Por Stephanie Galiza Dantas
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo
A insuficiência venosa crônica (IVC) representa uma síndrome clínica composta por edema, hiperpigmentação (dermatite ocre) e úlcera de membros inferiores (MMII), sendo a doença de etiologia venosa mais freqüente. Estima-se que 90% das úlceras de MMII sejam de etiologia venosa. O diagnóstico de IVC requer anamnese e exame físico, buscando distinguir a síndrome clínica desta entidade de outras afecções.
Palavras-chave: Insuficiência venosa. Úlcera varicosa. Sinais e Sintomas.
A insuficiência venosa crônica (IVC) representa uma síndrome clínica composta por edema, hiperpigmentação (ou dermatite ocre) e úlcera de membros inferiores (MMII). A IVC é a doença de etiologia venosa mais freqüente (HOBSON, 1997). Pode se tornar incapacitante, em virtude da cronicidade das suas manifestações e da influência nas atividades da vida diária do paciente. A IVC engloba a insufiência do sistema venoso profundo causada por várias etiologias, incluindo a síndrome pós-trombótica.
Estima-se que 90% das úlceras de MMII sejam de etiologia venosa, com maior prevalência em maiores de 65 anos, sobretudo em mulheres (BAKER et al., 1992; BOWMAN; HOGAN, 1999). A úlcera venosa é considerada uma doença crônica que possui importante impacto sobre a qualidade de vida, tendo em vista o seu longo tempo de cicatrização, a alta freqüência de recidivas e o elevado custo associado ao tratamento (BLACK, 1995).
A IVC decorre de basicamente dois mecanismos: obstrução venosa e incompetência valvular. Dessa forma, as principais causas de IVC são a incompetência de veias perfurantes, incompetência de veias profundas, obstrução venosa proximal, incompetência de veias superficiais, malformações venosas congênitas, fístulas arteriovenosas, disfunções da musculatura da panturrilha e aplasia congênita de válvulas venosas.
A causa mais frequente de IVC é a alteração valvular das veias profundas dos MMII em decorrência da trombose venosa profunda (TVP). As varizes de MMII também podem causar IVC, devido à insuficiência de veias perfurantes insuficientes, representando, contudo, um quadro de estase venosa menos complicado.
Para caracterização do exame clínico da IVC, é fundamental a anamnese, buscando-se distinguir a síndrome clínica desta entidade de outras doenças. Na diferenciação clínica dos edemas de MMII e das úlceras de MMII, falam a favor de IVC: dor e edema vespertino e unilateral, varizes de MMII (geralmente calibrosas), úlcera ou antecedente de úlcera cicatrizada, dermatite ocre associada ao edema, obesidade (pode ser a causa ou fator agravante), antecedente de trombose venosa profunda (TVP). O edema, geralmente de consistência amolecida no início do quadro, torna-se endurecido e, com o passar do tempo, surgem dermatoesclerose (dermatofibrose), reações eczematosas e úlceras de estase.
Constituem ainda diagnósticos diferencias dos edemas de MMII: celulites, TVP, linfedemas, tumores, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência renal e hipoproteinemia.
É igualmente relevante diferenciar as úlceras de estase venosa na IVC de úlceras isquêmicas. Nesse sentido, são sinais que sugerem IVC: acometimento da região maleolar (geralmente medial), veias varicosas em volta da úlcera (à inspeção ou à palpação), dermatite ocre na pele ao redor da úlcera, edema associado, fundo da úlcera róseo – quando não há infecção – ou amarelado, quando há infecção. Pode haver dor, principalmente na vigência de infecção associada, porém a dor é menos intensa do que nas úlceras isquêmicas.
O diagnóstico de IVC é eminentemente clínico, baseado em uma anamnese e exame físico pormenorizados. Os exames complementares podem ser indicados para esclarecer a etiologia da IVC, nos casos em que permanece dúvida diagnóstica ou para determinar a gravidade da doença e a eficácia do tratamento.
Os exames diagnósticos não invasivos que poderão ser utilizados são: ultra-som doppler, duplex scanning e pletismografia. Quanto aos exames invasivos, podem ser realizadas flebografia ascendente e descendente. Vale ressaltar que estes dois últimos podem provocar flebites, celulites, dor e, raramente, trombose venosa. Por esta razão, são reservados para casos nos quais os métodos não invasivos deixaram dúvida diagnóstica.
A American Venous Fórum, em 1994, estabeleceu a classificação CEAP (Quadro 1) para o paciente com doença venosa. As iniciais CEAP significam, respectivamente, quadro clínico, etiologia, classificação anatômica e classificação fisiopatológica.
Quadro 1. Classificação CEAP (FONTE: Caffaro et al.)
ReferênciasBAKER, S.R., et al. Etiology of chronic leg ulcers. Eur J Vas Surg. 6(3): 245-51, 1992.
BLACK, S.B. Venous stasis ulcers: a review. OWM. 41(8): 20-25, 1995.
BOWMAN, P.H; HOGAN, D.J. Leg ulcers: a common problem with sometimes uncommon etiologies. Geriattrics. 54(3): 43-54, 1999.
CAFFARO, R.A., et al. Insuficiência Venosa Crônica. Disponível em: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2855. Acesso em: 05 mai 2011.
HOBSON, J. Venous insufficiency at work. Angiology. 48(7): 577-582, 1997.
Imagem ilustrativa: http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=2855