Resumo
A Síndrome
do Lobo Frontal (ou Síndrome Disexecutiva) caracteriza-se por alterações de
personalidade, prejuízo do comportamento social, distúrbios cognitivos e outras
alterações neurológicas. Pode apresentar-se clinicamente sob duas formas: (1)
resultante de lesões nos giros orbitais mediais e tratos que atravessam a
região, caracterizando-se por uma diminuição do senso ético e autocrítica,
indiferença afetiva, irrascividade e euforia, e (2) os que resultam de lesões
dorso-laterais, com uma tendência geral à indiferença e apatia, lentidão, falta
de iniciativa motora e automatismo nas respostas. Observa-se frequentemente a
sobreposição de sintomas órbito-frontais e dorso-laterais no mesmo indivíduo.
Palavras
chave: Síndrome do
Lobo Frontal. Síndrome Disexecutiva. Neuropsiquiatria.
O lobo
frontal é responsável por uma ampla gama de funções cerebrais complexas. O
controle de execução e planejamento, aspectos motivacionais do comportamento e
de alta ordem de controle motor representam algumas dessas importantes funções.
Pode ser subdividido em quatro componentes: pré-motor/motor, pré-frontal
dorso-lateral, pré-frontal medial e órbito-frontal. O termo Síndrome do Lobo
Frontal aplica-se apenas a esses três últimos componentes. Também conhecida
como Síndrome Disexecutiva, caracteriza-se por alterações na personalidade,
distúrbios cognitivos, prejuízo do comportamento social e outras alterações
neurológicas.
O distúrbio
nas funções executivas, ou seja, nos processos responsáveis por direcionar e
gerenciar habilidades emocionais, cognitivas e comportamentais, conduzem a
perdas na capacidade de tomar iniciativa; focar o que é relevante na execução
de tarefas, eliminando estímulos distratores competitivos; poder de
planejamento e solução de problemas complexos ou que fogem à rotina;
flexibilidade para tomar estratégias que visem à solução de problemas;
capacidade de monitorar e avaliar o próprio comportamento e desempenho, quando
necessário. As conexões do córtex pré-frontal com as áreas motoras, o sistema
reticular ativador, o sistema límbico e o córtex de associação posterior servem
para ilustrar o aspecto regulador das funções motivacionais, atentivas,
emocionais, perceptivas, cognitivas e comportamentais.
No que diz
respeito ao aspecto clínico, a síndrome do lobo frontal envolve dois tipos
básicos de sintomas: 1) os resultantes de lesões nos giros orbitais mediais e
tratos que atravessam a região, e 2) os que resultam de lesões dorso-laterais,
sendo frequente a sobreposição de sintomas órbito-frontais e dorso-laterais no
mesmo indivíduo.
O primeiro
tipo é caracterizado por uma diminuição do senso ético e da autocrítica,
despreocupação com relação ao futuro, indiferença afetiva, irrascividade e
euforia (antigamente conhecida como mória). Costuma-se descrever esses paciente
como rudes, irritáveis, hipercinéticos, jocosos, impulsivos e sem as restrições
sociais inerentes ao indivíduo adulto. Demonstram excessiva desinibição e, a
depender da gravidade do caso, podem apresentar um julgamento moral
comprometido.
A síndrome
órbito-frontal pode assemelhar-se a quadros maníacos ou sociopatas, sendo a
função pré-frontal alvo de inúmeros estudos entre os indivíduos com
características anti-sociais. No que diz respeito à cognição, esses pacientes
costumam apresentar um comprometimento na capacidade de inibir a interferência
de estímulos externos irrelevantes ou tendências internas distratoras. Como
consequência dessa falha no controle de interferências, são comuns os sintomas
de perseveração, impulsividade, comportamento de imitação e utilização.
As lesões
dorso-laterais, por outro lado, apresentam uma tendência geral à indiferença e
apatia. Observa-se uma falta de iniciativa do ato motor, automatismo nas
respostas e lentidão. O indivíduo apresenta dificuldade não apenas para dar
início a ações espontâneas, deliberadas, como também para finalizar aquelas as
quais deu início.
De acordo
com a literatura, lesões extensas nessas áreas conduzem a alterações
importantes relacionadas à organização de movimentos e ações, desintegração de
programas motores e deficiência no processo de comparação de um ato motor com
seu plano original. Observa-se excessiva rigidez de comportamento,
perseverações, inércia de estereótipos motores, flexibilidade conceitual baixa.
Com relação aos seus aspectos cognitivos pode-se observar déficit de atenção,
memória, planejamento e linguagem, essa última destacando-se principalmente
pela diminuição da fluência verbal e deficiência de habilidades pragmáticas ou
dialógicas. É possível ainda ocorrer disprosódia e disfasia.
Anormalidades
na estrutura e função do lobo frontal tem sido relacionadas a diversos
transtornos neuropsiquiátricos, incluindo o transtorno obsessivo-compulsivo
(TOC), depressão, esquizofrenia e Transtorno Bipolar. Transtornos do
desenvolvimento, tais como síndrome de Down, Síndrome de Rett, Síndrome do X
Frágil, Síndrome de Williams, Neurofibromatose Tipo I idiopática, Autismo,
Síndrome de Tourette e Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade tem sido particularmente enfatizados.
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