious diseases. Experts dismiss pig flu scare as nonsense. Science. 307(5714): 1392, 2005.
SOUZA, C. M. C. The Spanish flu epidemic: a challenge to Bahian medicine. Hist. cienc. saude-Manguinhos, 15 (4): 945-972, 2008.