Prova escrita de MCO2 (Pesquisa Aplicada à Medicina) em 2009.2 e sua resolução
Na busca de converter um recurso tradicionalmente coercitivo, como a prova escrita, em uma ferramenta de aprendizado, introduzimos uma inovação no módulo de MCO2: a apresentação da resolução dos quesitos da última prova para, posteriormente, devolver a prova aos alunos, que poderão, assim, verificar seus acertos e erros. O objetivo é também o de tornar os alunos co-responsáveis no julgamento do seu aprendizado, revendo o problema e tendo mais uma oportunidade de aprender.
PARTE I: Enunciados dos quesitos da prova realizada em 16/11/09
1- No quadro abaixo são fornecidos dados de uma amostra de pacientes atendidos no Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) segundo as variáveis X: nível de glicose no sangue (mg%) e Y: sexo (M - masculino; F- feminino):
a) Com base nos níveis de mensuração, como as variáveis X e Y podem ser classificadas?
b) Indique a medida de tendência central mais apropriada para as variáveis X e Y e as calcule.
2- Um grupo de 350 adultos participou de uma pesquisa onde foi feita, entre outras, uma pergunta sobre se a pessoa estava fazendo dieta alimentar. Os resultados segundo sexo são apresentados a seguir:
a) Calcule a prevalência de pessoas que estão fazendo dieta;
b) Calcule a prevalência de dieta entre homens:
c) Calcule a medida de associação apropriada para este modelo de pesquisa
3- Qual o ponto de partida de uma pesquisa científica?
4- Que modelo de estudo vocês fariam para demonstrar que uma droga recentemente desenvolvida é eficaz no tratamento da obesidade?
5- O que leva o pesquisador a escolher um teste “paramétrico” ou um teste “não-paramétrico” para analisar seus resultados?
6- Descreva a diferença entre teste bicaudal e monocaudal no teste de hipóteses.
7- O que é reprodutibilidade de um teste diagnóstico e que modelo de pesquisa melhor avalia esta propriedade?
8- O fabricante de um medicamento divulga que este era 90% eficaz para a enxaqueca em um período de 2 horas. Um pesquisador resolve testar se essa propaganda é verdadeira e recruta uma amostra de 200 pacientes que estavam em crise de enxaqueca. Nesta amostra, o medicamento levou 160 pacientes à melhora total do quadro. Determinar se a divulgação do fabricante procede.
9- Um pesquisador pretende estimar a taxa p de pacientes com infecção hospitalar dentre os pacientes submetidos a cirurgias de médio porte no Serviço de Cirurgia do HULW. Ele adotou um grau de confiança de 95% e um erro amostral máximo de 5%. Calcule o tamanho da amostra necessário para este estudo.
10- Que critérios metodológicos e estatísticos se levam em conta na determinação de uma associação de causalidade entre uma variável independente (fator de risco) e uma dependente (desfecho) em estudos observacionais?
PARTE II: Resolução dos quesitos
1- (a) Quantitativa contínua
(b) Qualitativa dicotômica
(c) X = Média = 278,5/24 = 116 e Y = Moda = F.
2- (a) Prevalência = 39/350 = 0,111 = 11%
(b) Prevalência entre homens = 14/173 = 0,08 = 8%
(c) Razão de prevalência = 14/173 dividido por 25/177 = 0,57.
3- A formulação do problema de pesquisa.
4- Modelo experimental.
5- Para sua aplicação, os testes paramétricos exigem que a variável em análise seja intervalar e as hipóteses sejam feitas sobre os parâmetros da população (média e desvio-padrão), daí o termo "testes paramétricos". Além disso, há outras exigências, como a de que a variável analisada apresente distribuição normal na amostra. Mas o que faz um pesquisador quando as pressuposições para proceder a um teste paramétrico não estão presentes na sua amostra? Para não violar esses pressupostos matemáticos, ele deve aplicar um teste não-paramétrico, que não exige que a variável em análise seja intervalar nem pressuposições a respeito da distribuição da mesma. Contudo, quando se pode aplicar testes paramétricos, estes são considerados mais poderosos na inferência estatística.
6- No teste monocaudal, a hipótese alternativa é uma desigualdade e a hipótese nula testa se um valor é maior ou igual ou menor ou igual ao outro; neste caso, o nível de significância é concentrado em um dos lados da curva. Deve-se usar o teste monocaudal quando existem informações prévias de que a diferença deve se dar em um determinado sentido. No teste bicaudal, a hipótese nula testa se um valor difere do outro, a diferença pode ser para mais ou para menos. Neste caso, o nível de significância é dividido nos dois lados da curva.
7- Reprodutibilidade é a confiabilidade, fidedignidade ou consistência de um teste e se refere à concordância ou precisão de resultados quando um exame se repete em condições semelhantes, nos mesmos sujeitos, mas em diferentes ocasiões. O modelo do estudo para esta pesquisa deve ser transversal.
8- Seja p a probabilidade de se obter a melhora da crise e enxaqueca pelo uso do medicamento. Então deve-se decidir entre duas hipóteses: H0 - p = 0,9 e H1 - p menor que 0,9. Escolhe-se um teste monocaudal, porque não há interesse em determinar se a proporção de pacientes que têm remissão pelo medicamento é muito baixa. Não se determinou o nível de significância, então se adota 5%. Assim: p = 90% = 0,9; n = 200, q = 10%
Faz-se, então a aproximação da distribuição binomial à normal - média populacional = n.p - 200.0,9 = 180; desvio padrão = raiz quadrada de 200.0,9.0,1 = 4,24
Aplica-se a fórmula da conversão em escore z = -20 / 4,24 = -4,71. O z calculado é menor que o z tabelado, então rejeita-se H0, de que a melhora é de 90%, sendo na realidade, significativamente menor que esta. A propaganda do fabricante não procede (ou seja, não é verdadeira) de acordo com a pesquisa feita nessa amostra.
9- O tamanho da amostra para variáveis discretas (proporções) deve ser calculado pela aplicação da seguinte fórmula - n = z2 . p . q / e2, onde:
n: tamanho da amostra
e: erro máximo permitido da amostra (em porcentagem)
z: intervalo de confiança padronizado (em desvios-padrão)
p: proporção de situação de sucesso ou acontecimento (%)
q: proporção de situação de insucesso ou não acontecimento (%)
Quando não se conhece o valor de p, adota-se o limite de segurança padrão 50%; adota-se p = 0,50 = [(1,96n)2 . 0,50 . 0,50 / (0,05)2]
n = 384 pacientes.
10- O encontro de associação entre exposição e efeito não significa que ela seja causal. Assim, para inferir causalidade em estudos observacionais, os critérios de análise metodológica são sequência cronológica (a variável de predição precede a variável de desfecho), força da associação, plausibilidade biológica (a associação faz sentido em termos biológicos e ss fatos novos se enquadram no conhecimento existente sobre a história natural da doença), associação observada em estudos diferentes com desenhos diferentes, força de associação aumenta quando a exposição à variável de predição aumenta (dose-resposta) e analogia (a associação encontrada entre o fator e a doença é análoga a uma outra relação previamente descrita). Pode-se fazer também controle estatístico para verificar se variáveis intervenientes são determinantes do desfecho (fatores confundidores) e se estão desigualmente distribuídos entre expostos e não-expostos.