23 de maio de 2011

VII Seminário de MHB3 em 2011.1: "História da Psiquiatria"

 

"As raízes da Psiquiatria têm a ver com controle, poder e separação de certos grupos de pessoas no ambiente em que são incômodos. Trancadas em lugares para tirá-las de vista. A história da psiquiatria está ligada com as instituições" (Lee Coleman)

 “A roda da história não se mostra submissa diante da nosologia psiquiátrica. E redime loucos, neles reconhecendo vidas que anteciparam o futuro, desbravaram caminhos, reinventaram o destino... Todavia, a loucura é o humano crucificado e é sofrimento...” (Jorge Bichuetti)

O tema do Seminário de hoje do Módulo de História da Medicina e da Bioética (MHB3) foi "História da Psiquiatria", com apresentação de Raimundo Gleison, Mayara, Naísa, Rafaela, Luciano e Saul.

Raimundo Gleison iniciou sua apresentação expondo vários antecedentes das antigas civilizações (Egípcia, Grega, Romana) referentes à visão sobre a doença mental, com uma concepção demonológica própria daquelas culturas, em que os transtornos psíquicos eram atribuídos à possessão por maus espíritos ou a influências da feitiçaria.

Raimundo mostrou que alguns conhecimentos gregos nessa área derivavam de saberes transmitidos pelos egíp­cios, como o conceito da histeria, palavra derivada do grego hysteron (útero). Esta concepção da histeria que os gregos in­corporaram aos seus saberes, já tinha sido registrada no papiro egípcio de Kahun, que remonta ao século XX a.C., em que se atribuía a histeria aos deslocamentos do útero pelo corpo da mulher.

Contudo, é nas obras atribuídas a Hipócrates que se encontram as primeiras des­crições clínicas indiscutíveis da histeria. Hipócrates e outros autores gregos, para explicar o determinante dos deslocamentos uterinos, recorrem à idéia da falta das relações sexuais. Nesta situação o útero se desidrataria, perdendo peso, de tal modo que poderia subir até o hipocôndrio ou até o coração, por sua leveza. As medidas terapêuticas para esse transtorno eram a inalação de substâncias fétidas ou fumigações vaginais para atrair o útero ao seu lugar de origem.

Raimundo Gleison aponta a contribuição do médico grego Hipócrates, considerado "Pai da Medicina". Hipócrates afirmava que todas as doenças possuíam uma causa natural, não devendo ser encaradas como uma punição divina, como a epilepsia, que até então, era considerada uma "doença sagrada". Raimundo mencionou que Hipócrates opôs-se à visão mágica das doenças, atribuindo-lhes uma causa orgânica baseada em sua teoria humoral, isto é, as doenças eram manifestações de uma alteração em um dos seguintes humores: sangue, linfa, bile negra e bile amarela. No que diz respeito às doenças mentais, ele descreveu a frenite, a mania e a melancolia.

Passando, então, para o campo da filosofia grega, Raimundo Gleison mencionou a contribuição do filósofo Aristóteles, que estudou as capacidades racionais e intelectuais da alma. O pensamento aristotélico valorizava o coração mais do que o cérebro como o órgão disfuncional na melancolia. Esta foi a protagonista de um tratado de Aristóteles, a “Problemata 30”. Neste tratado há uma interessante relação, referente à melancolia, entre a genialidade e a loucura. Segundo Aristóteles, existe um tipo de melancolia natural, que devido à ação da bile negra tornaria seu portador "genial".

Na medicina pós-hipocrática, entre os romanos, Raimundo Gleison mencionou Asclepíades de Bitínia, que era contrário à teoria humoral de Hipócrates, e fundou sua prática médica na modificação da teoria atomista ou corpuscular, de acordo com a qual, as doenças resultam de movimentos irregulares de corpúsculos do corpo. Ele defendeu um tratamento mais humano para as desordens mentais e, assim, libertou muitas pessoas consideradas insanas da prisão. Raimundo menciounou ainda que entre os médicos gregos que atuaram em Roma, Galeno acreditava que o cérebro era o centro do sistema nervoso e a sede da inteligência, discordando de Aristóteles. 

Mayara passou, então, a apresentar os antecendentes da Psiquiatria medieval e renascentista. Afirmou que a Idade Média foi para a psiquiatria, igualmente ao que foi para outras disciplinas e ciências, uma época em que os doentes mentais foram, outra vez, considerados como possessos pelo diabo ou por maus espíritos, ou como bruxas. Relatou que em 1494, os inquisidores dominicanos alemães Heinrich Krämer e James Sprenger publicam o céle­bre Malleus Maleficarum ("O martelo das Bruxas"), livro que se tornou uma espécie de "manual contra a bruxaria". Este livro foi amplamente utilizado pelos inquisidores por aproximadamente 250 anos, até o fim da "Santa Inquisição", e servia para identificar bruxas e os malefícios causados por elas, além dos procedimentos legais para acusá-las e condená-las.

Mayara continuou sua exposição, mencionando o pensamento de Santo Agostinho (354-430). que era permeado por maniqueísmo, doutrina que afirmava ser o universo dominado por dois grandes princípios opostos, o bem e o mal, mantendo uma incessante luta entre si. Agostinho acreditava que o pecado era o motivo da tristeza. Santo Agostinho dedicou-se à observação de fenômenos da memória e da consciência, mas a religião não permitiu que os seus estudos contrariassem a concepção sobrenatural das doenças psíquicas. Ele admitia que o homem, desde o seu nascimento, mantinha uma “inclinação original para o pecado".

Apesar da superstição que existia nessa época, surge na Europa os primeiros asilos ou hospitais para os doentes mentais. No entanto, nestes, também eram acolhidos os criminosos e, por isso, eram todos submetidos às mesmas regras de vigilância e repressão. Com o cientificismo do Renascimento, as contribuições foram pequenas, mas abriram portas para o Iluminismo, em que alguns pensadores divergiam sobre a causa espiritual das doenças psíquicas e abriam um espaço sobre a discussão científica a respeito das mesmas, enfatizando a possibilidade da busca de técnicas quanto a “curar-se a si mesmo”.

