18 de setembro de 2010

Semiologia das Coréias

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo

As coréias são hipercinesias caracterizadas pela presença de movimentos involuntários distais de caráter rápido e migratório. São transtornos que incidem em pacientes de diversas faixas etárias e apresentam etiologias bastante diversas. Assim como acontece com as outras discinesias, o diagnóstico das coréias é eminentemente clínico, sendo fundamental o adequado conhecimento semiológico para sua abordagem, a fim de que seja considerada corretamente a hipótese diagnóstica e feito o devido encaminhamento ao neurologista.

Palavras-chave: Coréia, Transtornos Motores, Neurologia. A coréia é um tipo de movimento involuntário anormal (discinesia), cujo nome vem do latim choreus, o que significa "dança". Consiste em um dos distúrbios neurológicos motores mais prevalentes.

A coréia manifesta-se por movimentos não controlados de localização mais comumente distal (mãos, antebraços, pés e face), breves, não-rítmicos, súbitos e irregulares, que parecem migrar de uma parte do corpo à outra, produzindo movimentos que chegam a lembrar uma dança. Na coréia, os movimentos são caracteristicamente aleatórios, com ocorrência, direção e distribuição imprevisíveis. É possível suprimir parcialmente a coréia ao incorporá-la a movimentos semi-voluntários, em um fenômeno chamado de paracinesia. Nesse caso, o paciente diminui em certo nível o movimento involuntário ao produzir contrações voluntárias da musculatura atingida pela coréia. A coréia é uma das mais prevalentes desordens do sistema extrapiramidal, o qual é responsável pelo controle “fino” das atividades motoras do organismo. A coréia, assim como outras hipercinesias de origem extrapiramidal, como o balismo, a atetose, os tiques e os tremores, apresenta sinais e sintomas bastante aparentes ao exame clínico.
Por isso, pode-se afirmar que a semiologia desse grupo é bastante reveladora, pois é possível diagnosticar uma hipercinesia e à qual grupo ela pertence através da simples inspeção do paciente. Apesar da facilidade do diagnóstico da hipercinesia, é muitas vezes difícil classificar e definir o grupo semiológico a qual ela pertence. De maneira geral, as posturas e o padrão de movimentos das hipercinesias examinados em um contexto estático são muito semelhantes entre si. No entanto, o exame dinâmico da movimentação é que permite o diagnóstico. Assim, fotos de pacientes com discinesias são pouquíssimo reveladoras, ao contrário de vídeos mostrando tais pacientes. Dentre as outras síndromes hipercinéticas, a atetose e o balismo são aquelas mais comumente confundidas com a coréia. A atetose é um conjunto de movimentos involuntários lentos, contorcidos e contínuos, de caráter vermiforme, que atinge principalmente os membros distais (mãos e dedos). O balismo é um sintoma mais comum que a coréia, e consiste em movimentos involuntários de grande amplitude e rapidez dos membros proximais, com movimentações do tipo lançamento e colisão das partes do corpo. Outra característica inerente às discinesias é o pouco valor dos exames complementares no diagnóstico das patologias, especialmente se compararmos com outras afecções do sistema nervoso central. O diagnóstico da coréia e de todas as outras discinesias é eminentemente clínico. Assim, dentro da semiologia das coréias, o diagnóstico se inicia por uma boa anamnese. É preciso atentar para o grupo etário do paciente envolvido, bem como para a presença de história familiar de discinesias e a duração e caráter dos movimentos, bem como sua presença ou ausência durante o sono.
Outra informação importante é o uso de medicações com potencial de intoxicação extrapiramidal (neurolépticos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina). Tais informações podem não só ajudar a confirmar o diagnóstico de coréia, assim como indicar sua possível etiologia. Para o diagnóstico, exige-se o uso acumulado de antipsicóticos durante pelo menos três meses, exclusão de outras causas de discinesia e persistência de movimentos discinéticos por, pelo menos, um mês após a descontinuação do agente causador. Portanto, são muitas as etiologias das coréias, recebendo destaque as imunológicas, como a Coréia de Sydenham, as adquiridas, como a coréia de Huntington, as por drogas, estruturais e metabólicas.
A coréia de Huntington, descrita inicialmente como coréia hereditária, é uma doença heredodegenerativa, caracterizada por alterações psiquiátricas, cognitivas e motoras progressivas. A suspeita de história familiar positiva é fundamental para o diagnóstico, por ser este tipo de coréia uma herança autossômica dominante. A idade média de início da doença é entre 35 e 44 anos. Os achados clínicos das coréias são variáveis e podem ocorrer isolados ou associados a outros fenômenos. A apresentação mais simples consiste em movimentos semi-voluntários que sugerem agitação, tais como movimentações rápidas dos dedos, punhos, mãos e artelhos. Os movimentos podem ser focais e repetitivos, com caráter estereotipado. Pode haver ainda contração dos lábios ou movimentos de "fazer bico", expansão das bochechas, protrusão da língua e movimentos mandibulares. Esses sintomas podem interferir na vida diária. Por exemplo, a coréia dos membros inferiores podem impedir a deambulação enquanto a coréia na face pode dificultar a comunicação verbal. Ao exame neurológico, aparecem diversas alterações. A prova dedo-nariz e os movimentos alternantes rápidos são feitos de maneira irregular e inconstante. Quando o paciente segura os dedos do examinador, nota-se às vezes um movimentos de compressão chamado pegada da ordenhadora, um sinal de perda da consistência motora. É comum a coréia aumentar durante a marcha. Pode haver alterações do movimento ocular e, com o avanço da doença, sinais de parkinsonismo, como bradicinesia e distonia. É importante ressaltar que em cada tipo de coréia, dependendo da etiologia, pode haver sinais e sintomas diversos associados. Por exemplo, na coréia de Huntington, a qual é a causa mais comum de coréia, há paralelamente com as mudanças motoras, um quadro demencial com claros distúrbios psiquiátricos associados. Na coréia de Syndenham, por sua vez, há um antecedente de infecção estreptocócica, acometendo principalmente crianças.
Salienta-se também que qualquer disfunção dos gânglios basais possui várias manifestações, todas sendo englobadas por uma síndrome ou um complexo de sintomas bem definido. É difícil basear-se somente nas manifestações clínicas para realizar um diagnóstico etiológico em transtornos causados por disfunção nos gânglios da base. Referências ANDRADE FILHO, E. A. et al. Perfil epidemiológico de pacientes com transtornos do movimento. Psiquiatria na Prática Médica. UNIFESP. 34 (1): s.p., 2001. Disponível em: http://www.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/original5_02.htm. Acesso em: 18 set. 2010.
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