27 de dezembro de 2011

GESME em... "FELIZ 2012!"

O GESME deseja o melhor ano novo possível aos nossos amigos, leitores e visitantes: Que seu 2012 seja abençoado por Deus e, portanto, repleto de paz, harmonia e justiça!

"É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
(Carlos Drummond de Andrade)

Imagem: GESME em 2011/2012 (Arquivo Pessoal)

20 de dezembro de 2011

Síndrome da Boca Ardente

Por Joyce Freire Gonçalves de Melo
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A Síndrome da Boca Ardente (SBA) é um quadro que se caracteriza principalmente por sensação crônica de queimação oral na ausência de distúrbios orgânicos da boca. Embora a causa da SBA não seja completamente conhecida, supõe-se que haja uma associação complexa de fatores biológicos e psicológicos na sua gênese. Acomete geralmente mulheres na faixa etária entre 40 a 60 anos.  São fatores predisponentes fumo, álcool e infecções locais, além de fatores sistêmicos, como diabetes mellitus, síndrome de Sjögren, anemias, hipotireoidismo, radioterapia, deficiências de vitaminas do complexo B e de ferro e climatério. Entre os fatores de origem psicogênica, estão incluídos ansiedade e depressão. Trata-se muitas vezes de uma condição frustrante porque o médico não é capaz de diagnosticar definitivamente o quadro.

Palavras-Chave: Síndrome da Boca Ardente. Cavidade Bucal. Anormalidades da Boca.

A Síndrome da Boca Ardente (SBA) é também descrita na literatura médica como glossodínia, disestesia oral, glossopirose, glossalgia, estomatopirose e estomatodínia. Trata-se da sensação crônica de queimação oral na ausência de distúrbios orgânicos da boca. Embora a causa da SBA não seja completamente conhecida, uma associação complexa de fatores biológicos e psicológicos foi identificada, sugerindo a existência de uma etiologia multifatorial (MINGUEZ-SANZ et al., 2011).

Geralmente há intensa queimação, de preferência na língua (glossopirose), mas também pode ocorrer em outras áreas da mucosa oral, como o palato. Pode ocorrer também dor, geralmente em queimação, com ou sem sinais inflamatórios, mas igualmente sem que qualquer lesão seja detectada ao exame físico (CERCHIARI et al., 2006). Acomete geralmente mulheres na faixa etária entre 40 a 60 anos e a prevalência encontrada na população geral é de 3,7%, sendo de 1,6% em homens e de 5,5% em mulheres, sobretudo na perimenopausa (Ibid).

A intensidade dolorosa piora no decorrer do dia, nos estados de estresse, fadiga, ao falar muito, após a ingestão de alimentos condimentados e quentes. Já os fatores de melhora relatados pela literatura são alimentos frios, trabalho e distração (CERCHIARI et al., 2006; NERY et al., 2004).

Outras  manifestações importantes são as alterações do paladar (disgeusia). Os pacientes podem referir gosto persistente metálico, salgado ou amargo ou podem se queixar de mudanças na intensidade da percepção gustativa (GRUSHKA et al., 2002).

Intensa salivação ou, ao contrário, sensação de lábios e boca seca (xerostomia) também são sintomas frequentes na síndrome. Aumento da quantidade de potássio, proteínas e fosfatos foram algumas das alterações detectadas na composição salivar que justificam uma saliva mais espessa e pegajosa nesses casos (NERY et al., 2004).

Diversos fatores potencialmente desencadeantes desta afeccção são cogitados, porém sua etiologia ainda não é completamente entendida. Dividem-se os fatores causais em locais, sistêmicos e psicogênicos (NERY et al., 2004). Evidências recentes implicam neuropatias centrais e periféricas na origem da SBA, possivelmente representando uma "síndrome de dor fantasma" em alguns pacientes (MINOR; EPSTEIN, 2011).

Dentre os fatores locais, podem-se citar como predisponentes o fumo, o álcool, o refluxo gastroesofágico, hábitos parafuncionais (bruxismo) e próteses mal adaptadas. As infecções bacterianas, fúngicas e virais também são apontadas como fatores locais. Como fatores sistêmicos, estão associados a SAB o diabetes mellitus, síndrome de Sjögren, anemias, deficiências hormonais (hipotireoidismo), radioterapia, deficiências de nutricionais de vitaminas do complexo B e de ferro e o climatério. Entre os fatores de origem psicogênica, estão incluídos ansiedade, depressão e alterações do sono (CHERUBINI et al., 2005; NERY et al., 2004).

Woda et al. (2009) propõem uma hipótese com base na seguinte cascata fisiopatológica: ansiedade crônica ou estresse pós-traumático levaria a uma desregulação da produção adrenal de esteróides. Uma consequência disso seria uma diminuição da produção ou alterações de alguns precursores importantes para a síntese de esteróides neuroativos na pele, mucosa e do sistema nervoso. Na menopausa, a queda drástica da oferta de esteróides gonadais levaria a uma alteração rápida da produção de esteróides neuroativos. Isso resultaria em alterações degenerativas de fibras de pequenas nervos da mucosa oral e/ou algumas áreas do cérebro envolvidas em sensações somáticas orais.

Segundo estudo de Veloso e Cutrim (2000), apud Cherubini et al. (2005), os portadores da síndrome distinguem-se por serem indivíduos ansiosos, desconfiados, deprimidos, excessivamente preocupados, socialmente isolados e com suas funções corporais e emocionais alteradas.

A síndrome da boca ardente também foi associada ao uso de medicamentos pertencentes a diferentes grupos terapêuticos, como anti-retrovirais, anticonvulsivantes, hormônios e medicamentos anti-hipertensivos em particular. Curiosamente, entre os diferentes tipos de anti-hipertensivos, a SBA foi associada apenas com os compostos que agem sobre o sistema renina-angiotensina (SALORT-LORCA et al., 2008).

A SBA pode ser uma condição frustrante para o paciente e para o médico, porque muitas vezes o paciente experimenta uma dor contínua ou queimação na boca, sem sinais clínicos aparentes, enquanto o médico não é capaz de diagnosticar definitivamente o quadro. Para superar este dilema, é importante que o clínico possa reconhecer e compreender as complexidades da síndrome.

Efetuar um correto e eficaz diagnóstico desta síndrome não é fácil nem rápido, a abordagem deve ser multidisciplinar e específica para cada paciente. O diagnóstico é eminentemente clínico. A realização de anamnese detalhada, exame físico geral, exames da cavidade oral e orofaringe minuciosos à procura de lesão que descarte SAB são de fundamental importância.

