26 de novembro de 2012

Efeito Placebo Revisitado: O Poder da Mente

Os rituais de cura e outras ações simbólicas podem ter efeito potente sobre a fisiologia humana. A resposta-placebo sempre foi muito discutida. A expectativa da cura é hoje reconhecida como um dos fatores benéficos decisivos na evolução clínica do paciente. Ainda assim, o efeito placebo ocupa um lugar obscuro na história e já foi associado e feitiços e mágica. 
Como estudiosa da Semiologia Médica, esse fenômeno sempre me intrigou e interessou vivamente. Sabe-se que quase todos os tratamentos médicos da era pré-científica e que têm mais de 1.500 anos estão associados a essa resposta. Há muitos exemplos históricos e também contemporâneos do impressionante papel do efeito placebo.
Hoje, com os modernos estudos das neurociências e as técnicas de imagem cerebral cada vez mais sofisticadas, começa-se a explorar tanto os correlatos neurofisiológicos destas expectativas de cura e os mecanismos subjacentes. Os estudos sobre efeito placebo passam, então, a ampliar a concepção que se tem dos limites da capacidade humana endógena.
“Um dia, a ciência será capaz de descrever o efeito placebo em termos do estado dos neurônios, em uma descrição puramente física” (Michel Foucault)

Publicado em Calameo

24 de novembro de 2012

"Destaque William Osler 2012" no GESME

O GESME despede-se de Gilson Mauro Costa Fernandes Filho, "Destaque William Osler 2012" por "longevidade" no nosso grupo de estudos: Seis semestres letivos consecutivos (2009.2; 2010.1; 2010.2; 2011.1; 2011.2, 2012.1). Além da persistência, destacamos a inteligência, responsabilidade, constância e excelente educação demonstradas por Gilson durante esse período.
Os últimos Destaques William Osler por “antiguidade” foram Daniel Espínola Ronconi e Camila de Oliveira Ramalho, em 2009 (seis semestres letivos consecutivos).
Destaque William Osler 2009: 
http://semiologiamedica.blogspot.com.br/2009/12/destaques-do-gesme-em-2009.html

20 de novembro de 2012

GESME: Linhas de Pesquisa Atuais

http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0083401T2AJV5C
Grupo de Estudos em Semiologia Médica (GESME) - CNPq/UFPB

Como uma introdução fundamental à clínica médica, a Semiologia Médica tem enfoque no estudo da técnica de abordar, entrevistar, examinar e interpretar os sinais e sintomas apresentados pelo doente. O exame clínico corretamente realizado, além de ser mais acessível, tem maior sensibilidade e especificidade para a maioria dos diagnósticos que exames complementares sofisticados. Por outro lado, observa-se que ao lado de técnicas de exame clínico com probabilidade de acerto muito baixo, existem outros métodos semiológicos e sinais clínicos comprovadamente mais eficientes que exames complementares. 
Os sinais observados através do exame físico deveriam ser avaliados com o mesmo rigor metodológico com que são testadas as técnicas de laboratório, com avaliação de sua validade e fidedignidade. 
Objetivos
- Avaliação da semiologia clínica a partir do paradigma da medicina baseada em evidências; 
- Realização de estudos epidemiológicos, visando a contribuir para identificação de doenças na região predominantemente nos pacientes que são assistidos no Serviço de Clínica Médica Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB; 
- Difusão de conhecimentos que possam contribuir para a complementação da formação acadêmica do aluno da área da saúde, em especial nas áreas de propedêutica clínica, observando-se o caráter informativo, assim como a abrangência do tema escolhido com foco de sua atenção perfeitamente relacionado com o campo de saberes da saúde para o graduando em medicina geral; 
- Incentivo e suporte à participação de seus membros em equipes de pesquisa, objetivando a iniciação ao método científico e à produção científica.

