Há muito já se aponta para uma fragmentação do ensino em Medicina e para o distanciamento dos conteúdos curriculares em relação às reais necessidades de saúde da população. As escolas médicas têm a grande responsabilidade de capacitar seus alunos por meio de um currículo que abranja os conhecimentos técnicos necessários, assim como saberes humanísticos, obedecendo às orientações das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Medicina (BRASIL, 2001). Nesse sentido, tem se buscado formar um profissional generalista, humanista, crítico e reflexivo, capacitado a atuar na sua comunidade, em diferentes níveis de atenção à saúde.
Esses objetivos das atuais diretrizes curriculares devem ser cumpridos desde o início da graduação, e, sobretudo, a partir de quando os alunos concluem a sua formação de base em habilidades clínicas, que ocorre na disciplina de Semiologia Médica - quarto período do curso –, e que devem continuar a desenvolver na prática clínica supervisionada, sobretudo em relação às aptidões de anamnese e exame físico.
Contudo, na realidade, tais habilidades aprendidas na Semiologia Médica não continuam a ser treinadas na grade curricular posterior. O que se observa concretamente é que isso só voltará a acontecer quando se inicia o Internato Médico, que ocorre apenas no final do curso médico e que corresponde ao treinamento curricular em serviço dos graduandos.
Contudo, na realidade, tais habilidades aprendidas na Semiologia Médica não continuam a ser treinadas na grade curricular posterior. O que se observa concretamente é que isso só voltará a acontecer quando se inicia o Internato Médico, que ocorre apenas no final do curso médico e que corresponde ao treinamento curricular em serviço dos graduandos.
Recomendações para mudanças no conteúdo curricular de graduação médica têm enfatizado a importância da competência na realização do exame físico e habilidades essenciais, em que os alunos têm de demonstrar proficiência antes de concluir sua graduação (MARTENS et al., 2009).
Estudos mostram que médicos recém graduados apresentam consideráveis deficiências nas habilidades consideradas importantes para o exame clínico (BARRIOS et al., 2005; SCHWIND et al., 2001). A habilidade para identificar sinais ao exame físico é pequena, inclusive quando se avaliam os egressos do curso durante seu treinamento na residência médica (SILVA; REZENDE, 2008).
Estudos mostram que médicos recém graduados apresentam consideráveis deficiências nas habilidades consideradas importantes para o exame clínico (BARRIOS et al., 2005; SCHWIND et al., 2001). A habilidade para identificar sinais ao exame físico é pequena, inclusive quando se avaliam os egressos do curso durante seu treinamento na residência médica (SILVA; REZENDE, 2008).
Essa preocupação tem incentivado muitas escolas a rever seus currículos para incluir maior espaço para o desenvolvimento de habilidades clínicas e assegurar a formação adequada nesse aspecto (STARK; FORTUNE, 2003). Constata-se também que os estudantes apreciam realmente o treinamento de competências como preparação para a prática médica futura (DORNAN et al., 2006). Isso facilita a transição da fase teórica para a fase clínica do ensino médico de graduação (PRINCE et al., 2004).
Assim, os alunos aprendem habilidades não apenas durante as sessões de treinamento formal, mas também pelo envolvimento em várias atividades complementares. Duvivier et al. (2011) verificaram que um grande contingente de estudantes de medicina procura realizar atividades extracurriculares para melhorar suas habilidades em exame clínico.
Assim, os alunos aprendem habilidades não apenas durante as sessões de treinamento formal, mas também pelo envolvimento em várias atividades complementares. Duvivier et al. (2011) verificaram que um grande contingente de estudantes de medicina procura realizar atividades extracurriculares para melhorar suas habilidades em exame clínico.
Outro aspecto importante a ser salientado nesse contexto é que o ensino médico tradicionalmente é ministrado de modo quase exclusivo em enfermarias dos hospitais universitários, embora a maior ênfase devesse ser dada ao aprendizado em ambulatórios (SCHUWIRTH; VAN DER VLEUTEN, 2006; SPENCER, 2003). Kira e Martins (1996) recomendam que a história clínica deva ser mais bem exercitada a partir de pacientes de ambulatório, que apresentam problemas menos complexos, permitindo que o raciocínio hipotético-dedutivo possa ser exercitado.
Habilidades de comunicação e aprendizagem sobre os aspectos psicossociais são competências que se adquirem principalmente no ambiente ambulatorial, onde ocorrerá a maior parte da prática clínica do futuro médico. As experiências em ambientes ambulatoriais influenciam mais as decisões dos médicos sobre o seu futuro trabalho (HOWE, 2002).
Oportunidades únicas existentes para proporcionar insights sobre a saúde da população, os cuidados multidisciplinares e gerenciamento de doenças crônicas, e para a obtenção de um entendimento equilibrado de serviços de saúde (DEWITT, 2006). Os pacientes são geralmente menos doentes do que no hospital e muitas vezes é mais fácil para os alunos interagirem com eles. O ensino baseado na prática ambulatorial também fornece um treinamento mais próximo da prática clínica (KERR; DENT, 2002).