Referências
CERCHIARI, D. P. et al. Síndrome da boca ardente: etiologia. Rev. Bras. Otorrinolaringol., vol.72, n.3, p.419-424, 2006.
CHERUBINI, K. et al. Síndrome da ardência bucal: revisão de cem casos. Revista Odonto Ciência, v. 20, n. 48, p. 109-112, 2005.
GRUSHKA, M. et al. Burning mouth syndrome. Am. Fam. Physician, v. 65, n. 4, p. 615-622, 2002.
MINGUEZ-SANZ, M. P.; SALORT-LLORCA, C.; SILVESTRE-DONAT, F. J. Etiology of burning mouth syndrome: a review and update. Med Oral Patol Cir Bucal, 16(2):e144-8, 2011.
MINOR, J. S.; EPSTEIN, J. B. Burning mouth syndrome and secondary oral burning. Otolaryngol Clin North Am, 44(1):205-19
NERY, F. S. et al. Avaliação da ansiedade e depressão da terceira idade e sua relação com a Síndrome da Ardência Bucal. R. Ci. Méd. Biol., v. 3, n. 1, p. 20-29, 2004.
SALORT-LORCA, C.; MINGUEZ-SERRA, M. P.; SILVESTRE, F. J. Drug-induced burning mouth syndrome: a new etiological diagnosis. Med Oral Patol Cir Bucal, 13(3):E167-70, 2008.
TERCI, A. O. et al. Atualizando-se sobre a Síndrome de Ardência Bucal. Revista de Odontologia da Universidade de Santo Amaro, v. 12, n. 1, p.32-35, 2007.
WODA, A.; DAO, T.; GREMEAU-RICHARD, C. Steroid dysregulation and stomatodynia (burning mouth syndrome). J Orofac Pain, 23(3):202-10, 2009

Crédito da imagem: a figura que ilustra esta postagem foi extraída de dentalaegis.com

16 de dezembro de 2011

História da Semiologia Médica

Por Charles Saraiva Gadelha
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
A Semiologia médica teve seus primórdios na Grécia antiga, através da valorização da história clínica e da observação, época em que as doenças passaram a serem reconhecidas como de etiologia natural e não divina. Um grande avanço foi a partir do século XVI, Andreas Versalius e depois Giovanni Morgani, apresentarem uma base anatômica para o exame físico e para as doenças. Mas foi com Joseph Leopold Auenbrugger, em 1760, que houve um grande avanço na história do exame físico, com a percussão. A partir daí foi possível melhor localizar a doença com o paciente vivo. Em 1816, René-Théophile-Hyacinthe Laennec ineventou o estetoscópio, revolucionando a semiologia médica. No final do século XIX, todos esses desenvolvimentos foram aplicados à educação médica por William Osler, através de seu método de ensino à beira do leito, transformando a educação médica e a prática da medicina no Mundo ocidental.

Palavras-Chave: História. Medicina. Exame Físico.

Alguns acontecimentos foram cruciais nos últimos 3.000 anos para o desenvolvimento do diagnóstico clínico na sua forma como conhecemos hoje. O diagnóstico clínico teve suas origens na medicina grega. Hipócrates e seus contemporâneos lançaram as bases do método clínico, estabelecendo a medicina como uma profissão e declarando que ela tem uma base racional. Eles colhiam uma história minuciosa e praticavam ausculta direta. Foram os mestres da observação – suas descrições de pacientes poderiam caber em textos modernos de medicina sem muitas alterações. Os textos desta época demonstram um alto nível da medicina, que incluia uma cuidadossa anamnese, inspeção, palpação, ausculta direta, e exame do escarro e da urina.

Uma contribuição duradoura da escola de Hipócrates era a convicção de que a doença é de etiologia natural e não divina. Entretanto, os gregos não tinham conceito de nosologia. Eles achavam que a doença era causada por um desequilíbrio dos quatro humores do corpo: sangue, bílis amarela, bílis negra, e linfa.

A mais antiga referência à Semiologia Médica parece ter sido feita no Império Romano; entendia-se a Semiologia como o estudo diagnóstico dos sinais das doenças. O médico Galeno de Pérgamo (139-199 a.D.) referia-se ao diagnóstico como sendo parte da "semiótica médica".

Um marco no desenvolvimento clínico foi a retomada da dissecação de corpos humanos para fins educativos. Andreas Vesalius foi assim, capaz de publicar um texto de anatomia humana precisa em 1543, De Humanis Corporis Fabrica. Este livro foi baseado em dissecção pessoal de corpos humanos. Vesalius forneceu a base anatômica necessária, sobre a qual o método clínico pode ser construído. Algum tempo após, em 1761, Giovanni Morgagni estabeleceria a anatomia patológica, ou patologia, como uma disciplina. Ele estabeleceu conceitos patológicos de órgãos inteiros.

Enquanto esses conceitos de anatomia patológica se desenvolviam, foi de Thomas Sydenham, no século XVII na Inglaterra, o mérito da definição de doença, apresentando o conceito nosológico.

O desenvolvimento histórico da nosologia - ramo da medicina que lida com o conceito, definição, classificação e nomenclatura da doença - foi fundamental para a evolução do diagnóstico clínico. Este conceito permitia entender que uma mesma doença podia causar manifestações clínicas diferentes de um indivíduo para o outro.

Mas o real primórdio do diagnóstico físico ocorreu com a descoberta da percussão por Auenbrugger em 1760, e sua disseminação e aperfeiçoamento por Jean Nicolas Corvisart em 1808. O conceito de localização anatômica da doença no paciente vivo originou-se com a descoberta de percussão. Antes de Auenbrugger, os médicos não podiam descobrir a localização da doença interna durante a vida do paciente. Esta técnica propiciou um grande avanço sobretudo no diagnóstico das afecções pulmonares.

Em 1816, um dos maiores acontecimentos para desenvolvimento da semiologia moderna aconteceu, a invenção do estetoscópio por René Laennec.

Laennec não apenas forneceu uma ferramenta extraordinária à medicina, como estabeleceu uma ligação entre o que via e ouvia e a disfunção oculta do corpo. Laennec anotava diretamente os achados observados no exame físico de todos os seus pacientes, registrando de que modo o exame se alterava ao longo do tempo. Quando o paciente morria, algo comum entre os pacientes da época doentes o suficientes para serem levados ao hospital, Laennec estabelecia as relações entre os achados do exame físico, incluíndo a ausculta, e os da autópsia, descrevendo desde aquela época as principais manifestações estetoauscultatórias das doenças cardíacas e pulmonares.

Na primeira metade do século XIX, Paris era a "Meca" do mundo da medicina. A medicina moderna começou a surgir na França durante este período de cinquenta anos. A comunidade médica parisiense foi uma luz brilhante que atraiu médicos de todo o mundo nessa época, assim como eles iriam para a Alemanha a partir de 1850. Pierre-Charles Alexandre Louis (1787-1872) representava o melhor da escola francesa durante este período. Louis estabeleceu a abordagem sistemática para o caso clínico que usamos até hoje. Louis foi um dos primeiros a aplicar estatística para o estudo da medicina.

