O conhecimento dos quadros sindrômicos é importante na primeira fase da investigação de um paciente com doença do aparelho respiratório, pois facilita o encaminhamento diagnóstico. Além disso, é importante que o aluno de Semiologia aprenda a reconhecer padrões ou quadros sindrômicos. O conjunto de sintomas e os sinais colhidos no exame físico, reunidos depois aos esclarecimentos da radiologia, dá ensejo à apreciação de uma sequência de síndromes mais ou menos típicas.
Catalogar os sintomas encontrados, considerando-lhes o mecanismo de produção e procurando o nexo que os une, em agrupamentos lógicos, é essencial para o encaminhamento seguro das doenças bronco-pleuro-pulmonares. Assim acontecerá diante de bronquites, pleurisias, consolidações e tantos outros quadros clínicos, os quais se apresentam inicialmente como complexos sintomáticos, mas que podem ser atribuidos a varias etiologias possíveis.
As síndromes respiratórias resultam do acometimento predominante de uma das seguintes estruturas do aparelho respiratório: a) parênquima pulmonar; b) pleura; c) brônquios. Às vezes, as lesões tocam estruturas várias do aparelho respiratório (síndromes mistas).
Uma das síndromes pulmonares sobre as quais pouco se encontra nos livros-texto de Semiologia é a síndrome cavitária. As cavidades são mencionadas mais frequentemente em textos de radiologia, pois é através dos raios-X do tórax ou tomografia que são detectadas, sendo na maioria das vezes"mudas" até à ausculta pulmonar, técnica de exame clínico do tórax mais informativa.
A Síndrome cavitária
1- Conceito: Uma cavidade necrótica é uma lesão pulmonar cuja porção central apresentou necrose de liquefação, a qual foi expelida pela via aérea ou, eventualmente, esvaziou-se, por fístula, para a cavidade pleural, criando um espaço com conteúdo gasoso no seu interior, com ou sem resíduo líquido (PEREIRA-SILVA et al., 2005). Portanto, a síndrome pulmonar cavitária é resultante de um processo destrutivo do parênquima pulmonar por uma lesão tuberculosa, por uma supuração pulmonar ou por uma neoplasia escavada. A cavidade pulmonar resulta de perda de substância tecidual causada, em geral, por necrose ou supuração. O exemplo típico é a caverna tuberculosa de considerável volume (mais de 3 cm de diâmetro), mas é uma síndrome clínica também observada no abscesso pulmonar cujo conteúdo foi eliminado por vômica. Muitos dos sintomas da síndrome cavitária também podem ser observados na bronquiectasia e no pneumotórax encistado.
2) Causas da síndrome cavitária: Tuberculose (na fase de caverna, quando há comunicação com um brônquio de drenagem, o estímulo da tosse faz com que a necrose caseosa seja eliminada, deixando, no lugar, uma cavidade); neoplasia escavada; abscesso pulmonar (depois da vômica); infarto abscedido.
3) Fisiopatologia
- Na tuberculose pulmonar,os nódulos apicais infiltrativos são, na fase inicial, um processo de consolidação pneumônica sem características específicas, uma lesão que pode regredir completamente ou sofrer uma necrose de caseificação, persistindo como foco caseoso, que pode tomar dois caminhos: 1) encapsulamento por tecido fibroso (tuberculoma); ou 2) liquefação do cáseo e seu esvaziamento posterior em um brônquio, ficando a caverna.
- No abscesso pulmonar, há um processo supurativo circunscrito do pulmão, caracterizado por supuração, necrose e formação de cavidade no parênquima pulmonar, com dificuldade no mecanismo de drenagem. Quando a coleção purulenta, resultante da necrose localizada no parênquima pulmonar, é eliminado por vômica, fica uma cavidade.
4) Exame físico do tórax
- Inspeção: Praticamente nada de característico; retração localizada no hemitórax é um achado inconstante; diminuição da expansibilidade respiratória no lado afetado.
- Palpação: Frêmito toracovocal (FTV) aumentado, quando houver um halo de condensação pericavitária (e, claro, quando a caverna estiver comunicando-se com um brônquio permeável, o que ocorre habitualmente, já que o conteúdo da cavidade foi drenado através de um brônquio); diminuição da expansibilidade respiratória no lado afetado.
- Percussão: Se houver condensação pericavitária ou ainda houver líquido no seu interior, haverá macicez ou submacicez localizada, mas nas cavernas grandes e superficiais, haverá hipersonoridade localizada (a cavidade grande pode funcionar como uma espécie de “caixa de ressonância”, uma caverna com conteúdo aéreo).
- Ausculta: Se a cavidade é volumosa e superficial pode-se perceber broncofonia (ou pectorilóquia), sopro tubário (ou tubo-cavitário); estertores bolhosos (se ainda houver líquido no seu interior). Cerca de 50% das cavidades são "silenciosas" clinicamente e não dão lugar a nenhum sinal auscultatório. Quando a caverna não tem condensação pericavitária ou é muito profunda (região parahilar) não apresenta sinais cavitários.
Referências
FRASER, R. G.; PARRÉ, J. A. P. Diagnostico de las Enfermedades del Torax. 4a. Ed. Buenos Aires: Editorial Medica Panamericana, 2002.
GALINDEZ, L. Manual de Semiologia y Clinica Propedeutica. Buenos Aires: Lopez & Etchegoven, 1955.
PEREIRA-SILVA, J. L. et al. Consenso Brasileiro sobre a Terminologia dos Descritores de Tomografia Computadorizada do Tórax. J. bras. pneumol. 31 (2): 149-156, 2005.
SILVEIRA, I. C. O Pulmão na Prática Médica. Rio de Janeiro: Ed. Publicações Médicas, 1983, Cap. 2, p. 51.
Fonte da imagem: http://escuela.med.puc.cl/publ/AparatoRespiratorio