20 de junho de 2011

Transtorno do Pânico

Por Bruno Melo Fernandes
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
O transtorno do pânico é um dos transtornos de ansiedade mais prevalentes, e caracteriza-se pela ocorrência de ataques de pânico de maneira espontânea e recorrente. Com a evolução do quadro, o paciente passa a temer estar em locais públicos, onde possa ser difícil procurar ajuda, desenvolvendo frequentemente agorafobia. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar danos piores ao aparelho psíquico do paciente.

Palavras-chave: Transtorno do Pânico. Agorafobia. Transtornos de Ansiedade.

Os transtornos de ansiedade configuram os transtornos psiquiátricos mais prevalentes da atualidade, provocando grande demanda nos serviços de saúde. A ansiedade pode ser definida como um estado de humor desconfortável, um sentimento de defesa, que alerta o indivíduo quanto à possibilidade de um perigo ou ameaça iminente de algo desconhecido. A ansiedade difere do medo, ou fobia, pois aquele representa o temor de algo conhecido pelo indivíduo.

A ansiedade é um sentimento vago e desagradável, que pode ser vivenciada de diversas maneiras por cada pessoa. Ela faz parte do desenvolvimento normal de todo ser humano, permitindo que a pessoa se prepare para situações adversas ou inesperadas. Sendo assim, a presença da ansiedade é algo completamente normal.

Nesse contexto, os transtornos de ansiedade caracterizam-se por respostas inadequadas a uma situação ansiogênica, real ou imaginária. Essa inadequação caracteriza-se principalmente pela intensidade e duração do quadro.

Dentre os transtornos ansiosos, um dos mais conhecidos e estudados é o transtorno do pânico, reconhecido tanto pelo Classificação Internacional de Doenças, CID-10, quanto pela Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV-R). O transtorno do pânico caracteriza-se pela ocorrência espontânea e inesperada de ataques de pânico, que ocorrem de forma recorrente.

Os ataques de pânico são crises agudas e graves de ansiedade, de curta duração, e seus sintomas podem ser confundidos com outras condições clínicas, o que faz os pacientes procurarem serviços de emergência clínica. Esses ataques geralmente não estão ligados a situações ou predispostos por situações, com ocorrência repentina, tendo como características apreensão, medo, intenso terror e frequentemente sentimentos de incapacidade.

O transtorno do pânico é comumente associado à agorafobia, a qual é o medo de estar sozinho em locais públicos, especialmente naqueles onde possa ser difícil sair ou receber algum auxílio, caso sobrevenha um ataque de pânico. Na verdade, o paciente começa a apresentar os ataques e progressivamente vai desenvolvendo um temor de apresentá-los em determinados lugares e situações, em que seja difícil receber auxílio. Com isso, ele vai progressivamente deixando de frequentar determinados locais, até ficar totalmente restrito a poucos ambientes que lhe são familiares.

As comorbidades psiquiátricas associam-se com maior dos sintomas ansiosos e maior déficit cognitivo. Estas comorbidades podem ser prévias secundárias ao transtorno do pânico. É frequente a coexistência de comorbidades relacionadas ao uso de álcool ou abuso de outras substâncias químicas. A comorbidade de fobia social com transtorno de pânico pode trazer implicações para o diagnóstico, devido à sobreposição de sintomas.

O transtorno do pânico é muito frequente na prática clínica. A prevalência do transtorno do pânico varia de 1,5% a 5%, sendo mais frequente em mulheres. A média de início é de 25 anos e o único fator social que parece estar envolvido no desenvolvimento do quadro é a história recente de divórcio. Em muitos casos, o quadro pode estar relacionado a um evento traumático e vir acompanhado de comorbidades, como depressão, ideação suicida e abuso de substâncias.

O transtorno apresenta gênese em alterações neurobiológicas, envolvendo três principais neurotransmissores: noradrenalina, serotonina e GABA. Sabe-se ainda que fatores genéticos fazem parte da etiologia do transtorno do pânico, sendo de quatro a oito vezes maior a chance de desenvolvimento de transtorno do pânico em pacientes com parentes com o referido transtorno.

Aparentemente não há nenhum fator desencadeante para a ocorrência dos ataques, os quais podem ocorrer até durante o sono. Em geral, principalmente nos primeiros episódios, a ocorrência é totalmente espontânea. A crise dura em geral de vinte a trinta minutos, com rápida progressão dos sintomas, atingindo o máximo da sua intensidade em dez minutos.

Os sintomas psíquicos principais são extremo medo, sensação de morte e catástrofe iminentes, desrealização e despersonalização. Os sintomas físicos incluem palpitações, sudorese profusa, tremores, boca seca, sensação de falta de ar, náuseas, dor abdominal, dor torácica, tontura, parestesias, entre outros,  alcançando intensidade máxima em até cerca de dez minutos. O paciente abandona qualquer atividade que esteja fazendo para procurar ajuda.

Quando há agorafobia, além dos ataques, o paciente passa a ter atitudes evitativas quanto a locais públicos e a sair desacompanhado. Com o tempo, deixa de sair de casa e torna-se incapaz de interagir socialmente se desacompanhado.

O diagnóstico é clínico e fenomenológico, e deve-se ter em mente que os ataques de pânico podem ocorrer também em outros transtornos psiquiátricos, como no transtorno de personalidade generalizada e nas fobias, não sendo sua simples ocorrência diagnóstica de transtorno do pânico. É necessário, para diagnóstico o preenchimento dos critérios do DSM-IV ou da CID-10, sendo preciso ataques recorrentes, sem fator causal, com desenvolvimento de preocupação em desenvolver novos ataques. A presença de agorafobia não é necessária para o diagnóstico, é um diagnóstico a parte.

O curso da doença é, em geral crônico, sendo fundamental o tratamento para o controle dos sintomas. Sem o correto diagnóstico e terapia, o paciente inexoravelmente evolui para o desenvolvimento agorafobia, comorbidades graves e ideação suicida.

Além do sofrimento psíquico e do prejuízo funcional dos pacientes com transtorno do pânico, pode haver associação a uma série de outros problemas, como maiores taxas de absenteísmo e menor produtividade no trabalho, maiores taxas de utilização dos serviços de saúde, procedimentos e testes laboratoriais, e como já mencionado, ideação de suicídio e até de tentativas de suicídio.

O diagnóstico diferencial do transtorno do pânico inclui ataques secundários a uma condição clínica (hipertireoidismo, feocromocitoma), uso ou abstinência de substâncias (abuso de cocaína, abstinência de álcool) e outros transtornos psiquiátricos.

O diagnóstico precoce do transtorno do pânico é fundamental para evitar danos piores ao aparelho psíquico do paciente.

Referências
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. DSM-IV-TR. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4 e.d. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.
FYER, A.; MANNUZZA, S.; COPLAN, J. D. Transtorno de Pânico e Agorafobia. KAPLAN, H. SADOK, B. (Orgs). Tratado de Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, p. 1300-1313, 1999.
MONTIEL, J. M.; CAPOVILLA, A. G. S.; BERBERIAN, A. A. et al. Incidência de sintomas depressivos em pacientes com transtorno de pânico. Psic, 6 (2): 33-42, 2005.
SALUM, G. A.; BLAYA, C.; MANFRO, G. G. Transtorno do Pânico. Rev Psiquiatr, RS, 31 (2): 86-94, 2009.

Imagem: "O Grito", famosa obra impressionista do artista norueguês Edvard Munch (1893).