Contudo, o Renascimento não trouxe muitas mudanças para os doentes mentais. No Iluminismo, os doentes mentais viviam em condições de promiscuidade, eram submetidos a maus tratos e mal alimentados. Mas neste período, Paracelso (1493-1541) defendeu que a doença mental era uma perturbação da substância interna do corpo, a qual estava ligada à alma. Nesse caso, o corpo deveria ser estimulado para curar-se a si mesmo ("auto-cura").

Depois, Mayara fez um parêntese, para mencionar que no século XVII, a loucura converte-se em tema literário, nos trabalhos de Shakespeare (Hamlet e Rei Lear), Erasmo (Elogio da Loucura), Cervantes (Don Quixote). Ao mesmo tempo, ocorria uma revolução nas ciências humanas e na forma de entender o pensamento, com contribuições de Leonardo da Vinci, Galileu Galilei, Descartes, Copérnico e outros. No entanto, os doentes ainda eram marginalizados e enviados a manicômios, onde os tratamentos eram agressivos. Os loucos eram considerados não apenas incapazes, mas também perigosos.

A seguir, a apresentadora fala sobre Thomas Sydenham (1624-1689), que foi o primeiro autor a descrever os efeitos dos opiáceos (suco extraído de papoula) e realizou descrições sobre a coreia aguda, a mania e a histeria. Também relatou a contribuição de Thomas Willis, anatomista e neurologista que descreveu o Polígono de Willis, a paralisia geral progressiva (neurossífilis) e a miastenia gravis. Descreveu também alguns casos de “estupidez adquirida” em jovens, estado clínico que veio a ser nomeado posteriormente de esquizofrenia.

Posteriormente, Mayara passou a relatar a grande contribuição de Philippe Pinel (1745-1826), médico francês que, em 1798, libertou os doentes mentais asilados, muitos deles algemados durante 30 anos ou mais. Pinel realizou a primeira tentativa de classificação das doenças mentais, agrupando-as em quatro grupos: “manias” ou delírios gerais, “melancolias” ou delírios exclusivos, “demências” e “idiotias”. Os seus estudos constituíram a "Primeira Revolução Psiquiátrica", em que introduziu os conceitos de moral e liberdade. 

Lembrou ainda que Pinel teve a colaboração de um subordinado, o administrador, chefe da guarda e ex-paciente do Hospital Bicêtre, Jean Baptiste Pussin, com quem estabeleceu proveitosa parceria. Assim, Jean-Baptiste Pussin inspirou-lhe medidas humanitárias em benefício dos doentes, principalmente a de libertá-los das correntes a que vários viviam presos.

Por fim, Mayara falou sobre Jean-Étienne Esquirol (1772-1840), discípulo de Pinel que desenvolveu os trabalhos deste e preocupou-se em construir uma nosografia psiquiátrica. Ele considerava a loucura produto da sociedade e das influências morais e intelectuais. Esquirol foi, portanto, precursor da psiquiatria científica iniciada por Pinel e um dos principais representantes da psiquiatria francesa do século XIX. Ele disseminou as idéias de Pinel pela Europa e foi seu sucessor como chefe do Hospital da Salpêtrière (1811), colocando a França como líder no tratamento dos doentes mentais em sua época. Assim, a Psiquiatria nasce como especialidade médica na segunda metade do século XVIII.

Naísa continuou a apresentação, referindo-se à Psiquiatria do século XIX, iniciando sua exposição com a menção a uma das mais importantes figuras da neurologia francesa e mundial e considerado o pai da neurologia clínica, Jean-Martin Charcot (1825-1893), que se dedicou ao estudo da hipnose e da histeria. Charcot acreditava que a histeria devia-se a uma fragilidade orgânica do sistema nervoso. Ele descreveu os sintomas histéricos e reconheceu que um trauma estava relacionado com ideias e sentimentos que se tornariam inconscientes. Acreditava na cura da histeria pela hipnose, e que era possível reproduzir os sintomas neuróticos e obter o seu alívio através dessa técnica.

Em seguida, Naísa mencionou que entre os discípulos famosos de Charcot, estava Pierre Janet, psiquiatra que definiu a debilidade orgânica da histeria com o conceito de "psicastenia". Janet descobriu que, sob hipnose, os doentes podiam relembrar os acontecimentos traumáticos e essa recordação poderia ajudá-los no tratamento.

Em 1885, Sigmund Freud, atraído pela fama de Charcot, consegue uma bolsa de estudos em Paris, onde fica um ano estudando na Salpêtrière. Impressionado com as práticas do mestre, ao voltar para Viena passou a trabalhar com pacientes histéricas. Naísa mencionou que Freud realizou estudos com a cocaína - informação que é pouco conhecida hoje - como um método eficaz de tratamento para os distúrbios psíquicos. Ele usava a droga como medicamento, para si e também recomendava aos seus pacientes. O trabalho de Freud foi pioneiro em alguns aspectos do estudo da cocaína e ele poderia ter sido o descobridor da anestesia local, segundo pesquisou Naísa.

Inspirado pelo exemplo de Charcot, assim como pelo trabalho do amigo e colega médico Josef Breuer, Freud introduziu o uso de hipnoterapia para seus pacientes. Freud e Breuer descobriram que, em um estado de relaxamento, a mente do paciente gravitaria em torno da experiência perturbadora que causava os sintomas disfuncionais.

Esta experiência com hipnoterapia tornou Freud um defensor da catarse ou "cura pela fala", como forma de aliviar ou eliminar a histeria e a psiconeurose. Contudo, ele logo concluiu que o hipnotismo era desnecessário para a maioria dos pacientes. Assim, passou a desenvolver sua própria abordagem, a teoria psicanalítica.  A pedra angular desta teoria, criada e desenvolvida por Freud, é o conceito de inconsciente. Ele desenvolveu a técnica de "associação livre", incentivando o paciente a falar em voz alta sobre quaisquer pensamentos ou imagens que lhe viessem à mente.