Todos esses desenvolvimentos foram aplicados à educação médica por William Osler na clínica médica da Universidade Johns Hopkins em 1893, revolucionando, assim, a educação médica e a prática da medicina na América e no Mundo ocidental. O modelo de instrução de clínica médica que Osler implementou causou uma revolução no ensino médico. Ele consolidou a maneira de ensino da semiologia médica à beira do leito. A ele atribui-se o desenvolvimento do modelo de residência médica conhecido hoje em dia. A partir daí, estudantes de medicina tornaram-se membros efetivos da equipe de atendimento ao paciente, realizando anamnese, fazendo exame físico e participando de rondas com os médicos residentes e professores.

Na história da semiologia médica, houve ainda inúmeros importantes marcos, como o modelo de ensino médico à beira do leito, já praticado por Boerhaave em Leiden em 1700; além do desenvolvimento de instrumentos de precisão como o termômetro, oftalmoscópio e o esfigmomanômetro.

Desta forma, a Semiologia Médica vem se desenvolvendo desde a Grécia antiga, principalmente graças a médicos que se entregaram de corpo e alma ao exercício pleno da medicina, sempre se inquietando em fazer mais por seus pacientes – tornando o exame clínico, ainda hoje, a mais poderosa e confiável ferramenta diagnóstica para o clínico.

Referências
BALFOUR, G. W. On the evolution of cardiac diagnosis from Harvey's days till now. Edinburgh Med J 32:1065-81, 1997.
REISER,  S. J. The medical influence of the stethoscope . Sci Am 1979 ;240 :148-50,153-56.
BEDFORD, D. E . Auenbrugger's contribution to cardiology: History of percussion of the heart. Br Heart J 33: 817-21, 1971.
BEDFORD, D. E. Cardiology in the days of Laennec. Br Heart J 34 :1193-98, 1972.
JONES, R.M. American doctors and the Parisian medical world, 1830-1840. Bull Hist Med 47 :40-65 177-204, 1973.
LUDMERER, K. M. Learning to heal: the development of American medical education. New York : Basic Books, 1985.

Imagem: "Laënnec à l'hôpital Necker ausculte un phtisique devant ses élèves", obra de Théobald Chartran, 1816.

12 de dezembro de 2011

Metatarsalgias


Por Charles Saraiva Gadelha e Arthur de Sousa Trindade
Estudantes de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Metatarsalgia é a dor mais frequente do pé e refere-se a um quadro álgico na região anterior do pé (antepé), que contém os cinco metatarsos, relacionada a lesões de partes moles, ósseas, articulares e periarticulares. Apresenta-se como dor e calosidade no antepé, podendo ocorrer também tanto deformidade plantar quanto alteração da marcha. A dor caracteristicamente piora durante a deambulação. Seu aparecimento pode estar relacionado com o uso constante e prolongado de sapatos inadequados, portanto é mais comum em mulheres que em homens. Parestesia pode estar presente, sendo indicativo de envolvimento nervoso.

Palavras-chave: Metatarsalgia. Neuralgia. Podiatria.

Metatarsalgia é a dor mais frequente do pé. É definida como dor no antepé ou região metatársica, muitas vezes associada ao aumento do estresse sobre as cabeças dos metatarsos. Diversas afecções de ordem local e sistêmica podem resultar em distúrbios dolorosos do segmento anterior do pé (DURHAN, 2010).

Em 1987, Dr. Ramón Viladot publicou trabalho evidenciando que as metatarsalgias são a causa mais frequente de dor nos pés e que 80% da população normal apresenta, durante a vida, alguma forma de dor ou calosidade no antepé.

Esse é um problema mais prevalente em adultos, sendo rara em crianças, e com predomínio no sexo feminino (8:1), o que pode refletir a utilização de certos tipos de calçados, de salto alto e ponteiras triangulares e estreitas, na origem de um grande número de casos (SILVA, 2009; QUIRK, 1996). Quanto à etiologia, 92% das metatarsalgias são de origem mecânica e 8% são atribuídos às demais afecções. Assim, as metatarsalgias associam-se a deformidades osteoarticulares locais, mas também a doenças metabólicas, neuropatias e algumas doenças auto-imunes (PARDAL-FERNANDEZ; RODRÍGUEZ-VASQUES, 2011).

A classificação das metatarsalgias se baseia na etiologia do problema, contudo não determina conduta ou prognóstico, e pode ser dividida em: mecânicas, responsáveis por 92% das metatarsoalgias (GOULD, 1990), e não-mecânicas. Ainda se pode dividir essas classes em difusas (atinge todo o ante-pé ou uma parte dele, geralmente associada a uma deformidade do pé) ou localizadas, quando a sintomatologia atinge tão especificamente um ponto que pode ser detectada a estrutura anatômica envolvida.

As metatarsalgias podem ser difusas, quando acometem todo o antepé ou uma parte dele, não podendo ser atribuídas a uma determinada estrutura isoladamente; ou localizadas, quando a sintomatologia atinge uma área tão específica que pode ser detectada a estrutura anatômica envolvida.

Dentre os cinco metatarsos, o segundo é o mais suceptível à lesão de origem mecânica, por ser o responsável pela sustentação da maior carga de peso direcionada ao antepé (TACHDJLAN; CHIMELLO, 2001).

A principal queixa clínica do quadro de metattarsoalgias é a dor. Suas características (tipo, intensidade, periodicidade, localização e irradiação) dependem do agente etiológico, mas de forma geral, relacionam-se diretamente com a marcha ou ortostase prolongada. Nos quadros iniciais, a dor costuma ser leve, pouco incapacitante e melhora com o repouso. Com a progressão e a estruturação das deformidades, a dor torna-se intensa, constante e altamente incapacitante.

O segundo achado de exame mais constante é a hiperceratose nas regiões onde se observa a descarga anômala das pressões, em geral indicando as estruturas anatômicas relacionadas(DOCKERY, 2000).

O exame clínico deve objetivar encontrar todas as deformidades, além de mensurar o grau de redutibilidade das mesmas, pois isso influencia a escolha do tratamento mais adequado. Assim, o examinador deve seguir uma sistemática rigorosa, fazendo avaliação estática e dinâmica dos pés. A marcha deve ser avaliada com e sem os calçados mais utilizados. A própria avaliação dos calçados também fornece informações acerca do desenvolvimento do passo e de desvios do retropé, do antepé e dos dedos (HEBERT, 2009).

Além disso, a observação cuidadosa do tegumento, dos fâneros e do estado circulatório e neurológico dos membros inferiores é fundamental, especialmente em grupos de risco, como neuropatas e vasculopatas. A anotação criteriosa desses achados pode estabelecer um padrão para a evolução do quadro e auxilia no estabelecimento do grau de risco de ulcerações e artropatias (CHAMLIAN, 2001).

O diagnóstico dessa entidade é clínico, mas dois exames podem auxiliar na sua confirmação: a podoscopia, que visualiza a pegada plantar refletida num espelho e identifica áreas de maior pressão e consegue identificar as áreas de maior pressão mesmo antes do aparecimento das hiperceratose, e a baropodometria, que permite o registro gráfico da morfologia e da pressão suportada pela planta do pé, em ortostatismo e durante a marcha. Esses são associados à radiografia ou à ressonância magnética para obter um diagnóstico relativamente preciso.

