O Seminário I de 2009.1, que deveria ter sido realizado em 13/07/09, foi transferido para 13/08/09. O artigo sob análise intitulou-se: "Riscos associados ao processo de desmame entre crianças nascidas em hospital universitário de São Paulo, entre 1998 e 1999: estudo de coorte prospectivo do primeiro ano de vida", cuja referência é a seguinte: Bueno MB et al. Riscos associados ao processo de desmame entre crianças nascidas em hospitais universitários de São Paulo, entre 1998 e 1999: estudo de coorte prospectivo do primeiro ano de vida. Cad Saúde Pública 2003; 19: 1453-60.
Nesse seminário de MCO2 foi feita a leitura crítica pelos alunos de um artigo sobre um estudo de coorte. A leitura crítica de um artigo científico é uma atividade exigente. Requer uma atitude ativa de reflexão e de aquisição prévia de conhecimentos, pois implica dar atenção especial não apenas a aspectos formais mas principalmente aos elementos metodológicos e estruturantes dos artigos científicos, verificando o rigor e consistência da informação.
Dentro dos estudos observacionais, o estudo de coorte é o estudo de eleição para investigar incidências, fatores de risco e as suas consequências, fatores de prognóstico, a história natural da doença e a (s) causa (s) de determinado evento.
Trata-se de um estudo analítico longitudinal no qual um conjunto de pessoas com alguma característica em comum é monitorizado ao longo do tempo. Os investigadores determinam, por observação, no início e ao longo do estudo, os sujeitos que estão ou não expostos a uma determinada característica (normalmente um fator de risco). Os sujeitos, expostos e não expostos, são seguidos ao longo de um período de tempo de forma a observar a (s) consequência (s) dessas características.
Abaixo um resumo do relatório do monitor Gilson da discussão feita a partir da participação dos alunos de MCO2 no seminário com base no referido artigo.
1. Título- Os alunos sugeriram uma ligeira modificação para o título: “Riscos associados ao processo de desmame entre crianças nascidas em hospital universitário de São Paulo entre 1998 e 1999: coorte do primeiro ano de vida”. "Coorte prospectivo" poderia ter sido substituído por apenas "coorte".
2. Resumo- O primeiro objetivo (e principal) apresentado não condiz com o expresso no título e o conteúdo do trabalho. Assim, este deveria ter sido o objetivo: “identificar fatores associados com a duração do aleitamento materno e aleitamento materno exclusivo.”
3. Métodos
- Não ficou claro o modo como foi feita o preenchimento do questionário às mães. No é considerada a possibilidade de analfabetismo da mãe, o que poderia interferir no preenchimento do questionário.
- Não se menciona o software estatístico utilizado para a análise estatística. Embora esse aspecto não seja fundamental, recomenda-se que seja nomeado o programa usado.
- Não ficou claro como foi feita a coleta das informações dadas pela mãe nas entrevistas realizadas ainda quando esta se encontrava no hospital.
- Uma sugestão pertinente dos alunos foi a de que poderia ter sido questionado á mãe quanto tempo ela desejava amamentar e qual a importância que atribuia à amamentação na primeira entrevista.
- Algumas outras variáveis poderiam ser consideradas para relacionar com o desmame precoce: variável número de integrantes na residência; variável mãe que trabalha; variável problema com produção de leite pela mãe.
- Não foi calculado o tamanho da amostra. Contudo, fazendo-se os cálculos verifica-se que a amostra foi satisfatória em termos de número de sujeitos. Utilizando-se-se a fórmula n = z² . p. q / e², onde: z = 1,96 (para confiança de 95%), p = 0,5 / q = 0,5 / e = 0,05 (p = q = 0,5 porque antes da coleta de dados, não se tinha conhecimento ou estimativa de quantas mães deixam o aleitamento exclusivo até os 6 meses pela literatura). Desta forma, teríamos: n = [(1,96)² . 0,50 . 0,50 / (0,05)²] >> n = 384. Portanto, houve número satisfatório de pacientes acompanhados (450). Até mesmo a amostra com seguimento total se mostrou dentro de um limite aceitável (383).
- Os autores deveriam poderiam ter utilizado um critério reconhecido de avaliação do poder aquisitivo. Esta é representada pelo “Critério de Classificação Econômica Brasil”, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP).