Freud convenceu-se da ligação entre a neurose e conflito sexual. A repressão sexual era muito forte durante o período vitoriano e ele acreditava que havia enorme importância do impulso sexual na gênese da histeria e na formação da personalidade. Quando publicou suas teorias, ele chocou o mundo ao afirmar que o menino torna-se emocional e sexualmente fixado em sua própria mãe, enquanto vê seu pai como rival. Naísa comentou rapidamente a obra "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", uma das mais polêmicas contribuições de Freud.

Posteriormente, Rafaela assumiu a exposição, afirmando que as escolas psiquiátricas de maior relevância na evolução da psiquiatria como disciplina foram a francesa e a alemã. A escola alemã buscava estudar a etiologia, patogenia e características do quadro clínico, curso e prognóstico. Emil Kraeplin é um dos seus grandes nomes. A escola francesa dava ênfase aos critérios sindrômicos e tem Jean-Étienne-Dominique Esquirol como seu grande representante.


Rafaela referiu-se a Karl Jaspers, que se aproximou da filosofia, e através da fenomenologia, desenvolveu trabalhos que definem e reenquadram a psicopatologia. A Karl Jaspers cabe o mérito de ter tornado a Psicopatologia uma disciplina independente da Psiquiatria. Antes mesmo da publicação de sua monumental obra "Psicopatologia Geral", Jaspers já defendia a necessidade de aplicação da fenomenologia para delimitação e ordenação dos fenômenos psicopatológicos subjetivos, não apreensíveis pela abordagem positivista e quantitativa.

Kurt Schneider, também psiquiatra alemão, foi outro autor de grande reflexo ao contribuir para a sistematização nosográfica das entidades psiquiátricas e para a compreensão da esquizofrenia. Englobou, no conceito de personalidade psicopática, todos os desvios da normalidade não suficientes para serem considerados doenças mentais francas. A "Psicopatologia Clínica", obra que sintetiza o pensamento psiquiátrico de Schneider, também é considerada uma obra clássica da psiquiatria.

Rafaela mencionou ainda o psiquiatra alemão  Ernst Kretschmer (1888-1964), criador de uma biotipologia constitucional, rela­cionando o tipo físico com o caráter, a personalidade e a doença mental. Ainda entre os alemães, menciona a Escola de Wernicke-Kleist. A apresentadora  referiu-se também à importante figura de Eugen Bleuler (1857-1939), psiquiatra suíço, criador dos termos esquizofrenia e autismo. Bleuler considerava que a esquizofrenia era um conjunto de doenças, como resultado de muitas combinações possíveis de sintomas, havendo várias síndromes independentes. Por esta razão, ele denominou a doença das esquizofrenias (plural) quando criou o nome.

Bleuler tinha formação organicista, exercendo grande influência na psiquiatria europeia que aceitava a valorização motivacional dos acontecimentos psicológicos e sua participação na causalidade das doenças mentais.

A descoberta do agente da Sífilis, o Treponema pallidum, fez com que a psiquiatria se inclinasse mais para uma orientação organicista. Entretanto, com a difusão das teorias freudianas, acentuou-se mais a bipolarização conceitual da psiquiatria. Assim, a psiquiatria ficou dividida entre duas vertentes: uma de natureza orgânica e outra de natureza psicológica, considerando os mecanismos emocionais desorientadores e as situações de conflito como as principais causas das doenças mentais.

Na psiquiatria orgânica, os estudos genéticos comprovaram que diversas entidades nosográficas, definidas por Emil Kraeplin (1856-1926), principalmente psicoses endógenas tinham base hereditária.  Kraepelin também era um psiquiatra alemão, considerado o criador da moderna psiquiatria, psicofarmacologia e genética psiquiátrica. Kraepelin afirmava que as doenças psiquiátricas eram causadas por alterações genéticas e biológicas. Kraepelin contrariou a abordagem de Freud que considerava e tratava as doenças psiquiátricas como resultado de fatores psicológicos.  

Rafaela prosseguiu sua apresentação mencionando que entre 1930 e 1938, foram realizados tratamentos psiquiátricos somáticos, como malarioterapia, choque insulínico, lobotomia e eletroconvulsoterapia ("eletrochoque").

A malarioterapia foi um tratamento biológico inicialmente proposto por Jauregg para manifestações psiquiátricas da sífilis. Entre as manifestações tardias da sífilis encontra-se a neurosífilis, em que os pacientes acometidos apresentavam uma degeneração progressiva, com convulsões, incoordenação motora, paralisia, agitação psicomotora, depressão, paranóia, agressividade, delírios, déficit de memória e de orientação. Jauregg havia observado que vários pacientes com problemas psiquiátricos melhoravam após recuperarem-se de doenças que causavam febre. Em 1917, este pesquisador injetou o sangue de um soldado que apresentava Malária em vários pacientes com o quadro de paralisia geral progressiva (neurossífilis), obtendo resultados favoráveis e por isso, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1927.

Manfred Sakel (1933) utilizou a “choque insulínico”, como forma de tratamento psiquiátrico. Ele descobriu acidentalmente que o coma induzido por insulina era eficaz para pacientes com psicoses, especialmente a esquizofrenia. Os resultados pareciam promissores, gerando entusiasmo. Contudo, seus efeitos eram muito perigosos e o método foi abandonado, e hoje tem relevância apenas histórica.

As convulsões por cardiazol, preconizadas por Lázló Meduna, partiam do pressuposto que haveria um antagonismo biológico entre a epilepsia e a esquizofrenia e passou a empregar essa substância, que ocasionava convulsões rapidamente. Foi um método abandonado pelo surgimento dos neurolépticos e da eletroconvulsoterapia.

A lobotomia, ou leucotomia, idealizada pelo médico português, Egas Moniz (1935) foi realizada inicialmente para alterações no comportamento de animais (cães e chimpanzés), por ablação cirúrgica do córtex pré-frontal e frontal. Moniz pressupôs que se cortasse as fibras nervosas que unem estas duas estruturas ao tálamo obteria melhora do quadro clínico de pacientes com sintomas mentais graves. Moniz recebeu o Nobel de Medicina em 1949 pela relevância da leucotomia no tratamento de algumas doenças mentais. Sobre a história da lobotomia, há outra postagem neste blog no link indicado abaixo:
http://semiologiamedica.blogspot.com/2010/11/psicocirurgia-para-doencas-mentais.html.

