Estudante de Medicina da UFPB (oitavo período), extensionista do Projeto Continuum (PROBEX/UFPB), ano II
A experiência de déjà vu é um fenômeno que ocorre tanto em situações patológicas quanto não-patológicas. Esta experiência é definida como uma sensação inapropriada de familiaridade subjetiva com um evento que aparentemente não ocorreu de forma consciente (SNO; LINSDZEN, 1990).
Déjà vu é um termo francês que literalmente significa "já visto" e tem diversas variações, incluindo déjà vecu, "já experimentado"; déjà senti, "já pensado"; e déjà visite, "já visitado", ou, em contraposição, o jamais vu, sensação de "jamais ter visto". O cientista francês Emile Boirac foi um dos primeiros a estudar esse estranho fenômeno em 1876, daí a permanência do termo em francês na literatura.
O déjà vu é uma alteração qualitativa da memória, e faz parte do grupo das paramnésias, como parte de um quadro de epilepsia, a epilepsia do lobo temporal, mas pode ocorrer também em pessoas normais quando se encontram muito cansadas, com fadiga extrema ou privação do sono (FONTANA, 2005).
No livro "The Déjà Vu Experience" ("A experiência do déjà vu"), Brown (2004) afirma que dois terços da população mundial relatam ter tido ao menos uma experiência de déjà vu na vida. Isso não significa, no entanto, que todo esse contingente apresente epilepsia. Os episódios de déjà vu podem ser resultado de uma breve alteração no processamento da memória, que segue um circuito neuronal complexo – como se fosse uma rede de transmissão elétrica intrincada – ainda não totalmente conhecido.
É na região do lobo temporal onde se localizam estruturas como o hipocampo e a amígdala, que codificam e dão a conotação emocional às informações que o indivíduo recebe. A estimulação desta região do lobo temporal de pacientes com epilepsia podem reproduzir o fenômeno de déjà vu (WILD, 2005).
Para Spatt (2002), esse fenômeno é o resultado de falhas e isoladas atividade de um sistema de reconhecimento de memória que consiste no giro parahipocampal e suas conexões neocorticais. Este sistema de memória seria responsável pela sensação de "familiaridade" em relação a um evento. O resultado é que uma cena momentânea percebida passa a ter as características de familiaridade que normalmente acompanham uma recordação consciente. O funcionamento normal de outras estruturas cerebrais envolvidas na memória de recuperação - o córtex pré e hipocampo - leva à sensação de perplexidade fenomenológica do déjà vu.
O déjà vu é uma experiência subjetiva que tem sido descrita em muitos romances e poemas. Sno et al. (1992) revisaram mais de 20 obras literárias descrições que são consistentes com os dados obtidos na literatura psiquiátrica, incluindo vários aspectos fenomenológicos, etiológicos e psicopatogênicos da experiência déjà vu. As explicações, formuladas explicitamente pelos autores criativos, incluem a reencarnação, sonhos, fatores orgânicos e memórias inconscientes. Não raro, uma associação com a defesa ou fatores orgânicos é demonstrável com base na interpretação psicanalítica ou clínica psiquiátrica. Os autores recomendam que os psiquiatras deveriam ser incentivados a ultrapassar os limites da literatura psiquiátrica e ler prosa e poesia também...
Farina e Verrienti (1996) também revêm o conceito de déjà vu como uma experiência comum na vida e que é amplamente descrito na psicopatologia e na literatura artística. Iniciando a descrição de escritores como Camus, Dickens E Simmel, eles propõem uma primeira forma de leitura fenomenológica de experiências de déjà vu referentes a diferentes hipóteses em psicopatologia: um transtorno de memória ou um distúrbio atencional, considerando o fenômeno como um transtorno de acordo teorias da consciências de Ey.
Referências
BROWN, A. S. The Deja Vu Experience: Essays in Cognitive Psychology. New York: Psychology Press, 2004.
FARINA, B.; VERRIENTI, D. The phenomenon of deja vu in psychopathology and literature. Minerva Psichiatr. 37 (2): 99-106, 1996.
FONTANA, A. M. Manual de Clínica em Psiquiatria. São Paulo: Atheneu, 2005.
SITTA, I. Déjà Vú - Já vi esse filme! Revista Coop, 253, 2005.
SPATT, J. Déjà vu: possible parahippocampal mechanisms. J Neuropsychiatry Clin Neurosci. 14(1): 6-10, 2002.
SNO, H. N.; LINSZEN, D. H. The déjà vu experience: remembrance of things past? Am J Psychiatry. 147 (12): 1587-95, 1990.
SNO, H. N.; LINSZEN, D. H.; JHONG, F. Art imitates life: Déjà vu experiences in prose and poetry. Br J Psychiatry. 160: 511-8, 1992.
WILD, E. Deja vu in neurology. J Neurol. 252 (1): 1-7, 2005.