Resumo
A doença periodontal é um quadro infeccioso e inflamatório extremamente prevalente na população e está associada a maior risco de doenças cardiovasculares, resultados adversos da gravidez, artrite reumatóide, hiperlipidemia e diabetes mellitus. Vários patógenos periodontais foram detectados em placas de ateroma. A manifestação inicial da doença periodontal é a gengivite que, se não tratada precocemente, pode evoluir para periodontite crônica, com risco de repercussões sistêmicas importantes. O clínico deve conhecer a existência dessa associação mórbida.
A doença periodontal é um quadro infeccioso e inflamatório extremamente prevalente na população e está associada a maior risco de doenças cardiovasculares, resultados adversos da gravidez, artrite reumatóide, hiperlipidemia e diabetes mellitus. Vários patógenos periodontais foram detectados em placas de ateroma. A manifestação inicial da doença periodontal é a gengivite que, se não tratada precocemente, pode evoluir para periodontite crônica, com risco de repercussões sistêmicas importantes. O clínico deve conhecer a existência dessa associação mórbida.
Palavras-Chave: Periodontite. Inflamação. Aterosclerose.
A doença periodontal associa-se a risco aumentado de doenças cardiovasculares, resultados adversos da gravidez, artrite reumatóide, hiperlipidemia e diabetes mellitus. Muitos estudos de coorte, estudos in vitro e em animais sugerem que a inflamação sistêmica devida a agentes patogênicos da doença periodontal pode desempenhar um papel importante na iniciação e progressão dessas doenças. Portanto, infecções periodontais devem ser consideradas como fator de risco importante para várias doenças sistêmicas, e o clínico deve estar ciente disso (MANJUNATH et al., 2011).
A doença periodontal é uma enfermidade infecciosa muito
comum, afetando cerca de 50% da população
europeia (BELSTROM et al., 2012)
e 93% da brasileira (CHAMBRONE et al., 2008). Assim, quase todas as pessoas apresentam algum grau de doença periodontal inflamatória
crônica. Esta ocorre inicialmente na gengiva
em resposta a antígenos bacterianos da placa dentária que se acumulam ao longo
da margem gengival, a placa bacteriana, que é um biofilme constituído por
bactérias, proteínas salivares e células epiteliais descamadas. Sua
manifestação inicial é a gengivite que, se não tratada precocemente, pode
evoluir para periodontite. Assim, em uma primeira fase, os sinais e sintomas
clínicos são "surdos", sem qualquer tipo de dor e que, por isso, passam despercebidos ao próprio paciente. A hemorragia gengival associada é um dos primeiros
sintomas que chama realmente a atenção (ALMEIDA et al., 2006).
Inicialmente ocorre um desequilíbrio entre
bactérias e defesas do hospedeiro, o que leva a alterações vasculares e à formação
de exsudado inflamatório. Esta fase manifesta-se clinicamente por alteração da cor da gengiva, hemorragia e edema, sendo uma situação reversível
se a causa for eliminada. Esta situação, definida como gengivite, possibilita um maior acesso
dos agentes bacterianos agressores e/ou seus produtos às áreas subjacentes,
podendo resultar na formação de bolsas periodontais, com perda óssea e uma
contínua migração apical do epitélio. Este tipo
de epitélio oferece menos resistência aos agentes agressores, o que
perpetua o processo inflamatório (ALMEIDA et al., 2006). Portanto, a
gengivite é precursora da doença periodontal, e apresenta-se como hiperemia e edema gengival (Figura), decorrentes da má higiene oral.
Figura. Sinais de gengivite. Foto: nycomprehensivedentistry.com
A ligação entre saúde oral e doenças cardiovasculares tem sido proposta há mais de um século. Recentemente, a preocupação com possíveis ligações entre doença periodontal e doença vascular aterosclerótica intensificou-se e está dirigindo um campo ativo de investigação sobre uma possível associação de causalidade. Os dois transtornos compartilham vários fatores de risco comuns, como o tabagismo, idade e diabetes mellitus (LOCKHART et al., 2012).
A teoria de que a aterosclerose passa por um processo
inflamatório acentuou o interesse no papel que alguns agentes
infecciosos podem ter no início, ou mesmo na modelação, da aterogênese. Dentre
os principais agentes destacam-se Chlamydia pneumoniae, citomegalovírus e Helicobacter pylori. As infecções desencadeariam alterações na
biologia das células endoteliais e do músculo liso, predispondo à aterogênese.
Há uma forte ligação entre doença periodontal e diabetes mellitus. A doença periodontal tem incidência aumentada em indivíduos diabéticos, e sua progressão e gravidade são maiores nesses pacientes (ALMEIDA et al., 2006). A fisiopatologia da doença periodontal associada ao diabetes mellitus está ilustrada na figura abaixo (ALVES et al., 2007).
Figura: Fisiopatologia da periodontopatia associada ao diabetes mellitus
Fonte: ALVES et al. (2007)
A periodontite também está associada à hiperlipidemia. Esta seria induzida pela periodontite, e parece estar associada à
liberação de citocinas, em resposta à infecção por gram-negativos, principalmente
a interleucina-1 e o fator de necrose tumoral. Ambas as citocinas podem alterar
o metabolismo lipídico e produzir hiperlipidemia (ALMEIDA et al.,
2006).
Há evidências de que a periodontite está associada com um risco aumentado de acidente vascular cerebral. No entanto, os resultados deste meta-análise devem ser interpretados com cautela, devido à heterogeneidade dos estudos, assim como a diferenças na definição de periodontite (SFYOERAS et al., 2012).
Há evidências de que a periodontite está associada com um risco aumentado de acidente vascular cerebral. No entanto, os resultados deste meta-análise devem ser interpretados com cautela, devido à heterogeneidade dos estudos, assim como a diferenças na definição de periodontite (SFYOERAS et al., 2012).
Atualmente, há uma grande controvérsia acerca da possibilidade
de condições inflamatórias crônicas como a periodontite não tratada, condicionarem também a ocorrência de artrite reumatóide (ALMEIDA et al., 2006).
Recentemente foi sugerido também que a doença periodontal
na gravidez seja uma causa determinante de baixo peso ao nascer (LOURO et al.,
2001).
A doença periodontal é considerada um problema de saúde pública em
todo o mundo devido à sua alta incidência e prevalência, e por
estar associada a doenças sistêmicas importantes. O clínico deve conhecer a existência dessa associação mórbida.
Referências
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Imagem: perio.org.