Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB, VII Período / Monitor de Semiologia Médica (Ano II) / Extensionista do Projeto Continuum PROBEX/UFPB (Ano II)
O efeito placebo, também denominado "resposta terapêutica placebo", é uma cura ou um efeito pró-cura de um medicamento inerte (sem eficácia do ponto de vista farmacológico), ou ainda de um fármaco eficaz em que se associa um poderoso efeito pró-cura psicológico. De um modo geral, o efeito placebo é o aspecto psicológico de todos os tratamentos médicos. Os pacientes, sob efeito placebo, têm seus sintomas alterados, ou atenuados ou agravados, por um tratamento, simplesmente por acreditarem e esperarem que ele funcione.
É importante ressaltar que toda e qualquer droga administrada a um indivíduo possui um efeito placebo intimamente associado, de forma que mesmo drogas de comprovada eficácia terapêutica agem também por meio de placebo, sendo difícil separar clinicamente a eficácia orgânica da eficácia psicológica.
O efeito placebo é conhecido desde o início do século XX, permanecendo como um dos fenômenos da Medicina de maior importânciam mais ainda cercado de grande obscuridade. A ciência médica ainda não explicou completamente qual a causa (ou causas) do efeito placebo. Mas, ao que parece, ele resulta da espera do efeito por parte do paciente.
Uma das explicações mais aceitas para o efeito placebo é a teoria do Reflexo Condicionado. Tal fenômeno foi relatado e estudado no início do século XX pelo fisiologista russo Ivan Pavlov. Ele observou que um estímulo indiferente, combinado com um estímulo capaz de ativar um reflexo incondicionado, gera uma resposta incondicionada e, depois de algum tempo, o estímulo indiferente, por si só, é capaz de provocar resposta que pode, então, ser considerada como condicionada.
Esses estímulos indiferentes podem vir tanto do meio externo (estímulos sonoros, luminosos, olfativos, táteis, térmicos) como do meio interno (vísceras, ossos, articulações). Por exemplo, em um dos seus experimentos ele observou que seu cachorro sempre salivava quando via ou cheirava carne. Passou então a mostrar a carne ao cachorro todos os dias enquanto tocava um sino. Depois de algum tempo, o simples ato de tocar o sino fazia o cachorro salivar, devido à associação do som do sino com a presença de carne. Por essa teoria, o efeito placebo trata-se de um efeito orgânico causado no paciente pelo condicionamento pavloviano ao nível de estímulos abstratos e simbólicos, como a ida ao médico e a ingestão de um dito medicamento.
O poder do efeito placebo não é mais tão questionado na prática clínica. Ele existe e é bastante poderoso. Um estudo citado por Amaral e Sabattini (1999) testou a eficácia do placebo em uma ampla gama de distúrbios, incluindo dor, hipertensão arterial e asma. O resultado foi impressionante: cerca de 30% a 40% dos pacientes obtiveram alívio pelo uso de placebo.
Um dos campos da medicina que mais usufruem do efeito placebo é a Homeopatia. Os medicamentos diluídos e as consultas longas, de caráter psicológico, contribuem para o reconhecimento do poder do placebo nos medicamentos homeopáticos. Apesar disso, há grande resistência por parte dos homeopatas em aceitar sua terapia como efeito placebo. Temem estar sendo desvalorizados, mas, na verdade, querem lutar contra um fato inegável, a ineficácia terapêutica de tais medicamentos.
Atualmente, uma das justificativas mais utilizadas pelos homeopatas para negar o efeito por placebo de seus medicamentos é a prática de homeopatia em animais, os quais, em teoria, não reconhecem o tratamento e não poderiam sofrer efeito placebo. Mas isso é um equívoco, animais doentes recebem um tratamento muito diferenciado: são isolados do rebanho, recebem mais atenção do dono, recebem alimentação especial e ainda não são cobrados em nenhuma atividade. Toda essa mudança faz o animal associar o tratamento homeopático com uma tentativa do seu dono em curá-lo, dando-lhe consciência do tratamento e fomentando o efeito placebo.
Em suma, os grandes desafios atualmente são explicar convincentemente o efeito placebo, saber suas bases fisiológicas e entender como ele pode ser mais bem utilizado pelo médico em favor do paciente. É preciso entender que o fato de determinado tratamento agir por meio de placebo não o torna menos válido ou menos importante, pelo contrário, ele se torna em muitos casos o melhor tratamento: "uma cura autóctone".
Referências
AMARAL, J.L. do; SABBATINI, R.M.E. Efeito placebo: o poder da pílula de açúcar. Rev. Cérebro e Mente. n. 9. Universidade Federal de Campinas: São Paulo, 1999.Disponível em http://www.epub.org.br/cm/n09/mente/placebo1.htm Acesso em: 22 jul 2009.
Crédito da imagem: A foto desta postagem foi extraída de http://medjournalwatch.blogspot.com/2007/07/placebo-effect-power-of-mind.html