As metatarsalgias mecânicas podem ser decorrentes de patologias que envolvam o pé como um todo (pé equino, antepé triangular, convexo ou cavo) ou de outras que envolvam apenas o antepé (deformidades congênitas do antepé, trauma, artrose, neuropatias periféricas ou uso abusivo). Quanto às causas não mecânicas, tanto enfermidades locais como infecções e tumores como o neuroma interdigital ou neuroma de Morton; quanto enfermidades sistêmicas como vasculopatias, artrites, doenças metabólicas e doenças neuromusculares podem ser responsáveis pela metatarsalgia (NERY, 2008).

Em condições estáticas o peso do corpo se distribui predominantemente para o calcanhar (60%). O antepé recebe 32% da carga, dos quais 28% situam-se sob as cabeças dos metatársicos e 4% nos dedos. Já a carga distribuída no antepé durante a marcha, concentra-se nos três metatarsos centrais, predominando no II. A participação do I e do III são semelhantes e bastante superiores às do IV e V metatarsos (DURHAN, 2010).

A principal queixa clínica do quadro de metatarsalgias é a dor, sendo suas características dependentes do agente etiológico, mas de forma geral, piora com a marcha, principalmente nas fases de apoio médio e de propulsão, ou com a ortostase prolongada (DURHAN, 2010). Nos quadros iniciais, a dor é geralmente leve, pouco incapacitante e melhora com o repouso. Com a progressão das deformidades, torna-se intensa, constante e altamente incapacitante (NERY, 2008).

Um neuroma interdigital (neuroma de Morton) produz sintomas de metatarsalgia devido à irritação e inflamação do nervo digital entre as cabeças metatarsais. Pacientes com neuroma de Morton pode reclamar de dormência dos pés além de dor no antepé (BARBOSA, 2005).

O achado de exame físico mais frequente é a presença de hiperceratose nas regiões onde se observa a distribuição anômala das pressões, geralmente indicando as estruturas anatômicas relacionadas. Mesmo antes da hiperceratose, muitas vezes é possível visualizar áreas de palidez por isquemia secundária à carga (NERY, 2008).

Em pacientes com neuromas interdigital, a dor geralmente é agravada pela compressão lateral do metatarso ou do espaço entre as cabeças metatarsais, produzindo um “clique” doloroso, conhecido como sinal de Mulder (BARBOSA, 2005).

O exame clínico, além de objetivar a detecção de todas as deformidades associadas ao quadro, deve tentar estabelecer seu grau de redutibilidade, fator determinante da escolha do tratamento adequado.

Segundo Durham (2010), uma importante complicação das metatarsalgias é a osteonecrose avascular de Freiberg, que pode ocorrer a partir de uma etiologia congênita, traumática ou vascular. Uma lesão atlética é improvável que seja a única causa de necrose avascular, no entanto, o estresse mecânico em esportes de alto impacto pode precipitar uma predisposição anterior a essa condição. A progressão da lesão ligamentar por atrito pode resultar em instabilidade articular e luxação do dedo do pé. A perda de flexibilidade pode levar a rigidez crônica e perda de amplitude de movimento.

Referências
BARBOSA, G. G. et al. Estudo retrospectivo do tratamento cirúrgico do neuroma de Morton por via plantar. Acta Ortop Bras 13(5): 258-260, 2005.
CHAMLIAN, T.R. et al. Avaliação podobarométrica nas amputações do médio e antepé. Acta Fisiátrica. 8(3): 120-129, 2001.
DOCKERY, G.L. Evaluation and treatment of metatarsalgia and keratotic disorders. In: MYERSON, M. S. Foot and ankle disorders. Philadelphia: W.B. Saunders, 2000.
DURHAM, B. A. et al. Metatarsalgia. Medscape. 2010. Disponível em: http://emedicine.medscape.com/article/85864-overview. Acesso em: 18 jun 2011.
GOULD, J.S. Metatarsalgia. Clin Ortop Am. 20: 555-564, 1990.
NERY, C. Metatarsalgias. Portal Unifesp. 2008. Disponível em: www.unifesp.br/dortoped/pe/ Acesso em: 18 jun 2011.
HEIBERT, S. Ortopedia e Traumatologia: Princípios e Prática. São Paulo: Artmed, 2009.
PARDAL-FERNÁNDEZ, J. G.; RODRÍGUEZ-VASQUEZ, M. Metatarsalgias y neuropatías del pie: Diagnóstico diferencial. Rev Neurología, 52 (1): 37-44, 2011
QUIRK, R. Metatarsalgia. Aust Fam Physician. 25 (6): 867-9, 1996.
SILVA, C.; OLIVEIRA, J. P.; LUIS, F. Metatarsoalgias: Revisão Bibliográfica. HDSInForum. 26: 1-4, 2009.
TACHDJLAN, M.O. E CHIMELLO, E. Ortopedia Pediátrica: Diagnóstico e Tratamento.  Rio de Janeiro: REVINTER, 2001.

Imagem ilustrativa: Figura adaptada de pelight.com.br

6 de dezembro de 2011

Seminários de MCO3 em 2011.2: Resumos e Interrogações


"Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas."
(Confúcio)

Se a instrução é essencialmente uma busca de sentido, então, nosso objetivo deve ser o de fazer boas perguntas, sobretudo quando se trata de metodologia científica. Geralmente estamos preocupados em encontrar as respostas certas, mas a verdadeira chave do entendimento é encontrar as perguntas certas. Acima de tudo, a coisa mais importante na ciência é questionar.

Isaac Newton e Galileu Galilei, figuras vitais para a formação e consolidação do Método Científico e para a ciência moderna, fizeram isso melhor que ninguém. Nesse sentido, devemos estimular nossos alunos a formular perguntas a partir das quais podem desenvolver seu senso crítico em relação ao trabalho científico. Isto é que é aprender a pensar cientificamente.

Nesta postagem, apresentamos os objetivos dos cinco projetos de pesquisa apresentados no Módulo de Trabalho Científico e TCC (Módulo Complementar Obrigatório 3, MCO3) do Curso de Graduação em Medicina da UFPB, e as perguntas correspondentes feitas pela turma deste semestre 2011.2 nos seminários para apresentação e discussão dos projetos. As respostas foram buscadas pelos autores destes e pela professora do módulo durante as discussões, mas não serão registradas aqui. Queremos deixar patente a seguinte assertiva: Só se pode obter a resposta certa formulando a pergunta certa. E que perguntas são as certas? Há perguntas erradas?

Com esta postagem me despeço agora do módulo de MCO3 ao qual dediquei os quatro últimos períodos letivos (2010.1, 2010.2, 2011.1 e 2011.2) e que foi extremamente estimulante para mim enquanto docente-aprendiz. Espero que tenha sido motivador também para os 207 estudantes de Medicina que passaram pelo módulo nesses semestres.

