26 de fevereiro de 2012

Alta prevalência de Transtornos Psiquiátricos em São Paulo, Brasil


Pesquisa de Andrade et al. (2012), publicada neste mês de fevereiro na Revista PLoS ONE, mostrou que 10% da população em São Paulo tem doenças psiquiátricas graves. Esse índice está acima da média de outros 14 países, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos EUA, a prevalência é de 5,7%.

A violência urbana, problemas com transporte e falta de apoio social  são possíveis fatores que explicam a elevada frequência de transtornos mentais na população; 54% dos entrevistados relataram ter vivido uma experiência ligada a crimes (vítima ou testemunha de assaltos e sequestros).

Apenas um terço dos entervistados com transtornos graves recebeu tratamento nos 12 meses anteriores às entrevistas.

Os autores avaliaram uma amostra representativa de domicílios de 5.037 adultos foi entrevistada com a OMS Composite International Diagnostic Interview (CIDI), para gerar diagnósticos de DSM-IV de transtornos mentais dentro de 12 meses antes da entrevista. Regressão logística múltipla foi utilizada para avaliar correlatos individuais e contextuais de distúrbios, tratamento e gravidade.

Referência
ANDRADE, L. et al. Mental Disorders in Megacities: Findings from the São Paulo Megacity Mental Health Survey, Brazil. PLoS ONE, 7 (2): e31879. Disponível em: http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0031879;jsessionid=4151EEE277978104A67C1B5132944915. Acesso em: 26 fev. 2012.

23 de fevereiro de 2012

Imagem Semiológica: Xantomatose Eruptiva


A foto apresenta uma paciente de 15 anos com lesões cutâneas castanho-amareladas, sob a forma de pápulas e placas, localizadas na face. Trata-se de uma condição caracterizada pelo desenvolvimento de xantomas eruptivos, cujo conteúdo é predominantemente lipídico.

Xantomas podem ser encontradas numa variedade de tecidos, incluindo a pele, tendões, articulações dos joelhos e cotovelos.

A xantomatose pode estar associada com alterações do metabolismo dos lipídeos, geralmente hipertrigliceridemia e níveis elevados de quilomícrons ou de lipoproteínas de densidade muito baixa. Pode também ser observado em pacientes diabéticos não responsivos a insulinoterapia.

Diferentes classificações de xantomas planos têm sido apresentadas e, em geral estes diferenciam-se em dois grupos: 1) xantomas planos com aumento do nível sérico de lipídeos; 2) xantomas planos com nível normal de lipídeos séricos. Esse segundo grupo pode ainda ser do tipo idiopático ou associado ao mieloma múltiplo.
  
Afecção pouco frequente, geralmente ocorre em adultos, embora na foto acima observou-se em uma adolescente e foi confundida com acne.

Ver revisão sobre xantomas cutâneos neste blog no seguinte link:
http://semiologiamedica.blogspot.com/2009/12/xantomas.html

Referências
FAGUNDES, P. P. S. et al. Xantoma eruptivo com aspecto histopatológico inusitado simulando granuloma anular: Relato de caso. An. Bras. Dermatol. 84 (3): 289-292, 2009.
RECARTE, M. et al. Xantomas eruptivos. Dermatol Argent 14 (1): 56-59, 2008

20 de fevereiro de 2012

Simpósio "Aplicações Práticas do Eletrocardiograma"


A Liga Acadêmica de Cardiologia e Cirurgia Cardíaca da Paraíba (LAC) promove o I Simpósio "Aplicações Práticas do Eletrocardiograma", dentro do Projeto "Educação Continuada em Cardiologia", a ser realizado nos dias 05 e 06 de março de 2012, no Auditório do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa/PB. 
Contato: Anielly (83) 8718-3436 / Jessica (83) 8853-1516.