5. Resultados- Na tabela 1, o título não está completo. Deveria conter o número da amostra, ano e local da pesquisa.
- Na mesma tabela, não houve partos do tipo fórceps. Esse dado deveria ter sido explicado no texto.
5. Resultados- Na tabela 1, o título não está completo. Deveria conter o número da amostra, ano e local da pesquisa.
- Na mesma tabela, não houve partos do tipo fórceps. Esse dado deveria ter sido explicado no texto.
- Afirma-se que “o principal motivo dessas perdas foi mudança de endereço (83,7%)”. Mas não se relatam os outros motivos de perdas.
6. Discussão
- Utiliza-se a idade mediana da criança para avaliação da permanência em aleitamento materno. Para esse mesmo fim, ainda se poderia utilizar a amplitude, com o valor máximo e mínimo. Seria também interessante usar a mediana aliada à média.
- Houve associação entre desmame precoce e sexo do bebê, mas os autores mencionaram não haver explicação para o achado. Deveriam ter buscados na literatura trabalhos qualitativos apontando explicações.
- A afirmação “em nenhum momento fatores socioeconômicos e demográficos apresentaram associação com o desmame total” contradiz vários resultados do próprio estudo.
- O estudo aponta para a associação estatística entre o número de consultas de pré-natal, mas na discussão poderia ter sido questionado esse achado, pois a qualidade das informações fornecidas pela equipe de saúde e do próprio atendimento do pré-natal deveriam ter sido mencionadas como mais importantes que o núemro de consultas, como os alunos encontraram um artigo discutido anteriormente nos seminários do módulo.
- Teria sido interessante que os autores sugerissem a realização de estudos posteriores para realizar uma comparação entre o problema do desmame antes e depois das campanhas do Ministério da Saúde "Os 10 passos da Amamentação", uma vez que o estudo em questão foi realizado no início dessa campanha, que ainda não havia sido implementada.
Considerações sobre publicação duplicada
- Encontrou-se uma publicação prévia ou duplicada do mesmo artigo que estava sendo discutido no seminário (BUENO et al., 2002). Uma publicação prévia ou duplicada é a publicação de um artigo que se superpõe substancialmente a outro já publicado. Segundo o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos, "os leitores de revistas periódicas merecem ter a confiança de que o artigo está sendo republicado por escolha do autor e do editor". As bases para esta posição são as leis internacionais de direito autoral, a conduta ética e o uso de recursos, obedecendo a uma lógica de custo efetividade. A maioria das revistas não deseja receber artigos com trabalhos que já tenham sido publicados, ou que estejam contidos em outro artigo que tenha sido submetido ou aceito para publicação em outro periódico (COMITÊ INTERNACIONAL DE EDITORES DE PERIÓDICOS MÉDICOS, 1999).
6. Discussão
- Utiliza-se a idade mediana da criança para avaliação da permanência em aleitamento materno. Para esse mesmo fim, ainda se poderia utilizar a amplitude, com o valor máximo e mínimo. Seria também interessante usar a mediana aliada à média.
- Houve associação entre desmame precoce e sexo do bebê, mas os autores mencionaram não haver explicação para o achado. Deveriam ter buscados na literatura trabalhos qualitativos apontando explicações.
- A afirmação “em nenhum momento fatores socioeconômicos e demográficos apresentaram associação com o desmame total” contradiz vários resultados do próprio estudo.
- O estudo aponta para a associação estatística entre o número de consultas de pré-natal, mas na discussão poderia ter sido questionado esse achado, pois a qualidade das informações fornecidas pela equipe de saúde e do próprio atendimento do pré-natal deveriam ter sido mencionadas como mais importantes que o núemro de consultas, como os alunos encontraram um artigo discutido anteriormente nos seminários do módulo.
- Teria sido interessante que os autores sugerissem a realização de estudos posteriores para realizar uma comparação entre o problema do desmame antes e depois das campanhas do Ministério da Saúde "Os 10 passos da Amamentação", uma vez que o estudo em questão foi realizado no início dessa campanha, que ainda não havia sido implementada.