Mais tarde, o neurologista americano Walter Freeman, associado ao neurocirurgião Watts, aperfeiçoaram o método, utilizando anestesia local e introduzindo um furador de gelo através do teto da órbita. Este procedimento foi abandonado após vários abusos terem sido praticados, por motivos econômicos (era mais barato do que manter um paciente hospitalizado por longo tempo), sociais (para as famílias cuidarem de seus doentes mais tranquilamente), educacionais (crianças com problemas disciplinares) e políticos (dissidentes). É importante salientar que estes usos representaram um desvio do que havia sido proposto por Moniz, que a indicava apenas para casos extremos.

Em 1938, foram realizadas as primeiras eletroconvulsoterapias. Ugo Cerlertti aplicou o método a vários pacientes portadores de doenças psiquiátricas, com resultados positivos. Esta terapia teve seu uso reduzido após o surgimento dos neurolépticos e ficou muito estigmatizada, sendo vista de forma política e ideológica e não científica, uma vez que a eletroconvulsoterapia era, algumas vezes, usada de forma abusiva.

Mas em 1952, começa a descoberta de psicofármacos, o que constituiu a "Segunda Revolução Psiquiátrica". Muitas dessas evoluções científicas surgiram a partir de resultados de pesquisas realizadas durante a Segunda Guerra Mundial, possivelmente com vítimas do holocausto, que pregava a hierarquia de raças e social, numa política repressora e excludente.

Na segunda metade do século XX reapareceu a psiquiatria biológica. A Psicofarmacologia tornou-se parte integral da psiquiatria. No final da década de 1950, os primeiros antipsicóticos e antidepressivos foram desenvolvidos. A clorpromazina foi o primeiro antipsicótico utilizado, sendo sintetizado em 1950. A descoberta da eficácia da clorpromazina no tratamento da esquizofrenia em 1952 revolucionou o tratamento desta doença. Em 1959, o primeiro antidepressivo tricíclico foi desenvolvido, a imipramina.

Para concluir sua fala, Rafaela relata que, em resposta à psiquiatria organicista e manicomial, surge um movimento em que se preconizam novas formas de tratamento considerando as relações, a psicoterapia e o ambiente terapêutico. Começa a fase da Terceira Revolução Psiquiátrica.

A Terceira Revolução Psiquiátrica acontece nos anos 1960 com a antropologia cultural, constituindo um movimento de caráter preventivo (saúde mental), assistência ambulatorial e comunitária com o consequente surgimento de novas técnicas psicoterápicas e novas abordagens terapêuticas. Dentro da sociologia surge um movimento antipsiquiátrico que comunga dos mesmos objetivos, na figura de Michel Foucault. 

Luciano passou, então, a apresentar uma breve revisão histórica sobre a psiquiatria no Brasil, afirmando que a assistência aos doentes no Brasil colonial era extremamente precária e a maioria dos cuidados era prestada por curandeiros  e jesuítas. Muitos doentes mentais eram trancafiados ou vagavam pelas ruas.   Com a chegada da Família Real ao Brasil, houve a necessidade de colocar ordem na urbanização, disciplinando a sociedade e portanto, prendendo os doentes mentais. 

No Brasil Império, o Imperador teve a iniciativa, influenciada pela tendência europeia após o período do Iluminismo e da Revolução Francesa, de determinar a retirada dos doentes mentais dos espaços de reclusão onde eram abandonados. Em 1852, entrava em funcionamento o Hospício de Pedro II, com 144 pacientes internados. A partir desse momento a psiquiatria no Brasil passa a ser admitida como especialidade médica, como já ocorria na Europa. Antes da fundação do Hospício de Pedro II, os loucos da capital do império eram recolhidos aos porões da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, onde ficavam geralmente trancafiados e em condições insalubres.

A loucura, ao ser capturada pelo saber médico, com o advento do hospital psiquiátrico no século XVIII, ganha o status social de enfermidade, devendo ser tratada nos hospitais psiquiátricos. Concebia-se o hospital psiquiátrico como dispositivo de ação curativa indispensável para o tratamento da loucura, onde os pacientes eram isolados e ficavam sob vigilância.

O manicômio surge no final do século XVIII como local para ser "tratada" a loucura, com ocultamento e exclusão, com vistas a uma "cura", de acordo com a ordem fundada por Philippe Pinel, como já mencionado antes neste seminário.

No século XIX, os psiquiatras Benedict Morel (1809-1873) e Valentin Magnan ( 1835-1916) postularam que a doença mental era evidência de uma corrente degenerativa hereditária que se tornaria gradativamente mais profunda nas gerações sucessivas. Na Itália, Cesare Lombroso ( 1836-1909), considerado o pai da antropologia criminal, afirmou ter encontrado a característica degenerativa nos criminosos.  Os psiquiatras acreditavam que o Brasil degradava-se moral e socialmente por causa da miscigenação racial do povo brasileiro.

Passou a se acreditar que as doenças mentais eram transmitidas de geração para geração, causando a degeneração progressiva das árvores genealógicas e da população como um todo. Para esses autores, a degeneração era mais que uma doença individual: tratava-se de uma ameaça social. A ideia de degeneração começou a estimular políticas sociais como esterilização, eutanásia e perseguição de indivíduos ditos “degenerados”.

Luciano afirma que nesse contexto, o movimento de higiene mental surgiu com a criação da Liga Brasileira de Higiene Mental. Fundada no Rio de Janeiro, em 1923, a Liga tinha como objetivo primordial a melhoria na assistência aos doentes mentais. A partir de 1926, influenciados pelo contexto político e pelas ideias alemãs, francesas e norte-americanas, os diretores da Liga mudaram sua orientação, passando a assumir uma postura de tentar “normalizar” a população, com princípios da eugenia e da higiene mental, apregoando-se a purificação da raça, a esterilização e exclusão dos ditos degenerados (leprosos, loucos, epilépticos, prostitutas, vagabundos e deficientes mentais). O termo "Higiene Mental" proposto naquela época, foi substituído em 1948, pela expressão atual "Saúde Mental".

