19 de junho de 2009

O modo humano de adoecer

Por Rodolfo Augusto Bacelar de Athayde
Estudante de Medicina da UFPB, extensionista do Projeto Continuum - ano II - PROBEX/UFPB
A experiência da enfermidade tem por base a experiência humana dos sintomas e do sofrimento pelo doente, família e sociedade. O contexto em que acontece a doença, as suas experiências da vida, as suas relações sociais, a sua bagagem de conhecimento, a sua orientação de vida, as suas crenças e seus valores pessoais, ou seja, o conhecimento do senso comum afeta o significado do adoecer.
O adoecer é um processo multifatorial, mais que meramente um fenômeno físico. Dele participam diversos fatores, como os socioeconômicos, a história de vida do paciente, a estrutura do ego, o tipo de personalidade, o estresse, a cultura, as perdas, as predisposições genéticas, dentre outras.
A doença geralmente conduz o indivíduo em um movimento regressivo na direção das apreensões produzindo em cada pessoa reações particulares que, mais do que com a doença em si, terão relação com as condições individuais desenvolvidas inconscientemente para lidar com esse ataque.
Nesse processo, o paciente pode se comportar de uma maneira passiva ou ativa frente ao médico. Atua ativamente apropriando-se do seu adoecer, responsabilizando-se por sua escolha à nível existencial, tornando-se ativo e buscando um caminho para a solução de seus problemas. Na postura passiva coloca o médico como o depositário da verdade absoluta e que sozinho e com a medicação vai “resolver” todos os seus problemas, ou seja, transferindo para a pessoa do médico todas as suas fantasias e medos. Freud, em 1914, em seu livro "Sobre o Narcisismo: uma introdução", definia o sentimento de um indivíduo atormentado pela dor: "deixa de se interessar pelas coisas do mundo externo porque não dizem respeito ao seu sofrimento; (...) enquanto sofre, deixa de amar". A doença é vista pelo indivíduo como uma ameaça do destino. Ela modifica a relação do paciente com o mundo e consigo mesmo. Desencadeia uma série de sentimentos como impotência, desesperança, desvalorização, temor, apreensão. É uma dolorosa ferida (uma "ferida narcísica") no sentimento de onipotência e de imortalidade. É claro que o tipo e intensidade das reações de cada paciente vão variar de acordo com uma série de características da doença e do próprio indivíduo, do caráter breve e duradouro da doença e de seu prognóstico e da personalidade e capacidade de tolerância a frustrações do indivíduo, alémd a relação com o médico e demais membros da equipe de saúde.
Tais reações variam geralmente em torno de três possibilidades: pacientes que se entregam à doença, à dor e ao desespero; são aqueles que não lutam; pacientes que tratam a doença como se fosse banal, mesmo sendo grave; e pacientes que promovem mudanças em sua vida, tentando se adaptar à situação adversa. Além disso, uma série de mecanismos de defesa entram em cena. Surge uma nova realidade para o indivíduo. Além desta dimensão muito particular, caractarística de cada um, a experiência individual do adoecimento representa também a forma como a pessoa responde ao acometimento da doença em seu meio social. A compreensão individual geralmente está associada ao conjunto de crenças e valores relativos à vivência de enfermidade.
Referências
VECHIA, F.D. As reações psicológicas à doença e ao adoecer. In Psiquiatria-CCS-UFSC, Disponível em: < http://www.ccs.ufsc.br/psiquiatria/981-08.html >. Acesso em 08 de julho de 2009. JEAMMET P., REYNAUD M. et al. Como Compreender as Atitudes Psicológicas do Doente Face a Sua Doença. In Manual de Psicologia Médica,1989, 1ª Reimpressão. Disponível em <> . Acesso em 08 de julho de 2009.
Crédito da imagem: A figura desta postagem foi retirada de http://heroworkshop.wordpress.com/page/2/