Por Mara Rufino de Andrade
Estudante de Medicina da UFPB (nono período); Ex-monitora de Semiologia Médica
O binômio ensino-pesquisa é considerado, de forma unânime, uma conquista permanente e intrínseca do conceito de universidade. Uma das conclusões da Conferência Mundial sobre Ensino Superior realizada pela Unesco em Paris, em 1998, relatava que: "Não há condições de uma Nação querer ser moderna com desenvolvimento social e econômico se não tiver base científica e tecnológica". Nessa perspectiva, é inquestionável a importância da pesquisa na vida acadêmica de todo estudante de medicina.
Nesse contexto, sempre tive o desejo de ingressar em algum projeto de Iniciação Científica, porém confesso que as oportunidades não são fartas. O meu primeiro contato surgiu com o Projeto Delirium. Esse trabalho tinha o objetivo geral de verificar a taxa de prevalência e os principais fatores de risco envolvidos no desenvolvimento do quadro de delirium em pacientes clínicos internados no do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), assim como a evolução clínica desses pacientes.
Nossa rotina era acompanhar os pacientes admitidos na Clínica Médica, realizando entrevistas. Estas eram realizadas três vezes por semana até o paciente ter alta, ou caso ocorresse algum desfecho negativo. Porém, para fazer o acompanhamento correto foi preciso estudar muito sobre o tema, bem como sobre as escalas de avaliações descritas na literatura. E esse foi o meu primeiro aprendizado com os trabalhos científicos. É preciso ter bastante conhecimento do assunto abordado, para tentar questionar algo ou para criar alguma hipótese com relevância científica.
Outro ponto essencial e com o qual aprendi muito foi a importância de seguir um protocolo, respeitando os métodos pré-estabelecidos. No sentido de que uma coleta de dados mal realizada pode interferir nos resultados do seu trabalho, perdendo, então, todo o sentido e objetivo da pesquisa. Por isso, a fase de coleta de dados constitui a etapa que requer maior disciplina e responsabilidade, constituindo uma das etapas mais laboriosas.
No projeto, aprendi também a importância do trabalho em equipe. A integração dos participantes da pesquisa na coleta e integração dos dados, além da disponibilidade de tempo, reuniões, bem como o esclarecimento de dúvidas entre os pesquisadores é essencial para que o Projeto caminhe integrado. Nesse contexto, eu tive a oportunidade de trabalhar com pessoas experientes, com as quais aprendi muito, como a professora Rilva e alguns residentes que contribuíram para o meu crescimento tanto acadêmico, quanto pessoal.
Pessoalmente, a iniciação científica me ajudou a alargar muito minha visão sobre a medicina e o conhecimento científico. A pesquisa estimula o desenvolvimento de uma visão mais crítica a respeito dos trabalhos e das informações que temos acesso. Passamos de uma posição de simples observadores para agentes do processo de construção do conhecimento.
Um projeto de pesquisa não é de fácil execução, pois é necessário ser relevante cientificamente, além de ser um trabalho que requer tempo, responsabilidade e dedicação. Porém, ao mesmo tempo é um desafio recompensador.
Referências
OLIVEIRA, Neilton Araújo de; ALVES, Luiz Anastácio and LUZ, Maurício Roberto. Iniciação científica na graduação: o que diz o estudante de medicina?. Rev. bras. educ. med. [online]. 2008, vol.32, n.3, pp. 309-314. ISSN 0100-5502. doi: 10.1590/S0100-55022008000300005.
FAVA-DE-MORAES, FLAVIO and FAVA, MARCELO. A iniciação científica: muitas vantagens e poucos riscos. São Paulo Perspec. [online]. 2000, vol.14, n.1, pp. 73-77. ISSN 0102-8839. doi: 10.1590/S0102-88392000000100008
Crédito da imagem: Figura extraída de http://www.bruceeisner.com/new_culture/2008/01/