16 de fevereiro de 2012

Validade Científica: Erros Sistemáticos


Por Thereza Taylanne Souza Loureiro Cavalcanti
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Na interpretação de resultados de pesquisas científicas, é necessária a devida observação de todas as possibilidades de erros, que podem ser erros aleatórios (acaso) ou sistemáticos (vieses, confundimento e interação).  A validade de um estudo é o seu grau de conformidade com uma verdade. A validade externa refere-se à capacidade de generalização, enquanto validade interna é o grau em que os resultados da pesquisa refletem acuradamente a realidade observada. Viés é um desvio sistemático dessa verdade. Confundimento é a incapacidade de se distinguirem os efeitos de duas ou mais variáveis, enquanto na interação, o efeito de um fator depende da interveniência de uma terceira variável.

Palavras-chave: Metodologia. Validade dos Testes. Viés (Epidemiologia).

Na leitura de trabalhos científicos, é preciso atentar à existência dos erros aleatórios (acaso) e dos erros sistemáticos (vieses, confusão, interação), que todos os estudos possuem, para avaliar se suas conclusões são válidas. Até que ponto os resultados de um estudo estão distorcidos em decorrência de erros metodológicos na sua concepção (modelo) e/ou na análise dos dados?

Em geral, técnicas de medição empregadas em pesquisas têm imperfeições que dão origem a erros nas estimações de variáveis. Estes são denominados "erros sistemáticos", que são erros grosseiros que podem decorrer, por exemplo, da má leitura de escalas de avaliação, de ajustes imperfeitos de instrumentos de coleta de dados, da seleção enviesada dos sujeitos da amostra; ou seja, esses são erros decorrentes basicamente de problemas nas técnicas e no método empregados na investigação.

Os erros aleatórios, por sua vez, decorrem do acaso, ou seja, resultam de fatores não controlados na execução da coleta de dados, e seu efeito consiste em produzir acréscimos ou decréscimos nos valores obtidos. Estes efeitos aleatórios são a causa de variações em observações repetidas do que se está mensurando. Ao contrário do erro sistemático, que desvia os valores em uma direção ou em outra, o erro aleatório tem igual probabilidade de resultar em observações acima ou abaixo do valor verdadeiro.

Embora não seja possível compensar o erro aleatório de um resultado de medição, ele pode ser reduzido, aumentando-se o tamanho da amostra. Os erros sistemáticos também não podem ser eliminados, porém podem ser reduzidos com emprego do devido rigor na metodologia e nas técnicas de pesquisa (GALLAS, 1994).

O presente texto trata dos erros sistemáticos. Estes erros podem afetar a validade de uma pesquisa.

Validade científica é a acurácia das observações no contexto de uma pesquisa. Existem descrições de muitas formas de validade, mas em metodologia científica destacam-se a validade interna e a externa.

Um estudo tem validade interna quando seus resultados não podem ser atribuídos a erros sistemáticos. A validade interna, por sua vez, é o grau em que os resultados de uma pesquisa refletem de fato o real. Esta é uma característica de mensuração que se relaciona à qualidade dos resultados, ou seja, ao grau de conformidade com uma verdade padrão (LANGENDOLFF-PELLEGRINI, 2008). Esse conceito relaciona-se à diferença entre o valor efetivo de uma quantidade medida e o valor provável que foi derivado de uma série de medições (MONICO, 2009).

Mas será que os achados específicos de um estudo em uma população específica, mesmo com validade interna, podem ser generalizados para uma outra população? Esta é a chamada  validade externa, que se refere à capacidade de os dados serem generalizados da amostra estudada para a população-alvo e para outras populações além da que foi objeto da pesquisa. O grau de confiança de uma extrapolação é melhorado através do emprego de técnicas aleatórias de amostragem aleatória e de uma amostra mais numerosa (COOPER; SCHINDLER, 2003). Trata-se, portanto, da possibilidade de generalização para a população-alvo dos resultados obtidos na amostra.

Muitos instrumentos de coleta de dados são padronizados e precisam ser submetidos a processos de validação para uma determinada população. Nesse aspecto, segundo Cooper e Schindler (2003) reconhecem-se classicamente três formas principais de validação de instrumentos de pesquisa: (1) validade de conteúdo; (2) validade de critério e (3) validade de constructo.

