4 de outubro de 2012

Necessidade de Cuidados Paliativos em Enfermarias de Clínica Médica

Na reunião de ontem do Grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME), foi apresentado e discutido projeto de pesquisa sobre a necessidade de cuidados paliativos em enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
Trata-se de uma temática ainda pouco pesquisada na área médica. A Medicina Paliativa só foi considerada uma nova área de atuação médica, ou uma nova especialidade, pela Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) 1973/2011 em agosto do ano passado. A referida Resolução do CFM associa a área de medicina paliativa às especialidades de clínica médica, oncologia, geriatria, medicina de família e comunidade, pediatria e anestesiologia.
A assistência hospitalar desempenha um papel importante no final da vida, mas pouco se sabe sobre a magnitude e as características da população que necessita de internamento paliativo em hospitais gerais. Cuidados Paliativos são prestados a pacientes com doenças irreversíveis quando se reconhece que eles se encontram fora de possibilidades terapêuticas de cura, sendo o enfoque posto no controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida (MONTEIRO, 2009).
A despeito da relevância dessa área, a prática dos Cuidados Paliativos é uma modalidade de assistência ainda pouco difundida. No Brasil, ainda são poucos os serviços de Cuidados Paliativos. No país, a filosofia dos Cuidados Paliativos sempre foi exercida de forma assistemática. Como atualmente o número de pessoas com doenças crônico-evolutivas é cada vez maior, sobretudo idosos com doença em fase avançada, torna-se crucial a preparação de profissionais e serviços de saúde para essa realidade, além da realização de estudos de pesquisa enfocando tal problema.
Um número significativo de médicos relata dificuldades no controle da dor e de outros sintomas no atendimento aos doentes terminais, assim como em lidar com os parentes no seu sofrimento emocional e necessidades psicossociais. Relatam-se muitos problemas com o controle dos sintomas e da comunicação nesses ambientes e com o treinamento inadequado de estudantes de Medicina e médicos em Cuidados Paliativos.
Em um estudo em que foram observados pacientes ditos terminais, verificou-se que eles receberam atenção insuficiente, tanto por parte dos médicos, quanto da enfermagem (MILLS et al., 1994). Neste estudo, demonstrou-se que os sintomas físicos dos pacientes terminais estavam inadequadamente controlados, e cuidados básicos de enfermagem foram muitas vezes omitidos. Outro estudo mostra que as pessoas que morrem no hospital muitas vezes têm dor, dispnéia, agitação e outros sintomas que são difíceis de controlar, e que, embora o paciente desejasse cuidados de conforto, muitos continuaram em tratamentos agressivos até a morte (HOMSI et al., 2002).
O principal problema de pesquisa deste estudo é: a frequência em que pacientes internados em enfermarias de clínica médica geral do Hospital Universitário Lauro Wanderley necessitando de cuidados paliativos é alta? O problema de pesquisa secundário é: o resultado obtido pelo paciente com a assistência recebida no serviço em relação ao controle da dor e desconforto é insuficiente? O objetivo geral deste estudo é identificar a prevalência de necessidade de Cuidados Paliativos e verificar como estes são organizados nas enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, Paraíba, Brasil.
A população será constituída por todos os pacientes atendidos nas enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley no período de agosto de 2012 a junho de 2013. O delineamento do estudo será de natureza quantitativa e seguirá um modelo observacional e longitudinal.
A amostragem será não probabilística por conveniência com recrutamento consecutivo de pacientes hospitalizados no referido serviço. O tamanho da amostra será de 250 pacientes, com base no trabalho de Astradsson et al. (2001). Serão realizadas entrevistas diretas estruturadas mediante aplicação de instrumentos padronizados. Os pacientes serão entrevistados à beira-do-leito. Também serão analisados os prontuários médicos e as prescrições.
Os pacientes que preencherem a definição de pacientes com necessidade de cuidados paliativos, de acordo com os critérios da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (2009), serão avaliados com a Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton e o instrumento de avaliação de cuidados paliativos. As informações sobre características sócio-demográficas, diagnóstico e plano de cuidados serão registradas e analisadas.
Já foi realizado um pré-teste pelas pesquisadoras, membros do GESME, e discutidos os ajustes necessários no protocolo da investigação, para serem implementados na coleta de dados que começará ainda esta semana. O levantamento dos dados será executado por duas estudantes do sétimo período de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, previamente treinadas. 
A variável primária é a necessidade de cuidados paliativos, avaliada por meio dos critérios da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (2009). As variáveis secundárias serão o escore da Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton, a Escala de Desempenho em Cuidados Paliativos e o instrumento de avaliação de cuidados paliativos elaborado pelos autores. 
Na estatística descritiva serão determinadas as frequências relativas e absolutas das variáveis qualitativas, assim como médias e desvios-padrão das variáveis quantitativas. Na estatística inferencial serão empregados os testes de Qui-quadrado para as variáveis dicotômicas e os testes de Mann-Whitney e Kruskall-Wallis para variáveis contínuas. Será estimado o índice de correlação linear de Spearman para avaliar a associação entre os escores das escalas.
Referências
ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS. Manual de cuidados paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009.
ASTRADSSON, E.; GRANATH, L.;  HEEDMAN, P. A. Cancer patients hospitalised for palliative reasons. Symptoms and needs presented at a university hospital. Supportive Care in Cancer, 9 (2):97-102, 2001.
HOMSI, J.; WALSH, D.; NELSON, K. A.  et al. The impact of a palliative medicine consultation service in medical oncology.Suport Care Cancer,  10 (4): 337-42, 2002.
MILLS, M.; DAVIES, H., MACRAE, W. Care of dying patients in hospital. BMJ 309: 583-6, 1994.
MONTEIRO, D. R.; KRUSE, M. H. L.; ALMEIDA, M. A. Avaliação do instrumento Edmonton Symptom Assessment System em cuidados paliativos: revisão integrativa. Rev. Gaúcha Enferm. 31 (4): 785-793, 2010.