Por Tácia Adriana
Florentino de Lima
Estudante de Graduação em Medicina da UFPB. Bolsista do
Programa Jovens Talentos para a Ciência / CNPq
Resumo
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar
exercendo constante crítica em busca permanente da verdade, e essa capacidade ele aprende propondo hipóteses, expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas
utilitarista de sua profissão futura. Para isso, a iniciação científica amplia
seus horizontes na compreensão do mundo. Isso pode ser
conseguido através da prática de pesquisa durante a graduação. Assim, o
estudante pode desenvolver uma nova racionalidade, ampliar seus horizontes e
aprender a ser auto-reflexivo. Despertar a curiosidade do
estudante de Medicina é um dos méritos da sua iniciação na atividade científica.
Outro é o aprendizado do método científico, que pode levar o estudante a obter
uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de
ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação
médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.
Palavras-chave: Ciências. Educação Médica.
Pesquisa Médica.
Considerando
que o modelo educacional acompanha a evolução do paradigma científico, e as
propostas de educação inovadoras repercutem no ensino médico, torna-se
imprescindível despertar para a importância do fazer e compreender ciência, que
é um dos grandes desafios para a formação médica atual. Essa mudança do
paradigma educacional tradicional para um paradigma educacional inovador
culminou com o surgimento de novos horizontes para a compreensão da ciência pelos
estudantes de medicina, o que se reflete, sobretudo, na crescente participação
destes em programas de Iniciação Científica e demais atividades que envolvam o
binômio ensino-pesquisa no ensino superior.
De acordo
com Mitre et al. (2008), historicamente, a formação de profissionais de saúde
tem sido marcada pelo uso de metodologias conservadoras, sob forte influência
do mecanicismo de inspiração cartesiana e newtoniana, fragmentado e
reducionista. Essa fragmentação do saber manifestou-se no processo de
ensino-aprendizagem, restringindo, durante muito tempo, a atuação do discente ao
papel de mero reprodutor ou expectador do conhecimento. A partir do século XX,
com o surgimento de novas perspectivas para a compreensão da ciência, houve uma
mudança na concepção então vigente, colocando-se em xeque os valores considerados
intocáveis e resultando em uma reflexão sobre a inserção dos futuros
profissionais de saúde no contexto de produção científica.
A
modernidade transformou conhecimento em poder (TENÓRIO; BERALDI, 2010). Nesse
contexto, a produção daquele é “extremamente veloz, tornando cada vez mais
provisórias as verdades construídas
no saber-fazer científico” (MITRE et al., 2008). Tal constatação acaba por
requerer que todos sejam protagonistas e produtores dessa nova ordem,
testemunhos vivos das transformações que ela produziu. Pêgo-Fernandes e Mariani
(2010) tratam desse tema nas ciências médicas, e afirmam que devido à aceleração
do desenvolvimento destas e a constante avalanche de novas informações, a
iniciação científica precisa começar a ser realmente considerada um elemento
básico na formação do médico.
Diante
disso, Rodríguez et al. (2004) apresentam três concepções como pilares do
ensino médico inovador: visão holística, abordagem progressista e ensino
baseado na pesquisa. As atividades de pesquisa nos cursos de graduação são
reconhecidas atualmente como a mais importante maneira de inserir os estudantes
na futura prática científica. Como complementação essencial à formação
profissional ou técnica, a execução de projetos de pesquisa ajudam na ampliação
de visão de mundo do aluno de Medicina, além de possibilitarem o aprendizado prático de planejamento
e organização. Ao avaliar a viabilidade de uma pesquisa, reduzir possibilidade
de erros e sistematizar sua execução, o estudante aperfeiçoa sua aptidão para exercer
atividades referentes à sua futura profissão
(TENÓRIO; BERALDINI, 2010).
Isso
coloca como desafio atual para as instituições de ensino superior formar profissionais
capazes de buscar o conhecimento, de saber como utilizá-lo e como produzi-lo.
Ao contrário de antes, quando o importante era dominar o conhecimento, o
importante agora é “dominar o desconhecimento”, sabendo encontrar por si
próprio, as respostas às questões através
da pesquisa (BEIRÃO, 2008).
Esse
processo de construção da Ciência vem mostrando seu impacto transformador sobre
o Homem. Despertar a curiosidade do estudante de Medicina é um dos méritos da sua
iniciação na atividade científica (CARUSO, 1998). Outro é o aprendizado do
método científico, que pode levar o estudante a obter uma visão objetiva e racional e a capacidade de aprendizagem constante. A curiosidade, a vontade de saber mais, de estar informado, de
ser conhecedor, são necessidades fundamentais na formação
médica, assim como o são o desenvolvimento ético e da capacidade técnica.
É
preciso estimular nos discentes a humildade de frente ao “não saber” – com que o pesquisador se confronta diariamente em sua
prática – e daí se depreende o valor da curiosidade, o valor da leitura
crítica do mundo. É importante que o estudante aprenda a pensar, e desenvolva a
autonomia. Isso pode ser conseguido através da prática
de pesquisa durante a graduação. Assim, o estudante pode desenvolver uma nova
racionalidade, ampliar seus horizontes e aprender a ser auto-reflexivo.
O estudante de Medicina precisa aprender a ter espírito científico, estar
exercendo constante crítica em busca permanente da verdade; isto se aprende propondo
hipóteses e expondo-as à observação e corroboração. Ele não pode ter uma visão apenas
utilitarista de sua profissão futura. Para isso a iniciação científica amplia
seus horizontes na compreensão do mundo.
Referências
CARUSO, F. Processo e
Transformação: para além da Ciência. Rev. Bras. de Ensino de Física. 20 (3): 251-258, 1998.
MITRE, S. M.; BATISTA,
R.S.; MENDONÇA, J. M. G., et al. Metodologias ativas de ensino-aprensizagem na
formação profissional em saúde: debates atuais. Ciência & Saúde coletiva. 13 (2): 2133-2144, 2008.
PÊGO-FERNANDES, P. M.;
MARIANI, A. W. O ensino médico além da graduação: iniciação científica. São Paulo Med. J. 15 (3): 104-5, 2010.
RODRÍGUEZ, C. A.; NETO, P.
P.; BEHRENS, M. A. Paradigmas Educacionais e a Formação Médica. Rev. de Educação Médica. 28 (3):
234-241, 2004.
TENÓRIO, M. P.; BERALDI, G.
Iniciação científica no Brasil e nos cursos de medicina. Rev. Assoc. Med. Bras. 56 (4): 375-93, 2010.
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