Por Rilva Lopes de Sousa-Muñoz
A área de Saúde ocupa-se do cuidado sanitário integral no setor público
e privado do sistema de serviços, através de ações de diagnóstico, terapêutica,
prevenção, recuperação e reabilitação, educação para a saúde, assim como da
gestão dos serviços de saúde (BRASIL, 2000).
Uma das primazias atuais nesse campo é o reconhecimento de sua
complexidade e intersetorialidade. As relações entre o campo da saúde e os
demais campos da vida social, econômica e política de uma região ou país
tornam-se cada vez mais variadas e complexas (BRASIL, 2004a). Da Primeira
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em
1986, emanou como destaque a consideração de que a promoção da saúde
não é responsabilidade exclusiva do setor, apontando-e como diretiva que a
promoção da saúde exige uma ação coordenada de governos, setores da saúde,
social e econômico, organizações não governamentais e de voluntários,
autarquias, empresas e comunicação social, assim como que as populações devem
ser necessariamente envolvidas enquanto indivíduos, famílias e comunidades, ou
seja, o exercício do controle social sobre as atividades e os serviços
(BRASIL, 2002).
Sobre as ações intersetoriais necessárias para essa grande esfera, está
o entrelaçamento dos aspectos sociais e de informação em saúde, que deu origem
a um novo campo de conhecimento desde a segunda metade do século passado. A
multiplicidade de ações de saúde e a relação profissional de saúde-paciente, a
relação entre os profissionais de saúde na equipe de serviço, e entre eles e o
pessoal administrativo, a qualidade do atendimento recebido pelos usuários e
clientes no sistema de saúde, as campanhas destinadas à população ou a
segmentos dela, as intervenções na comunidade, os aspectos tecnológicos
envolvidos nos sistemas de informação em saúde, estes são alguns dos elementos
que fazem parte da interface saúde e ciências da informação.
Os profissionais de saúde têm que atender a vários tipos de exigências,
tanto na assistência propriamente dita, quanto nas limitações do sistema
político de saúde, assim como nas condições socioeconômicas e de aprendizagem e
trabalho. Entre as necessidades enfrentadas por estes profissionais em um
contexto multifacetado e complexo, está o imperativo da informação.
Informação em saúde é um campo relativamente novo e interdisciplinar,
que estuda o emprego de estratégias de comunicação para informar e influenciar
as decisões dos indivíduos e da comunidade, para melhorar a qualidade da sua
saúde (MORAES, 2008). Gestão de informação em saúde é um campo vasto, ainda
em evolução, que incorpora ciências da saúde, tecnologia da informação e outras
ciências sociais.
Informação eficaz proporciona uma contribuição decisiva para a
promoção da saúde, assim como para prevenção de doenças e de gestão de serviços
de saúde. Trata-se de uma área de pesquisa, teoria e prática voltadas a
entender e promover intervenções de informação considerando as crenças em saúde
e, assim, possibilitando mudança de comportamentos. Temáticas
de pesquisa nessa área incluem a interação entre provedor de cuidados de
saúde e paciente, redes de apoio social, o Sistema de Informações em Saúde no
Brasil (SINASC, SINAN, SIH, SIM, DATASUS, RIPSA), o melhor aproveitamento
dos recursos humanos no setor saúde, a humanização das práticas e da
atenção à saúde, as políticas e promoção da saúde, a prevenção de
doenças, os cuidados inovadores para as doenças crônicas, o financiamento da
saúde, a qualidade de vida e a saúde, a utilização da Internet no campo da
saúde, e finalmente a repercussão dos elementos dessas temáticas sobre os
membros de uma comunidade (BENITO; LICHESKI, 2009; BUSS, 2000; BRASIL, 2010;
GALVÃO et al., 2011; GOULART; CHIARI, 2010; LIMA et al., 2006; OMS, 2003;
SOARES, 2004).