A validade de conteúdo remete ao quanto o instrumento de pesquisa fornece cobertura adequada do tópico em questão, ou seja, a escala de mensuração mede realmente o que se espera que ela mensure. A validade de critério é o sucesso de medidas usadas para predições ou estimativas. A validade de constructo, por sua vez, avalia o grau de aptidão de um instrumento, em medir, ou inferir, a presença de uma propriedade abstrata. Sobre validade de critério, ou acurácia, ver postagem anterior deste blog no seguinte link:
http://semiologiamedica.blogspot.com/2008/12/diagnstico-probabilstico.html

A validação de um teste, ou escala de medição, referente a uma determinada variável, presume que haja um padrão-ouro com o qual o teste é comparado. Como os valores efetivos nunca são conhecidos de fato, na prática, não existe uma escala de mensuração que seja perfeita (LANGENDOLFF; PELLEGRINI, 2008).

Os erros sistemáticos que podem afetar a validade dos estudos dependem também do modelo da pesquisa. Pinho-Spyrides (2007) citam, nesse sentido, algumas desvantagens dos estudos observacionais quando comparados aos estudos experimentais: naqueles, os pesquisadores só podem observar as variáveis explanatórias, sem controlá-las, o que pode favorecer a ocorrência de alguns tipos de erros, tais como:
(a) Viés de seleção (amostragem): recusas à participação no estudo podem gerar controles não representativos da população em risco;
(b) Confundimento (confusão): quando não se consegue distinguir os efeitos de duas ou mais variáveis separadamente uns dos outros; isto pode ocorrer quando a associação é resultado de variáveis não controladas no estudo;
(c) Viés de informação (mensuração): erros de medição,  na coleta, nos formulários, nas perguntas e despreparo dos entrevistadores.

Alguns vieses são evitáveis. No estudo experimental, ou ensaio clínico, por exemplo, os erros sistemáticos são diminuídos, se tanto sujeito, grupo e tratamento forem escolhidos casual e cegamente, além de serem pareados. Essa homogeneização dos grupos amostrais permite manter os fatores de confusão minimamente equivalentes entre os grupos, tornando-os irrelevantes quando estes são comparados. Entende-se como confundimento a incapacidade de se distinguirem os efeitos de duas ou mais variáveis quando separadas entre si (BALDUCCI, 2011; PINHO; SPYRIDES, 2007).

Contudo, mesmo nos ensaios clínicos, o viés na informação, na coleta, na avaliação e na classificação dos dados, também pode ser uma das maiores ameaças à sua validade; por outro lado, algumas condutas exigidas em estudos clínicos randomizados duplo-cegos podem comprometer a generalização de seus resultados, ou seja, a sua validade externa (DAINESI, 2010).

Uma vez que os vieses e agentes de confusão foram considerados no delineamento do estudo e na sua análise, deve-se avaliar também se existe interação entre as variáveis, ou seja, se o efeito de uma na resposta depende do efeito de outra. É muito importante averiguar essa possível relação entre os fatores antes de analisá-los isoladamente. Essas informações também devem ser apresentadas nos resultados da pesquisa (BALDUCCI, 2011).

Ainda como registra Balducci (2011), a interpretação causal (relação causa-efeito) dos resultados de uma pesquisa também é um aspecto delicado. A inferência causal depende do delineamento de um estudo, e não no tipo de análise estatística efetuada. Estudos transversais não permitem inferência causais.

Portanto, para que uma pesquisa tenha resultados válidos, é preciso que seja conduzida com rigor científico. São imprescindíveis o cuidado e o zelo nos métodos da pesquisa para que os resultados possam ser acurados e precisos.

Referências
BALDUCCI, I. Bioestatística e Metodologia Científica. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAPxkAA/bioestatistica-texto-metodologia-cientifica# Acesso em: 16 fev. 2012.
COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2003.
DAINESI, S. M. A metodologia probe pode ser considerada uma alternativa aos estudos randomizados duplo-cegos? Rev. Assoc. Med. Bras. 56 (2): 132-132, 2010.
GALLAS, R. M. Guia Para a Expressão da Incerteza de Medição. INMETRO, 1998,
LANGENDOLFF, A.; PELLEGRINI, G. Precisão e Acurácia. In: Fundamentos de cartografia e o sistema de posicionamento global. Santa Maria: Ministério da Educação, 2008. p. 15-16.
MONICO, J. F. G. et al. Acurácia e precisão: Revendo os conceitos de forma acurada. Bol. Ciênc. Geod. 15 (3): 469-483, 2009.
PINHO, A. L. S.; SPYRIDES, M. H. C. Métodos Estatísticos I. Natal: Departamento de Estatística – UFRN, 2007.