19 de novembro de 2012

Síndromes Demenciais

Palestra apresentada no programa da Residência Integrada Multiprofissional em Saúde Hospitalar (RIMUSH) - Hospital Universitário Lauro Wanderley -UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

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15 de novembro de 2012

Semiologia Médica na Literatura: "Cais da Sagração", de Josué Montello

Trecho puramente médico-semiológico do livro "Cais da Sagração", de Josué Montello.
"A Lourença vive se consumindo, a me pedir para ir ao médico. Afinal, para não ser desmancha-prazeres, resolvi ir ao doutor. Um gordo, de óculos. Dr. Estêvão. Antes eu não tivesse ido à consulta dele. Se arrependimento matasse, eu também já estava aqui, debaixo da terra, como você. Levou um tempão me apalpando. Eu nu da cintura para cima, com uma preta de touca me olhando. Tive até de abrir a braguilha, veja você. Pra que, não sei. O que ele mandava, eu fazia, feito menino. Você me conhece, sabe o que isso me custou.

Até a língua ele quis que eu mostrasse; mostrei. Fez não sei quantas perguntas, e eu ia respondendo como podia. Pôs o dedo debaixo do meu olho, puxou para baixo, acendeu uma luzinha em cima dele. Depois me mandou ficar de pé, com os olhos fechados; fiquei. Mandou abrir os olhos; abri. Aí pôs a orelha em cima do meu peito, me mandou respirar. Houve uma hora que pensei dizer até logo, doutor, passe bem, e dar o fora. Mas me calei, para saber onde é que aquilo tudo ia parar. Aí ele me disse que eu me deitasse, botou no meu braço um aparelho com um ponteirinho, apertou bem, ficou olhando o ponteiro. Depois escorregou o dedo no meu braço, procurando o pulso, achou, ficou mexendo os beiços, como se estivesse rezando, e de olho no mostrador do relógio. No fim, quis que eu sentasse na cama, com as pernas para fora, balançando. Foi num armário, trouxe um martelinho, bateu com o martelinho no meu joelho, primeiro num, depois no outro."

Centro de Referência em Esclerose Múltipla da Paraíba: Inauguração

Será inaugurado o Centro de Referência em Esclerose Múltipla da Paraíba, na cidade de João Pessoa-PB. 
A inauguração será dia 21 de novembro próximo, na sede da Fundação de Apoio ao Deficiente (FUNAD), órgão do Governo do Estado. 

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica, decorrente de um processo inflamatório de desmielinização, que leva à comprometimento da transmissão do impulso nervoso. Atinge cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, acometendo de três a quatro vezes mais mulheres. É uma das mais importantes doenças neurológicas, devido a sua cronicidade e potencial de incapacitação funcional, além do fato de  acometer adultos jovens. Ainda não existe cura para a doença, mas o acompanhamento adequado faz com que muitos pacientes consigam manter-se ativos, minimizando-se a incapacidade funcional decorrente.
A Portaria nº 493, de 23 de setembro de 2010, do Ministério da Saúde (Brasil), determinou que "os gestores estaduais e municipais do  Sistema Único de Saúde (SUS),  conforme a sua  competência e pactuações, deverão  estruturar a  rede assistencial,  definir os  serviços referenciais e estabelecer os fluxos para o atendimento dos indivíduos com a doença" em todas as suas etapas.

11 de novembro de 2012

A MÃO NA ARTRITE REUMATOIDE

Fernando Roberto Gondim Cabral de Vasconcelos
Médico Recém-Graduado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
Rilva Lopes de Sousa Muñoz
Docente de Semiologia Médica da UFPB