Um dos principais objetivos de uma das vertentes da informação em saúde
é proporcionar que indivíduos e comunidades melhorem comportamentos
relacionados ao processo saúde-doença, através do compartilhamento de
informação (MORAES, 2008). Existe uma disparidade entre os avanços
alcançados pelas profissões da área da Saúde, e sobretudo da Medicina, e o
conhecimento e a aplicação destes avanços pela população. Ainda que os
profissionais de saúde tenham grandes conhecimentos sobre a prevenção das
doenças e a promoção da saúde, não sabem necessariamente comunicar de forma
efetiva essa informação tão vital para a sociedade. Em geral, a formação
acadêmica dos profissionais da saúde, principalmente dos médicos, não inclui a
comunicação interpessoal entre estes profissionais e os seus pacientes, nem
entre o próprio profissional com os seus pares e com o serviço de saúde,
tampouco deste com a sociedade. Os valores e crenças dos usuários dos serviços
de saúde, seus estilos de vida, suas condições ambientais,
políticas, sociais, de trabalho e econômicas são o contexto no qual o
profissional da área pode visualizar seus objetos de investigação e
intervenção.
Na perspectiva de se desenvolver o cuidado humanizado em saúde, a
humanização como política transversal, requer que sejam ultrapassadas
barreiras, muitas vezes rígidas, dos diferentes núcleos de saber/poder que se
ocupam da produção da saúde (BRASIL, 2004b). Nesse caso, é importante
considerar o conhecimento da informação em saúde como uma das ferramentas a
serem utilizadas para o desenvolvimento do cuidado integral ao ser humano.
Somente o entendimento e uso de estratégias de saúde específicas e
técnicas de informação eficazes pode maximizar a atenção do público, aumentar a
conscientização sobre os riscos de saúde, contribuindo para melhorar os níveis
de literacia em saúde e promovendo o aumento da probabilidade de adoção de
comportamentos e práticas de saúde desejáveis.
Em questões de saúde pública, a participação dos cidadãos é essencial
para garantir o sucesso da ação, pois existe a demanda por um esforço
individual que assegure benefício ao grupo, com a busca do equilíbrio entre
ganho social e pessoal. Por esta razão, a interdisciplinaridade é posta
como princípio pedagógico nesta proposta. A informação pode modificar
comportamentos e ações de saúde? É possível capacitar pessoas tomando-se por base
o conceito da informação em saúde? O que os meios de comunicação falam e como
falam sobre os agravos á saúde? O que falam e como falam as instituições?
Como fazem circular sua comunicação? Como a população se apropria das
informações e produz sentidos sobre as doenças? Como implementar campanhas
eficazes de comunicação, lidar com questões difíceis de cuidados de saúde, e
fornecer informações valiosas para a mídia e o público? Estes são alguns
dos questionamentos que permeiam as problemáticas inseridas na área da
informação em saúde (SAUPE; WENDHAUSEN, 2005
A informação eficaz na assistência ao paciente, organizações de saúde e
gestão da saúde visa promover a compreensão de como as técnicas de informação
são utilizadas e seu impacto para melhorar a interação entre
pacientes, médicos, estudantes, outros profissionais de saúde e o público em
geral, através de investigação original, criação de técnicas de informação e
divulgação de estratégias eficazes (BRASIL, 2010). Essas ações podem
melhorar significativamente as relações interprofissionais, a comunicação
interna das unidades de saúde, e entre as unidades, assim como a qualidade dos
serviços.
Profissionais com esta visão e conhecimento terão importante papel na
sociedade, pois serão capazes de entender e reconhecer as demandas específicas
tanto no âmbito local, regional e nacional, funcionando como elementos
capacitados para promover e melhorar a eficácia e a eficiência das organizações
públicas e privadas, propondo soluções de problemas, geração e aplicação de
processos de inovação. Nesse sentido, deverão desenvolver um olhar e uma
atitide voltados para ações de caráter estratégico do Sistema Único de Saúde
(SUS). No Brasil, em 2003, iniciou-se um debate e a preparação de uma proposta
política nacional de informação em saúde, integrada à construção de uma agenda
estratégica do Ministério da Saúde, como um dos seus objetivos setoriais
prioritários (BRASIL, 2004c).
Nesse sentido, é necessária a associação de gestores em parceria
com as universidades, através de um processo participativo e de
intercâmbio, uma política de informação em saúde, em seus vários níveis, tanto
no sentido humano quanto tecnológico.
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