29 de agosto de 2009

Aprendizado Científico do Estudante de Medicina

O aprendizado científico é uma prática de habilidades manuais, perceptivas e cognitivas de forma dirigida (TESSER, 2008).


Ao chegar à Universidade, o estudante precisa conscientizar-se de que, desse momento em diante, o resultado do processo ensino/aprendizagem no qual passará a se envolver, dependerá fundamentalmente dele mesmo.


Seja pelo seu próprio desenvolvimento psíquico e intelectual, seja pela própria natureza do processo educacional desse nível, as condições de aprendizagem transformam-se no sentido de exigir do estudante maior autonomia na sua efetivação, maior independência em relação aos subsídios da estrutura do ensino e dos recursos institucionais que são oferecidos (LIMA, 2008; LAUFER, 2007).

Por outro lado, o ritmo acelerado das mudanças no campo da Saúde exige que o médico seja um aprendiz ao longo de toda sua vida, sendo capaz de manter seu conhecimento atualizado dentro das disciplinas por ele escolhidas.

O estudante de Medicina precisa exercitar o espírito analítico e, para isso, deve ter praticado a análise de um trabalho científico como aprendizado durante a graduação. Este exercício de crítica de pesquisas científicas constitui verdadeira ferramenta didática, pois o médico terá de aprender e manter-se atualizado com as melhores evidências durante toda sua vida profissional.



É necessário, então, que o estudante adquira o hábito de realizar uma leitura crítica da literatura científica para que possam julgar a validade dos trabalhos publicados.


Na graduação, o ensino pretende desenvolver nos alunos o pensamento científico, reflexivo e crítico. Desta forma, pretende-se que o estudo dos problemas da realidade de forma científica, além da motivação intrínseca dos alunos, seja o instrumento mais apropriado para promover a aprendizagem do conhecimento científico.

O aluno pode, assim, observar, analisar, criticar e buscar informações sobre os problemas da realidade, a fim de escolher alternativas, apresentar e executar soluções fundamentadas na análise (CASSIANI; RODRIGUES, 1998).



Não basta ao aluno de Medicina entender as informações expressas em índices estatísticos. É preciso analisar e relacionar criticamente os dados apresentados, questionando/ponderando até mesmo sua veracidade. Assim como não é suficiente ao aluno desenvolver a capacidade de organizar e representar uma coleção de dados, faz-se necessário interpretar e comparar esses dados para tirar conclusões.


Paradoxalmente, o ensino da aptidão de pensamento crítico ainda é raro nos cursos de graduações na área da Saúde diante da profusão de publicações científicas. Apesar de os estudantes se prepararem para certo domínio científico, eles mostram dificuldade em criticar estudos científicos.


Considerando-se o papel formativo que a pesquisa e o método científico têm sobre a educação do médico, conclui-se que uma parcela significativa dos médicos brasileiros é formada à margem desse sistema, não estando preparada para acompanhar e absorver as inovações no setor de saúde, que são altamente vinculadas ao desenvolvimento científico (MORENO; ARELLANO, 2005). De acordo com Zago (2004), apenas 10%-20% dos cerca de 10.000 médicos formados anualmente no Brasil têm contato com o sistema de pesquisa médica.


Engajar os alunos em trabalhos de investigação pode ser uma das alternativas empregadas para garantir a consolidação da aprendizagem iniciada nos cursos de metodologia científica. Entretanto, além do ensino da metodologia científica no currículo de graduação, há a necessidade de outras atividades científicas, a fim de incorporar a atividade de pesquisa no ensino como a inclusão de revisão de literatura ou artigos científicos nas disciplinas.

No entanto, considera-se que tais aspectos podem ser mais bem sucedidos se a disciplina Metodologia da Pesquisa da graduação for ministrada nos primeiros semestres do curso de graduação, e estimulasse os alunos para a importância da pesquisa (CASSIANI; RODRIGUES, 1998).



Admite-se que o aprendizado prático de análise crítica dota o sujeito do instrumental necessário para a utilização e aplicação do sistema de conhecimentos das atividades que permitam investigar a realidade, desvelar, descrever, conjecturar e diagnosticar.

Nesse sentido, formar o espírito científico requer criar condições favoráveis desde o ingresso do aluno na universidade até o último ano no curso, garantindo um terreno fértil para que as sementes deem frutos, ou seja, instigar e promover o desenvolvimento das habilidades e competências investigativas em temas transversais e específicos relevantes.


Referências

BURIHAN, E. A importância da publicação científica. J Vasc Br 1 (1): 5, 2002.
CASSIANI, S. H. B.; RODRIGUES, L. P. O ensino da metodologia científica em oito escolas de enfermagem da Região Sudeste. Rev. Latino-Am. Enfermagem 6 (2): 73-81, 1998.
MORENO, F.; ARELLANO, M. Publicação científica em arquivos de acesso aberto. Arquivística.net Rio de Janeiro, 1 (1): 76-86, 2005
LAUFER, M. A cultura da publicação científica (I). INCI, 32 (8): 503-503, 2007.
LIMA, R. A educação no Brasil: o pensamento e atuação de José Mário Pires Azanha. 2005. 296 f. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.

TESSER, C D. Contribuições das epistemologias de Kuhn e Fleck para a reforma do ensino médico. Rev. bras. educ. Med. 32 (1): 98-104, 2008.
ZAGO, M. C A pesquisa clínica no Brasil. Cienc Saúde Coletiva. 9 (22008): 363-374, 2004.



Crédito da imagem: A figura desta postagem foi retirada de guradian.co.uk