Considerações sobre publicação duplicada
- Encontrou-se uma publicação prévia ou duplicada do mesmo artigo que estava sendo discutido no seminário (BUENO et al., 2002). Uma publicação prévia ou duplicada é a publicação de um artigo que se superpõe substancialmente a outro já publicado. Segundo o Comitê Internacional de Editores de Periódicos Médicos, "os leitores de revistas periódicas merecem ter a confiança de que o artigo está sendo republicado por escolha do autor e do editor". As bases para esta posição são as leis internacionais de direito autoral, a conduta ética e o uso de recursos, obedecendo a uma lógica de custo efetividade. A maioria das revistas não deseja receber artigos com trabalhos que já tenham sido publicados, ou que estejam contidos em outro artigo que tenha sido submetido ou aceito para publicação em outro periódico (COMITÊ INTERNACIONAL DE EDITORES DE PERIÓDICOS MÉDICOS, 1999).
Considerações sobre terminologia durante a discussão
A análise univariada realizada serve de preâmbulo à análise multivariada, utilizada posteriormente. A univariada serve para se estabelecer graus de relação independente entre variável e desfecho. Já a bivariada serve para se estabelecer relações de causalidade entre duas variáveis, com relação ao desfecho. Neste caso, não se realiza uma análise bivariada de início porque se quer determinar a relação de cada variável com o desfecho isoladamente. A relação entre as variáveis será determinada depois, com a análise multivariada, que levará em conta a inter-relação de várias variáveis para se chegar ao desfecho.
Referências
BUENO, M. B. et al. Duração da amamentação após a introdução de outro leite: seguimento de coorte de crianças nascidas em um hospital universitário em São Paulo. Rev. bras. epidemiol. 5 (2): 145-152, 2002.
COMITÊ INTERNACIONAL DE EDITORES DE PERIÓDICOS MÉDICOS. Requisitos uniformes para manuscritos submetidos a periódicos biomédicos. Informe Epidemiológico do SUS, 8 (2): 5-16, 1999.
Após término do relatório desse seminário, considerando a relevância do tema, vale lembrar os 10 PASSOS DO ALEITAMENTO MATERNO (enviados por Roberta Ismael, da turma):
1- Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe de saúde.
2- Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para implementar essa norma.
3- Informar a todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento.
4- Ajudar as mães a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.
5- Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.
6- Não dar a recém-nascidos qualquer outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser quando indicado pelo médico.
7- Praticar o alojamento conjunto, permitir que mãe e bebê permaneçam juntos 24 horas por dia.
8- Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9- Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio.
10- Encorajar a formação de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas logo após a alta do hospital ou ambulatório.
Crédito da imagem: http://www.flickr.com/photos/87384343@N00/2039584909
Referências
BUENO, M. B. et al. Duração da amamentação após a introdução de outro leite: seguimento de coorte de crianças nascidas em um hospital universitário em São Paulo. Rev. bras. epidemiol. 5 (2): 145-152, 2002.
COMITÊ INTERNACIONAL DE EDITORES DE PERIÓDICOS MÉDICOS. Requisitos uniformes para manuscritos submetidos a periódicos biomédicos. Informe Epidemiológico do SUS, 8 (2): 5-16, 1999.
Após término do relatório desse seminário, considerando a relevância do tema, vale lembrar os 10 PASSOS DO ALEITAMENTO MATERNO (enviados por Roberta Ismael, da turma):
1- Ter uma norma escrita sobre aleitamento materno, que deve ser rotineiramente transmitida a toda a equipe de saúde.
2- Treinar toda a equipe de cuidados de saúde, capacitando-a para implementar essa norma.
3- Informar a todas as gestantes sobre as vantagens e o manejo do aleitamento.
4- Ajudar as mães a iniciar a amamentação na primeira meia hora após o parto.
5- Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação, mesmo se vierem a ser separadas de seus filhos.
6- Não dar a recém-nascidos qualquer outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser quando indicado pelo médico.
7- Praticar o alojamento conjunto, permitir que mãe e bebê permaneçam juntos 24 horas por dia.
8- Encorajar o aleitamento sob livre demanda.
9- Não dar bicos artificiais ou chupetas a crianças amamentadas ao seio.
10- Encorajar a formação de grupos de apoio à amamentação, para onde as mães devem ser encaminhadas logo após a alta do hospital ou ambulatório.
Crédito da imagem: http://www.flickr.com/photos/87384343@N00/2039584909
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