30 de outubro de 2009

Síndrome da fadiga crônica

Por Bruno Melo Fernandes Estudante de Graduação em Medicina da UFPB (VIII Período) / Monitor de Semiologia Médica (Ano II)
A medicina contemporânea baseia-se no estabelecimento de condutas específicas a partir de evidências de importância variável registradas pelo médico em sua abordagem do paciente. A partir destes dados concretos é tomado um rumo na investigação diagnóstica, o qual permite a tirada de conclusões suficientemente seguras para tomada de decisões terapêuticas. Porém, nem sempre os sinais e sintomas do paciente apontam para uma direção concreta. Muitas vezes o doente relata sintomas e apresenta sinais que não são compatíveis com nenhuma doença física subjacente, isto é, ele apresenta os chamados sintomas clínicos inexplicáveis. Atualmente, tais condições já são bem conhecidas pela Medicina, que se interessa cada vez mais pelo seu estudo, agrupando tais doenças sem correspondência física reconhecível como "Síndromes Somáticas Funcionais" ou "Síndromes medicamente inexplicadas". Nesse contexto, a Síndrome da Fadiga Crônica é uma condição clínica caracterizada por uma série de manifestações constitucionais e neuropsiquiátricas, as quais podem se manifestar de formas variadas. Na prática, ela corresponde a uma fadiga física e mental grave, associada a uma importante adinamia, havendo a deterioração da função do indivíduo, sem que tudo isso possa ser explicado por qualquer outra condição médica.
Tal quadro deve ainda ter persistido por no mínimo seis meses. Esse núcleo sintomático é geralmente acompanhado de manifestações típicas de qualquer estado adinâmico, como mialgias, cefaléias, perturbações de humor, alterações de memória e prejuízos ao sono. O paciente pode ainda apresentar linfoadenomegalias dolorosas, poliartralgia, febre e dores de garganta. A etiopatogenia da doença é sabidamente desconhecida e motivo de discussões, sendo este o tópico mais debatido dentro de todo o estudo das Síndromes Somáticas Funcionais. No caso da Síndrome da Fadiga Crônica o mais importante nesse debate não é saber a causa em si da fadiga. Fadigas aguda e subaguda são fenômenos bem comuns e facilmente explicáveis na sociedade moderna.
A questão é saber porque tal fadiga se perpetua tanto em um determinado grupo de pessoas, levando ao desenvolvimento de uma Síndrome da Fadiga Crônica. É justamente na modificação desses fatores que se centram as propostas terapêuticas para tal condição. Como a doença é primariamente somática não há meios diagnósticos específicos. O diagnóstico da Síndrome da Fadiga Crônica é de exclusão, exigindo bastante atenção do médico na investigação e negação de alguma possível doença orgânica. A Síndrome da Fadiga Crônica não tem causa ou mecanismo conhecidos, portanto seu tratamento não é bem determinado. Não existe um medicamento específico para a síndrome mas o tratamento sintomático pode ser útil, utilizando-se analgésicos e anti-inflamatórios não esteróides para combater as dores musculares e articulares, a febre e a cefaléia. Porém, na maioria dos casos é de extrema utilidade um apoio psicológico ou psiquiátrico, já que a doença tem uma reconhecida influência psíquica e é bastante debilitante, podendo ser acompanhada de depressão. Sendo assim, a Síndrome da Fadiga Crônica é uma das principais Síndromes Somáticas Funcionais, condições comumente encontradas em ambulatórios em todo o mundo. Apesar da ausência de um evento patológico específico, a Síndrome da Fadiga Crônica leva a um déficit psíquico considerável, comprometendo a qualidade de vida do paciente. É importante diagnosticá-la cedo e nunca subestimá-la, sabendo-se que os portadores precisam tanto de tratamento sintomático como de suporte emocional.
Referências
BOMBANA, J. A. Sintomas somáticos inexplicados clinicamente: um campo impreciso entre a psiquiatria e a clínica médica. J. bras. psiquiatr. 55 (4): 308-312, 2006. CHO, H. J.; WESSELY, S. Chronic fatigue syndrome: an overview. Rev. Bras. Psiquiatr., 27 (3): 2005. LEVY, J. A. Fadiga crônica. 2000. Disponível em: http://emedix.uol.com.br/doe/neu004_1f_fadigacronica.php. Acesso em: 30 out 2009. VARELLA, D. Síndrome da fadiga crônica. 2009. Disponível em: http://www.drauziovarella.com.br/artigos/fadiga.asp. Acesso em 30 out 2009. FALCÃO, H. A. Síndrome da fadiga crônica: Atualização. Revista Virtual de Medicina. Disponível em: http://www.medonline.com.br/med_ed/med5/fadiga.htm. Acesso em 30 out 2009. Fonte da imagem: http://www.drdinesh.com/