20 de maio de 2011

Lesões Dermatológicas de Atopia


Por Stephanie Galiza Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A dermatite atópica é uma dermatose inflamatória, crônica e recidivante que acomete sobretudo a faixa etária pediátrica, constituindo a manifestação central da síndrome atópica, que consiste na tendência hereditária a responder de forma exacerbada a alérgenos ambientais. Estima-se que 10 a 20% das crianças na faixa etária pré-escolar sejam acometidas nos países industrializados. No eczema agudo predominam pápulas, vesículas e exsudação serosa. No eczema subagudo, as lesões crostosas. Já no eczema crônico, prepondera a liquenificação. O prurido é o sintoma mais comum, estando presente em todas as fases.

Palavras-chave: Dermatite atópica. Dermatologia. Sinais e Sintomas.

Atopia traduz uma tendência hereditária a responder de forma exacerbada a alérgenos ambientais. A dermatite atópica, ou eczema atópico, é uma dermatose inflamatória, crônica e recidivante que acomete principalmente a faixa etária pediátrica, com uma discreta preferência pelo sexo feminino (1,3:1) (LEUNG; BIEBER, 2003).

Nas últimas décadas, vem ocorrendo um aumento significativo na sua prevalência, podendo ser considerada atualmente um problema de saúde pública mundial, com uma prevalência estimada de 10 a 20% em crianças na faixa etária pré-escolar de países industrializados (FITZPATRICK, 2008).

A dermatite atópica representa a manifestação central da síndrome atópica, constituída também pela asma e pela rinite alérgica, além de outras manifestações, como alergia alimentar e conjuntivite alérgica.

A fisiopatologia do eczema atópico é baseada na interação de complexos mecanismos genéticos, que resultam em uma barreira cutânea defeituosa e hiperresponsividade imune a alérgenos e antígenos microbianos (HANIFIN; RAKJA, 1980), notadamente a resposta do tipo 2 (humoral). Embora a imunidade exerça um papel fundamental na gênese da atopia, os fatores extrínsecos usualmente são responsáveis pelo seu desencadeamento ou exacerbação, representados pelos alérgenos ambientais.

Conforme Azulay et al. (2008), as lesões evidenciadas na dermatite atópica podem ser classificadas segundo suas características morfológicas em eczema agudo, subagudo ou crônico. No eczema agudo, ocorre a predominância de pápulas eritematosas intensamente pruriginosas, associadas a escoriações, vesículas sobre base eritematosa e exsudação serosa, sendo, por isso, também designado eczema úmido.

No eczema subagudo, predominam as lesões crostosas, habitualmente acompanhadas de escoriações e exsudação. Já no eczema crônico, também denominado eczema seco, prepondera a liquenificação (acentuação das linhas e sulcos naturais da pele devido à coçadura freqüente e crônica), bem como placas fibróticas (prurigo nodularis), podendo coexistir os três tipos de eczema no mesmo indivíduo. Vale ressaltar que o prurido, geralmente intenso, está presente em todas as fases, sendo o sintoma mais comum da dermatite atópica (CORREALE et al., 2000). O prurido pode ser intermitente, mas tende a piorar durante à noite e ao deitar (FITZPATRICK, 2008).

Quanto à faixa etária acometida, pode-se classificar o eczema atópico em:
- Infantil (3 meses a 2 anos): eczema agudo ou subagudo, predominando em região malar, fronte, pescoço, couro cabeludo e face extensora de membros superiores e inferiores. Tem como característica marcante poupar o maciço central. A infecção secundária pela coçadura frequente é comum. O eczema herpético (ou erupção variceliforme de Kaposi) consiste em uma complicação da dermatite atópica devido à infecção por Herpes Vírus 1.
- Pré-puberal (2 a 12 anos): caracteristicamente um eczema seco (crônico), evidenciado pela presença de liquenificação e escoriações. Podem ocorrer agudizações, com o retorno do eczema úmido. Acomete preferencialmente as flexuras antecubital e poplítea, bem como o dorso das mãos, a nunca e o tornozelo. A infecção secundária é rara nessa faixa etária.
- Adulto (maiores de 12 anos): eczema crônico, predominando em áreas de flexuras, nuca e face (sobretudo em região orbital). Também podem ser observadas a polpite descamativa (eritema e descamação fina, com eventual fissuração das polpas digitais das mãos, pés ou ambos, podendo haver distrofias ungueais) e as unhas em dedal (unhas espessadas e com pequenas depressões em sua superfície).

A dermatite atópica tende a melhorar com o passar dos anos. O adulto atópico normalmente tem predisposição ao prurido e à inflamação cutânea quando exposto a irritantes exógenos. Vale salientar que o eczema crônico das mãos pode ser a manifestação primária em muitos adultos com dermatite atópica (FITZPATRICK, 2008).

Os critérios para o diagnóstico de dermatite atópica estão relacionados à conjunção de vários fatores, como tendência à cronicidade e recidivas das lesões cutâneas, história pessoal ou familiar de atopia, xerose cutânea (ressecamento), ictiose vulgar (genodermatose caracterizada por ressecamento e descamação em graus variáveis), além da presença de:
- exacerbação das linhas palmares e plantares;
- pitiríase alba (máculas hipocrômicas, finamente descamativas e com limites imprecisos, que surgem após exposição solar);
- ceratose pilar (genodermatose caracterizada pelo surgimento de pápulas eritematosas na abertura dos folículos pilosos);
- prega de Dennie-Morgan (dupla prega infrapalpebral ou exacerbação da prega orbitária inferior);
- sinal de Hertogue (rarefação do terço externo das sobrancelhas pela coçadura frequente);
- escurecimento periorbitário associado a palidez facial;
- eczema perioral, prurigo (lesões papulosas intensamente pruriginosas de etiologia variada);
- afecções oculares (conjuntivite, ceratoconus, catarata);
- aumento da IgE sérica; e
-teste de reatividade cutânea imediata positivo.

Dentre estas características, a presença de prurido e de eczema crônico ou recidivante com morfotopografia típica são essenciais para o diagnóstico.

Referências
AZULAY, R.D.; AZULAY, D.R.; ABULAFIA, L.A. Dermatologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
CORREALE, C.E., et al. Atopic dermatitis: a review of diagnosis and treatmente. Am Fam Physician. 60(4): 1191-8, 1999.
FITZPATRICK. Dermatology in General Medicine. 7.ed. Nova iorque: McGraw-Hill, 2008.
HANIFIN, J.M.; RAKJA, G. Diagnostic features of atopic dermatitis. Acta Derm Venereol. 92:44, 1980.
LEUNG, D.Y.; BIEBER, T. Atopic dermatitis. Lancet. 361:151, 2003.

A imagem ilustrativa foi retirada do website: wilmingtondermatologycenter.com