8 de julho de 2010

A emoção como fator patogênico

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo

Estar saudável é sabidamente uma associação de bem-estar físico e emocional. O processo de adoecimento recebe influência significativa das emoções humanas, que fazem parte do processo fisiopatológico da maioria das doenças. A abordagem de um paciente deve ser holística.

Palavras-chave: Medicina Psicossomática, Emoções Manifestas, Saúde Holística.
O conceito de saúde é compreendido como algo muito mais amplo que o simples bom funcionamento do corpo físico. Está claro que o estado saudável é resultado de uma equação em que diversos aspectos da vida humana devem estar em harmonia, entre eles o estado emocional. O conjunto de emoções humanas possui uma implicação significativa no processo de adoecimento de indivíduos. As reações emocionais podem influenciar de maneira importante no aparecimento de determinadas doenças e ainda no curso de muitas outras.
É imperativo entender o ser humano como um somatório de funções orgânicas e psíquicas. Nesse sentido, pesquisas recentes com sujeitos afetados por câncer de mama apontam, na história dessas mulheres, questões associadas a acontecimentos traumáticos, lutos não elaborados, perdas materiais ou interpessoais, ou seja qualquer rompimento significativo da integridade emocional. O conhecimento da vida pessoal é, portanto, fundamental na abordagem de qualquer paciente.
Definir emoção é tão difícil quanto definir o próprio homem, mas pode-se dizer que a emoção apresenta três componentes, sentimento, resposta fisiológica e comportamento, correspondendo às dimensões psicológica, fisiológica e social (PINHEIRO, 1992). O componente psicológico é caracterizado pelo estado afetivo, o sentimento; o componente fisiológico é traduzido por alterações no corpo; o componente social relaciona-se a comportamentos como chorar, gritar, rir, fugir, atacar (Ibid). O papel das emoções no adoecer do ser humano é conhecido desde as sociedades primitivas e, com a evolução da Medicina, se tornou uma peça básica em diversas concepções e correntes da prática médica, como a Homeopatia e a Psicanálise.
De maneira geral, a psicossomática estuda os processos de somatização, segundo os quais as emoções contidas no plano subjetivo do indivíduo expressam-se como sinais e sintomas no plano físico do paciente, quadros esses, historicamente definidos por Freud como histerias. Segundo esses conceitos, de maneira geral, as emoções, sejam elas expressões do consciente ou do inconsciente, têm o poder de gerar alterações funcionais ou lesões em um órgão ou aparelho, de gravidade variável e que aparecem em certas circunstâncias na vida do sujeito. Esses fatores emocionais, chamados de fatores psicossomáticos, caracterizam a existência de estruturas subjetivas específicas em determinados pacientes, sendo as alterações das funções psíquicas subjetivas os determinantes patogênicos de uma grande variedade de doenças.
Considera-se que a sociedade e a cultura podem atuar de maneira patologicamente frustrante sobre os indivíduos, contrariando a sua disposição individual e resultando em excessivas dificuldades de ajustamento. Estas se manifestam psicologicamente sobre a forma de frustração e, fisiologicamente, através de tensões emocionais, ponto de partida para uma longa série de doenças.
Doenças como a gastrite, a úlcera gastroduodenal, a retocolite ulcerativa e a asma brônquica são conhecidamente psicossomáticas, isto é, possuem um fator psicogênico bem evidente envolvido no seu aparecimento e curso. Para Pinheiro (1992), “o ser humano é um todo psicossomático". Não há dicotomia entre somático e psíquico. Assim, grande parte dos transtornos orgânicos são associados (ou seja, determinados, agravados ou desencadeados), a fatores emocionais. Apesar do nítido fator emocional como característica patogênica dentro da Medicina, muito pouco se sabe sobre os mecanismos de ação das emoções sobre o organismo físico humano. Segundo o conceito psicossomático, o corpo humano é um conjunto de células que se toleram entre si devido à existência de um sistema imunológico.
Uma vez que esse papel mediador do sistema imune é comprometido, há um consequente desequilíbrio nas relações celulares, acarretando a quebra da homeostase celular e, assim, o processo de adoecimento. Esse pensamento corrobora a concepção da participação fundamental do sistema imunológico na gênese das doenças psicossomáticas. Talvez a maior implicação do fato das emoções possuírem significativo potencial patogênico seja a importância cada vez mais dada ao fator psicológico na abordagem terapêutica dos pacientes. O profissional de saúde não pode se preocupar apenas com o corpo físico; é necessária uma visão holística do ser humano. Tendo em vista o exposto, é imprescindível a qualquer profissional de saúde a valorização do plano psíquico na abordagem do paciente. As emoções, mesmo que não estejam diretamente envolvidas na gênese do problema, são determinantes no modo de enfrentamento do adoecer, assim como nas perspectivas e expectativas do paciente frente a um estado de vulnerabilidade.
O cuidador é aquele que alivia o sofrimento alheio, e o alívio de qualquer sofrimento, por qualquer doença, passa pelo cuidado com a influência das emoções sobre o processo de adoecimento. Referências CARRILO JR., R. Fundamentos de Homeopatia Constitucional: Morfologia, Fisiologia e Fisiopatologia Aplicadas à Clínica. São Paulo: Santos Livraria, 1997. COELHO, C. L. S.; AVILA, L. A. Controvérsias sobre a somatização. Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, 34 (6): 278-284, 2007.
FREUD, S. Algunas consideraciones con miras a un estudio comparativo de las parálisis motrices orgánicas e histéricas (1888-1983). In: Obras Completas, tomo 1, Buenos Aires: Editorial Amorrortu, 1992. ILGUEIRAS, M. S. T. et al. Avaliação psicossomática no câncer de mama: proposta de articulação entre os níveis individual e familiar. Estud. psicol. (Campinas), 24 (4): 551-560, 2007.
PINHEIRO, R. Medicina Psicossomática: Uma abordagem clínica. São Paulo: BYK, 1992.
A imagem que ilustra este texto foi retirada da página-web http://asdoencaspsicossomaticasnotrabalho.blogspot.com