Não há dúvida sobre a importância semiológica das mãos no paciente reumatoide, nem da importância do estudo do quadro  clínico desta doença, assim como da prevenção das suas deformidades
A artrite reumatoide (AR) cursa com poliartrite periférica, sobretudo de pequenas articulações da mão, embora seja característico o acometimento articular dos pés e do punho também. Mais de 90% dos pacientes com artrite reumatoide apresentam envolvimento das articulações das mãos, e as mais acometidas são as articulações metacarpofalangianas (91%), as interfalangianas proximais (91%) e os punhos (78%) (LEFEVRE-COLAU et al., 2003).
A AR é uma doença auto-imune e sistêmica. Geralmente manifesta-se após os 30 anos de idade, com predomínio no sexo feminino. As causas da artrite reumatoide ainda são desconhecidas, porém se sabe que sua patogênese envolve a agressão pelo próprio sistema imunológico ao organismo.
Os estágios iniciais da doença reumatoide são caracterizados pela inflamação da articulação, tendões e músculos intrínsecos. As articulações apresentam-se edemaciadas e dolorosas. O envolvimento do tendão pode causar dor, "disparo" e dificuldade na flexão do dedo acometido. Os músculos intrínsecos podem apresentar espasmos. Depois de semanas, meses ou anos, a inflamação ativa geralmente torna-se menos intensa, mas pode deixar deformidades permanentes. Estas assumem maior importância, de modo que são as deformidades, e não inflamação ativa, que impedem a função normal da mão nas fases mais avançadas da doença. 
Na fase inicial, costuma haver um quadro de sinovite, ou seja, uma inflamação do tecido que reveste o interior da cápsula articular. Com a progressão do processo inflamatório, o tecido fica mais espesso, dando origem a uma espécie de tecido de granulação vascular e cicatricial, denominado pannus, que apresenta tendência a crescer dentro da cavidade articular e revestir a cartilagem articular, com erosão óssea e da cartilagem (SUGIMOTO, 2005). Caso não ocorra o tratamento, o tecido atípico acaba por destruir, ao fim de vários anos, a cartilagem articular e as extremidades ósseas adjacentes a essa articulação, o que origina as deformações características da AR.
A evolução da doença apresenta variação entre pacientes. Apenas em alguns pacientes, a doença surge de forma repentina e avança progressivamente sem interrupções, gerando um pior prognóstico ao doente. Na maioria das vezes, a história natural da doença é uma evolução intermitente, com fases ativas de dor e inflamação articulares, seguidas por fases nas quais não ocorrem sintomas, todas as manifestações desaparecem. 
Na fase inicial, de inflamação ativa, podem ser observados dedos em fuso (tumefação das interfalangianas proximais) e tumefação de metacarpofalangianas. Pode ocorrer necrose de polpas digitais de falanges distais em decorrência de quadro de vasculite.
O acometimento articular deformante dá origem a sequelas características que denotam um caráter típico da doença. Desta forma, surgem o punho em dorso de camelo (tumefação da articulação do punho + hipotrofia interóssea do dorso da mão), mão em pescoço de cisne (hiperextensão da interfalangiana proximal e hiperflexão da interfalangiana distal), a mão em boutonniere (ou dedos em botoeira, pela hiperflexão da interfalangiana proximal e hiperextensão da interfalangiana distal), desvio ulnar dos dedos e polegar em “Z” (HARRISON, 2009).
Em um estudo observacional de coorte, 100 pacientes com artrite reumatoide foram acompanhados (38 homens, 62 mulheres), com idade média de 53 anos e duração média da doença de 11,5 meses. Avaliação clínica, bioquímica e radiográfica padronizada foi realizada regularmente. Depois de dois anos, a prevalência de desvio ulnar, deformidade de botão, e deformidade pescoço de cisne foi de 13%, 16% e 8%, respectivamente. Ao todo, 31 pacientes haviam desenvolvido uma ou mais deformidades. Não houve diferença na idade ou sexo distribuição e não ocorreu predomínio na mão dominante. Cada paciente com uma deformidade foi acompanhado de acordo com idade, sexo e duração da doença de forma pareada com outro paciente com AR precoce, mas sem deformidade. O grupo de estudo teve deformidade doença mais ativa, menos força de preensão, mais incapacidade e alterações radiológicas mais graves. Quando estudado retrospectivamente em um ponto de tempo três meses antes da detecção da deformidade, sinovite das articulações relevantes foi tão comum no grupo que desenvolveu deformidades como no grupo de controle. Isto sugeriu aos autores que a inflamação articular pode contribuir para a gênese da deformidade, mas fatores adicionais são necessários para que esta se estabeleça. Deformidades na mão foram achados comuns na AR precoce (EBERHARDT et al., 1991).
Em outro estudo, mas do mesmo grupo de pesquisa, 108 pacientes (59% da amostra) desenvolveram pelo menos uma deformidade mão durante o tempo de estudo (quatro anos) (JOHNSSON; EBERHARDT, 2009). A maioria ocorreu durante os primeiros anos de evolução. Após dez anos, a taxa de desvio ulnar, deformidade  botoeira e deformidade pescoço de cisne foi de 44%, 24 e 23,5, respectivamente. No grupo que mostrou deformidade, a atividade da doença foi significativamente maior durante os primeiros cinco anos, e houve comprometimento da mão significativamente mais grave, mais deficiência funcional e alterações radiográficas graves ao longo do estudo. Mais da metade dos pacientes desta coorte com AR precoce tinha desenvolvido deformidades da mão depois de dez anos. A maioria das deformidades ocorreu durante o primeiro ano da doença. Presença de deformidades mão teve um impacto importante na capacidade funcional nas atividades da vida diária e acrescentou informação prognóstica útil, sendo um sinal precoce de uma doença mais grave.
Do ponto de vista da funcional, a avaliação precoce da mão é de fundamental importância para fornecer dados que auxiliem na decisão de uma estratégia terapêutica e na avaliação da eficácia do tratamento realizado.

