3 de agosto de 2010

Lesões orais cancerizáveis

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo

As lesões orais de potencial maligno são estágios iniciais do câncer de boca. Em geral, estão relacionadas ao tabagismo, sendo as mais prevalentes a leucoplasia, a eritroplasia e a queilite actínica. São condições geralmente assintomáticas e, por isso, o diagnóstico é muitas vezes retardado, permitindo que a lesão evolua para transformação maligna. O rastreio da população, especialmente dos grupos de risco, é essencial para uma terapia precoce e de bom potencial curativo.

Palavras-chave: Leucoplasia, Medicina Bucal, Queilite. Lesões pré-malignas, ou cancerizáveis, segundo Neville (2004), são alterações teciduais que possuem potencial para assumir um caráter de neoplasia maligna, sendo, portanto, precursoras de malignidades. Esta transformação pode ocorrer a qualquer tempo e em velocidades variáveis, mas é uma característica importante das lesões pré-malignas a possibilidade destas também se manterem estáveis por um considerável período de tempo. O diagnóstico neste estágio é essencial para a terapia precoce, que exibe elevada possibilidade de cura. O sistema tegumentar compreende uma grande variedade de lesões, as quais permitem uma abordagem clínica bastante ampla no tocante à detecção de alterações precursoras de malignidades. Em relação às lesões orais mais especificamente, a detecção de lesões pré-malignas é especialmente útil ao clínico, visto ser bastante característica das neoplasias orais a passagem por um estágio inicial de evolução de caráter pré-maligno. De maneira geral, os principais fatores de risco para lesões orais, especialmente para aquelas de potencial maligno, são alcoolismo, infecções orais e dentárias de repetição, exposição à radiação solar, imunodepressão, próteses mal ajustadas e, especialmente, o tabagismo em todas as suas formas. Alguns estudos mostram que cerca de 80% de todas as lesões orais cancerizáveis incidem em indivíduos tabagistas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2005, modificou a terminologia das lesões e condições orais pré-malignas e as denominou lesões com potencial de malignização (VAN DER WAAL, 2009). Segundo essa classificação, são lesões orais potencialmente malignas a leucoplasia, a leucoplasia verrucosa proliferativa, a eritroplasia, a queilite actínica, a fibrose submucosa, o líquen plano e a atrofia por deficiência de ferro. Segundo estudo de Silveira et al. (2009), a leucoplasia é a mais prevalente dentre as lesões orais de potencial maligno (70,7%), seguida da queilite actínica (16,1%) e da eritroplasia (9,8%). Ainda segundo este estudo, o pico de incidência ocorre em indivíduos entre 50 e 65 anos, sendo a eritroplasia e a leucoplasia mais comuns no sexo feminino e a queilite actínica mais prevalente no sexo masculino. Leucoplasia é um termo clínico genérico utilizado para denominar uma placa predominantemente branca da mucosa oral, não removível à raspagem, que não pode ser classificada clinicamente em qualquer outra entidade. Sua superfície pode apresentar-se lisa, rugosa ou verrucosa, sendo a lesão precursora de câncer mais frequente da boca. Acomete principalmente a mucosa jugal e as comissuras labiais, e possui uma taxa de transformação maligna variando de 0% a 20%, sendo em média de 5% (SCHEPMAN, 1998). A queilite actínica é um quadro de natureza inflamatória com notável potencial de malignização, e que acomete exclusivamente o lábio inferior. São lesões causadas pela exposição crônica e prolongada aos raios solares (mais comuns em indivíduos brancos), sendo, em geral, alterações assintomáticas que podem ser brancas, vermelhas, brancas com áreas vermelhas, ou ainda, ulceradas. De maneira geral a queilite se apresenta com um aspecto atrófico, pálido e frequentemente com fissuração. Relata-se que a taxa de transformação maligna dessa lesão varia de 10% a 20% (MARKOPOULOS eal., 2004). A eritroplasia, semelhante à leucoplasia, é definida como uma placa ou mancha vermelha que não pode ser classificada clinicamente como qualquer outra entidade. Pode associar-se a uma leucoplasia adjacente, sendo denominada, nesse caso, eritroleucoplasia. Apesar de ser menos comum que a leucoplasia, a eritroplasia apresenta maior potencial para transformação maligna (14% a 50%), pois em cerca de 90% dos casos consiste em uma displasia moderada ou severa (VAN DER WAAL, 2009). As demais lesões orais de potencial maligno são menos prevalentes e, diferentemente das lesões mais comuns supracitadas, costumam fazer parte de condições sistêmicas, como é o caso do líquen plano e da atrofia por deficiência de ferro. Nesse sentido, seu diagnóstico é mais fácil, já que há uma maior magnitude no quadro sistêmico, o qual chama mais atenção no tocante ao diagnóstico. Em contraste, as lesões mais prevalentes (leucoplasia, eritroplasia e queilite actínica) são condições assintomáticas ou oligossintomáticas, sem repercussões sistêmicas associadas. Dessa forma, costumam passar despercebidas por muito tempo, sendo menosprezadas pelos pacientes e pelos próprios médicos. A demora no diagnóstico possibilita a transformação maligna e a ocorrência do câncer de boca, piorando muito o prognóstico do paciente. O tratamento dessas lesões, em geral, resume-se ao acompanhamento de lesões ou na ressecção, especialmente por laser, crioterapia ou cirurgia. Assim, o aspecto mais importante no estudo das lesões orais cancerizáveis é o entendimento da necessidade de rastrear seu aparecimento, especialmente nos grupos de risco, para realização de um diagnóstico precoce e de uma terapia eficaz, a qual, antes da malignização, permite taxas de cura elevadas. As lesões pré-malignas, se tratadas neste estágio, possuem um ótimo prognóstico, com baixas taxas de recidiva. Referências MARKOPOULOS, A.; ALBANIDOU-FARMAKI, E.; KAYAVIS, I. Actinic cheilitis: clinical and pathologic characteristics in 65 cases. Oral Dis, v.10, p.212-6, 2004. NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral & Maxilofacial. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
HEPMAN, K.P. et al. Malignant transformation of oral leukoplakia: a follow-up study of a hospital-based population of 166 patients with oral leukoplakia from The Netherlands. Oral Oncol, v.34, n.4, p.270-5, 1998. SILVEIRA, E. J. D. et al. Lesões orais com potencial de malignização: análise clínica e morfológica de 205 casos. J. Bras. Patol. Med. Lab., v. 45, n. 3, 2009. VAN DER WAAL, I. Potentially malignant disorders of the oral and oropharyngeal mucosa; terminology, classification and present concepts of management. Oral Oncol, v. 45, n. 4-5, p. 317-23, 2009.
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