Concluindo a apresentação do seminário, Saul aborda de forma breve a Reforma Psiquiátrica. Comenta que, a partir do ano de 1992, movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei Paulo Delgado, conseguem aprovar em vários estados brasileiros as primeiras leis que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede integrada de atenção à saúde mental.

Em 2001, após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Paulo Delgado é sancionada no país, como modificações. A Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios.
Na década de 1990, passam a entrar em vigor no país as primeiras normas federais regulamentando a implantação de serviços de atenção diária, fundadas nas experiências dos primeiros centros de atenção psicossocial (CAPS) e hospitais-dia. Existem em funcionamento hoje no país 1.650 CAPS. Saul conclui sua apresentação, afirmando que a criação de uma rede de serviços comunitários tem o objetivo de substituir o hospital psiquiátrico e que os CAPS trabalham articulados com a rede básica, além de envolver-se em ações intersetoriais - com a educação, trabalho, esporte, cultura, lazer.

Encerrada a apresentação do seminário, deu-se início à discussão envolvendo a turma, com a participação de Bruno Carreiro (as três Revoluções Psiquiátricas), Diego (influência das ideias mágico-religiocas sobre a concepção de doença mental), Glauco (visão da população leiga sobre os manicômios), Lucas (ideias de eugenia), Luiz Eduardo (CAPS), Maísa (fundamentos da malarioterapia), Maise (histeria e útero), Laíse (hipnose e histeria; antipsiquiatria); Renan (tratamento dos doentes mentais à época da chegada da família real portuguesa ao Brasil) e Klícia (visão da sociedade e da Igreja sobre a esquizofrenia).

Ilustração desta postagem - WADE, N.; PICCOLINO, M.; SIMMONS, A. Portraits of Europeans Neuroscientists. Disponível em: http://neuroportraits.eu/portrait/philippe-pinel

21 de maio de 2011

Relatório da II Discussão em Grupo de MCO3 em 2011.1: Doença Crônica e Espiritualidade


Nesta semana, no Módulo de Elaboração do Trabalho Científico e (MCO3), houve discussão em grupo, envolvendo toda a turma, sobre um artigo científico original, após leitura crítica prévia deste pelos alunos. Tratava-se, no artigo, do relato de um estudo transversal sobre a comparação de religiosidade/espiritualidade em pacientes com doenças crônicas e indivíduos sem este acometimento.

Iniciou-se a discussão às 7h00, concluindo-se às 8h45. Compareceram 98% dos 48 alunos matriculados. Houve tempo para a discussão do artigo até a seção de Métodos, e assim, os alunos que não tiveram oportunidade de participar presencialmente, enviaram seu comentário ou questionamento sobre as seções de Resultados, Discusssão ou sobre a Conclusão do artigo por e-mail posteriormente ao horário da aula.

A discussão teve início com Reginaldo, que comentou ser o título longo demais e sobre este incluir a expressão "qualidade de vida", que não era a variável primária do estudo. Ainda sobre o título, Mariana Galvão questionou se a abreviatura nele contida era necessária, uma vez que já se colocava o termo abreviado por extenso. Comentamos que não era essencial no título, e sim no resumo ou no corpo do trabalho, para que posteriormente à apresentação do termo por extenso, se passasse a usar apenas a abreviatura.

Ainda a respeito da abreviatura/sigla, Thaísa questionou se esta não deveria ter sido vertida para o português, pois a expressão na íntegra está escrita neste vernáculo, enquanto a sigla continua em inglês. Respondemos que siglas e abreviaturas já conhecidas e de intrumentos padronizados internacionalmente devem permanecer no idioma original, mesmo traduzindo-se a expressão que representam para o português. Nesse sentido, Sâmia opinou que se a sigla deveria estar mesmo em inglês, então a expressão que representava também deveria star em inglês. Então Ynaianna contestou que a expressão em inglês já estava contida no título em inglês do artigo, visto logo abaixo do título em português.

Roosevelt insistiu em discutir ainda o título do artigo, afirmando que poderia ser omitido a expressão "com e sem problemas crônicos", com o que concordamos, pois o título apresentou um efeito pouco estético com esta forma de redação. Poderia ter sido mudado para "com problemas crônicos", pois os pacientes sem problemas crônicos são o grupo controle. Eduardo Jorge questionou se o modelo do estudo não deveria estar incluído no título, ao que contestamos que é recomendável que assim ocorresse, mas não é uma norma, ou seja não é necessário que o modelo do estudo esteja sempre no título, sobretudo neste caso do artigo em análise, que já era longo.

Passou-se, então, a discutir o resumo do artigo. Eduardo Walter afirmou que dois títulos das seções do resumo estavam diferentes das do corpo do texto: "contexto" no resumo correspondendo a "Introdução" no artigo; "delineamento" no resumo" e "Metodologia" no texto. Nesse sentido, ressalta-se que "delineamento" é apenas uma das partes da "metodologia". Ainda sobre o resumo, Thaís comentou que, embora no "contexto" do resumo enfatize-se a abordagem de diferentes faixas etárias, este aspecto não é mencionado na Introdução do artigo. Thaísa observou que no texto deste também não se enfoca as diferenças na distribuição da variável primária em função do tipo de doença, e sim, apenas em relação à presença ou não de doença crônica. Portanto, há incoerências na formulação da questão especifica investigada, tanto na redação do resumo, quanto no próprio corpo do texto do artigo.


Danilo acessou a Medline na Internet e encontrou vários estudos sobre religiosidade em idosos, pretendendo contestar o que se afirma no artigo. Porém, neste assegura-se que não há estudos sobre religiosidade comparando pessoas doentes e saudáveis.


Isolina voltou ao resumo do artigo, pontuando que no resumo há o relato do número de sujeitos envolvidos no estudo, enquanto no corpo do texto este dado não foi registrado. O resumo deve conter a essência do artigo, e muitas vezes apresenta apenas os dados bem selecionados,sem maiores detalhes, que estarão presentes no texto do artigo, porém, não se observa o contrário, verifica-se um dado no resumo sem que este tenha sido relatado no artigo.

