- A que serve a pesquisa em nossa universidade?
- Qual a política de produção científica atualmente implementada em
nosso país?
- Para que serve a
pós-graduação: Formação de professores? Desenvolvimento técnico dos
profissionais? Formação de pesquisadores?
- Que pesquisa
defendemos e para que?
O Prof. Ângelo Pessoa afirmou que precisa haver produção
científica na universidade, mas não produtivismo. Ele considerou que, a exemplo
dos professores, muitos dos próprios alunos de graduação também já estão sendo
condicionados por essa lógica do produtivismo. Exemplificou isso com o caso de
um aluno da UFPB que praticamente não vinha assistindo às aulas,
dedicando-se a apresentar trabalhos em vários congressos da sua disciplina,
nacionais e internacionais. "Muitos alunos de graduação já estão sendo
corrompidos pelo produtivismo, preocupando-se apenas com o que dá pontuação no
Lattes". Comentou ainda sobre a ocorrência frequente do auto-plágio, em
que se publica várias vezes o mesmo trabalho, com títulos diferentes,
destacando, neste sentido, que isso não é produtividade.
O Prof. Ângelo Pessoa continuou, mas discorrendo, desta vez, sobre
a falta de compromisso e seriedade de muitos docentes universitários, e que
falta de compromisso ocorre de uma forma geral. Afirmou que muitos apenas
recebiam seus salários, mas não trabalhavam efetivamente. Comentou exemplos
conhecidos de professores que passaram pela UFPB sem nunca ter trabalhado na
realidade.
O Prof. Ângelo mencionou também que é importante
combater a dicotomia ensino-pesquisa, salientando o fato de que o docente é contratado através dos concursos para as universidades públicas
para o cargo de Professor de Ensino Superior e, portanto, não pode querer se
dedicar exclusivamente à pesquisa, e se deseja ser exclusivamente pesquisador,
não deveria prestar concurso para professor. "Se alguém quer ser
pesquisador, que busque realizar concurso em outras entidades em que o
foco seja a pesquisa", disse.
Concluiu afirmando que é importante que se publique, mas que se
mantenha o compromisso com o ensino também, atando a ponta da ciência com o
essencial da graduação, ou seja, o ensino voltado à formação profissional.
Em seguida, o Prof. Fernando Cunha passou a
apresentar suas ideias, afirmando que não vivemos em uma sociedade do
conhecimento, mas na "sociedade da ilusão". A ciência é realmente,
segundo ele, fundamental para a humanidade. Mas também distinguiu
conceitualmente produtividade de produtivismo. Diferente da produtividade, o
produtivismo estaria pautado na pragmatismo e nos ditames mercadológicos.
O Prof. Fernando prosseguiu mencionando que o sistema
de avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), que se baseia na lógica do produtivismo, criou um novo status para
a função docente. Comentou ainda a meta inalcançável representada pelas
exigências da Capes, guiada pelo produtivismo, pois a produtividade tem uma
validade, que atualmente é de três anos, e que considera primordialmente a
dimensão quantitativa da produção. Destacou que essa lógica fez com que o
professor passasse a ser reconhecido, e a se reconhecer, pela sua produção
científica. Finalizou, então, concordando com o Prof. Ângelo, que falou anteriormente,
no sentido de que não se pode dicotomizar ensino e pesquisa na prática docente.
Estas foram
as questões norteadores da mesa de discussão realizada hoje no auditório da
reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com a temática
"Pós-graduação e produtivismo acadêmico: os desafios da produção do
conhecimento científico na contemporaneidade", com os palestrantes convidados Prof.
Ângelo Emílio da Silva Pessoa (Departamento de História da UFPB) e Prof.
Fernando Cunha (Departamento de Educação Física da UFPB). A mesa de discussão
foi promovida pelos pós-graduandos da UFPB e pelo comando local de greve
(Sindicato dos Docentes da Universidade Federal da Paraíba - Adufpb).
O professor
salientou que não é contra a produtividade, mas contra o produtivismo, que se
prende a critérios puramente quantitativos, e não promove avanços. Importante
mesmo, segundo ele, é avaliar qual é repercussão social do conhecimento e qual
é a ética que permeia a atuação do pesquisador. Afirmou ainda que a ética está
banida do contexto dessa competitividade desenfreada na pesquisa nas
universidades. Para ele, é importante que se discuta o rigor científico, o
compromisso social da pesquisa, e que, antes de tudo, a pesquisa não se
constitua apenas elemento do produtivismo para estabelecer "carreirismos".