"Síndrome Metabólica" é um termo genérico usado para caracterizar o complexo de fatores de risco interrelacionados que predispõe o indivíduo ao desenvolvimento de doença cardiovascular. Não se trata de uma "doença" isolada e específica.
A obesidade visceral é considerada um critério essencial para se definir a síndrome metabólica. Nesse sentido, as medidas antropométricas são, dentre os métodos de avaliação da adiposidade corporal, os mais amplamente utilizados na avaliação dos riscos associados à inadequação das mesmas.
Nesse sentido, um aspecto semiológico que vem sendo discutido recentemente são os pontos de corte para definição de obesidade abdominal ou, melhor dizendo, distribuição central da gordura corpórea. Os pontos de corte sugeridos para determinação de obesidade abdominal foram baseados em resultados obtidos em populações caucasianas. Poucos estudos no Brasil avaliaram a adequação do uso desse indicador, assim como os pontos de corte mais adequados para a população brasileira (FERREIRA et al., 2006; TINOCO et al., 2006; MACHADO; SICHIERI, 2002).
Contudo, a medida da circunferência abdominal em adultos é aceita como indicador importante para avaliação do risco cardiovascular, desde que se usem definições adequadas para cada população e cada país (ALBERTI et al., 2009). Respeitando-se a diversidade étnica, considera-se esse parâmetro mais preciso do que o cálculo do Índice de Massa Corporal (RIBEIRO FILHO et al., 2006).
Embora a circunferência da cintura seja uma medida que se correlaciona grosseiramente com a obesidade e a quantidade de gordura visceral, é considerada atualmente um marcador de resistência à insulina (HALL, 2006). A circunferência da cintura correlaciona-se intimamente com a adiposidade intra-abdominal, mostrando indiretamente a existência de acúmulo de gordura em torno das vísceras.
A circunferência abdominal normal difere para grupos étnicos específicos quanto ao risco cardiometabólico diferente. Por exemplo, os asiáticos têm maior risco cardiometabólico com menores índices de massa corporal e circunferência de cintura menor do que outras populações (NESS-ABRANOF; APOVIAN, 2008).
Um critério para o diagnóstico da síndrome metabólica, de acordo com diferentes grupos de estudo, inclui a medição da obesidade abdominal (circunferência da cintura e relação cintura-quadril), pois o tecido adiposo visceral é um componente essencial da síndrome. A relação cintura-quadril faz parte dos critérios diagnósticos para a síndrome metabólica propostos pela Organização Mundial de Saúde, mas vem perdendo espaço para a circunferência da cintura, que, por se tratar de uma única medida, estaria menos sujeita à variabilidade na mensuração e características raciais (RIBEIRO FILHO et al., 2006).
A medição da circunferência da cintura é amplamente aplicada na prática clínica para melhorar a estratificação de risco cardiometabólico. Essa medida está indicada em todo exame clínico geral preventivo e em outras consultas médicas.
De acordo com o critério proposto pela International Diabetes Federation, os pontos de corte para a medida a circunferência abdominal do sul americano é de 90 cm, para os homens, e de 80 cm, para as mulheres (KASHIHARA et al., 2009). Índices de gordura abdominal superiores a esses podem indicar um aumento do risco cardiometabólico.
Utilizando-se uma fita métrica não elástica, a circunferência abdominal é medida no maior perímetro entre a última costela e a crista ilíaca (em geral dois dedos acima da cicatriz umbilical). As circunferências devem ser aferidas com o indivíduo usando apenas a roupa íntima, em posição ortostática, abdome relaxado, braços ao lado do corpo e os pés juntos. A medição deve ser feita no final de uma expiração normal.
Deve-se observar rigorosamente a posição da fita no momento da medição, mantendo-a no plano horizontal e evitando-se assim a compressão do tecido subcutâneo. A leitura deve ser feita no centímetro mais próximo, no ponto de cruzamento da fita.
Já a relação cintura-quadril é calculada dividindo-se a medida da circunferência da cintura em centímetros pela medida da circunferência do quadril em centímetros. A medida da circunferência do quadril deve ser medida na extensão máxima das nádegas. O ponto de de corte para risco cardiovascular é menor que 0,85 para mulheres e 0,90 para homens. Um número mais alto demonstra maior risco.
Referências
ALBERTI, K. G. M. M et al. Harmonizing the Metabolic Syndrome.A Joint Interim Statement of the International Diabetes Federation Task Force on Epidemiology and Prevention; National Heart, Lung, and Blood Institute; American Heart Association; World Heart Federation; International Atherosclerosis Society; and International Association for the Study of Obesity. Circulation 120 (16): 1640-1645, 2009.
FERREIRA, M. G. et al. Acurácia da circunferência da cintura e da relação cintura/quadril como preditores de dislipidemias em estudo transversal de doadores de sangue de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Cad. Saúde Pública 22 (2): 307-314, 2006
KASHIHARA, H. et al. Criteria of waist circumference according to computed tomography-measured visceral fat area and the clustering of cardiovascular risk factors. Circ J. 73 (10): 1881-6, 2009.
MACHADO, A. M.; SICHIERI, R. Relação cintura-quadril e fatores de dieta em adultos. Rev Saúde Pública 36 (2): 198-204, 2002.
NESS-ABRANOF, R.; APOVIAN, C. M. Waist circumference measurement in clinical practice. Nutr Clin Pract. 23(4):397-404, 2008.
HALL, W. D. The metabolic syndrome: recognition and management. Dis Manag. 9 (1): 16-33, 2006.
RIBEIRO FILHO, F. et al. Gordura visceral e síndrome metabólica: mais que uma simples associação. Arq Bras Endocrinol Metab 50 (2): 230-238, 2006.
TINOCO, A. L. et al. Sobrepeso e obesidade medidos pelo índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura (CC) e relação cintura/quadril (RCQ), de idosos de um município da Zona da Mata Mineira. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 9 (2): 2006
Fonte da Imagem: RHOADS, C. S.; KIM, M. I. Healthwise. 2007. Disponível em: http://64.143.176.100/library/healthguide/en-us/support/topic.asp?hwid=zm6241