Crédito da Imagem: LANGENDOLFF e PELLEGRINI (2008).

7 de fevereiro de 2012

Frederick Novy: Curiosidade Científica Sempre


Frederick George Novy (1864-1957), médico americano e professor da Universidade de Michigan,  foi um microbiologista muito influente do início do século XX. Ele criou técnicas de cultura para visualizar bactérias anaeróbicas, parasitas e espiroquetas.

Em 1909, começou a investigar a causa de mortes inexplicáveis ​​em ratos de seu laboratório, e que hipoteticamente deviam-se a um "organismo ultramicroscópico" ou "vírus filtrável". Entretanto, em 1918, os tubos de ensaio que ele estava usando para estes experimentos desapareceram de seu laboratório. Seu sonho de encontrar um vírus como a causa provável das mortes misteriosas de seus ratos, aparentemente, foi perdido. Frederick Novy aposentou-se em 1935.

Trinta e três anos depois, em 1951, uma caixa contendo os tubos de ensaio foi descoberta por acaso durante a limpeza do laboratório. A curiosidade de Novy não tinha diminuído com o tempo. Avisado sobre o achado, e 16 anos após sua aposentadoria, ele voltou ao antigo laboratório, com 88 anos de idade, para continuar os experimentos que ele tinha começado mais de 40 anos antes.

Novy completou suas investigações em 1953 e publicou suas descobertas de que um vírus era de fato o organismo não identificado que havia matado ratos rapidamente seu laboratório em 1909.

Fonte: KASANJIAN, J. Lifelong Curiosity: Frederick Novy and the Rat Virus. Annals of Internal Medicine.  156 (3): 234-237, 2012.

4 de fevereiro de 2012

Qualificação dos Periódicos Científicos no Brasil

Por André Augusto Lemos Vidal de Negreiros
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB

Resumo
Existe uma grande quantidade de publicações em diversas áreas do conhecimento. É importante identificar o que é relevante, confiável e qualificado em meio à expressiva quantidade de documentos produzidos. No Brasil, o sistema Qualis avalia a qualidade dos periódicos. Esse sistema leva em conta um critério discutível, o Fator de Impacto, considerado restritivo e causa de insatisfação de muitos pesquisadores. A difusão do conhecimento científico no meio eletrônico deverá exigir a reformulação de indicadores de qualidade.

Palavras-chave: Periódicos. Qualificação. Sistemas.

A publicação de artigos em periódicos tem sido a forma mais importante de comunicação científica. Para isso, foi criada a revista científica, para possibilitar a divulgação de pesquisas pela comunidade científica. Antes de sua criação os resultados de pesquisas eram realizados através de cartas entre os cientistas (BEUREN; SOUZA, 2009).

A atual concepção de produtividade em pesquisa baseia-se principalmente na quantidade de artigos publicados em diferentes revistas, tornando o artigo um "capital simbólico", como afirmam Castiel e Sanz-Valero (2007).

No último século, o rápido aumento do número de títulos de revistas em todas as áreas do conhecimento vem sendo preocupação para os profissionais que se interessam pela qualidade da informação científica. Esse crescimento da produção do conhecimento científico no mundo torna-se irrelevante se não for acompanhado de sua divulgação com qualidade.

Assim, a avaliação de periódicos tem sido objeto de pesquisas desde 1960, envolvendo a busca de parâmetros para dimensionar a qualidade das informações registradas (GRUSZYNSKI, 2006). O sistema de avaliação por pares é um conceito central da comunicação científica, garantindo o mérito da publicação da produção científica de qualidade.