I Seminário de MCO3 em 2011.2

Projeto 1: “Avaliação do conhecimento sobre HIV/Aids em idosos usuários do SUS em João Pessoa, PB, Brasil.

Autores: Rafaela Marçal, Rovany Couto, Carlos Thiago, Jonathas Abimael, Ricardo Coimbra, Wellington Martins, Lucas Nascimento, Luciano Gomes, Felipe Caio e Isabel Sepúlveda.

Apresentação do Projeto
Introdução
- Lucas: Conceito, epidemiologia, envelhecimento populacional, tendência ao aumento da incidência de Aids em idosos, dados do Ministério da Saúde, diagnóstico de Aids no idoso.
- Isabel: Trabalhos anteriores sobre o tema, prevalência de Aids em idosos em Campina Grande – PB, lacunas na literatura, problema de pesquisa, objetivos.
Objetivos: Avaliar os conhecimentos sobre HIV/Aids por idosos usuários do sistema de saúde pública de João Pessoa-PB.
Metodologia
- Carlos Tiago: Modelo do estudo, local da pesquisa, amostra, tamanho da amostra, técnica de amostragem, coleta de dados, instrumento.
- Jônatas: Critérios de exclusão, descrição das variáveis, análise estatística, aspectos éticos.
Cronograma – Rafaela

Discussão: Questionamentos, Sugestões e Comentários
- Gustavo Moura: A amostragem por conveniência compromete a validade do estudo?
- Samir: Delineou-se como objetivo de avaliar idosos de João Pessoa, mas o recrutamento dos sujeitos será feito apenas no hospital universitário e em quatro postos do Programa Saúde da Família da cidade. Pode-se fazer a generalização dos resultados para toda a cidade?
- Wellington: Qual a viabilidade técnica do projeto de pesquisa? Será feita uma proporcionalidade entre homens e mulheres?
- José Bezerra: Serão recrutados também idosos de outras cidades da Paraíba, não apenas de João Pessoa; sendo assim o título não estaria incompatível com a amostra?
- Rebeca: A inclusão de sujeitos de fora da cidade de João Pessoa não tornaria a amostra mais representativa?
- Angélica: Sugestão – Inserção do critério de inclusão de pacientes residentes em João Pessoa.
- Janaíra: Sugestão – Inclusão de pacientes não usuários do hospital universitário e de unidades básicas de saúde.
- Fernando: Sugestão – Poder-se-ia solicitar a contribuição de agentes comunitários de saúde no recrutamento dos pacientes.
- Renan: Dúvidas sobre o orçamento.
- Thereza: Uma revisão bibliográfica mais ampla possibilitaria o encontro de novas evidências sobre o problema no Brasil.
- Arthur: Quais os resultados esperados?
- Rovany: Espera-se que a escolaridade se relacione com o nível de conhecimento sobre a doença e com o maior incidência desta.
- Arimatéia: Qual a contribuição do projeto em relação a outros estudos já realizados sobre o problema?
- Luan: Qual as limitações relacionadas ao modelo do estudo?
- Roberta: O questionário a ser aplicado é brasileiro? Houve modificações desse instrumento para a pesquisa?
- Pedro: Será realizado pré-teste ou teste-piloto?
- Camila: O termo “condom” em um dos itens do questionário não seria acessível ao entendimento dos pacientes?
- André: É preciso que haja um ajuste do ponto de corte do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) em sujeitos analfabetos?
- Maria Yvone: No questionário apresentado solicita-se que o respondente marque com X as alternativas. Isso será lido para que eles entendam ou será auto-administrado?
- Alexandre: Quem fará a coleta dos dados? Haverá treinamento para os pesquisadores?
- Agláia: O questionário precisará ser modificado, pois um dos itens inclui a pergunta sobre o hábito de compartilhar chimarrão, cujo uso praticamente inexiste aqui na Paraíba.
- Cícero: Haverá elevada possibilidade de vieses de informação, uma vez que as perguntas relacionam-se com temas de natureza íntima e que podem limitar a expressão dos idosos.
- Renata: Porque será empregado o MEEM?
- Daniela: Não foi apresentado o escore do MEEM para definir o critério de exclusão baseado nesse instrumento na seção de metodologia do projeto.
- Alex: Como será definido o ponto de corte do MEEM?
- Marcus Jussier: Por que não são feitas campanhas sobre Aids para informação da população idosa, como foi mencionado na introdução do projeto?
- Natália: No corrente ano a prioridade foi de atingir jovens de baixa renda com as campanhas de saúde pública em relação à Aids. Atualmente, a tendência é usar a expressão “situação de risco” em substituição a “comportamento de risco”.
- Marcela: Pode haver um viés sociológico nessa falta de campanhas para esclarecimento da população idosa sobre a Aids.
- Maria Edilma: O preconceito em relação à sexualidade e à transmissão sexual do vírus também seria um fator relacionado ao aumento da incidência da Aids entre idosos?
- Fabiana: Na análise estatística, deveriam ter sido usados outros termos ao invés de variável dependente e variável independente, uma vez que o estudo é de modelo transversal.
- Gustavo Nunes: Os colegas autores do projeto dominam o uso do programa estatístico SPSS, que será usado na analise dos dados?
- Marcos Martins: Gostaria de entender um dos gráficos de incidência de Aids na população, com queda do número de casos nos anos de 2003 e 2004. Teria sido motivado por subnotificação ou teria algum fator epidemiológico relacionado com esta diminuição na incidência?
- Alyane: Não teria sido importante definir, além da Aids (doença estabelecida), como foi feito, também o que significa ser portador do vírus HIV?
- Mariani: O que os colegas autores do projeto esparam como contribuição à sociedade com a realização do estudo?
- Felipe Serrano: Sugestão – O título pareceu muito longo, poderia ser reduzido.
- Laís: O item do questionário “você conhece alguma pessoa que seja portadora do vírus da Aids?” apresenta valor em relação aos objetivos da pesquisa? Qual é a acurácia do questionário em relação ao objeto da pesquisa?
- Tâmara: Também em relação ao questionário, pergunta-se neste se o idoso usa camisinha, mas não há um item com o questionamento da existência de vida sexual ativa; assim, os resultados poderão conter o viés de que o sujeito não usa camisinha porque não tem oportunidade de fazê-lo e não porque não pratica esta medida preventiva.
- Priscila: Os resultados deste estudo poderão ter como implicação prática a verificação da necessidade de se realizarem campanhas para informar melhor a população-alvo da pesquisa sobre a prevenção da Aids.
- Larissa: Por que não incluir na pesquisa sujeitos de todas as idades, comparando as respostas dos idosos com os pacientes adultos não idosos?

