Admite-se no hospital uma paciente de 59 anos, feminino, com dispnéia intensa e dor torácica. A percussão do tórax revela macicez e a ausculta mostra abolição do murmúrio vesicular no hemitórax direito. Uma espirometria mostra uma acentuada redução da capacidade vital. A radiografia do tórax mostra opacificação do hemitórax direito, mas não é possível distinguir entre consolidação, derrame pleural ou atelectasia. A broncoscopia nada acrescenta. Cinquenta anos atrás, esta paciente teria realizado uma toracotomia exploradora. O resultado teria sido o que os doentes com câncer mais temem: uma cirurgia open-close.
Com a moderna tecnologia de hoje, uma punção pleural guiada por ultrassonografia poderia obter células neoplásicas, e uma tomografia axial computadorizada revelaria um tumor. Assim, cuidados paliativos poderiam ser prontamente indicados para essa paciente.
A investigação mais rápida e segura de casos como esse só se tornou possível mediante o avanço tecnológico de 200 anos no diagnóstico de doenças torácicas.
Em uma revisão histórica, Warren (1999) faz um levantamento do desenvolvimento de três desses avanços tecnológicos: o estetoscópio, no início do século 19 na França, o espirômetro em meados do século na Inglaterra, e a imagem de raios-x, no final do século, na Alemanha. Estas tecnologias foram rapidamente incorporadas à prática médica e passaram a influenciar significativamente a natureza da relação médico-paciente.
Da Antiguidade até o final do século XVIII o diagnóstico de doenças em medicina interna dependia apenas de uma análise do que o paciente descrevia ao médico. O exame clínico era a pedra angular de uma boa avaliação médica. Warren (1999) descreve a evolução do diagnóstico das doenças pulmonares desde Hipócrates até o século XX e faz uma reflexão dos avanços ocorridos tanto para o médico quanto para o paciente.
WARREN, C. P. The history of diagnostic technology for diseases of the lungs. CMAJ 161(9):1161-3, 1999.