A visibilidade internacional das revistas científicas publicadas no Brasil é pequena, embora sejam editados cerca de 3.000 periódicos, menos de um décimo destes estão indexados na base íbero-americana Scielo (CABRAL-FILHO, 2008).

O critério pelo qual se classificam os periódicos sob os aspectos de forma e mérito (desempenho e conteúdo) serve, atualmente, como referência para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – do Ministério da Educação – MEC – para a classificação das publicações. As características dessas metodologias existentes dizem respeito ao uso de categorias que avaliam o conteúdo dos periódicos (mérito), também chamado aspectos intrínsecos ou intelectuais, e a forma (desempenho), conhecido como aspectos extrínsecos ou materiais (GRUSZYNSKI, 2005; KRYZANOWSKI; FERREIRA, 1998).

O Qualis foi introduzido pela CAPES em 1998, sendo definido como uma lista de veículos utilizados para a divulgação da produção intelectual dos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Até recentemente estes veículos eram classificados quanto ao âmbito de circulação (Local, Nacional, Internacional) e quanto à qualidade (A, B, C), para cada área de avaliação (ROCHA-E-SILVA, 2009). A Tabela 1 mostra os critérios da classificação na área de Medicina.

O Sistema Qualis avalia anualmente os periódicos das diferentes áreas em categorias A, B e C dentro dos âmbitos local, nacional e internacional. Subdividindo de nível de qualidade, o Qualis possui sete estratos: A1 e A2 (Excelência), B1, B2, B3, B4 e B5 (BAUMGARTEN et al, 2009).

Fonte: ROCHA-E-SILVA (2009)

Até o estrato Qualis B2, leva-se em consideração o Fator de Impacto, um sistema que determina a quantidade de vezes que uma publicação é citada em certo periodo de tempo, dividida pela quantidade de artigos publicados nesse mesmo período. A Thomson Reuters antiga Institute for Scientific Information mais conhecido como ISI utiliza nessa avaliação um período de dois anos. O Fator de Impacto é publicado no Journal Citation Report (JCR).

Os critérios da Qualis são considerados pouco claros, subjetivos e com variação muito frequente, tanto no âmbito de uma mesma área, quanto entre as áreas. As críticas dirigem-se à importância exagerada que estaria sendo atribuída à publicação em periódicos internacionais, a existência de conflitos na interpretação do que é artigo internacional, assim como a necessidade de serem consideradas as condições específicas de cada área. A avaliação da produção científica brasileira está, portanto, limitada a um único e discutível critério, o Fator de Impacto, que é considerado restritivo (ROCHA-E-SILVA, 2009).

A grande variedade de apresentação das revistas nacionais eletrônicas Qualis A e B levou a equipe do Portal de Periódicos da CAPES a recomendar aos editores uma padronização das informações básicas, tendo como referências o projeto SciELO (Scientific Eletronic Library Online) e Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) (GRUSZYNSKI, 2005).

Em relação ao modelo de acesso, destacam-se dois: a revista científica por assinatura (acesso restrito) e o acesso livre (acesso aberto/open acess). Este último relaciona-se a duas iniciativas, que são a Open Archives Initiative (OAI) e o Movimento de Acesso livre. Ambos visam ao acesso livre e gratuito à informação científica. Entre os princípios do Acesso Aberto destacam‐se: sistema de armazenamento a longo prazo, auto‐publicação, política de gestão com normas de preservação de objetos digitais, acesso para coleta e replicação de metadados, uso de padrões e protocolos que visam a troca de informações entre bibliotecas eletrônicas, e o uso de softwares de fonte aberta (open source) (GRUSZYNSKI,2005).

A esta iniciativa, está associado o programa Open Journal Systems (OJS), da British Columbia University. No Brasil, foi traduzido e adaptado pelo Instituto Brasileiro de Informa-ção em Ciência e Tecnologia (IBICT), originando o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER), disponibilizado em 2004 aos editores científicos. Através do SEER, o periódico ganha rapidez e transparência nos procedimentos editoriais, desde a submissão, avaliação, até a publicação on‐line e indexação. Ao utilizar o protocolo OAI‐PMH, ele possibilita o intercâmbio de metadados, ferramentas de apoio à pesquisa, assim como mecanismos para preservação dos conteúdos (GRUSZYNSKI, 2005).

