Estudante de Graduação em Medicina da UFPB, Campus I (VII Período), extensionista de Projeto Continuum/PROBEX/UFPB
Resumo
Os transtornos psiquiátricos são muito comuns na prática médica geral. Além de estarem, muitas vezes, relacionados a diversas enfermidades somáticas, tais distúrbios são geralmente subdiagnosticados pelo clínico geral. A reforma psiquiátrica propõe a descentralização no atendimento ao paciente psiquiátrico e , nessa conjuntura, o médico da atenção básica torna-se fundamental e deve ter conhecimentos no campo da saúde mental.
Palavras-chave: Saúde Mental. Assistência ao Paciente. Clínica Médica.
A prevalência de transtornos mentais na população adulta brasileira encontra-se em torno de 30%. Apresentam uma maior frequência no sexo feminino e tendem a aumentar a incidência com a idade. Transtornos de ansiedade, depressivos e somatoformes são os mais prevalentes na clínica geral. Por outro lado, estudos epidemiológicos demonstram que é o clinico geral quem mais atua no cuidado em saúde mental (MARI; JORGE, 1997).
A prática psiquiátrica no Brasil passa por um processo de reforma. O modelo centrado no hospital psiquiátrico vem dando lugar a práticas que favorecem o cuidado ao portador de doença mental em unidades de cuidado. Espera-se a reintegração do doente à sociedade e que este se torne ativo no seu tratamento.
Essa nova concepção em saúde mental elege o SUS e a atenção básica como atores no processo de cuidado ao paciente psiquiátrico. O médico generalista, assim como toda a equipe multiprofissional de saúde, são responsáveis por promover uma escuta diferenciada e pela integração do paciente à comunidade.
A integração da saúde pública com a saúde mental, através da criação de Centros de Atenção Psicossocial e hospitais-dia, mostra a tendência a uma descentralização do atendimento ao paciente psiquiátrico. A escuta individualizada e o atendimento integral constituem modelos que os gestores da reforma psiquiátrica tentam colocar em prática. Nesse sentido, equipes de saúde multiprofissionais necessitam receber treinamento para lidar com os problemas mais frequentes de saúde mental (LINS et al., 2009).
Em estudo realizado numa Unidade Básica de Saúde da cidade de São Paulo, verificou-se que os pediatras apresentaram dificuldades em reconhecer problemas de saúde mental em crianças. Também foi verificado que estes profissionais reconhecem que não tem o domínio de temas da psiquiatria, em detrimento de outras especialidades médicas. Os médicos relataram ainda problemas na formação médica, em que os aspectos subjetivos são geralmente deixados em segundo plano. A falta de interesse pela área e sua grande complexidade também foram citados pelos clínicos entrevistados no referido estudo (TANAKA; RIBEIRO, 2006).
Além disso, é comum que distúrbios mentais venham associados a outros problemas de saúde. Todo médico, eventualmente, enfrentará situações em que tenha de atender quadros psiquiátricos.Por outro lado, várias enfermidades aparentemente somáticas podem ter transtornos emocionais como fator de causa (PORTO, 2005).
Os profissionais da Ginecologia e Obstetrícia, por exemplo, lidam constantemente com quadros depressivos puerperais. Transtorno disfórico premenstrual, sintomas depressivos frequentes na perimenopausa e quadros psicológicos associados a abortamentos constituem exemplos da importância dos fatores emocionais no quadro clínico na área.
A depressão é encontrada em 5 a 10% dos pacientes ambulatoriais e 9 a 16% dos pacientes internados. Este quadro é frequente em quase todas as doenças crônicas. Apesar de significativa prevalência, esta enfermidade ainda é subdiagnosticada, o que leva a uma menor adesão do doente ao tratamento e, consequentemente, a uma maior morbimortalidade. (KATTON, 2003, apud TENG et al ,2005)
Portanto, é fundamental que o clínico geral saiba diagnosticar e tratar os principais distúrbios psiquiátricos. Além disso, ele deve saber quando encaminhar os casos de maior complexidade para um profissional especializado em saúde mental.
Referências
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LINS, E. C.; OLIVEIRA, V. M., COUTINHO, M. F. Clínica ampliada em saúde mental: cuidar e suposição de saber no acompanhamento terapêutico. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2009, vol.14, n.1, pp. 195-204. ISSN 1413-8123. doi: 10.1590/S1413-81232009000100026. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000100026&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 08/05/2010
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TENG, C. T., HUMES, E. C., DEMETRIO, F. N. Depressão e comorbidades clínicas. Rev. psiquiatr. clín. [online]. 2005, vol.32, n.3, pp. 149-159. ISSN 0101-6083. doi: 10.1590/S0101-60832005000300007.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832005000300007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt . Acessado em: 08/05/2010
A imagem da presente postagem pertence ao filme "Bicho de Sete cabeças" dirigido por Laís Bodanzky. Foto extraída de: http://ubermenschbydebord.files.wordpress.com/2008/07/bicho-de-7-cabecas04.jpg