Maíra comentou que no resumo não há a expressão por extenso do que representa a sigla BDI, embora o resumo deva ser auto-explicativo, sem que se precise rescorrer ao texto para a obtenção de informações fundamentais do trabalho. Mencionou ainda Maíra,que o local do estudo não está registrado no resumo. Porém, este último dado pode ser omitido no resumo, ainda que seja necessário sua presença no artigo. Na mesma linha de pensamento, Ítalo comentou que no resumo não há referência ao período de realização do estudo.

Texto em Construção. Voltaremos depois.

Imagem ilustrativa da postagem: wendycadge.com

Educação no Brasil: Professora Amanda Gurgel sintetiza o descaso com a educação



A Profa. Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, faz uma síntese sobre o quadro da educação no Brasil apresentando seu contracheque de R$ 930 reais e afirmando o que todos queremos dizer sobre o descaso com a educação e a classe dos professores neste país.

20 de maio de 2011

Lesões Dermatológicas de Atopia


Por Stephanie Galiza Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A dermatite atópica é uma dermatose inflamatória, crônica e recidivante que acomete sobretudo a faixa etária pediátrica, constituindo a manifestação central da síndrome atópica, que consiste na tendência hereditária a responder de forma exacerbada a alérgenos ambientais. Estima-se que 10 a 20% das crianças na faixa etária pré-escolar sejam acometidas nos países industrializados. No eczema agudo predominam pápulas, vesículas e exsudação serosa. No eczema subagudo, as lesões crostosas. Já no eczema crônico, prepondera a liquenificação. O prurido é o sintoma mais comum, estando presente em todas as fases.

Palavras-chave: Dermatite atópica. Dermatologia. Sinais e Sintomas.

Atopia traduz uma tendência hereditária a responder de forma exacerbada a alérgenos ambientais. A dermatite atópica, ou eczema atópico, é uma dermatose inflamatória, crônica e recidivante que acomete principalmente a faixa etária pediátrica, com uma discreta preferência pelo sexo feminino (1,3:1) (LEUNG; BIEBER, 2003).

Nas últimas décadas, vem ocorrendo um aumento significativo na sua prevalência, podendo ser considerada atualmente um problema de saúde pública mundial, com uma prevalência estimada de 10 a 20% em crianças na faixa etária pré-escolar de países industrializados (FITZPATRICK, 2008).

A dermatite atópica representa a manifestação central da síndrome atópica, constituída também pela asma e pela rinite alérgica, além de outras manifestações, como alergia alimentar e conjuntivite alérgica.

A fisiopatologia do eczema atópico é baseada na interação de complexos mecanismos genéticos, que resultam em uma barreira cutânea defeituosa e hiperresponsividade imune a alérgenos e antígenos microbianos (HANIFIN; RAKJA, 1980), notadamente a resposta do tipo 2 (humoral). Embora a imunidade exerça um papel fundamental na gênese da atopia, os fatores extrínsecos usualmente são responsáveis pelo seu desencadeamento ou exacerbação, representados pelos alérgenos ambientais.

Conforme Azulay et al. (2008), as lesões evidenciadas na dermatite atópica podem ser classificadas segundo suas características morfológicas em eczema agudo, subagudo ou crônico. No eczema agudo, ocorre a predominância de pápulas eritematosas intensamente pruriginosas, associadas a escoriações, vesículas sobre base eritematosa e exsudação serosa, sendo, por isso, também designado eczema úmido.

No eczema subagudo, predominam as lesões crostosas, habitualmente acompanhadas de escoriações e exsudação. Já no eczema crônico, também denominado eczema seco, prepondera a liquenificação (acentuação das linhas e sulcos naturais da pele devido à coçadura freqüente e crônica), bem como placas fibróticas (prurigo nodularis), podendo coexistir os três tipos de eczema no mesmo indivíduo. Vale ressaltar que o prurido, geralmente intenso, está presente em todas as fases, sendo o sintoma mais comum da dermatite atópica (CORREALE et al., 2000). O prurido pode ser intermitente, mas tende a piorar durante à noite e ao deitar (FITZPATRICK, 2008).

Quanto à faixa etária acometida, pode-se classificar o eczema atópico em:
- Infantil (3 meses a 2 anos): eczema agudo ou subagudo, predominando em região malar, fronte, pescoço, couro cabeludo e face extensora de membros superiores e inferiores. Tem como característica marcante poupar o maciço central. A infecção secundária pela coçadura frequente é comum. O eczema herpético (ou erupção variceliforme de Kaposi) consiste em uma complicação da dermatite atópica devido à infecção por Herpes Vírus 1.
- Pré-puberal (2 a 12 anos): caracteristicamente um eczema seco (crônico), evidenciado pela presença de liquenificação e escoriações. Podem ocorrer agudizações, com o retorno do eczema úmido. Acomete preferencialmente as flexuras antecubital e poplítea, bem como o dorso das mãos, a nunca e o tornozelo. A infecção secundária é rara nessa faixa etária.
- Adulto (maiores de 12 anos): eczema crônico, predominando em áreas de flexuras, nuca e face (sobretudo em região orbital). Também podem ser observadas a polpite descamativa (eritema e descamação fina, com eventual fissuração das polpas digitais das mãos, pés ou ambos, podendo haver distrofias ungueais) e as unhas em dedal (unhas espessadas e com pequenas depressões em sua superfície).

A dermatite atópica tende a melhorar com o passar dos anos. O adulto atópico normalmente tem predisposição ao prurido e à inflamação cutânea quando exposto a irritantes exógenos. Vale salientar que o eczema crônico das mãos pode ser a manifestação primária em muitos adultos com dermatite atópica (FITZPATRICK, 2008).

Os critérios para o diagnóstico de dermatite atópica estão relacionados à conjunção de vários fatores, como tendência à cronicidade e recidivas das lesões cutâneas, história pessoal ou familiar de atopia, xerose cutânea (ressecamento), ictiose vulgar (genodermatose caracterizada por ressecamento e descamação em graus variáveis), além da presença de:
- exacerbação das linhas palmares e plantares;
- pitiríase alba (máculas hipocrômicas, finamente descamativas e com limites imprecisos, que surgem após exposição solar);
- ceratose pilar (genodermatose caracterizada pelo surgimento de pápulas eritematosas na abertura dos folículos pilosos);
- prega de Dennie-Morgan (dupla prega infrapalpebral ou exacerbação da prega orbitária inferior);
- sinal de Hertogue (rarefação do terço externo das sobrancelhas pela coçadura frequente);
- escurecimento periorbitário associado a palidez facial;
- eczema perioral, prurigo (lesões papulosas intensamente pruriginosas de etiologia variada);
- afecções oculares (conjuntivite, ceratoconus, catarata);
- aumento da IgE sérica; e
-teste de reatividade cutânea imediata positivo.

