Por Joyce Freire Gonçalves de Melo
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
O termo demência, etimologicamente, deriva da palavra latina dementia, que significa “privação da mente”, sendo utilizado na medicina para descrever uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas presente em várias doenças. Epidemiologicamente, a demência acomete mais frequentemente a população com idade superior a 75 anos. Isto faz dela um problema médico e social em ascensão, visto que tal grupo etário está a crescer rapidamente. A principal causa deste problema é a doença de Alzheimer, que perfaz 50 a 60% dos casos.
De acordo com a 4ª. edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV), que é o guia de referência em termos de American Psychiatric Association (APP), a demência é definida como uma síndrome caracterizada por deterioração adquirida e persistente da função cognitiva que afeta a memória e pelo menos outra área, como a linguagem (afasia), a habilidade para realizar movimentos coordenados (apraxia), o reconhecimento do que se percebe através dos sentidos (agnosia), ou a capacidade executiva do indivíduo.
O comprometimento da memória, como já dito, é crucial para o diagnóstico da síndrome demencial e, apesar dos indícios iniciais variarem, normalmente, a perda da memória de curto prazo costuma ser a primeira característica trazida à atenção do médico no primeiro contato com o paciente. Além disso, os problemas de memória podem ser desde um esquecimento leve, até um prejuízo severo a ponto de dados pessoais serem esquecidos. A dificuldade em entender a comunicação escrita e falada, em encontrar as palavras adequadas para encaixar na fala, o discurso digressivo ou vazio, com longos “rodeios" e uso excessivo de termos indefinidos de referência tais como "coisa" e "aquilo" são sinais de comprometimento cognitivo da linguagem-afasia.
Em estágios avançados de demência, os indivíduos podem ficar mudos ou apresentarem uma deterioração importante da linguagem, caracterizada por ecolalia ou palilalia, que significa fazer eco ao que é ouvido e repetir os próprios sons ou palavras indefinidamente, respectivamente. O tipo de apraxia que geralmente corresponde ao quadro demencial é a ideomotora. Nesse tipo, o indivíduo tem dificuldade na execução de gestos simples, permanecendo inalteradas a atividade automática e a idéia do ato a ser efetivado, ou seja, apesar da compreensão do movimento a ser realizado, ou o paciente não consegue realizar os atos determinados ou os realiza com dificuldade. A agnosia que é a incapacidade de reconhecer objetos apesar de sua função sensorial intacta, pode chegar a um quadro tão avançado na síndrome demencial, que os indivíduos chegam a ser incapazes de reconhecer membros de sua família ou até mesmo sua própria imagem refletida. A perturbação do funcionamento executivo abrange a capacidade de pensar abstratamente e planejar, iniciar, sequenciar, monitorar e cessar um comportamento complexo. Vale lembrar, que além da constatação de déficit na capacidade executiva, é importante que se determine também o impacto causado na vida cotidiana do indivíduo (por exemplo, capacidade de trabalhar, sair sozinho, controlar o orçamento doméstico).
Além disso, o quadro demencial é geralmente acompanhado de mudanças no comportamento, na afetividade e na personalidade. Esses sintomas psicológicos e comportamentais da demência (SPCD) são altamente prevalentes e de grande relevância, tendo em vista, a incapacitação e aflição causada.
Os sintomas comportamentais, segundo um consenso do International Psychogeriatric Association, incluem agressão física, inquietação, agitação, perambulação, comportamentos culturalmente inapropriados e desinibição sexual. Enquanto os sintomas psicológicos abrangem ansiedade, humor deprimido, alucinações e delírios. Por fim, resta ressaltar que o diagnóstico da demência é eminentemente clínico, portanto, é de extrema importância o conhecimento de seus sinais e sintomas na prática médica.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders:DSM IV. 4.ed. Washington D.C., 1994.
PORTO, C.C. Semiologia Médica, 4ª ediçao, Ed. Guanabara-Koogan, 2001.
RIBEIRA, S.; RAMOS, C.;SÁ, L. Avaliação inicial da demência. Rev Port Clin Geral. 2004;20:569-77. Disponível em http://www.apmcg.pt/files/54/documentos/20080303151524140864.pdf.
TAMAI, S. Tratamento dos transtornos do comportamento de pacientes com demência. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2002, vol.24, suppl.1, pp. 15-21. ISSN 1516-4446. doi: 10.1590/S1516-44462002000500005.
Crédito da imagem - a figura que ilustra esta postagem foi extraída de: http://www.psicosite.com.br/tra/out/demencia.jpg
AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders:DSM IV. 4.ed. Washington D.C., 1994.
PORTO, C.C. Semiologia Médica, 4ª ediçao, Ed. Guanabara-Koogan, 2001.
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Crédito da imagem - a figura que ilustra esta postagem foi extraída de: http://www.psicosite.com.br/tra/out/demencia.jpg