II Seminário de MCO3 em 2011.2

Projeto 2: “Estudo Epidemiológico das Formas de Apresentação Clínica da Psoríase”

Autores: Roberta Ismael, Milson Gomes, Marcos Martins, Maria Yvone, Renata Vieira, Pedro Thiago, Natalia Maia, Luan Martins e Arimatéia Rodrigues.

Apresentação do Projeto
Introdução: Milson e Natália – Conceituação de Psoríase, características clínicas, epidemiologia, patogenia, formas de apresentação, aspectos psicológicos, patogenia, diagnóstico.
Objetivos (Natália): Avaliar as formas clínicas de psoríase de maior prevalência entre os pacientes atendidos no Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
Metodologia: Marcos Martins e Luan – Período da pesquisa, população-alvo, modelo do estudo, variáveis, definição operacional dos termos, critérios de elegibilidade, amostra, análise dos dados.
Plano de Trabalho, Orçamento, Cronograma e Referências: Maria Yvone.

Discussão: Questionamentos, Sugestões e Comentários
- Samir: Necessidade de ajuste no cronograma para adequação ao período de coleta de dados ambulatorial.
- Cícero: Os critérios de exclusão incluirão diagnóstico clínico e histopatológico? Sempre será feito exame anatomopatológico?
- Carlos: Não seria mais adequado o estudo de modelo caso-controle para esse tipo de pesquisa?
- Mariani: É apropriado o emprego de referências de livros, como foi feito na introdução do projeto?
- Isabel: A apresentação das referências não está compatível coma as normas ABNT nem com as da Vancouver.
- Camila: Comentário - Não foi mencionado o cálculo do tamanho da amostra na apresentação do projeto.
- Lais Leilane: Há estudos anteriores publicados sobre a prevalência da psoríase no Brasil?
- Fabiana: Não houve um equívoco um equívoco em se colocar a forma clínica como variável dependente?
- Janaíra: A definição do grupo etário da amostra foi baseada em estudo prévio ou foi arbitrária?
- Rovany: Qual a importância de se definirem características ambientais dos pacientes se a doença é de natureza genética?
- Felipe Caio: É possível avaliar a prevalência da doença no Estado da Paraíba a partir do plano de amostragem preconizado?
- Alex: Os resultados esperados foram apresentados como se faz para um projeto de extensão e não de pesquisa.
- José Bezerra: Pode-se afirmar que o estudo é epidemiológico se este não é de base populacional?
- Angélica: O cronograma prevê a coleta de dados entre 2011 e 2013, por que não se faz, então, um estudo prospectivo, ao invés de retrospectivo, como foi anunciado?
- Marcella: Os pacientes serão avaliados mais de uma vez no decurso da pesquisa?
- Gustavo: Comentário - O título do projeto deveria ser mais preciso.
- Arthur: Comentário - Parece curioso o fato de não existirem estudos prévios no Brasil avaliando a prevalência da doença.
- Ricardo: Comentário - O título é inadequado, sobretudo por não conter o local da pesquisa.
- Jônatas: A metodologia da investigação foi adequadamente descrita para permitir a execução do projeto por outro grupo de pesquisa?
- Larissa: A população foi descrita como pacientes atendidos no ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário. Esta não seria a amostra do estudo?
- Laís: Este projeto a ser executado poderia fundamentar estudos de coorte futuros?
- Felipe Serrano: Houve provável erro de digitação, ao ser mencionado que seriam pesquisados seis localizações corporais da doença, embora no instrumento de coleta de dados tenham sido citados sete.
- Rebeca: O instrumento de coleta de dados foi elaborado pelos autores ou já existia, em estudo publicado na literatura? Se foi elaborado pelos autores, será submetido a um pré-teste?
- Tâmara: Os resultados esperados foram redigidos de forma imprecisa (“contribuir para identificar as necessidades inerentes ao perfil dos pesquisados”) e deveriam ser reformulados.
- Fernando: Justifica-se logicamente o intervalo previsto no cronograma entre os meses de dezembro e abril no que se refere à revisão bibliográfica?
- Agláia: Como os dados obtidos no último item do formulário e designado de “observações” serão registrados e analisados? Estes dados serão registrados de maneira uniforme entre os pesquisadores que coletarão os dados?

III Seminário de MCO3 em 2011.2

Projeto 3: Estudo Epidemiológico de Casos de Parkinsonismo Familiar na Cidade de João Pessoa, Paraíba.
Autores: Laíse Monteiro, Alex Tiburtino, Tâmara Lobato, Marcella Figueirêdo, José Bezerra, Felipe Serrano, Marcus Jussier, Adalberto Vieira, Fernando Crisanto, Maria Edilma.

Apresentação do Projeto
Introdução
- Marcus Jussier: Conceito, epidemiologia, etiologia e fisiopatologia
- Maria Edilma: Quadro clínico, diagnóstico e tratamento
Objetivos (Alex): Avaliar a prevalência da doença de Parkinson familiar na cidade de João Pessoa-PB.
Metodologia
- Adalberto: Modelo do estudo, população e amostra, tamanho da amostra, critérios de elegibilidade, coleta de dados, variáveis primárias e secundárias.
- Alex: Análise estatística e considerações éticas
Cronograma, Orçamento e Anexos - Fernando