Dentre estas características, a presença de prurido e de eczema crônico ou recidivante com morfotopografia típica são essenciais para o diagnóstico.

Referências
AZULAY, R.D.; AZULAY, D.R.; ABULAFIA, L.A. Dermatologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
CORREALE, C.E., et al. Atopic dermatitis: a review of diagnosis and treatmente. Am Fam Physician. 60(4): 1191-8, 1999.
FITZPATRICK. Dermatology in General Medicine. 7.ed. Nova iorque: McGraw-Hill, 2008.
HANIFIN, J.M.; RAKJA, G. Diagnostic features of atopic dermatitis. Acta Derm Venereol. 92:44, 1980.
LEUNG, D.Y.; BIEBER, T. Atopic dermatitis. Lancet. 361:151, 2003.

A imagem ilustrativa foi retirada do website: wilmingtondermatologycenter.com

14 de maio de 2011

Linfedema Primário

Por Gilson Mauro Fernandes Filho
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB


Resumo
Linfedema primário é um quadro caracterizado por edema persistente, principalmente nas extremidades e com predominância em mulheres. Pode ser subdividido nas formas congênita (Doença de Milroy), presente no nascimento; linfedema precoce (Doença de Meige), que aparece geralmente entre os 10 e 35 anos; e linfedema tardio, que aparece após os 35 anos. O diagnóstico pode ser feito através da história clínica e do exame físico, além de exames complementares. As complicações mais frequentes são ataques recorrentes de celulite e linfangite, e raramente linfangiosarcoma.
Palavras-chave: Doença de Milroy, Linfedema. Edema.

A classificação das doenças linfáticas obedece, sobretudo, as características clínicas relacionadas a uma de suas mais visíveis manifestações: o edema. Linfedema, ou edema linfático, são sinônimos de aumento de volume de segmentos corpóreos causado por distúrbios do sistema linfático. Trata-se de uma síndrome caracterizada pelo acúmulo de fluido hiperprotéico na derme e tela subcutânea, porém não nos tecidos profundos da parede muscular. A etiologia inclui anormalidades congênitas no desenvolvimento do sistema linfático ou secundário; a obstrução, destruição ou mau funcionamento da rede linfática (ROESLER et al., 1999).


No início, o edema é discreto, mole e depressível à compressão, mas, com a evolução da doença, torna-se duro e não depressível. A cronicidade da estase linfática com acúmulo de líquido de alto conteúdo protéico produz uma modificação histopatológica no tecido celular subcutâneo.

Esta modificação decorre de dermatofibrose: os fibroblastos vão substituindo progressivamente os tecidos nobres, com a formação de colágeno de intensidade crescente, do tipo irreversível. Observam-se mudanças fibróticas no tecido celular subcutâneo e engrossamento com paquidermização da pele; nos vasos linfáticos, produzem-se alterações em sua morfologia e funcionalidade por avalvulação e perda da contratilidade. Cronicamente, esse aumento do volume do membro pode acarretar deformidades significantes, invalidez e, em um grau extremo, o aspecto elefantiásico; além disso, pode malignizar-se.

O linfedema divide-se em primário e secundário,  conforme a classificação de Kinmoth. O primário ocorre por alterações congênitas, como: agenesia, hipoplasia ou hiperplasia dos vasos linfáticos, e pode ser subdividido em congênito, precoce e tardio. No linfedema secundário, há alterações adquiridas do sistema linfático devido a traumas, infecções, cirurgias, radioterapia, insuficiência venosa crônica, dentre outras (KAFEJIANN-HADDAD et al., 2005).

O linfedema primário ou idiopático pode ser subdividido em forma congênita (Doença de Milroy), presente no nascimento; linfedema precoce (Doença de Meige), que aparece geralmente entre os 10 e 35 anos; e linfedema tardio, que aparece após os 35 anos.

Embora a primeira correlação entre hereditariedade e linfedema tenha sido feita no século XIX, somente nos últimos anos houve avanço significativo na compreensão dos mecanismos de transmissão genética e dos genes envolvidos na linfangiogênese. A doença de Milroy é transmitida de forma autossômica dominante e se caracteriza por apresentar linfáticos hipoplásicos ou aplasia linfática nas áreas afetadas.

Trata-se também de característica importante o fato dos pacientes não apresentarem outras doenças congênitas associadas, embora possam haver variações genotípicas, fenotípicas e linfocintilográficas em pacientes com esse diagnóstico (WITTE, 1998). A análise do genoma identificou a mutação no locus q35.3 do cromossomo 5 (FERRELL, 1998; HOLBERG, 2001). O gene relacionado a essa área foi identificado como sendo o Flt-4, gene responsável pela produção do VEGFR-3 (KARKKAINEN, 2000).

O linfedema hereditário foi primeiramente descrito por Nonne, em 1891. Em 1892, William F. Milroy descreveu o caso de um missionário que havia retornado de seu trabalho na Índia e que apresentara sudorese nas pernas por toda a vida. Sua mãe sofria da mesma condição. Milroy também havia estudado os 250 anos de história de uma família, e identificou 22 pessoas com a condição ao longo de seis gerações. Ele pôde ainda apontar quando a condição entraria na família a partir de um casamento em 1768.

Um modelo experimental para o linfedema hereditário tipo I, utilizando ratos, foi criado por mutagênese, com inativação do gene do VEGFR-3. Os ratos com a mutação apresentavam hipoplasia dos vasos linfáticos cutâneos e linfedema das patas, mas sem alteração dos linfáticos viscerais (KARKKAINEN, 2001).