Referências
EBERHARDT, K.; JOHNSON, P. M.; RYDGREN, L. The occurrence and significance of hand deformities in early rheumatoid arthritis. Br J Rheumatol. 30(3):211-3, 1991.
HARRISON, T. R. Harrison Medicina Interna. 17° Edição. Mc Graw Hill, Rio de Janeiro.
LAURINDO, I. M. M.; XIMENES, A. C.; LIMA, F. A. C. et al. Projeto Diretrizes - Artrite Reumatóide: Diagnóstico e Tratamento. Disponível em http://www.projetodiretrizes.org.br/projeto_diretrizes/015.pdf . Acesso em: 11 Nov. 2012. 
LEFEVRE-COLAU, M. M.; POIRAUDEAU, S.; OBERLIN, C. et al. Reliability, validity, and responsiveness of the Modified Kapandji Index for assessment of functional mobility of the rheumatoid hand. Arch Phys Med Rehabil. 84(7):1032-8, 2003.
JOHNSSON, P. M.; EBERHARDT, K. Hand deformities are important signs of disease severity in patients with early rheumatoid arthritis. Rheumatology (Oxford).  48(11):1398-401, 2009. 
SUGIMOTO, H.; TAKEDA, H.; HYODOH, K. Early-stage rheumatoid arthritis: prospective study of the effectiveness of MR imaging for diagnosis. Radiology 216(2):569–75, 2000.

9 de novembro de 2012

Apresentando os Novos Monitores de Semiologia Médica-UFPB 2012.2 / 2013.1

Apresentando nossos novos monitores de Semiologia Médica da UFPB: Mariah Martins, Laís Araújo, Arthur Lacerda, Marcos Martins Júnior e  Daniel Idelfonso para os períodos letivos 2012.2 e 2013.1.
Mariah Martins é a atual representante do grupo, monitora vinculada à Pró-Reitoria de Graduação/UFPB. 
Sejam bem-vindos à Semiologia Médica/UFPB e ao GESME!...

Ao mesmo tempo, agradecemos aos antigos monitores (semestres 2011.1, 2011.2 e 2012.1) pela contribuição valiosa à nossa disciplina de Semiologia e ao GESME: Ezemir Fernandes, Álvaro Vieira, Larrisa Vale, Geyhsy Rocha, Cícero Faustino (representante), Divany Brito e Bruno Garcia.  
Agradecemos também à Chefia do nosso Departamento de Medicina Interna/UFPB, na pessoa do Prof. Jacicarlos Lima de Alencar, por sua sensibilidade em compreender a necessidade de termos mais que apenas um monitor na disciplina, corroborando a inclusão dos monitores selecionados em 2011.1 para mais dois semestres letivos (2011.2 e 2012.1), o que foi de crucial importância para melhoria de nossas atividades didático-pedagógicas junto aos alunos da Semiologia nestes dois períodos.