Discussão: Questionamentos, Sugestões e Comentários
- Daniela: Qual a finalidade de incluir nos anexos um quadro com a exposição dos genes relacionados à doença de Parkinson familiar?
- Janaíra: O cronograma incluiu as férias, um aspecto que geralmente não é explicitado nos cronogramas de projetos de pesquisa.
- Fabiana: Por que se denominou o recrutamento de “busca ativa”, uma vez que os pacientes serão incluídos no estudo a partir de demanda espontânea do ambulatório de distúrbios do movimento?
- Alexandre: Serão inevitavelmente incluídos no estudo sujeitos procedentes de outras cidades e que são encaminhados ao hospital universitário. Assim, por que no título e nos objetivos do projeto foi mencionada a cidade de João Pessoa como local do estudo?
- Cícero: Por que não foi incluído o teste piloto no cronograma da pesquisa?
- Mariani: O instrumento será respondido pelo paciente ou cuidador de forma auto-administrada?
- Samir: Sugestão – Deveria ser adicionado como critério de exclusão os pacientes não residentes na cidade de João Pessoa.
- Rovany: O cuidador que vai responder aos itens do formulário devem ter um contato próximo com o paciente? Um acompanhante que não seja cuidador pode responder às questões do instrumento de coleta de dados?
- Rebeca: O questionário/formulário foi elaborado pelos autores do projeto?
- Felipe Caio: Existe estudo anterior semelhante realizado na Paraíba?
- Gustavo: Como será determinada a capacidade cognitiva do paciente para avaliar de forma objetiva se ele tem condições de responder às perguntas?
- Thereza: A triagem para exclusão de outras síndromes parkinsonianas será realizada por médicos não especialistas quando os pacientes forem encaminhados de outras clínicas?
- Lucas: Como será feito o heredograma se os pacientes forem idosos ou já tiverem disfunção cognitiva, considerando a possibilidade de viés de memória em relação às gerações anteriores?
- Thereza, de novo: Quantas gerações serão consideradas no heredograma para se determinar casos de doença de Parkinson familiar?
- Camila: Sugestão – Alguns pacientes podem não saber responder determinadas perguntas contidas no formulário e a revisão documental dos prontuários poderia ser incluída na metodologia também.
- Luan: O questionário/formulário a ser aplicado é adequado em relação aos objetivos do estudo?
- Arthur: Qual será a contribuição do estudo?
- Laís: Sugestão – Ao invés de intervalo de confiança de 5%, como foi apresentado na análise estatística a ser empregada, deveria ser usada a expressão nível de significância. O intervalo de confiança é de 95%.
- Luciano: Os alunos pesquisadores serão treinados antes da coleta dos dados?
- Angélica: Comentário - A forma de redação do objetivo está inadequada, pois “fazer levantamento de casos da doença...” não constitui objetivo apropriado para projeto de pesquisa.
- Marcos Martins: Qual será a magnitude do viés de informação considerando que alguns casos de distúrbios do movimento na família não têm diagnóstico médico estabelecido?
- Carlos: Existem bancos de dados do Ministério da Saúde ou Datasus mostrando a prevalência da doença de Parkinson familiar no Brasil?
- Agláia: Além do possível viés de informação, não há elevada possibilidade de viés de memória também?
- Jônatas: Como será feita a análise estatística?
- Jônatas, de novo: Por que foi enfocado o tratamento na revisão da literatura se a pesquisa não tem o objetivo de avaliar aspectos terapêuticos?
- Roberta: O questionário é semi-estruturado. Como será feita a nálise dos dados resultantes das questões abertas?
- Isabel: Os estudantes pesquisadores não deveriam realizar treinamento com geneticista para aprender a elaborar um heredograma?
- Wellington: Sugestão – As siglas DP e DPF, que aparecem na apresentação da introdução do projeto, deveriam ser colocadas por extenso, seguidas das abreviaturas entre parênteses, na primeira vez que em que aparecem no texto.
- José de Arimatéia: Por que não aplicar um formulário com questões fechadas uma vez que essa medida tornaria mais fácil a análise estatística?
- Ricardo: Comentário e sugestão – O número de variáveis secundárias pareceu excessivo. Deveria ser reduzido às variáveis essenciais à obtenção da resposta ao problema de pesquisa.
- Maria Yvone: Comentário – O cronograma deveria ser revisto, pois o período reservado para elaboração do instrumento de coleta de dados coincidiu com o de submissão do Projeto ao Comitê de Ética em Pesquisa.
- Pedro: Que particularidades apresenta a Doença de Parkinson Familiar em relação à Doença de Parkinson em que não se detectam antecedentes familiares?
- Renata: A elaboração de um questionário fechado não seria mais adequado para a coleta dos dados dos sujeitos a serem avaliados?
- Natália: Há necessidade de menção a que bases de dados serão pesquisadas para a revisão da literatura em um projeto como o que foi apresentado?
- Priscila: Por que não foi abordada a importância dos fatores ambientais para o desenvolvimento da doença na revisão da literatura, se tais fatores serão investigados no projeto de pesquisa?

IV Seminário de MCO3 em 2011.2

Projeto 4: Evolução clínica de pacientes com leucemia mielóide aguda em um hospital de referência de João Pessoa - PB
Autores: Alyane Barros, Camilla Correia, Daniella Valença, Larissa do Vale, Mariani Herculano, Rebeca Bezerra, Priscila Jaruzo e Alexandre Augusto.

Apresentação do Projeto
IntroduçãoDaniela: Conceito, classificação, epidemiologia, patogenia, quadro clínico, etiologia.
Camila: Tratamento, remissão, refratariedade, recidiva, cura. Justificativa. Objetivos.
Objetivos: Avaliar os desfechos clínicos de pacientes com diagnóstico de leucemia mielóide aguda (LMA) no ano de 2006 no Hospital Napoleão Laureano
Metodologia
Mariani: Tipo de estudo, local e período, amostra, critérios de elegibilidade, variáveis.
Priscila: Procedimento de coleta de dados, análise estatística, considerações éticas.
Cronograma e Orçamento: Alyane.

Discussão: Questionamentos, Sugestões e Comentários
- Natália: Comentário – Houve um erro na apresentação dos exames, incluindo-se os bastões de Auer como parte do hemograma.
- Gustavo: Será obtida uma amostra representativa recrutando-se apenas os pacientes com LMA atendidos no serviço no ano de 2006?
- Marcus Jussier: Por que será feita a coleta de dados no período de cinco anos a partir do ano de 2006? Que fundamento foi empregado para definir este período?
- Marcella: Por que não se coletam os dados de evolução de mais de cinco anos e assim avalia-se também a cura dos pacientes?
- Janaíra: Por que serão incluídos apenas pacientes residentes em João Pessoa?
- Felipe: Quanto de falta de preenchimento dos prontuários será considerado para se alcançar o critério de exclusão de casos por esta razão?
- Maria Edilma: Abandono de tratamento será critério de exclusão?
- Rovany: Serão considerados os óbitos decorrentes da LMA ou por outras causas?
- Agláia: No casos de óbitos, em que a família do paciente será contactada, será necessário assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelo familiar que prestar informações?
- Renan: O uso de números de telefone dos pacientes atendidos registrados nos prontuários pelos pesquisadores é considerado ético?
- Roberta: Como será avaliado o subtipo da LMA?
- André: Por que não se indicaram os período e as bases de dados que foram pesquisados na revisão da literatura?
- Cícero: Comentário – Embora se tenha afirmado que não seria feita análise estatística inferencial, mencionou-se o emprego do teste qui-quadrado, que é inferencial.
- Luan: Que critérios são adotados no Hospital Napoleão Laureano para definição do tipo de LMA?
- Isabel: Por que não serão incluídos os pacientes atendidos no ano de 2007 na pesquisa, com consequente aumento do tamanho da amostra e do tempo de seguimento?
- Laís: Serão incluídos os pacientes que receberam o diagnóstico de LMA ou apenas o que já iniciaram tratamento?
- Wellington: Comentário – É mais adequado denominar as variáveis de primárias e secundárias, uma vez que se trata de um estudo transversal e portanto, que não permite inferências de causalidade que estão implícitas nos termos variável dependente/independente.
- Luciano: Qual é o tratamento padrão para LMA? Este tratamento é usado no hospital onde se realizará a pesquisa? No ano de 2006, o tratamento era o mesmo que se preconiza atualmente?
- Rafaela: Por que serão incluídos apenas pacientes adultos, se a LMA é mais frequente em crianças e adolescentes?
- José Bezerra: Serão excluídos os pacientes que receberam diagnóstico no final de 2006 e que ainda não iniciaram tratamento?
- Fernando: Por que será feita uma revisão de cinco anos de evolução, se não será invertigado o desfecho “cura”?
- Alex: Por que não incluir pacientes atendidos antes do ano de 2006?
- Laíse: Será realmente atualizada a referência do Manual do Instituto do Câncer em relação ao tratamento, já que aquela é de 2003?
- Arthur: Por que foi usado o símbolo da Aids na apresentação dos diapositivos sobre LMA?
- Pedro: Não deveria ter sido mencionado que a pesquisa será retrospectiva e de revisão documental, ao invés de apenas como modelo observacional e transversal?
- Jônatas: Um estudo descritivo do tipo série de casos é adequado para determinar o desfecho dos pacientes?
- Thereza: É apropriado incluir a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa no cronograma?
- Carlos: Não seria mais adequado um estudo de coorte para investigação de evolução clínica?
- Felipe Serrano: Comentário - O cronograma parece incompatível com as despesas que serão realizadas.
- José de Arimatéia: Por que não será feita uma revisão dos prontuários de dois anos a partir do início do tratamento, uma vez que se trata de uma doença de evolução aguda?
- Milson: Por que foi usada a expressão grupo racial ao invés de simplesmente cor?
- Fabiana: Por que não usar o Sistema de Informação sobre Mortalidade, disponível na Secretaria de Saúde, para verificar a ocorrência e a causa dos óbitos dos pacientes incluídos no estudo?

