Por George Caldas Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB / Bolsista do Programa de Iniciação Científica PIBIC/UFPB/CNPq
A doença de Wernicke e a psicose de Korsakoff foram identificadas no final do século XIX. A primeira é caracterizada por nistagmo, marcha atáxica, paralisia do olhar conjugado e confusão mental. A psicose de Korsakoff é uma desordem mental. Ambas as desordens estão associadas ao alcoolismo e à deficiência nutricional.
Em 1881, Carl Wernicke descreveu pela primeira vez uma patologia de início súbito, caracterizada por paralisia dos movimentos oculares, marcha atáxica e confusão mental. Denominou, então, a doença de "polioenncephalitis hemorrhagica superioris". Em 1852, Magnus Huss fez menção a um distúrbio de memória em alcoolistas, elucidado mais tarde, entre 1887 a 1891, pelo psiquiatra russo S. S. Korsakoff, que ressaltou a relação entre a polineuropatia e a desordem de memória, como sendo "duas faces de uma mesma doença". O postulado de que uma única causa é responsável pela doença de Wernicke e a psicose de Korsakoff foi feito inicialmente por Murawieff em 1897.
A Síndrome de Wernicke-Korsakoff (SWK), algumas vezes denominada "beriberi cerebral", é uma síndrome comumente associada à dependência de álcool e, em alguns casos, a alguns tipos de câncer, hiperemese gravídica, obstrução de intestino delgado, anorexia nervosa e gastroplastia.
A tríade clássica descrita por Wernicke é composta de oftalmoplegia, ataxia e distúrbio mentais e de consciência. As anormalidades oculares consistem em nistagmo, horizontal ou vertical, paralisia ou paresia dos músculos retos externos e do olhar conjugado, a ataxia é de marcha e postural. Os distúrbios de consciência e de estado mental ocorrem principalmente como um estado confusional global, no qual o paciente está apático, desatento e com mínima expressão verbal espontânea, podendo evoluir para coma.
As necessidades diárias de tiamina são estimadas em 1,0 a 1,5 mg/dia em pacientes normais. A tiamina é um importante co-fator da enzima piruvato desidrogenase e alfa-cetoglutarato desidrogenase, envolvida no metabolismo de carboidratos e da transcetolase, uma enzima importante da via das pentoses.
A absorção de tiamina é prejudicada pela deficiência nutricional e pelo álcool, dificultando o tratamento de alcoolistas. A situação é freqüentemente agravada pela doença hepática subjacente, que leva à redução dos estoques corporais e à diminuição do metabolismo de tiamina. Vários mecanismos têm sido implicados na patogênese dessa síndrome, mas ainda não são totalmente compreendidos.
O diagnóstico clínico da SWK ainda não está sob domínio médico. A doença pode ser subdiagnosticada possivelmente devido aos rígidos critérios tradicionais e às formas subclínicas da encefalopatia de Wernicke. Além disto, a encefalopatia de Wernicke pode ser facilmente subestimada como causa de deterioração do estado mental em pacientes alcoolistas. Para maior eficiência diagnóstica, é fundamental um alto índice de suspeita em "pacientes de risco", particularmente alcoolistas.
As avaliações da encefalopatia de Wernicke por tomografia computadorizada e ressonância magnética revelam lesões na porção medial do tálamo e mesencéfalo, dilatação do terceiro ventrículo e atrofia dos corpos mamilares
Os pacientes devem ser hospitalizados e o tratamento deve ser imediatamente iniciado com a administração de tiamina, uma vez que esta previne a progressão do doença e reverte as anormalidades cerebrais que não tenham provocado danos estruturais estabelecidos. A despeito do risco de diminuição da absorção intestinal com terapia oral, doses de 50 a 100 mg de tiamina, três a quatro vezes por dia, devem ser instituídas por vários meses. O paciente deve também aderir a uma dieta balanceada.
A síndrome de Wernicke-Korsakoff complica o tratamento do alcoolismo. Alcoolistas em declínio cognitivo respondem pobremente à psicoterapia e aos esforços educacionais.
Referências
ZUBARAN, C. ; FERNANDES, J.; MARTINS, F.; SOUZA, J.; MACHADO, R.; CADORE, M. Aspectos clínicos e neuropatológicos da síndrome de Wernicke-Korsakoff. Rev. Saúde Pública, vol.30, n° 6, 1996.
MACLEL, C.; KERR-CORRÊA, F. Complicações psiquiátricas do uso crônico do álcool: síndrome de abstinência e outras doenças psiquiátricas. Rev. Bras. Psiquiatr. 26(Supl I):47-50, 2004.