Por Charles Saraiva Gadelha
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB / Monitor de Semiologia Médica
A contratura de Dupuytren (ou moléstia de Dupuytren) é uma doença benigna, lentamente progressiva e fibroproliferativa da fáscia palmar e de seus prolongamentos digitais. Foi Felix Plater, médico suíço, quem descreveu pela primeira vez esta condição em 1614. Mas foi o Barão Guillaume Dupuytren, um célebre cirurgião francês, que apresentou o estudo anatômico em 1831 e estabeleceu a fáscia palmar como o local de origem, o que distingue esta afecção de outras causas de contratura dos dedos (1).
A fisiopatologia básica da moléstia de Dupuytren é a proliferação de fibroblastos e depósito de colágeno, produzindo contraturas principalmente nos terceiro, quarto e quinto quirodáctilos (2). As causas dessa proliferação descontrolada da fáscia palmar a ponto de surgirem contraturas de flexão debilitantes permanecem desconhecidas. Há evidências que sugerem grande potencial para a geração de radicais livres induzida por isquemia, os quais poderiam estimular a proliferação de fribroblastos (1). Suspeita-se também do envolvimento de fatores de crescimento, incluindo fator de crescimento fibroblástico e fator de crescimento derivado de plaquetas (2). Esses fatores mostram expressão aumentada dentro da fáscia doente.
Uma vez que nódulos se formam, o estágio de contração ativa ou involuntária começa. Esta fase é um estado de doença mais avançada, mas é um pouco menos biologicamente ativa do que a fase proliferativa. Cordões e bandas espessadas da fáscia começam a se desenvolver próximo aos nódulos e sulcos na pele costumam estar presentes, denotando aderência da pele na fáscia subjacente. Na doença avançada os nódulos tendem a regredir e as contraturas nas articulações metacarpofalangianas e interfalangianas proximal tornam-se cada vez mais severas. Há também atrofia dos músculos da mão e até mesmo do antebraço (3). Pode ocorrer associação com a formação de cordões fibrosos na fáscia plantar e na fáscia peniana (2).
Acredita-se que exista um componente genético associado à contratura de Dupuytren, já que a incidência é maior se existem familiares afetados. Vários estudos sugerem um padrão de herança autossômica dominante com penetrância variada (4). Embora possa estar associada ao tabagismo, alcoolismo, infecção por HIV, doenças vasculares ou cardíacas que cursem com baixo débito, diabetes mellitus, hepatopatias e ao uso de anti-epilépticos (1).
Por isso, é necessário obter uma história médica completa ao avaliar um paciente com esta enfermidade, atentando-se para condições potencialmente relacionadas a esta moléstia. Durante a anamnese, os pacientes normalmente referem como queixa principal diminuição da mobilidade dos dedos acometidos e, algumas vezes, dor local.
Um exame físico completo antes de se concentrar na (s) mão (s) envolvida (s) deve ser realizado. Entretanto, devem ser pesquisados durante o exame da (s) extremidade (s) acometida (s) aspectos importantes, como:
• Nódulos firmes que podem ser sensíveis à palpação;
• Cordões próximos aos nódulos, geralmente indolores (figura 1);
• Palidez quando extensão ativa dos dedos;
• Sulcos na pele evidenciando aderência à fáscia;
• Contrações metacarpofalangianas e interfalangianas proximais, medindo o grau de flexão e investigando compensação interfalangiana distal por hiperextensão;
• Bursite, tendinites ou tenossinovites.
Figura 1: Nódulos e cordões nas mãos [Fonte: MATTAR Jr. (2008)]
O diagnóstico diferencial é feito com uma variedade de entidades nosológicas, muitas vezes denominadas “pseudo-Dupuytren´s”, tais como: deformidade congênita, cicatriz pós-traumática, contratura por imobilização, contratura isquêmica de Volkman e tenossinovite palmar.
Referências
1- BARROS F.; BARROS, A.; DE ALMEIDA, S. F. Enfermidade de Dupuytren: Avaliação de 100 casos. Rev Bras Ortop 32(3):177-183, 1997.
2- REVIS, D. R. Dupuytren Contracture. In: Medscape´s continually updated clinical reference. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/329414-overview. Acesso em: 23 out 2009.
3- MATTAR Jr., R. Moléstia de Dupuytren. Einstein. 6 (1):S138-S42, 2008.
4- BURGE, P. Genetics of Dupuytren's disease. Hand Clin. 15(1): 63-71, 1999.
Fonte da figura de abertura desta postagem: http://drevancollins.com/blog/?tag=carpal-tunnel-syndrome