V Seminário de MCO3 em 2011.2

Projeto 5: Qualidade de vida de crianças e adolescentes com doença falciforme em João Pessoa-PB
Autores: Agláia Moreira, André Augusto, Angélica Lira, Artur Cavalcanti, Cícero Faustino, Fabiana Flávia, Gustavo Nunes, Janaíra Godeia, Laís Araújo e Thereza Cavalcanti.

Apresentação do projeto
Introdução
- André: Conceito, epidemiologia, fisiopatologia e quadro clínica da doença falciforme; conceito de qualidade de vida, qualidade de vida na doença crônica e estudos prévios.
- Janaíra: Justificativa, objetivos
Objetivo (Janaíra): Avaliar a qualidade de vida (QV) em crianças e adolescentes com doença falciforme em tratamento em dois serviços de referência pública em João Pessoa-PB
Metodologia
- Janaíra: Locais do estudo, período, desenho, amostragem, cálculo da amostra, seleção de pacientes.
- Agláia: Critérios de inclusão e exclusão, variáveis primárias e secundárias, procedimento de coleta de dados, instrumento, análise dos dados e aspectos éticos.
Orçamento, cronograma, apêndices e anexos – Thereza.

Discussão: Questionamentos, Sugestões e Comentários
- Alyane: Por que serão incluídos pacientes na faixa etária acima de oito anos e não crianças menores também?
- Laíse: Por que entre os objetivos específicos da pesquisa está caracterizar socio-demograficamente a amostra, enquanto nos critérios de exclusão serão considerados pacientes residentes fora de João Pessoa?
- Felipe Serrano: Comentário – No instrumento para caracterização demográfica da amostra não figura o item procedência.
- Roberta: Por que não será estudado também um grupo controle, com pacientes sem doença falciforme?
- Larissa: Se serão incluídos consecutivamente os primeiros 45 pacientes a serem atendidos nos ambulatórios de hematologia dos sois serviços de referência, não haverá um recrutamento proporcionalmente maior de pacientes com anemia falciforme, em detrimento de pacientes com traço falciforme?
- Alex: Qual será o parâmetro para o cálculo do tamanho da amostra? A prevalência da doença falciforme ou a diferença em QV entre pacientes com anemia falciforme e com traço falciforme?
- Samir: Como será contabilizado o escore nos itens do questionário de QV quando houver necessidade de transformação em escala linear inversa?
- Pedro: Qual foi a motivação inicial para a execução da pesquisa?
- Rovany: Será feita uma análise da QV em função da renda dos pacientes?
- Adalberto: Por que não implementar uma amostragem aleatória ao invés de amostragem por conveniência?
- Marcos Martins: Qual o grau de dificuldade previsto para aplicação do questionário de QV em crianças escolares?
- Marcella: Será realizado um teste-piloto antes da coleta de dados propriamente dita?
- Camila: Qual é a idade que será considerada como limite entre criança e adolescente?
- Fernando: Como serão definidos operacionalmente os casos de déficit cognitivo uma vez que um dos critérios de exclusão refere-se a esta disfunção?
- Maria Yvone: Crianças não alfabetizadas serão excluídas também?
- Daniela: Comentário – A própria doença pode afetar a escolaridade dos pacientes da pesquisa.
- José de Arimatéia: Será considerado o uso crônico de opióides pelos pacientes na avaliação dos dados?
- Priscila: Crianças com traço falciforme serão acompanhadas ambulatorialmente?
- Tâmara: Comentário – Mencionou-se que o comitê de ética em pesquisa é do Centro de Ciências Médicas, mas na verdade na UFPB só existem os comitês do hospital universitário e do Centro de Ciências Médicas.
- Maria Edilma: Como será definido o critério de exclusão designado como incapacidade física?
- Adalberto: Serão excluídas as crianças que se encontram em agudização?
- José Bezerra: Não serão incluídas pacientes em acompanhamento, mesmo que não estejam em tratamento? Crianças com traço falciforme podem não se encontrar em tratamento medicamentoso e, nesse caso, não seria melhor considerar crianças em acompanhamento e não apenas em tratamento?
- Alexandre: Comentário – O orçamento está com a soma incorreta dos itens contidos nas linhas do quadro.
- Felipe Caio: Se a presença de outra doença crônica é critério de exclusão, qual a razão para o item onde se registrará a presença de comorbidade ao final do formulário elaborado pelos autores do projeto?
- Marcus Jussier: Pacientes com complicações da anemia falciforme, como acidente vascular encefálico embólico, serão excluídos da pesquisa?
- Luciano: O que é qualidade de vida? Não é uma expressão muito abrangente para ser focalizada em uma pesquisa científica?
- Isabel: De acordo com outros estudos, quais os resultados esperados?
- Luan: Por que será usado o teste t de Student e não o teste qui-quadrado? Se é um estudo descritivo, será necessário fazer análise inferencial?
- Gustavo: Comentário - O tempo de coleta de dados (cinco meses) parece muito pequeno no cronograma, em relação á duração total do trabalho (14 meses).
- Carlos: A variável primária será o diagnóstico de anemia falciforme ou de traço falcêmico?
- Jônatas: As variáveis primárias não deveriam ser o diagnóstico de anemia falciforme e de traço falcêmico, ao invés de doença falciforme?
- Renata: Que critério diagnóstico de anemia falciforme será considerado para o estudo?
- Natália: Os diagnósticos de anemia falciforme e de traço falciforme não deveriam figurar com variáveis secundárias?
- Wellington: A condição de complicação aguda nos últimos três meses como critério de exclusão será determinada pelo médico hematologista do serviço?

Fonte da figura: edwardboches.com