Por Antônio Edilton Rolim Filho
Estudante de Graduação em Medicina (VIII Período), Extensionista do Projeto Continuum (PROBEX/UFPB)
A síndrome da apnéia obstrutiva do sono (SAOS) é caracterizada pela obstrução completa ou parcial recorrente das vias aéreas superiores durante o sono, resultando em períodos de apnéia, dessaturação de oxihemoglobina e despertares freqüentes com consequente sonolência diurna.
Os episódios de obstrução e apnéia ocorrem em todos os estágios do sono, especialmente no estágio 2 do sono não-REM e durante o sono REM, quando as apnéias tendem a ser mais longas e a dessaturação arterial mais acentuada. Entre os fatores associados à síndrome da apnéia do sono citam-se a história familiar, obesidade, aumento da circunferência cervical, aumento da relação cintura-quadril, hipotireoidismo, diabetes, acromegalia, insuficiência renal crônica, gravidez e roncos, entre outros.
A SAOS é classificada dentre os distúrbios do sono como uma dissonia (alterações que podem produzir insônia ou sonolência excessiva). Para uma correta interpretação e diagnóstico desta entidade, alguns conceitos são fundamentais.
Os eventos respiratórios durante a noite, por definição, devem ter ao menos 10s de duração, e podem ser do tipo: 1) apnéia obstrutiva - evento caracterizado pela completa obstrução das vias aéreas superiores; o fluxo de ar é interrompido a despeito de esforços respiratórios contínuos; 2) apnéia central - evento caracterizado pela ausência completa de esforços respiratórios por alteração do estímulo proveniente do sistema nervoso central; 3) hipopnéia - evento caracterizado como uma redução transitória e incompleta do fluxo de ar em ao menos 50% do fluxo aéreo basal. Pode ser central ou obstrutiva em sua natureza.
Apesar de alguns estudos indicarem que a apnéia obstrutiva do sono seja uma doença relativamente comum, é freqüentemente não diagnosticada pelos médicos. O não reconhecimento da apnéia obstrutiva do sono é preocupante, devido as complicações associadas e ao risco de morte súbita nos pacientes com a doença.
Suspeita-se de SAOS em um paciente quando sua companheira (o), ou familiar, relata que este ronca e pára de respirar à noite, além da menção de sonolência durante o dia. Este diagnóstico clínico isolado é capaz de detectar a doença em apenas 50-60% dos casos.
A confirmação definitiva da apnéia obstrutiva do sono é feita através do estudo do sono ou polissonografia (95% de sensibilidade). Este exame é uma monitorização do sono do paciente em ambiente calmo e apropriado, sendo monitorizados eletroencefalograma, eletromiograma, eletrocardiograma, concentração de oxigênio no sangue, fluxo de ar, esforço respiratório, frequência cardíaca e a pressão arterial. A polissonografia avalia o número e a duração das apnéias e hipopnéias , classificando a SAOS em três graus: leve, moderado e severo.
Os portadores da apnéia obstrutiva do sono apresentam um significativo prejuízo em sua qualidade de vida. Sonolência diurna, fadiga, dor de cabeça e indisposição geral, são queixas comuns nesses pacientes. Nos últimos anos, o interesse no estudo da apnéia obstrutiva do sono tem se voltado para sua identificação como um fator de risco para o surgimento de outras doenças.
A doença que tem sido mais estudada e correlacionada com a apnéia obstrutiva do sono é a hipertensão arterial. Hoje a apnéia obstrutiva do sono é considerada como uma causa curável de hipertensão arterial. Doenças como o infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas, derrame cerebral, acidentes automobilísticos entre outras, têm sido associadas à apnéia obstrutiva do sono, porém sem o mesmo nível de evidência que os estudos com hipertensão arterial. Têm sido descritos casos de morte súbita em portadores da apnéia obstrutiva do sono.
O tratamento da apnéia obstrutiva do sono visa melhorar a qualidade de vida do paciente, bem como evitar o aparecimento de complicações associadas à doença. Em portadores de hipertensão arterial, o tratamento da SAOS pode diminuir a pressão arterial ou até mesmo normalizá-la. O risco de um infarto do miocárdio ou acidente vascular encefálico também diminui com o tratamento dessa enfermidade.
Referências
DRAGER, L.F. et al. Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono e sua relação com a Hipertensão Arterial Sistêmica: Evidências Atuais. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. 2002, vol.78, n.5, pp. 531-536.
ZONATO A.I.; FORMIGONI G.G.S. Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono: Análise da Eficácia do Tratamento Cirúrgico. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia. n. 3, 1997.
CAHALI, M.B.. Conseqüências da síndrome da apnéia obstrutiva do sono. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia . Vol.73. n. 3, p. 290-290, 2007.