Por Charles Saraiva Gadelha
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB (VI Período), Monitor de Semiologia Médica
A elevação da pressão em um segmento anatômico dificulta a circulação sanguínea, o que pode levar a falência orgânica por injúria tecidual. A este evento denomina-se Síndrome Compartimental (ANDRADE, 1998).
O aumento de pressão que ocorre nos espaços limitados pelas fáscias nos membros superiores ou inferiores manifesta-se por dor, principalmente relacionada à prática de exercícios físicos (HACH et al, 2000, apud YOSHIDA). Nestes casos, a descompressão deve ser cirúrgica, por fasciotomia (SLIMMON et al, 2002).
Já o aumento da pressão intra-abdominal (PIA), segundo Andrade (1998), desencadeia uma série de disfunções orgânicas, sendo o conjunto destas chamado de Síndrome do Compartimento Abdominal (SCA). Abdome distendido e tenso, hipercapnia refratária à administração de oxigênio e oligúria são as manifestações clínicas clássicas desta síndrome (ANDRADE, 1998).
Segundo Andrade (1998), hemorragia abdominal de grande volume é a causa mais comum de elevações clinicamente significativas da PIA, embora visceromegalias também possam causar elevações da PIA. Outras causas descritas de SCA são: insuflação peritoneal durante cirurgia laparoscópica, transplante hepático, pós-operatório, utilização da vestimenta pneumática antichoque, complicações da cirurgia do aneurisma da aorta abdominal, grandes tumores abdominais, ascite.
Na SCA, a compressão dos pulmões e de seu leito vascular pelo diafragma deslocado, com conseqüente aumento da pressão intratorácica, justifica a diminuição significativa do débito cardíaco encontrada nesta síndrome (SUGRUE, 2005).
A elevação da PIA é responsável também pela redução da perfusão de diversas estruturas, como: fígado, estômago, intestinos, pâncreas, baço e rins; além de reduzir o fluxo linfático via ducto torácico (ANDRADE, 1998). Devido à má perfusão renal e à queda da taxa de filtração glomerular, a elevação da PIA leva a uma insuficiência renal aguda oligúrica (Op. cit).
Alterações de consciência, pela redução de perfusão encefálica e aumento da pressão intracraniana (PIC), devido à obstrução funcional do retorno venoso cerebral via sistema venoso jugular, são achados frequentes na SCA (VON BAHTEN, 2006).
O diagnóstico da SCA é feito por meio do achado das manifestações clínicas compatíveis com a síndrome e confirmado pela medida da pressão intravesical ,através de coluna d'água, e graduada de acordo com os valores encontrados, conforme o sistema de graduação da Associação Americana de Cirurgia do Trauma, a qual define SCA grau I (PIA entre 10 a 15 cm H2O), grau II (PIA entre 15 e 25 cm H2O), grau III (PIA entre 25 e 35 cm H2O) e grau IV (PIA maior que 35 cm H2O) (SUGRUE, 2005).
Referências
ANDRADE, J. I. A síndrome de compartimento do abdome. Medicina, Ribeirão Preto 31: 563-567, 1998.
SLIMMON, D. et al. Long-term outcome of fasciotomy with partial fasciectomy for chronic exertional compartment syndrome of the lower leg. Am J Sports Med 30:581-8, 2002.
SUGRUE, M. Abdominal compartment syndrome. Curr Opin Crit Care 11(4):333-8, 2005.
VON BAHTEN, L. C.; GUIMARÃES, P. S. F. Manuseio da síndrome compartimental abdominal em unidade de tratamento intensivo. Rev Col Bras Cir 33(3): 146-150, 2006.
YOSHIDA, W. B, et al. Síndrome compartimental crônica de membros inferiores. J Vasc Br 3(2):155-60, 2004.
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