Na reunião de ontem do Grupo de
Estudos em Semiologia Médica (GESME), foi apresentado e discutido projeto de
pesquisa sobre a necessidade de cuidados paliativos em enfermarias de Clínica
Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley.
Trata-se de uma temática ainda pouco pesquisada na
área médica. A
Medicina Paliativa só foi considerada uma nova área de atuação médica, ou uma
nova especialidade, pela Resolução do Conselho
Federal de Medicina (CFM) 1973/2011 em agosto do ano passado. A referida
Resolução do CFM associa a área de medicina paliativa às especialidades de
clínica médica, oncologia, geriatria, medicina de família e comunidade,
pediatria e anestesiologia.
A assistência hospitalar desempenha um papel
importante no final da vida, mas pouco se sabe sobre a magnitude e as características
da população que necessita de internamento paliativo em hospitais gerais.
Cuidados Paliativos são prestados a pacientes com doenças irreversíveis quando
se reconhece que eles se encontram fora de possibilidades terapêuticas de cura,
sendo o enfoque posto no controle dos sintomas e melhora da qualidade de vida
(MONTEIRO, 2009).
A despeito da relevância dessa área, a prática dos
Cuidados Paliativos é uma modalidade de assistência ainda pouco
difundida. No Brasil, ainda
são poucos os serviços de Cuidados Paliativos. No país, a filosofia dos
Cuidados Paliativos sempre foi exercida de forma assistemática. Como atualmente
o número de pessoas com doenças crônico-evolutivas é cada vez maior, sobretudo
idosos com doença em fase avançada, torna-se crucial a preparação de
profissionais e serviços de saúde para essa realidade, além da realização de
estudos de pesquisa enfocando tal problema.
Um número significativo de
médicos relata dificuldades no controle da dor e de outros sintomas no
atendimento aos doentes terminais, assim como em lidar com os parentes no seu
sofrimento emocional e necessidades psicossociais. Relatam-se muitos
problemas com o controle dos sintomas e da comunicação nesses ambientes e com o
treinamento inadequado de estudantes de Medicina e médicos em Cuidados
Paliativos.
Em um estudo em que foram observados pacientes
ditos terminais, verificou-se que eles receberam atenção insuficiente, tanto
por parte dos médicos, quanto da enfermagem (MILLS et al., 1994). Neste estudo,
demonstrou-se que os sintomas físicos dos pacientes terminais estavam
inadequadamente controlados, e cuidados básicos de enfermagem foram muitas
vezes omitidos. Outro estudo mostra que as pessoas que morrem no hospital
muitas vezes têm dor, dispnéia, agitação e outros sintomas que são difíceis de
controlar, e que, embora o paciente desejasse cuidados de conforto, muitos
continuaram em tratamentos agressivos até a morte (HOMSI et al., 2002).
O principal problema de pesquisa deste estudo é: a
frequência em que pacientes internados em enfermarias de clínica médica geral
do Hospital Universitário Lauro Wanderley necessitando de cuidados paliativos é
alta? O problema de pesquisa secundário é: o resultado obtido pelo paciente com
a assistência recebida no serviço em relação ao controle da dor e desconforto é
insuficiente? O objetivo geral deste estudo é identificar a prevalência de
necessidade de Cuidados Paliativos e verificar como estes são organizados nas
enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa, Paraíba, Brasil.
A população será constituída por todos os pacientes
atendidos nas enfermarias de Clínica Médica do Hospital Universitário Lauro
Wanderley no período de agosto de 2012 a junho de 2013. O delineamento do
estudo será de natureza quantitativa e seguirá um modelo observacional e
longitudinal.
A amostragem será não probabilística por
conveniência com recrutamento consecutivo de pacientes hospitalizados no
referido serviço. O tamanho da amostra será de 250 pacientes, com base no
trabalho de Astradsson et al. (2001). Serão realizadas entrevistas diretas
estruturadas mediante aplicação de instrumentos padronizados. Os pacientes
serão entrevistados à beira-do-leito. Também serão analisados os prontuários
médicos e as prescrições.
Os pacientes que preencherem a definição de
pacientes com necessidade de cuidados paliativos, de acordo com os critérios da
Academia Nacional de Cuidados Paliativos (2009), serão avaliados com a Escala
de Avaliação de Sintomas de Edmonton e o instrumento de avaliação de cuidados
paliativos. As informações sobre características sócio-demográficas,
diagnóstico e plano de cuidados serão registradas e analisadas.
Já foi realizado um pré-teste pelas pesquisadoras,
membros do GESME, e discutidos os ajustes necessários no protocolo da
investigação, para serem implementados na coleta de dados que começará ainda
esta semana. O levantamento dos dados será executado por duas estudantes
do sétimo período de Medicina da Universidade Federal da Paraíba,
previamente treinadas.
A variável primária é a necessidade de cuidados
paliativos, avaliada por meio dos critérios da Academia Nacional de Cuidados
Paliativos (2009). As variáveis secundárias serão o escore da Escala de
Avaliação de Sintomas de Edmonton, a Escala
de Desempenho em Cuidados Paliativos e o instrumento de
avaliação de cuidados paliativos elaborado pelos autores.
Na estatística descritiva serão determinadas as
frequências relativas e absolutas das variáveis qualitativas, assim como médias
e desvios-padrão das variáveis quantitativas. Na estatística inferencial serão
empregados os testes de Qui-quadrado para as variáveis dicotômicas e os testes
de Mann-Whitney e Kruskall-Wallis para variáveis contínuas. Será estimado o
índice de correlação linear de Spearman para avaliar a associação entre os
escores das escalas.
Referências
ACADEMIA NACIONAL DE CUIDADOS PALIATIVOS. Manual
de cuidados paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic, 2009.
ASTRADSSON, E.; GRANATH,
L.; HEEDMAN, P. A. Cancer patients hospitalised for palliative reasons.
Symptoms and needs presented at a university hospital. Supportive Care in
Cancer, 9 (2):97-102, 2001.
HOMSI, J.;
WALSH, D.; NELSON, K. A. et al. The impact of a palliative medicine
consultation service in medical oncology.Suport Care Cancer, 10
(4): 337-42, 2002.
MILLS, M.;
DAVIES, H., MACRAE, W. Care of dying patients in hospital. BMJ 309: 583-6, 1994.
MONTEIRO, D. R.; KRUSE, M. H. L.; ALMEIDA, M. A.
Avaliação do instrumento Edmonton Symptom Assessment System em cuidados
paliativos: revisão integrativa. Rev. Gaúcha Enferm. 31 (4): 785-793,
2010.