Outra iniciativa é o projeto SciELO (Scientific Eletronic Library Online), desenvolvido pela FAPESP, CNPq e BIREME. A SciELO é um agregador não-comercial para consulta de periódicos do Brasil e do exterior, selecionados a partir de critérios internacionais de qualidade.Além disso, trabalha os artigos em formato eletrônico estruturados com aplicação do SGML, que alimenta bases de dados, gera circulação, faz com que a informação armazenada seja regatada com agilidade, além da possibilidade de links com outras bases de dados (GRUZYNSKI, 2005).

A área acadêmica impõe tantas variantes de qualidade que os ideais de quantificação para avaliação das publicações têm causado insatisfação de muitos pesquisadores. Atualmente, a divulgação em meio eletrônico e o aperfeiçoamento dos sistemas de busca estão proporcionando acesso a qualquer tipo de publicação em meio eletrônico. Essa revolução na mídia de difusão do conhecimento científico exigirá a reformulação de indicadores como o Fator de Impacto.

Referências
BAUMGARTEN, M. FAGUNDES, R.; MACIEL, E. Avaliação dos Periódicos Científicos: avanços e controvérsias. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
BEUREN, I. M.; SOUZA, J. C. Em busca de um delineamento de proposta para classificação de periódicos internacionais de contabilidade para o Qualis CAPES. Rev. contab. finanç. 19 (46): 44-58, 2008.
CABRAL-FILHO, J. E. Revistas cientificas brasileiras: publicar e perecer? Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 8 (4): 361-362, 2008.
CASTIEL, L. D.; SANZ-VALERO, J. Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria acadêmica? Cad. Saúde Pública 23 (12): 3041-3050, 2007.
GRUSZYNSKI, A. C. O design de periódicos científicos: qualificando a produção contemporânea. Anais do 7° Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, 2006, Curitiba.
GRUSZYNSKI, A.; CASTEDO, R. S. O projeto gráfico de periódicos científicos: uma contribuição aos roteiros de avaliação. Em Questão, Porto Alegre, 11 (2): 313-333, 2005.
GRUSZYNSKI, A. C. O design de periódicos científicos na contemporaneidade. In: Anais do VIII Seminário Internacional da Comunicação, 2005, Porto Alegre.
KRZYZANOWSKI, R. F.; FERREIRA, M. C. .Avaliação de periódicos científicos e técnicos brasileiros. Ciência da Informação, Brasília, 27 (2): 165-175, 1998.
ROCHA-E-SILVA, M. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics .64 (1): 1-4, 2009.

Imagem: Jornal da Ciência, SBPC.

2 de fevereiro de 2012

Imagem Semiológica: Lipohipertrofia Induzida por Insulina


Este homem de 55 anos de idade tem uma história de 31 anos de diabetes mellitus tipo 1 e chegou para uma avaliação clínica de rotina, a primeira em duas décadas. Seu regime de insulina consistia em uma combinação de insulina protamina neutra Hagedorn (NPH) e insulina de ação rápida. Desde o seu diagnóstico de diabetes, ele injetava insulina apenas em dois locais na região periumbilical. Duas tumorações eram visíveis e palpáveis no tecido subcutâneo, ambas firmes e pendentes (Figura). Foi feito o diagnóstico clínico de lipohipertrofia induzida por insulina. Esta condição tem sido documentada em pacientes em uso de várias preparações de insulina. Atenção especial deve ser dada à orientação do paciente sobre métodos corretos de injeção de insulina, a rotatividade do local e a inspeção de rotina desses locais. A lipohipertrofia pode ser desfigurante. O paciente foi orientado sobre a necessária rotatividade dos locais de injeção eusar uma agulha de 6 mm ao invés de uma 8 mm. A NPH foi substituída por insulina glargina. Perdeu-se o seguimento clínico do paciente.

FONTE: LANDAU, S. Insulin-Induced Lipohypertrophy. N Engl J Med, 366: e9, 2012. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMicm1101527?query=TOC. Acesso em: 02 fev. 2012.