Foi observado elevação dos níveis séricos de VEGF-D em pacientes com linfedemas primários. A falta de estimulação do VEGFR-3 poderia ser responsável pela maior produção de VEGF-D, para tentar compensar a linfangiogênese insuficiente pela falta de VGEFR-3 (FINK, 2004).

A doença de Milroy representa o linfedema hereditário mais raro, correspondendo a apenas 2% destes. A condição geralmente se apresenta ao nascimento, com sudorese em uma ou nas duas pernas. Se o acometimento for unilateral, o outro membro pode continuar em estado de latência por anos, antes de expressar a doença.

Quanto à sua evolução, a doença se divide em quatro estágios, a saber (LINPHEDEMA PEOPLE):
ESTÁGIO DE LATÊNCIA:
- Capacidade do transporte linfático está diminuída;
- Edema não visível e não palpável;
- Possíveis queixas subjetivas.
ESTÁGIO I (Linfedema reversível):
- Acúmulo de edema fluido rico em proteínas;
- Edema com formação de cratera;
- Reduz com elevação do membro.
ESTÁGIO II (Linfedema espontaneamente irreversível):
- Acúmulo de edema fluido rico em proteínas;
- Formação de cratera no edema se torna progressivamente mais difícil
- Proliferação de tecido conectivo (fibrose)
ESTÁGIO III (Elefantíase linfostática):
- Acúmulo de edema fluido rico em proteínas;
- Sem formação de cratera no edema
- Fibrose e esclerose
- Alterações da pele (papilomas, hiperceratoses, etc.)

O diagnóstico pode ser sugerido a partir do achado de suderese presente desde o nascimento (geralmente em membros inferiores) e com história similar na família. Portanto, apesar de a maioria dos casos de linfedema ser diagnosticada clinicamente, métodos de imagem podem ser úteis para excluir obstrução venosa e detectar ou confirmar o sítio linfático com disfunção.

Atualmente o método diagnóstico mais preciso pode ser feito através do teste de linfocintilografia. Nesse teste, uma substância radioativa é injetada no membro e a estrutura linfática é traçada na tela do computador. Através desse método, a localização exata do bloqueio linfático pode ser identificada. Através da ultrassonografia, essa condição pode ser sugerida intra-útero pelo achado de um edema isolado no dorso do pé do feto, com cariótico normal e ausência de outras malformações significativas (MIRLESSE, 2002)

As complicações mais usuais relacionadas ao linfedema de Milroy incluem fibrose dos tecidos do membro e celulites (e/ou linfangites e erisipelas). Se identificada e tratada precocemente, a condição tem bom prognóstico.

Referências
FERRELL, R.E.; LEVINSON, K.L.; ESMAN, J.H. et al. Hereditary lymphoedema: evidence for linkage and genetic heterogeneity. Hum Mol Genet. 7: 2073-8, 1998.
FINK, A.M.; KALTENEGGER, I.; SCHNEIDER, B.; FRÜHAUF, J.; JURECKA, W.; STEINER, A. Serum level of VEGF-D in patients with primary lymphedema. Lymphology. 37:185-9, 2004.
HOLBERG, C.J.; ERICKSON, R.P.; BERNAS, M.J. et al. Segregation analyses and a genome-wide linkage search confirm genetic heterogeneity and suggest oligogenic inheritance in some Milroy congenital primary lymphedema families. Am J Med Genet. 98:303-12, 2001.
KARFEJIAN-HADDAD, A. P.; SANJAR, F. A.; HIRATSUKA, J. et al. Análise dos pacientes portadores de linfedemaem serviço público. J Vasc Br, 4(1):55-8, 2005.
KARKKAINEN, M.J.; FERRELL, R.E.; LAWRENCE, E.C. et al. Missense mutations interfere with VEGFR-3 signalling in primary lymphoedema. Nat Genet. 25:153-9, 2000.
KARKKAINEN, M.J.; SAARISTO, A.; JUSSILA, L. et al. A model for gene therapy of human hereditary lymphedema. Proc Natl Acad Sci USA. 98:12677-82, 2001.
LINPHEDEMA PEOPLE. Milroy's Syndrome. Disponível em: http://www.lymphedemapeople.com/. Acesso em: 14 maio 2011.
MIRLESSE, V.; LEVY, R.; BRODATY, G.; SONIGO, P.; TEILLAC, D.; GOURAND, L.; DAFFOS, F.; HEREDIA, F. Primary congenital lymphedema (Milroy's). 2002. Disponível em: http://www.thefetus.net/. Acesso em: 14 maio 2011.
ROESSLER, R.; ARAÚJO, L. R. R.; RIPPEL, R. et al.  Doença de Meige (Linfedema Precoce)Relato de Caso e Revisão de Literatura. Rev. Soc. Bras. Cir. Plást. São Paulo 14 (3): 69-78, 1999.
WITTE, M. H.; ERICKSON, R.; BERNAS, M. et al. Phenotypic and genotypic heterogeneity in familial Milroy lymphedema. Lymphology. 31:145-55, 1998.

Fonte da Imagem: lookfordiagnosis.com

13 de maio de 2011

Dengue: Sinais clínicos de alerta

Sintomas da Dengue

História da Medicina no Brasil: Questões Propostas


Questões Propostas sobre História da Medicina no Brasil

(1) Qual foi o projeto do Estado no início do século XX em relação à saúde no Brasil?

(2) Comente o seguinte trecho do artigo de Edler e Fonseca (2005):
"Durante os três primeiros séculos da colonização brasileira, a sociedade branca recorreu indiferentemente às formas de cura trazidas da Europa ou àquelas a que diversas etnias, com as quais se manteve em constante contato, utilizavam para lutar contra os males que as acometiam." (EDLER; FONSECA, 2005, p. 6).
Referência: EDLER, F.; FONSECA, M. R. F. Saber erudito e saber cultural na medicina colonial. Cadernos ABEM. 2: 6-7, 2005

(3) Qual o papel dos físicos, cirurgiões, boticários e barbeiros no Brasil colonial?

(4) Comente a importância de quatro grandes nomes da Medicina Brasileira no século XX.

(5) Qual foi a forma de medicina predominante no Brasil no século XVI? Explique.