Segundo Minayo (1991), cada sociedade tem um discurso sobre saúde-doença, que corresponde à coerência ou às contradições de sua visão de mundo e de sua organização social. A linguagem da doença não é, portanto, linguagem em relação ao corpo, mas à sociedade e às relações sociais. Seja qual for a dinâmica efetiva do “ficar doente”, no plano das representações, o indivíduo julga seu estado, não apenas por manifestações clínicas, mas a partir de seus efeitos. Nesse contexto, ele busca no médico, a legitimidade da definição de sua situação. Disso retira atitudes e comportamentos em relação ao seu estado e assim se torna doente para o outro, para a sociedade. Se o processo saúde-doença, enquanto fenômeno social, tem seu esquema interno de explicações que parte de um marco referencial do médico, mas também compõe o quadro da experiência do dia-a-dia, que se expressa através do senso comum. Essas duas modalidades de representação do fenômeno se influenciam mutuamente de forma dinâmica, embora o saber do médico seja dominante. Para a ciência positivista, a doença resulta de desvios para mais (hiper) ou para menos (hipo) das funções fisiológicas de órgãos e tecidos. Porém, para o paciente, a percepção da doença pode variar em função de sua inserção na sociedade e de sua visão de mundo condicionada por construções sociais. Nesse sentido, a doença e sofrimento humano não podem ser vistos por uma única perspectiva e que as posições teóricas atuais continuam desenvolvendo conversações que fazem avançar a discussão dessa questão. O conceito de experiência ganha, então, uma outra perspectiva, a de experiência socialmente constituída, na qual se apresentam estratégias que só são passíveis de análise quando se expressam como narração individual e intersubjetiva (portanto, social), mas entendendo nessa condição a presença de uma situação dialógica, levando à reflexão sobre como cada sujeito e comunidade exercitam o lugar da enfermidade.
Referência MINAYO, M. C. S. Um desafio sociológico para a educação médica. Rev Bras Educ Méd, 15 (1): 25-32, 1991.