Por Álvaro Luiz Vieira Lubambo de Brito
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB
Resumo
A acantose nigricans é uma lesão dermatológica caracterizada por espessamento e hiperpigmentação cutânea de aspecto aveludado, que se localiza principalmente em regiões flexurais como axila, região inguinal, pescoço, fossas anticubitais e poplíteas. A acantose nigricante é mais comumente relacionada à obesidade e à síndrome metabólica, no entanto existem formas de lesão congênita e mais raramente pode se apresentar como componente de uma síndrome paraneoplásica.
Palavras-Chave: Acantose nigricans. Obesidade. Dermatologia.
A acantose nigricans, ou acantose nigricante, foi primeiramente descrita em 1890 por Sigmund Pollitzer e Viktor Janovsky (1). Trata-se de uma condição dermatológica caracterizada sobretudo por espessamento acentuamento das linhas da pele e hiperpigmentação cutânea que, em conjunto, dá à pele um aspecto grosseiro e aveludado no local afetado. Esta lesão pode ocorrer, teoricamente, em qualquer local da pele, no entanto apresenta como principais sítios de ocorrência a região posterior do pescoço, axilas, face lateral do pescoço, superfícies flexoras dos membros, região periumbilical, inframamária, mucosa oral e, mais raramente, plantas dos pés e palmas das mãos (2).
Etiologicamente, a natureza da acantose nigricans pode ser classificada em benigna e maligna. As formas benignas podem ser de etiologia congênita (hereditária), idiopática, induzida por drogas (corticosteróides, ácido nicotínico e anticoncepcionais orais) ou relacionadas a endocrinopatias. As formas malignas se relacionam a neoplasias do trato gastrintestinal, sobretudo ao adenocarcinoma gástrico (1, 2, 3) .
As endocrinopatias representam as principais causas de acantose nigricans, sendo a obesidade o distúrbio mais frequentemente associado, e geralmente relacionado a hiperinsulinismo, diabetes mellitus e resistência periférica à insulina (2). Outros distúrbios endócrinos que também se relacionam com a acantose nigricans são a síndrome de Cushing, a síndrome dos ovários policísticos, as tireoideopatias, a doença de Addisson e a acromegalia (2, 3, 4).
Em termos epidemiológicos, a acantose nigricans apresenta prevalência que varia de 4 a 74%, variação que depende da idade, raça, frequência do tipo e do grau de obesidade, além da concomitância com endocrinopatias. Estudos populacionais demonstram que indivíduos negros são mais acometidos do que os pardos, e estes, mais acometidos que os brancos (2).
Por sua importante relação com os distúrbios metabólicos, a acantose nigricans tem sido descrita como importante preditor do risco de diabetes tipo 2 (3). Além disso, em populações em que a obesidade e o sedentarismo são comuns e aceitos dentro do contexto familiar, a acantose nigricans tem sido utilizada como importante justificativa para a adesão a uma dieta e estilo de vida mais saudáveis pela melhora das lesões dermatológicas que se observa após a introdução dessas medidas não-farmacológicas (3,5).
A acantose nigricans também pode se manifestar como síndrome paraneoplásica, sendo o adenocarcinoma gástrico a principal neoplasia relacionada com esta condição (2, 4). A acantose nigricans maligna geralmente aparece de maneira súbita e progride muito rapidamente, as lesões tendem a ser mais graves e extensas, costumam apresentar acometimento das mucosas (este é incomum nos casos benignos) (2, 4). As neoplasias associadas à acantose nigricans costumam ser agressivas e com sobrevida menor que dois anos (2).
É importante a determinação histopatológica da lesão porque esta pode representar o primeiro sinal da doença maligna; portanto, diante de uma apresentação de acantose nigricans na ausência de relação com endocrinopatias, a investigação diagnóstica para causa oncológica deve ser iniciada.
1- RIVERA, A. P. et al. Acantosis Nigricans Maligna: Reporte de um Caso y Revisón de la Literatura. Rev Gastroenterol Perú. 25 (1): 101-105, 2002.
2- ARAÚJO, L. M. B. et al. Acanthosis Nigricans em mulheres obesas de uma população miscigenada: um marcador de distúrbios metabólicos. An. Bras. Dermatol. 77 (5): 537-543, 2002.
3- KONG, A. S. et al. Acanthosis Nigricans: high prevalence and association with diabetes in a practice-based research network consortium – a Primary Care Multi-Ethnic Network (PRIME Net) Study. J Am Borad fam Med. 23 (4): 476-485, 2010.
4- GARCÍA, R. C; GASCÓN, M. F.; WONG, E. A. R. Acantosis Nigricans y Cáncer gástrico. Rev Gastoenterol Perú. 60 (2): 144-148, 2002.
5- SCHWARTZ, R. A. Acanthosis Nigricans. J Am Acad Dermatol. 31 (1): 1-19, 2004.
Fonte da Imagem: http://www.atlasdermatologico.com.br/