Por Daniel Macedo Severo de Lucena
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB (X Período), Bolsista do PIBIC/UFPB
Embora haja uma tendência atual para uma maior atenção aos aspectos emocionais e psicológicos como parte importante na assistência ao paciente, continua a haver uma grande dificuldade em desvendar esses aspectos por parte do médico.
Atualmente, percebe-se a grande ênfase que é dada a novos métodos de diagnóstico e tratamento. Porém, a maioria dos médicos vem mostrando um interesse crescente apenas por esses novos estudos, de modo que se tornam tecnicistas e esquecem da anamnese, base para que eles possam detectar detalhes sobre a doença suspeitada, além de ser uma técnica fundamental para o início de estabelecimento de uma boa relação médico-paciente.
Essa mentalidade cria situações em que se torna muito difícil fazer com que o paciente confie em seu médico, de modo a admitir aspectos mentais relevantes sobre sua morbidade. Diante desse contexto, vem se tornando evidente a necessidade de uma postura médica mais próxima do paciente, sendo fundamental que o profissional de saúde passe a enxergá-lo não apenas mais um caso clínico, mas uma vida em seu todo, com suas peculiaridades.
Nada melhor para a aquisição dessa consciência do que a pesquisa a cerca da vivência da doença sob a percepção do paciente. Enxergando como o paciente se sente em relação à sua patologia, o médico tende a ser mais humanicista, passando a ter mais interesse em seu enfermo.
Dessa maneira, a criação de um maior vínculo com uma relação mais profunda entre o médico e seu paciente torna-se muito mais fácil. Em estudo realizado por Anjos e Zago (2006) com uma paciente portadora de câncer de mama, pôde-se perceber inicialmente uma fase de negação da doença. Após certo período, notou-se como a paciente construiu um sentido para a sua experiência de viver a quimioterapia, que foi interpretada simbolicamente como perda de controle da sua vida.
Essa foi uma experiência marcada por sentimentos ambivalentes de sofrimento e luta pela sobrevivência, devido às respostas do seu corpo às drogas, que a impediam de cumprir seu papel de mãe e provedora dos recursos necessários para o sustento da sua família.
Foi interessante perceber que, diante dessa situação, a paciente ainda buscou reorganizar suas atitudes em relação à vida. O significado construído ratifica que a experiência da doença, nesse caso da quimioterapia pro tratamento adjuvante do câncer, envolve uma dimensão que vai além de náuseas e vômitos, nem sempre valorizada pelos profissionais de saúde.
Todo paciente apresenta componentes emocionais e subjetivos, envolvidos no seu processo de adoecer, quer sejam reações psicológicas normais ou não, e que devem ser valorizadas e reconhecidas pelo médico.
Segundo Araújo (2008), componentes deste processo que favoreçam a construção de um espaço intersubjetivo podem propiciar o resgate de sujeitos adoecidos, através de uma aproximação não somente do paciente ao seu médico, mas também da doença ao seu portador, o doente, e da terapêutica ao processo de recuperação dos pacientes.
A desconsideração da subjetividade e da experiência de vida do paciente implica também uma série de consequências negativas para o relacionamento médico-paciente. Essa relação está quase sempre baseada na crença de que somente o médico sabe a respeito do estado de saúde ou doença do paciente, embora nem o ouça adequadamente (TRAVERSO-YEPEZ; MORAIS, 2004).
Portanto, a comunicação deste com o paciente tende a ser insatisfatória, tanto pela limitação de tempo e consequente falta de disponibilidade que a maioria desses profissionais enfrenta por ter que conciliar diferentes atividades, quanto pela insuficiente preparação para escutar e dialogar com o paciente.
Referências
ANJOS, A.; ZAGO, M. A experiência da terapêutica quimioterápica oncológica na visão da paciente. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, 14 (1): 2006.
ARAUJO, E. C. Homeopatia: uma abordagem do sujeito no processo de adoecimento. Ciênc. saúde coletiva 13: 663-671, 2008
CUNHA, M. G. G. C.; CRIVELLARI, H. Caminhando com a Psicoterapia Integrativa. Belo Horizonte: Cultura, 1996.
TRAVERSO-YEPEZ, M.; MORAIS, N. A. Reivindicando a subjetividade dos usuários da Rede Básica de Saúde: para uma humanização do atendimento. Cad. Saúde Pública. 20 (1): 80-88, 2004.
Fonte da imagem: http://www.influencinghealthcare.com/Influencing_Healthcare/Topics/Entries/2008/4/4_Physician-Patient_Communications_files/shapeimage_2.png