Além disso, áreas importantes, como a promoção da saúde são mais frequentemente praticadas em ambientes ambulatoriais, onde os pacientes são vistos de forma mais próxima de seus próprios contextos sociais (HOWE; ANDERSON, 2003).
Entretanto, os desafios do ensino em ambientes ambulatoriais são diferentes daqueles em regime de internamento, pois no ambulatório, o ritmo é rápido, com oportunidade reduzida para observação direta. O foco é colocado, muitas vezes, na gestão do atendimento, e o aluno pode acabar observando em vez de aprender fazendo (BOWEN; IRBY, 2002).
Entretanto, os desafios do ensino em ambientes ambulatoriais são diferentes daqueles em regime de internamento, pois no ambulatório, o ritmo é rápido, com oportunidade reduzida para observação direta. O foco é colocado, muitas vezes, na gestão do atendimento, e o aluno pode acabar observando em vez de aprender fazendo (BOWEN; IRBY, 2002).
Essas experiências na vivência clínica ajudam a socializar os estudantes de medicina na profissão escolhida, contribuindo para que adquiram uma variedade de conhecimentos teórico-práticos que tornam sua aprendizagem mais real e relevante. Além disso, possibilitam a articulação entre a teoria e a prática mesmo antes da chegada do internato, que ocorrerá no final do curso.
Referências
BARNES, P. M.; ADAMS, P. F.; SCHILLER, J. S. Summary health statistics for the U.S. population: National Health Interview Survey, 2001. Vital Health Stat, 217: 1-82, 2003.
BARRIOS, C. H.; SILVA V. L.; PINHEIRO, R. F. et al. Avaliação do registro do exame físico realizado por doutorandos e residentes no Serviço de Medicina Interna do Hospital São Lucas – PUCRS. Scientia Medica, Porto Alegre: PUCRS, 15 (3): 156-162, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Resolução n.4, CNE/CES de 7/11/2001. Institui diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em medicina. Diário Oficial da União. Brasília, 9 nov. 2001; Seção 1, p. 38. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pedf/CES04.pdf Acesso: 20 jul. 2011.
DORNAN, T.; LITTLEWOOD, S.; MARGOLIS, S. A. et al. How can experience in clinical and community settings contribute to early medical education? A BEME systematic review. Med Teach, 28 (1): 3-18, 2006.
DUVIVIER, R.; VAN GEEL, K.; VAN DALEN, J.; et al. Learning physical examination skills outside timetabled training sessions: what happens and why? Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2011. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/8170526167227278/fulltext.html. Acesso em: 21 jul. 2011.
HOWE, A.; ANDERSON, J. Involving patients in medical education. BMJ, 327:326-8, 2003
KIRA, C. M.; MARTINS, M. A. O Ensino e o Aprendizado das Habilidades Clínicas e Competências Médicas. Revista de Medicina de Ribeirão Preto, 29: 407-413, 1996.
MARTENS, M. J.; DUVIVIER, R. J.; VAN DALEN, J. etal. Student views on the effective teaching of physical examination skills: a qualitative study. Med Educ, 43 (2):184-91, 2009
MILLAN, K. T.; ERCOLANO, F. M.; PEREZ, M. et al. Autoevaluación de habilidades clínicas básicas en médicos recién egresados de la Facultad de Medicina, Universidad de Chile. Rev. méd. Chile, 135 (11): 1479-1486, 2007.
PRINCE, K.,; VAN DE WIEL, M. W. J.; VAN DER VLEUTEN, C. et al. Junior doctors’ opinions about the transition from medical school to clinical practice: A change of environment. Educ Health, 17(3), 323–331, 2004.
SCHWIND, C. J. et al. Development of physical examination skills in a third-year surgical clerkship. Am J Surg, 181: 338–40, 2001.
SCHULTZ, K. M.; KIRBY, J.; DELVA, D, et al. Medical students’ and residents’ preferred site characteristics and preceptor behaviours for learning in the ambulatory setting: a cross-sectional survey. BMC Med Educ, 4: 12, 2004.
SILVA, R. M.; L.; REZENDE, N. A. O ensino de semiologia médica sob a visão dos alunos: implicações para a reforma curricular. Rev. bras. educ. med. 32 (1): 32-39, 2008.
SPENCER J. Learning and teaching in the clinical environment. ABC of learning and teaching medicine. BMJ, 326: 591-4, 2003.
SCHUWIRTH, L. W. T.; VAN DER VLEUTEN, C. P. M. Challenges for educationalists. BMJ, 333: 544-6, 2006.
STARK, P.; FORTUNE, F. Teaching clinical skills in developing countries: Are clinical skills centres the answer? Education for Health, 16 (3), 298–306, 2003.
Foto: Arquivo do GESME.